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Aquaman # 09

Por Eduardo Regis

Nadando com Tubarões - Parte III
Recomeço

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Vulko inspeciona o salão real. Vazio. Desolado com a partida de Mera e preocupado com a situação de Orin, ele observa aquela sala enquanto é tomado por uma angústia indescritível. O cientista aperta com força um pequeno comunicador. Já faz muito tempo desde que Orin fez seu último contato... tempo demais.

"É hora de chamar a Liga da Justiça."

Subitamente, o pequeno aparelho começa a tocar. Vulko toma um susto, quase o deixa cair, mas rapidamente se recompõe e pressiona o botão verde, iniciando a comunicação.

— Vulko, meu amigo, estou com o Arraia. Estou rumando para Atlântida com ele.

Nasce um sorriso no rosto do velho cientista.

— Orin, meu rei, o senhor está bem?

— Não... estou muito machucado, e também exausto, mas em breve estarei em casa. Prepare tudo... Vulko... prepare... tudo...

— É pra já.

O professor desliga o pequeno aparelho e corre para seu laboratório. Ele dá um aviso para a guarda: Orin deve ser levado a ele imediatamente.

Com um toque no monitor do grande computador, ele acessa os arquivos do projeto no qual vem trabalhando nos últimos dias. Um projeto de longa data, mas que ganhou fôlego sem igual nos últimos dias e agora ele acredita que é hora de colocá-lo em prática.

Enquanto se concentra no computador, Vulko percebe que uma pessoa entra em sua sala.

— Meu rei?

Mas a surpresa de Vulko não poderia ser maior.

— Não, caro Vulko.

Garth sorri e vai ao encontro do velho professor, oferecendo um abraço.

— Você aceitou!

— Eu ainda acho que é uma péssima idéia... essa história de Poseidonis se tornar território de Atlântida não dará certo. A história nos ensina que...

— Que tudo está em constante mudança. — Vulko o interrompe — Orin não é mais o mesmo, você também não... e essa é a única solução para que Poseidonis e Atlântida não terminem numa guerra sem fim.

— Mas custará a vida de Orin, Vulko.

— Oh, sim... Namor irá cobrar o desafio com Orin, não tenha dúvidas. Mas não será agora, e até lá a maré pode mudar.

— Você pode ser tão otimista quanto cético. Ás vezes é difícil interpretar suas reações, professor. — Garth fala.

— Veja isto. — Vulko revela o monitor para Garth.

Os olhos de Garth passeiam cuidadosos pelos arquivos.

— Mas... você já tentou isso antes.

— Não com a tecnologia desse humano. Veja Garth, eu poderei fazer ainda muito mais.

— Mas... será suficiente?

— Dará a ele o que ele precisa: confiança.

Os passos pesados da guarda se deslocando pelos corredores próximos dispersam a conversa.

— Ele chegou! — Vulko se agita.

A porta da sala se abre e entram quatro guardas carregando Orin em uma maca. Aquaman está desmaiado. Além de feridas antigas abertas, ele possui queimaduras e contusões por todo o corpo. Seu gancho foi arrancado, mostrando sua mão amputada.

— Coloquem-no neste leito! — Vulko aponta para um leito no meio da sala, cercado de máquinas e instrumentos cirúrgicos.

— Garth, você precisa me ajudar. Ele está pior do que eu imaginava.

— Diga-me o que fazer...

— Para começar, vamos precisar de uma doação de sangue.

Orin abre os olhos. Ele não sabe por quanto tempo esteve desacordado, mas sente pela dormência nos braços e pernas que deve ter sido por muito tempo. As memórias do que aconteceu depois de deixar o Arraia em Atlântida estão confusas... só a dor é lembrança marcante, mas agora tudo parece estar muito melhor. Apoiando as duas mãos na cama, ele levanta seu tronco e fica sentado. As articulações ainda doem muito, principalmente seu pulso esquerdo, e é então que Orin se dá conta de algo surpreendente. Sua mão esquerda está lá, reconstruída. Ele a coloca de frente aos olhos, examinando cada aspecto da novidade.

"Não é possível!"

Mas é a verdade. A mão está lá, intacta, quase idêntica ao que era. Apenas a fascinação exaltante e a felicidade imensurável de Aquaman permitem que ele a olhe por tempo bastante para perceber um sutil detalhe que a diferencia do resto do corpo: está coberta por minúsculas e transparentes escamas.

"Vulko... só pode ser coisa do Vulko."

Vulko!

O grito ecoa pelos corredores. Em poucos instantes, Vulko aparece no quarto. Sorrindo. Na verdade, rindo.

— Gostou?

Aquaman dá um salto e abraça Vulko.

— Gostei? Eu adorei. Genial! — ele abre e fecha a nova mão diversas vezes — Como você conseguiu fazer isso?

— Usando algumas idéias daquele cientista da superfície, o do lago. Eu recombinei seu DNA ao de um peixe e fiz crescer uma mão em uma câmara. Depois foi só colocá-la em você por cirurgia. Não ficou perfeito, mas é o bastante para não causar nenhuma reação.

— Isso é impressionante!

— O segredo estava na capacidade de fazer um peixe desenvolver as células necessárias para dar início a toda a sua mão. O processo simplesmente não funciona nas placas de cultura de células, pois...

— Eu nem quero saber como você fez, Vulko. — Orin o interrompe — E não sei como agradecer.

— Por favor, meu rei. Tudo por vossa majestade.

Aquaman balança a cabeça em sinal de negação.

— Pare de me chamar assim. Agora vocês respondem ao embaixador Garth e ao rei Namor, e eu, Orin de Poseidonis, Arthur, da superfície, vou para o meu exílio.

— Nada o proíbe de ficar em Poseidonis. Para que ir embora?

— E eu poderia ficar aqui? Ouvindo o choro de meu filho? Sentindo o cheiro de Mera? Recebendo o olhar de reprovação do meu povo? É demais.

— Eles vão entender.

— Não vão. E mesmo que entendam, não é esse o único problema. Então, eu irei.

Vulko abaixa a cabeça.

— Eu estarei bem.

— Eu sei, meu amigo. Eu sei.

— Prometa-me que fará de tudo para ajudar Garth a fazer o povo acreditar que estes serão tempos mais felizes, sem medo de guerras, sem medo de ataques. Tempos nos quais todos poderão levar suas vidas com tranqüilidade. Mas prometa-me também que, se Namor não cumprir sua promessa e começar a explorar Poseidonis, você e Garth irão atrás de mim e nós lutaremos novamente.

— Está prometido, Orin.

— Então, só me resta esperar que eu esteja certo.

— Sobre o quê? — Vulko pergunta.

— Sobre o que vi na mente e no coração de Namor.

— O senhor é bastante habilidoso em compreender essas sutilezas. Se viu algo em Namor, só pode ser a verdade. E perdoe-me a curiosidade, mas o que viu nele?

— Namor é arrogante e duro, mas ele ama seu povo acima de tudo. Tudo o que ele faz, todos os seus pensamentos são apenas para o bem de seu povo. Por isso, se ele nos aceitou como iguais, acredito que ele nos tratará com o mesmo zelo.

— Espero que Garth consiga lidar bem com ele.

Orin olha sério e coloca as mãos no ombro do professor.

— Garth irá se sair bem, devemos nos preocupar com outra coisa.

— Com o quê, Orin?

— Tempos difíceis virão para a superfície, meu caro Vulko. Namor planeja proibir os humanos de explorar o mar. Isto irá gerar um conflito sem igual na história.

— E o que faremos? Não sei o que poderíamos fazer para mudar a cabeça de Namor. — o cientista coça sua barba.

— Estou certo de que vocês tentarão persuadí-lo a não fazer tal coisa, e terão o apoio de Namorita. Eu farei diferente, lutarei ao lado dos homens da superfície.

— Mas, Orin, Namor pode ser radical, mas a superfície realmente está abusando de nossos recursos.

— Eu sei, Vulko. Eu sei. A superfície tem que parar de envenenar nosso reino, mas a guerra há de ser o último recurso. Além do mais, nossos reinos não cobrem toda a área de oceano do mundo e os recursos são vastos demais para nos recusarmos a dividí-los.

— Talvez Namor queira só alarmar a superfície.

— Não, Vulko. Ele quer partir direto para a ação.

— Vamos esperar, Orin. Esperemos que Namor anuncie tal ato. Até lá, é uma ameaça, e não estamos em posição ainda de lutar contra as idéias dele. Vamos fazer com que Garth ganhe sua confiança. Ele será nossa melhor arma.

— É justamente por isso que você deve continuar como conselheiro, meu caro. Justamente por isso. Falando nisso, Garth já está aqui?

— Sim. Agradeça a ele, pois ele contribuiu com uma generosa doação de sangue para o senhor. Deseja se encontrar com ele? Acho que ele está...

— Não, deixe que se ele o quiser virá até a mim, um dia. Até lá, suas mágoas ainda serão muito vivas.

— Eu respeito a posição de ambos.

— Eu sei, sempre foi assim. Bem... me sinto quase inteiro novamente e, portanto, é chegada minha hora de partir. Vou pegar algumas coisas. — Aquaman começa a se dirigir para seus aposentos.

— Orin, para onde irá? — Vulko o segue.

— Eu deixarei com você, amigo, minha localização exata e levarei um comunicador ao qual só você terá acesso, mas deve me prometer só usar essas informações em caso de vida ou morte.

— Está prometido.

Então venha comigo e lhe contarei tudo.

Ele se afasta a nado. Para uma última vez para contemplar a maravilha que é Poseidonis. A cidade dentro do domo. As lágrimas de Aquaman se diluem no grande oceano enquanto ele nada para longe.

Vulko observa do portão principal enquanto Orin, vestindo sua calça verde e antiga camisa laranja, sai para seu exílio auto-imposto. O rosto do antigo rei se vira mais uma vez para a amada cidade, revelando que agora seu cabelo dourado está curto e que a volumosa barba foi completamente raspada. O professor reza para que Aquaman possa encontrar novamente tudo o que perdeu: sua dignidade, autoconfiança e sua infinita esperança. Reza para que seu refúgio seja seguro, longe da ira de sua crescente lista de inimigos.

— Então, é isso. — o embaixador Garth aproxima-se de Vulko.

— Ele se foi e é impossível ter certeza de que o veremos de novo. — Vulko olha triste para o horizonte.

Garth não pronuncia uma palavra. Como sempre, o professor tem razão.




 
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