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Por
Eduardo Regis
Fúria Submarina
Nas profundezas dos oceanos...
Orin vai até o salão real, de onde vislumbra boa parte de Poseidônis. Tudo está tão plácido. As correntes tranquilas trazem, pelos filtros do domo que cerca a cidade, infinitas formas de vida marinha e a dança dos peixes encanta o amargurado monarca.
Você fez o que era correto para garantir o sono tranquilo de seu povo. as mãos macias de Mera encostam-se à única mão de Orin. Ele se arrepia de saudades.
Mas a perda da confiança da Liga da Justiça e da amizade de Garth são mazelas por demais dolorosas. Como se já não bastassem todas as outras...
Mera nada comenta.
E eu sei que Namor não vai deixar essa história acabar dessa maneira. (*) Eu me pergunto todos os dias quando nossa paz será perturbada novamente.
Essa resposta eu não tenho. Mera se posiciona entre Orin e a vista de Poseidônis. Mas sei que você encontrará forças para defender Poseidônis de qualquer ameaça que apareça.
Não sei mais se sou o mesmo.
Talvez você precise de algo para lhe lembrar quem você é de verdade. O homem por debaixo do Rei, ou melhor, o homem que é o Rei.
Orin olha para Mera. Seus rostos quase se tocam. Ela se vira e começa a caminhar pelo salão.
Orin de Poseidônis, Arthur da superfície e Aquaman da Liga da Justiça. ela diz.
Bobagem, Mera. Eu já não posso mais me dar esse luxo. Nem desejo voltar à superfície tão cedo.
Mas talvez tenha que fazê-lo. Vulko aparece no salão Real.
Como? Orin se surpreende.
A Organização das Nações Unidas está convocando Poseidônis e Atlântida para uma reunião em caráter emergencial. Eles pedem com muita, digamos, insistência que um representante de nosso povo compareça para discutir assuntos de mais relevante questão.
E todas as vezes que tentamos fazê-los nos escutar sobre os problemas que nos causam? Agora simplesmente nos convocam? Recuso-me a comparecer.
Não é assim tão simples. Após a guerra com Atlântida, seria muito bom um recomeço...
Não, Vulko. Eu não desejo retornar a superfície.
Orin... eles estão nos acusando de um ataque. Supostamente Poseidônis ou Atlântida teria atacado a costa da Austrália usando uma das criaturas abissais. Alguém precisa nos defender.
Orin abaixa a cabeça.
Não posso sair de meu Reino.
Só você pode fazer isso, Orin. Mera fala.
Não há quem possa nos representar melhor.
Quando foi o ataque? Orin pergunta enquanto coloca o gancho no lugar de sua mão perdida.
Acabou de ser contido. As autoridades no mandaram a mensagem agora mesmo.
Então irei agora para a costa da Austrália.
Prepararei a embarcação. diz Vulko.
Obrigado Orin se direciona aos seus aposentos.
Em instantes Orin está pilotando um veículo marinho, com um peculiar design desenhado para oferecer segurança e velocidade nas profundezas. Conhecedor dos segredos do mundo submarino, ele entra em uma corrente que o levará direto para a costa Australiana, aonde usará sua capacidade telepática para descobrir o preciso local do ataque. Trajando sua cota metálica que cobre meio peito, com os cabelos longos presos e a barba bem curta, Orin segue em direção à Oceania.
O Rei de Poseidônis pára o veículo um pouco distante da costa e segue nadando até que sai da água em uma praia rochosa no oeste Australiano. Em terra, autoridades militares inspecionam um polvo de aproximadamente trinta metros, presumidamente, morto. Na areia, sacos negros indicam que pelo menos cinco pessoas morreram durante o ataque.
Aquaman! uma voz masculina grita ao longe. Orin se vira e vê um militar de meia-idade vindo em sua direção. O homem de rosto marcado e cabelos grisalhos estende a mão para o monarca Aquaman, eu sou o tenente Paulin. Orin responde o cumprimento. Como você pode reparar, tivemos um pequeno problema aqui.
E já colocaram a culpa em nós? Entendo. Orin observa o polvo ser carregado.
Bem, você há de concordar que esses ataques são raros. Todos os registros de ataques de criaturas como esta apontam de alguma maneira para algum de vocês.
Eu só quero ajudá-los a esclarecer o ocorrido e limpar o bom nome de Poseidônis, não posso responder por Atlântida.
Nós tentamos contatá-los, mas não recebemos resposta.
"Talvez eu devesse ter feito o mesmo. Vulko me convenceu contra a minha vontade, novamente". Orin pensa.
Eu posso garantir que Poseidônis não está envolvida com isso de maneira nenhuma. Nós respeitamos todo o tipo de vida e não possuímos qualquer inimizade por vocês, embora estejam destruindo o grande recife de corais. Há alguma formalidade que eu precise cumprir para fazer essa declaração oficial e a minha presença aqui como ato de boa fé? Precisam de ajuda na busca por mais vítimas?
Não, Aquaman...mas eu gostaria de...
Orin leva as mãos a cabeça quando sente um enorme choque mental. Ele sente a raiva crescendo, vindo do oceano.
Algo está muito errado. Mande seus homens se afastarem da praia, agora!
Mas...
Não discuta comigo, homem! Algo está vindo daquelas águas e está muito furioso!
Homens, preparem-se! o Tenente grita enquanto se afasta da água e reagrupa os militares.
Das águas sai uma gigantesca aranha-do-mar. Tão grande como Orin nunca tinha visto. Suas garras, cada uma, capaz de agarrar um homem adulto.
Não é possível... Orin se surpreende. Ele tenta mandar mensagens telepáticas para acalmar o animal, mas nada parece funcionar.
Ele mira seu gancho entre os olhos do animal e dispara, mas a carapaça dura repele a arma. Numa investida rápida, o animal o segura com uma de suas garras e começa a esmagá-lo. Usando sua imensa força, Orin se livra do animal, e usando a pata da aranha-do-mar como apoio para a mão, ele se impulsiona e salta para cima da criatura.
Se ao menos eu tivesse trazido meu Tridente...
O animal tenta atingir Orin com suas garras, mas ele desvia das investidas. De cima, ele mira seu gancho num dos olhos da criatura, que são saltados como os de um caranguejo, o gancho se enrola no órgão do animal e Orin o puxa, arrancando-o. Com a dor, a aranha dá um enorme salto e mergulha novamente nas águas rasas da praia, jogando Orin pro alto. O Monarca de Poseidônis mergulha atrás do monstro marinho.
Embaixo d'água os sentidos de Orin se tornam ainda mais aguçados. Sua força aumenta e sua determinação se mostra inabalável. Aquela criatura feita de puro ódio e resistente aos comandos telepáticos do rei de Poseidônis com certeza não é um habitante natural dos oceanos. Não é um de seus súditos.
Deslocando-se pela água com agilidade e velocidade únicas, Aquaman segura uma das patas da aranha e começa a subir em direção à superfície. Como um míssil, ele salta, puxando a aranha consigo.
Ainda no ar, Aquaman dá uma pirueta e joga o peso e força de suas pernas contra o animal, mirando a parte posterior e mais frágil da carapaça em direção a umas pedras próximas. A força da queda, aliada a pressão do monarca, fazem com que o exoesqueleto se quebre, abatendo o monstro.
Os militares observam espantados ao fim da luta. Aquaman se aproxima dos homens.
Espero que não reste dúvida de que Poseidônis não está, de modo algum, envolvida com esses ataques.
Claro, Aquaman. o tenente Paulin responde Nunca acreditamos que um membro da Liga da Justiça viria a nos atacar.
Eu não sou mais um justiceiro, Tenente. Orin se vira para o polvo Se não se importa... ele aponta para o polvo que os militares haviam abatido.
Claro. Fique à vontade. Duvido que qualquer cientista nosso vá entender mais disso do que você mesmo...
Orin se aproxima do animal. Embora já tenha visto polvos abissais de tamanho até maior, está convencido de que este também não é um mero animal marinho. Usando seu gancho ele corta parte da carne da criatura.
Meus cientistas irão verificar as amostras destes animais. Mandaremos os relatórios para a ONU o quanto antes.
Aquaman, se você pudesse falar com as autoridades da Atlântida seria ótimo.
Sinto muito, não há nada que eu possa fazer quanto a isso. Orin vai entrando nas águas até ser completamente tomado pelo mar.
O Rei de Poseidônis entra em seu veículo marinho e guarda as amostras dos tecidos dos animais em um refrigerador. Ele se senta à poltrona do piloto e liga os motores da nave, partindo em direção a seu lar, mas quando já está próximo uma pequena tela à sua frente se liga mostrando a imagem de Vulko.
Professor, estou levando duas amostras dos animais que atacaram a Austrália. Estranhamente, eles eram resistentes aos meus comandos... Aquaman é interrompido.
Rei Orin, resolveremos isso assim que chegar em Poseidônis, mas, no momento, outro ataque está acontecendo.
Não acredito. Orin se surpreende.
Sim. Uma, ao que parece, moréia gigante está aterrorizando a costa de Boston.
O quão rápido esta máquina consegue chegar lá?
Vossa Majestade, pegando a corrente certa, em cerca de cinco minutos!
Aquaman liga os motores da nave na potência máxima e se dirige com celeridade para Boston, nos Estados Unidos. Quando chega em águas rasas, Aquaman não tem dificuldade em avistar a criatura. Uma moréia colossal nada pela costa, virando barcos e abocanhando as pessoas que caem no mar. Orin sai da embarcação e, mais uma vez, sem sucesso tenta usar seus comandos telepáticos.
"Não adianta perder meu tempo. Tenho que impedir este ataque de prosseguir e já."
Orin usa novamente seus comandos telepáticos, mas desta vez, para pedir a golfinhos e tubarões próximos que levem as pessoas em segurança para a costa. Os animais obedecem com presteza, e, embora, a visão de um tubarão se aproximando cause terror em alguns, eles não tem opção quando os animais começam a empurrá-los, e até mesmo, a agarrar alguns com suas presas. Alguns arranhões acontecerão, com certeza, mas o destino seria bem mais cruel caso ficassem na água: afogamento ou o estômago da moréia.
A aberração marinha ainda abocanha alguns dos animais que responderam ao chamado do Aquaman, mas, no geral, o resgate é bem-sucedido. A gigantesca criatura fita seus olhos no monarca submarino. Instintivamente, Aquaman sabe que é o alvo do próximo ataque.
A moréia avança, mas Aquaman se desvia, deixando seu gancho posicionado para rasgar a carne da criatura, usando o impulso do próprio ataque. Dá certo. A moréia treme ao sentir o metal frio rasgando, mas está longe de ser o suficiente para abalá-la. O animal se posiciona para um novo ataque, desta vez muito rápido para Aquaman se desviar por completo.
Os dentes da moréia rasgam o abdômen do monarca, que é lançado mais ao fundo. Rapidamente, a criatura nada atrás e abocanha Aquaman. O herói fica preso por entre os dentes da moréia, lutando para não ser engolido.
Começa uma disputa de forças entre a mandíbula da moréia e Orin. Uma disputa que, não demora muito, Aquaman ganha, se livrando do destino fatal que o aguardava. A força do impacto dos pés e mãos de Orin na boca da moréia faz com que ela se afaste por uns instantes, tempo suficiente para Orin recuperar o fôlego e se posicionar para um outro ataque.
Aquaman, dessa vez, toma a iniciativa e, como um torpedo, se lança ao encontro da moréia, com seu gancho apontado para frente, tal qual a ponta de uma lança. O animal tenta se esquivar, mas, ainda assim, Aquaman o atinge próximo à cabeça. O gancho penetra fundo.
Imediatamente, Aquaman dispara o gancho, fazendo com que a arma entre ainda mais na carne, como um anzol. Orin começa a nadar para longe da costa, levando consigo a moréia presa e em choque.
Enquanto Aquaman tenta arrastar a criatura para o fundo do mar, ele vai chamando as mais ferozes criaturas marinhas para que ataquem a moréia e se alimentem da carne dela, pretendendo assim desferir um ataque fatal contra seu oponente. No entanto, a moréia desperta de seu choque e, mostrando uma força colossal, começa a nadar em direção oposta, arrastando Aquaman. O monarca perde a concentração e os animais aquáticos em seu comando se dispersam.
"Não pode ser. Esta criatura possui a força de dez baleias!" pensa.
Aquaman tenta retrair seu gancho, mas o tremor da moréia e a imediata sensação de que ele está emperrado não deixam dúvidas: a arma prende em algo dentro do animal. Orin está preso, tal qual um peixe em um anzol.
A moréia o arrasta em círculos, vez ou outra, Aquaman bate em rochas, outras vezes, na areia.
"Talvez eu não consiga arrastá-la, mas tive uma idéia."
Orin começa a nadar contra a moréia, fazendo força. Finalmente, ele dá um puxão em seu gancho, com seus ouvidos adaptados ao ambiente aquático ele escuta o barulho de algo rasgando dentro da criatura. Ele puxa mais e mais, a moréia se debate. Finalmente, o gancho se retrai.
A criatura se vira para Aquaman. Ele sente outro choque de fúria mental. Como se ondas de raiva o atingissem. Abalado pelo choque, Aquaman fica alguns instantes atordoado. A moréia ataca. Seus dentes agarram a perna do herói, a mordida é certeira. Como se uma dúzia de adagas entrassem na coxa de Aquaman. Orin solta um berro de dor. O sangue mancha as águas.
Com a perna presa na boca da criatura, e o resto do corpo do lado de fora, Aquaman começa a desferir socos e golpes na cabeça do animal. Embora os poderosos golpes do monarca estejam, aos poucos, abalando a criatura, ele teme que talvez não consiga derrubá-la em tempo suficiente de se salvar. Ignorando a dor, Orin se concentra em chamar novamente os animais. Ele chama os maiores animais próximos e, em instantes, um punhado de peixes se aproximam.
Os animais começam a investir contra a moréia, dando golpes com o corpo, tentando forçar a criatura a soltar Aquaman. Por maiores que sejam os peixes daquele local, eles não passam de um mero incômodo para a gigantesca criatura. Ela os ignora. O herói, já muito tonto e perdendo as forças, começa a perder também as esperanças. Até que ele escuta o barulho do canto de uma baleia, e o grande mamífero atinge a moréia em cheio, fazendo-a largar o Aquaman.
O monarca de Poseidônis usa suas últimas energias para sincronizar um ataque junto da grande baleia. Os dois acertam poderosos golpes na cabeça da moréia ao mesmo tempo e, finalmente, a colossal moréia não aguenta mais e começa a afundar, morta.
Aquaman tenta pedir à baleia que o leve ao seu veículo, mas não consegue. Ele desmaia e começa a afundar, até que seu corpo se choca contra a areia, e ele fica lá, entre pedras e estrelas-do-mar. O sangue jorra impiedosamente de sua perna, e, inconsciente como está, os predadores não sabem dizer a diferença entre o Rei de Poseidônis e um animal ferido qualquer...
Continua...
:: Notas do Autor
(*) A Guerra Atlântida x Poseidônis agitou o fundo dos oceanos entre as edições # 27 e # 33 do título da Liga da Justiça. 
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