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Aquaman # 03

Por Eduardo Regis

Tormentas

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Mera finalmente consegue falar. Sua voz sai chorosa.

— Orin, por favor, a hora de nosso sacrifício já passou. Faça o que tem de ser feito. Faça o que eu mesma desejei fazer tantas vezes e falhei em ter coragem. Esgane esse desgraçado! Jogue-o para os tubarões!

— Mera... eu... não posso.

— Mas, Orin, eu o vi fazendo o impensável. Eu o vi indo contra tudo que você sempre acreditou em nome de Poseidônis. Achei que agora você tinha mudado, que agora você teria o ímpeto necessário para...

— Matar? Talvez eu tivesse, meses atrás. Mas eu já venho me punindo por erros imperdoáveis, não posso cometer o que viria a ser o maior deles!

— Mas eu achei que você tinha mudado... — o choro de Mera vai se tornando mais forte.

— Não, Mera, não é verdade. Você sempre acreditou em mim, sempre me viu como eu sou de verdade. Sua raiva e sua dor estão embaçando sua visão. Eu sei por que a minha própria também se confundiu ao vê-lo novamente, mas aprendi que os fins não justificam os meios.

Aquaman sente que o comunicador é desligado por Mera. Ele queria consolá-la, estar lá para conversar mais com ela. Porém, ele não está. Está em uma caverna submarina e logo adiante está o seu pior inimigo. (*)

Arraia Negra! — Orin grita, enquanto sai do corredor dando um salto em direção ao vilão, que distraído que estava com a música e com alguns trabalhos em uma grande bancada junto a uma mesa repleta de computadores, é pego de surpresa. Aquaman o atinge com todo o peso de seu corpo, derrubando-o. Eles ficam cara a cara, caídos no chão. O Arraia Negra está vestindo sua roupa, mas não sua máscara. A pele negra do rosto do Arraia fica rubra de tanta fúria.

— Aquaman?! De onde você saiu?

— Eu segui um de seus bichinhos até aqui, Arraia. Como vê, os enfadonhos dias de assembléias e assinatura de tratados não me tiraram o faro!

— Não... mas essas olheiras e as bandagens indicam que certamente alguém já te tirou o sossego! — o Arraia atinge um golpe na perna machucada de Orin, que o solta. O vilão então o empurra para longe — E eu me orgulho de ter sido o responsável!

Os dois, agora de pé, continuam se encarando. O Arraia rapidamente olha para uma mesa ao longe, onde estão depositadas todas as armas que normalmente ficam embutidas no seu traje. Aquaman percebe e imediatamente lanças seu gancho até a mesa, derrubando-a e fazendo as armas se espalharem pelo chão, bem para longe deles.

— Nada disso, Arraia. Vamos ver como você se sai só com as mãos.

— Você está fraco e ferido, Aquaman. Não que eu vá pedir que desista, mas entenda que esta será nossa luta final!

— Você sabia que mandei fazer uma cela com ar da superfície especialmente para você? Não poupei cientistas e dinheiro para isso. Você será levado à justiça de Poseidônis e condenado por seus diversos crimes a uma vida em cárcere, e agradeça por não mais utilizarmos a pena de morte!

— O bondoso Rei Orin. Muito obrigado pela sua clemência, mas eu dispenso! — o vilão agarra seu capacete e o coloca na cabeça. Imediatamente mecanismos no traje o prendem, vedando a roupa por completo e fazendo a voz de Arraia Negra ganhar um tom metálico e profundo — Aposto que não vai ser muito difícil quebrar a sua cara dessa vez! — ele avança com um soco que acerta certeiro a cara de Orin.

Aquaman responde com um chute na altura do estômago.

— Eu ainda continuo muito mais forte do que você!

— Não depois dos upgrades que eu fiz na roupa! — o vilão gira um outro soco, mas Aquaman o segura no ar, derrubando-o em seguida. O movimento, no entanto, faz com que Orin cerre os dentes de dor. Os ferimentos o incomodam muito.

— Estamos ambos em desvantagem, Aqua. Você ferido e eu desprovido de meu pequeno arsenal! Esta é uma luta que, sinceramente, qualquer um pode vencer e... eu não me sinto confortável em dúvida! — o Arraia, ainda do chão, joga uma caixa de ferramentas caída próximo a ele em cima de Orin. Enquanto o herói se desvia, Arraia corre para for a da sala, em direção ao corredor de onde Aquaman veio. Assim que o atravessa, uma porta de metal desce por uma fenda de pedra, lacrando a sala.

— Agora, Aquaman... não pense que você não sentirá o gosto amargo de ter se metido em meus assuntos! Uma pena que eu não possua comigo maneiras de garantir que você irá morrer só por ficar trancado aí dentro! — a voz do Arraia ecoa abafada por de trás da porta — Até uma outra vez!

Aquaman soca a porta, tentando derrubá-la, mas o material parece muito resistente.

"E agora? O maldito tem razão, eu poderia chamar as forças de Poseidônis para me resgatarem, mas antes... vamos ver o que eu consigo fazer sozinho e o que eu posso descobrir nesta sala."

O grande computador logo chama a atenção do rei de Poseidônis. Ao tocar em seu teclado, a tela se liga, revelando um documento aberto. O documento intitulado "Futuro" começa com alguma descrição técnica de criaturas marinhas e fotos dos monstros que vinham realizando os ataques. Um nome chama a atenção no documento: dr. Vincent McFerlingh.

"Isto pode ser o que preciso para impedi-lo de criar mais monstros como estes. Se eu tivesse como enviar isto para Vulko. E esta música irritante, aonde será que desligo isso?"

Aquaman apóia sua mão no teclado enquanto pensa em como garantir que os dados à sua frente cheguem a Poseidônis. De repente, as luzes se tornam mais brilhantes e a música para. Aquaman leva um choque e é jogado para trás. O computador parece explodir, como em um curto-circuito.

"Ele deve ter sobrecarregado o gerador. Muito esperto."

Orin vê a mesa com as armas do Arraia.

"Já que não vou conseguir mais nada por aqui, vamos ver o que eu consigo fazer com essas armas."

Cerca de meia hora depois, a porta de metal explode. Aquaman está livre.

Algum tempo depois, em Poseidônis...

Mera vira o rosto quando Aquaman entra no salão real.

— Mera, mas o que...

— Não. — ela olha para o chão — É que... eu jamais deveria ter te pedido aquilo, Orin. Mesmo que o desgraçado tenha matado nosso filho... (**) mesmo que eu tenha tido que suportar sua presença em Poseidônis na época da guerra com Atlântida. (***) Mesmo assim... nada justifica essa minha vontade.

— Não se envergonhe. Sabe, seu sentimento é o mais natural possível, ou você acha que eu realmente não sinto vontade de matá-lo e acabar com tudo isso de uma vez por todas? — Aquaman acaricia os cabelos longos e vermelhos de Mera — "Como podem brilhar mais do que as próprias pérolas que adornam o salão real?"

— Mas você é forte o suficiente para resistir, ainda bem. Eu, bem, eu claramente ainda não estou recuperada. Talvez seja melhor eu me afastar do conselho real. Toda essa proximidade com você não está me ajudando.

— Se quiser deixar de participar do conselho eu respeitarei sua decisão, mas, por favor, não abandone o palácio... — Aquaman segura sua mão. O calor do corpo de Mera faz um arrepio subir pela espinha do rei.

— Eu não posso responder isso agora, Orin. — Mera se desvencilha e sai.

— Quando isso vai terminar, Poseidon? Quando finalmente vamos conseguir olhar um para o outro sem ver o corpo morto de nosso filho?— Aquaman caminha até o trono e se senta.

Vulko aparece apressado.

— Meu rei, soube que havia chegado. Apressei-me em vir trazê-lo novidades da análise prévia dos tecidos daqueles animais.

Aquaman agradece pela intervenção de Vulko, pela distração que ela causou em sua cabeça conturbada.

— O que encontraram?

— Há algumas inserções no genoma destas criaturas. Nunca vi nada parecido antes, não saberia dizer ao certo do que se trata, mas certamente foram desenhadas em um laboratório. A grande questão é onde estas inserções foram colocadas...

— Vulko, por favor. Sem suspense e sem muitos termos técnicos.

— Bem, tentando resumir e simplificar: algo colocado em um laboratório nestes animais está interferindo no hormônio do crescimento e em fibras musculares.

#151; Tornando-os grande e fortes. — Orin conclui.

— Sim! E há outra coisa interferindo no cérebro, mais especificamente na região do controle.

— E por isso eles não atendem aos meus comandos!

— Mas parecem atender aos comandos de outro! Como você mesmo concluiu.

— Sim, Mestre Vulko, do Arraia Negra! — Aquaman ajeita suas bandagens.

— Arraia Negra? Isso explicaria, talvez, suas bandagens sujas de sangue novamente?

— Em parte. Mas ele fugiu.

— Conte-me essa história com detalhes, por favor. — Vulko se aproxima de Orin. Aquaman conta tudo o que se passou a Vulko.

— Não conheço os cientistas da superfície, nunca ouvi falar nesse McFerlingh... ou qualquer coisa assim. — Vulko diz.

— Nem eu, mas eu sei quem saberá de algo com certeza. Precisamos contatar o Batman.

— Seu ex-aliado da Liga? Mas achei que sua relação com eles estivesse abalada.

— E está. Porém, o dia foi longo hoje e, dentre muitas coisas, fui mais cedo à torre da Liga.

— Admiro sua humildade, meu rei.

— Não foi a primeira vez que fiz algo que temia pelo meu povo. — Orin desvia o olhar.

— Mas agora foi diferente. E então?

— A torre estava praticamente vazia, com exceção do Batman, o que é muito estranho. Até parece que ele sabia que eu apareceria...

— A fama dele corrobora sua teoria. — Vulko sorri.

— Verdade. Enfim, ele me ofereceu ajuda.

— Então aquela cara fechada é realmente fachada.

— Nem tanto, Vulko. Ele sabe que há mais em jogo. E nessas horas, ele não tarda, nem falha.

— Então vamos nos apressar em pedir ajuda a ele.

— Certamente. — Aquaman se levanta e caminha junto de Vulko para uma outra sala.

Os dois se conectam a um grande computador e logo a imagem de Batman sentado em frente à poltrona da caverna aparece na tela.

— Batman, descobri que o autor dos ataques é o Arraia Negra. — Aquaman fala.

— Não é uma surpresa. — o detetive comenta.

— Não mesmo. O mais intrigante é que descobrimos que os animais foram modificados geneticamente e, pelo que eu pude averiguar em um computador do Arraia, por um tal de doutor Vincent McFerlingh. O problema é que eu nem sei por onde começar a procurar por este homem... mas você certamente poderia fazê-lo!

O morcego começa a digitar algumas coisas em seu computador.

— Dr. McFerlingh, PhD em biologia molecular pela universidade de Londres, muito respeitado pelas suas descobertas em genes de comportamento animal. Atualmente trabalha em um instituto de pesquisa em vida marinha na Escócia, seu país de origem.

— Como você descobriu isso tão rápido?

— Está na internet. Acredite. É claro que nem toda informação pode ser confiável, e há um problema... todas as páginas falam apenas do doutor Bernard McFerlingh. Não de Vincent. Inclusive na página oficial do instituto.

— Parentes?

— Ou mais do que isso. Se eu fosse você faria uma visita a esse Bernard. Estou lhe enviando esses dados, mais o endereço do instituto de pesquisas. Espere. Achei algo sobre Vincent. Parecem registros antigos. Sim, acessando os dados do governo escocês o computador descobriu que Vincent McFerlingh nasceu em 1904 e morreu em 98. Bastante longevo.

— Muito obrigado pela ajuda, Batman.

— Não quero um desses monstros atacando Gotham. Acabe com as maquinações do Arraia. — o cavaleiro das trevas aproxima seu dedo de um botão no teclado.

— Como sempre, é o que eu mais desejo fazer.

Batman aperta o botão e a imagem desaparece no computador, fechando o canal.

— Isso é ótimo, Orin! Agora temos por onde começar a procurar esse cientista!

— Sim, professor. Embora estejamos no caminho certo, ao que parece, eu estou com uma sensação esquisita, como se o Arraia estivesse aprontando algo para qual não estamos preparados.

— É difícil prever as ações de um psicopata com ele. — Vulko coça a barba.

— Eu diria que é impossível. Só sabemos que ele certamente não está pensando em fazer caridade.

— Creio que não viveremos para ver este dia. — o professor sorri.

— Bem, acho que ainda vai demorar um tempo para o Arraia se reestruturar, e eu preciso do descanso. Esses ferimentos precisam cicatrizar melhor.

— Vou chamar a junta médica agora mesmo.

— Não é necessário. Deixe-me apenas descansando. Eu mesmo posso trocar as bandagens e passar o remédio que me deram. Eu quero que você me faça outro favor agora, Vulko. De amigo para amigo. — Aquaman aperta os ombros do professor.

— Diga-me, meu caro. Agora mesmo. — Vulko retribui o carinho, sorrindo.

— Fique de olho em Mera. Ela não está reagindo bem.

— Ela não está nada bem desde que você trouxe o Arraia para cá.

— Eu sabia que ela não iria gostar, mas...

— Você fez o que achou que era preciso. — o professor o apóia.

— Contra seus conselhos, Vulko. Antes eu tivesse ouvido você, tudo poderia ter sido diferente. Talvez tivesse valido a pena tentar conversar com Namor mais uma vez.

— Sim. Mas são águas passadas e Namor nunca foi muito simpático.

— Mas nada disso muda o mal que fiz a Mera, não é? — Aquaman pergunta.

— Não. Nada mudará isso. Ela falou-me de matar o Arraia no palácio, mas eu a convenci de que era uma idéia absurda. Falei que não tardaria para ele ser preso e pagar por todos os seus crimes. Nem eu mesmo sei se acredito nessa justiça, mas achei que era melhor acalmá-la.

— Fez bem, meu amigo. Eu estava tão preocupado com a guerra, nem dei a atenção devida à minha Mera. — Aquaman para, se dando conta do que falou — Perdão, a Mera. Não é mais minha.

— Só porque vocês insistem em se negar. Perdoe-me a ousadia, amigo, mas é mais claro do que cristal que os dois ainda se amam.

— Mas há um fantasma entre nós.

— E outro que se cria quando vocês estão separados. Vocês estão fazendo tudo errado, dois são mais fortes do que um! Não importa se você é o Aquaman, capaz de comandar exércitos de criaturas submarinas, erguer pedras gigantes e nadar mais rápido do que os tubarões. Não importa se ela, Mera, é uma rainha, uma mulher de garra. Ninguém. Ninguém mesmo está preparado para lidar com o que vocês passaram.

Não é como acontece na superfície. As lágrimas logo se dissolvem na água, que está ao redor de tudo, mas ainda assim Aquaman chora. Os olhos vermelhos e o silêncio não mentem.

— Talvez eu devesse procurá-la agora mesmo. — Orin fala com dificuldade, sua voz sai trêmula e falhada.

— Não, meu amigo. Agora você precisa criar suas cicatrizes e ela, as dela. — Vulko conclui sabiamente.


Continua...


:: Notas do Autor

(*) Leia a edição anterior. voltar ao texto

(**) Arraia Negra matou Arthur Curry Jr. em mais um de seus planos contra o monarca atlante, em Aquaman vol. 4 # 06, da DC Comics (1993). voltar ao texto

(***) Isso ocorreu no arco "Guerra Atlântida x Poseidônis", em Liga da Justiça # 27 a # 33. voltar ao texto




 
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