Confissões de um homem passional
Sei que não pega muito bem falar essas coisas, mas eu me considero um homem passional.
Já tive vários problemas na minha vida pelas coisas pelas quais sou irremediavelmente apaixonado. Só me meti em brigas daquelas em que os punhos falam mais alto do que os argumentos duas vezes durante minha adolescência. E em ambas as oportunidades, foram discussões que começaram por música.
Que motivo banal! Arrumar briga por causa de música? Para alguns pode parecer absurdo. Mas, pra mim, faz todo o sentido do mundo. Só temos razão pra agirmos passionalmente se estamos mexendo com as coisas que nos são mais valiosas.
Uma das minhas maiores paixões são os personagens de histórias em quadrinhos. Acho sinceramente que só uma crença num bem superior pode fazer com que uma pessoa consiga se afeiçoar aos super-heróis. Não consigo imaginar uma pessoa cética se identificando com a luta de um herói contra a corrupção do mundo.
E eu acredito que, às vezes, fazer a coisa certa te coloca em más situações com as pessoas.
Não sei se todo mundo sabe, mas o Hyperfan nasceu como uma dissidência do antigo site FanficBR. Em discussões esquentadas via interntet, os participantes daquele projeto se dividiram. Das paixões levantadas naquelas disputas, implodiu o FanficBR e explodiu o Hyperfan.
Acontece que eu fui provavelmente o mais ferrenho defensor do lado contrário da discussão. Me vi obrigado a defender com unhas e dentes uma pessoa que me ajudou muito e a lutar por um projeto em que eu acreditava completamente.
Não me arrependo de ser assim.
Não conseguiria me entender de outra forma que não seja com uma paixão incendiária pelas coisas amo e uma lealdade canina às pessoas que me ajudaram.
Mas sei que sempre perdemos a razão quando passamos dos limites e foi isso que eu fiz.
Eu estava lá até o final com o FanficBR. Quando ele inevitavelmente encerrou atividades, participei de outro site de fanfics do qual guardo boas recordações. Mas o clima simplesmente não era o mesmo.
Passados alguns anos, não tive como me conter e procurei os antigos colegas que davam continuidade ao Hyperfan. Engoli meu orgulho e não tenho vergonha de dizer que foi pelo meu amor a esses personagens e pela vontade incessante de escrever suas histórias.
Acredito que os outros hyperfanáticos também tiveram restrições em me aceitar e não os culpo por isso. As feridas não foram poucas e geralmente custam a cicatrizar.
Mas finalmente retornei ao grupo, escrevi alguns dos textos dos quais me orgulho muito, editei outros que me deram bastante alegria, tive a honra de participar do livro comemorativo dos cinco anos do site e principalmente me diverti pra valer durante o processo.
Tenho estado meio ausente nos últimos tempos, porque a correria das obrigações e das outras paixões no caso, as bandas de rock que mantenho tem me deixado menos tempo do que eu gostaria para colaborar com o site.
Mas ainda guardo um lugar para os fanfics entre as minhas paixões. E não se atreva a mexer com nenhuma delas!
:: Rafael Borges
:: Escritor e editor
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