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Batman # 18

Por Leonardo Araújo

Na edição anterior: Bruce e sua parceira chegaram a uma cidade fugindo de seus perseguidores. A identidade da misteriosa ruiva é revelada: Ártemis. O casal se envolve em meio à frenética perseguição. A dupla prepara uma ardilosa armadilha e tenta atrair seus inimigos para esta, mas o detetive continua sem memória.

Identidade Wayne — Parte III
O Retorno

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— Deu algum trabalho, mas está feito. — diz Ártemis ao ver o velho depósito transformado numa arapuca.

— Quer tomar um banho? — pergunta Bruce, com um meio sorriso. Ela sorri de volta.

— Guarde suas forças. Você me alertou para não os subestimarmos.

— OK!

— Enquanto estava lá embaixo, tive uma idéia. Ficarei lá, aguardando-os chegar. Serei um elemento-surpresa.

— Verificou se há alguma entrada direto para o subsolo?

— Não há.

— É uma boa idéia. Mas tenha paciência, pois eles podem demorar.

Ártemis desce as escadas e Bruce acompanha o balançar de seu quadril, até ela sumir nas sobras. Novamente aquela voz, agora de maneira bastante incisiva, esbraveja e o impele a se concentrar totalmente nas ações que poderiam advir.

A espera demora menos do que se imaginava. É pouco menos de uma da madrugada quando Bruce percebe que o deposito está sendo invadido. São oito invasores. Ele sabe que sua parceira também perceberá o movimento, por mais silenciosos que os homens tentem ser.

A fração de segundo que se segue é muito familiar ao desmemoriado Wayne: ele se lança do alto sobre suas vítimas. O vento no rosto lhe traz alguma lembrança, ainda não muito clara. Por um momento ele pode até imaginar que asas negras se formam em suas costas, mas só por um momento, pois a concentração do combate exige uma dose maciça de realidade.

O grupo, apesar de muito bem treinado, se surpreende. Não esperavam que um homem só se lançasse à morte certa. Talvez por excesso de otimismo ou simplesmente pelo impacto do momento, as ações iniciais são do vigilante. Batman amortece sua queda usando dois de seus adversários, inclusive quebrando a clavícula de um deles, e, na seqüência de movimentos, usa o que sobrou do impulso do salto para atingir mais dois na altura do joelho com um movimento de perna paralelo ao solo. Um terceiro seria atingido se não se recuperasse da surpresa do ataque e não tivesse excelentes reflexos.

O animal que está enjaulado na mente e corpo de Bruce Wayne se sente prestes a escapar, pois comanda todas as ações: ele sabe onde bater, como bater, o que fazer para manter seus adversários na defensiva e os deixar inseguros quanto ao sucesso da missão. Há uma intensa troca de golpes. O número elevado de oponentes de grande habilidade em combate impossibilita Batman de se defender e esquivar de todos os golpes que lhe são direcionados. Porém, sua concentração é tamanha que a dor é ignorada e o gosto de sangue na boca só excita ainda mais a fera que existe nele. Dos oito oponentes iniciais, o número cai para seis, com um terceiro já bastante combalido.

Neste momento, o piso de madeira racha. Duas mãos surgem das profundezas arrastando dois ninjas para o subsolo. Um terceiro vai em apoio aos parceiros. Batman escuta a violência do combate que é travado sob o piso em que está, mas isso não pode desviar sua atenção, pois dardos e estrelas cortam o ar em sua direção, o forçando a saltar e girar para não ser atingido. Usa as sombras para forçar uma aproximação dos homens e os impossibilitar de fazer qualquer mira à distância. Uma voz masculina grita algo no subsolo, e mais um dos homens entra pela abertura do piso de madeira. O detetive sabe que Ártemis pode se cuidar.

Dos dois que permanecem em cima, um está bastante ferido, o outro parte para uma ofensiva com toda a disposição. Mas as trevas são o domínio do morcego. Batman possibilita que seu adversário chegue bem perto até estar ao alcance de um golpe que seria fatal caso atingisse seu alvo da forma correta. Inconscientemente, ele sabe que seu oponente tem habilidade para se defender, por isso o golpe causaria muito estrago, mas não mataria.

Um grito de dor ecoa no depósito. Agora o ferido é o único de pé, ao menos neste nível do solo. Nisto, um dos oponentes que estavam no subsolo sobe. Batman teme o pior por sua parceira, apenas durante a fração de segundo que leva para o corpo de um dos agressores romper o piso fragilizado e cair inerte. Ártemis surge por entre essa nova passagem. O homem que subiu, por conta própria, prepara-se para a enfrentar, embora um segundo oponente a persiga: são os dois únicos que restaram do acirrado combate no subsolo.

O ninja ferido parece perceber que a luta está perdida e inicia uma fuga. Batman percebe que Ártemis tem alguns ferimentos leves, mas possui a convicção de que a guerreira poderá derrotar os dois oponentes. Mesmo assim, ele prefere dar uma leve ajuda, pois o homem ferido não irá muito longe. Usando algumas estrelas metálicas de um dos homens nocauteados, Batman atinge uma passarela em diversos pontos, por várias vezes. É uma das que estavam preparadas para cair. A passarela, como era de se esperar, cede. Presa somente por uma das suas extremidades, ela gira, atingindo um daqueles que lutava com Ártemis. Batman agora se põe ao encalço do fugitivo.

Um misto de prazer e surpresa lhe toma a alma enquanto percebe que se movimentar por sobre telhados e coberturas de prédios lhe é quase instintivo. Parapeitos, cabos, antenas, estruturas aparentes, tudo é usado como meio de locomoção por sobre a cidade. A facilidade com a qual identifica pequenos detalhes que indicam a rota de fuga de sua "caça" é igualmente surpreendente para este vigilante sem memória. Ele pode perceber que o perseguido está menos ferido do que supunha.

Um estrondo ao fundo pode ser ouvido. Bruce tem certeza que Ártemis derrubou, literalmente, o depósito em cima de seus adversários. Prossegue a caçada em busca de seu alvo. Demora cerca de quinze minutos para ele se aproximar do fugitivo de maneira decisiva. Exatamente aqui ele observa Ártemis, com um salto, passar por sobre ele. A velocidade daquela mulher é de impressionar. Ártemis encurrala o último dos invasores em um beco pouco movimentado e escuro.

— Sua cadela, você nunca vai me pegar! — grita o homem ferido, desesperado e acuado.

Em seu pavor, ele toma um garoto como refém, aquele mesmo garoto da família de sem-tetos que passou no pequeno restaurante onde Ártemis e Bruce compraram seu almoço. Os pais do menino são ameaçados. A cena da família em perigo é como um choque psíquico no morcego: sua identidade, todo o passado e o que ele é se cristaliza com tal nitidez em sua mente que é como se nunca tivesse perdido a memória.

Enquanto uma enfurecida Ártemis caminha na direção do ninja, este recua vagarosamente até as sombras, com seu refém chorando e os pais desesperados. A faca pressiona o pescoço do garoto, podendo romper a pele a qualquer momento. Súbito, o fugitivo sente algo às suas costas, imaginando ser uma parede. A parede é viva e atende por Batman. A faca voa para longe, enquanto gritos de dor ecoam no beco. O garoto corre para seus pais enquanto o barulho de ossos se partindo pode ser ouvido mesmo por aqueles que somente passam à frente do beco.

Ártemis chega até um corpo desfalecido no solo, bastante machucado, com múltiplas fraturas e escoriações. Batman, ainda sem suas vestimentas tradicionais, está a poucos metros da "caça abatida". Ela fala, enquanto observa o homem ao chão:

— Fraturas múltiplas, dentes quebrados, provavelmente algumas costelas. Há uma fratura exposta na perna direita e parece que um dos braços foi esmagado. Certamente algo o incomodou neste aqui. O que foi?

Ao tentar estabelecer um novo contato visual com Bruce, tudo que ela enxerga é um beco vazio.

Gotham City

São 15 horas e Tim Drake está numa quadra poliesportiva: ele é reserva do time de basquete da escola. Sua escola, Bob Kane, joga contra um colégio de um bairro pobre da cidade. O evento esportivo procura integrar os jovens de realidades sociais diferentes.

O jogo chega a seu fim e os integrantes de ambos os times vão para um outro ginásio coberto com diversas mesas com frutas e sucos, onde podem conversar. Há outros integrantes das escolas.

— Deu canseira este jogo. — diz Dennis.

— Eu nem entrei! — responde Tim, com certa indignação.

Dennis arremessa sua toalha em Tim.

— Oi, meninos. — cumprimenta Sarah.

— Oi, Sarah. — respondem ambos.

— Vocês vão assistir ao filme no fim da tarde?

— Filme? Que filme? — Dennis olha para a amiga com um ar intrigado.

— Não sabe? Nossa escola vai passar dois ou três filmes daqui a pouco. Coisa do programa de integração.

— Dennis, sabe quem é o cara que está chorando? — pergunta Tim.

— Chorando? Onde? — Sarah questiona.

— Ali no canto. — diz o jovem Drake, apontando.

— Ahh, é o Tom. — diz Dennis — O melhor do time dele.

— Mas o cara não jogou. — Tim comenta — Você sabe por que?

— Sei lá. Acho que aconteceu algo com o pai dele. — completa Dennis.

— Algo? O quê? — agora Sarah é quem está curiosa.

— Acho que o coroa sumiu.

— Sumiu? Tipo seqüestro?

— Acho que é. Não sei direito. — fala Dennis.

— Oi, gente! — chega Darla.

Tim aproveita para, discretamente, sair do grupo. Ele caminha em direção aos alunos da escola San Francisco. O jovem detetive vê um garoto conversar com Tom e se afastar em seguida. Coincidentemente, o garoto vem em sua direção. Então, Tim resolve perguntar:

— Oi! Seu amigo está passando mal?

— Dá um tempo, playboyzinho.

— Calma, cara. Só quero ajudar.

— Olha, nós nos viramos muito bem sem a ajuda de vocês.

Dito isso, o garoto se afasta rapidamente. Algo, no fundo de sua mente, diz que Robin deve investigar e ajudar Tom. E é exatamente isso que ele fará.

De volta ao depósito abandonado, ou ao que sobrou dele, Ártemis se sente incomodada com o fato do seu acompanhante ter simplesmente sumido. Ela chegou a procurar nas imediações do beco por mais de uma hora, mas nem sinal dele. A amazona não tem qualquer idéia de prosseguir um possível romance, ou mesmo uma amizade. Porém eles passaram por uma verdadeira guerra juntos, e isso costuma aproximar as pessoas. Deixa, no mínimo, uma marca de mútuo respeito, coisa que só quem passou pela situação pode dizer, sem conseguir definir. Mas ele simplesmente sumiu.

Ela vai ao depósito, no fundo com intenção de encontrá-lo, mas após outro par de horas ela desiste. Agora a admiração que a ruiva tinha está se transformando em desprezo.

— Ártemis! — uma voz grave ecoa pelo ambiente.

Ela observa, cautelosamente, e percebe nas sombras uma figura da qual já ouviu muito falar: Batman.

— Vim facilitar sua saída daqui. — diz ele.

— Por quê?

— Um grupo de amazonas disse que você estava perto de Gotham. Diana entrou em contato e pediu que eu facilitasse sua volta.

Ela vai até ele. Antes que Ártemis se aproxime muito, ele sai do depósito, se dirigindo até um helicóptero negro. O casal entra no transporte com o vigilante assumindo o comando da aeronave e decola. Em menos de vinte minutos estarão em Gotham. Batman põe o comunicador interno e fala:

— Deixarei você numa área particular do aeroporto. Um jato a levará para qualquer parte de mundo que quiser. Suponho que irá...

— Era você! Não foi Diana, não foi ninguém que o enviou. Por que isso?

Um incômodo silêncio é estabelecido.

— Não sou bom em despedidas.

Novo silêncio. Ela quebra o clima:

— Quando recuperou a memória?

— No beco.

— Por isso o massacre! Você sabe que nada direi sobre como é o seu rosto.

— Tenho certeza disso.

Pela terceira vez, dentro do helicóptero, reina o silêncio. Desta vez, ele fala:

— Dias atrás, soube que Slade Wilson estava em Gotham. Ele veio interceptar uma escala de vôo para recrutar um passageiro: Red Besta. O Besta é um mercenário perigoso. Assumiu este nome logo após a morte do KGBesta, para ser lembrado como um substituto à altura. Boa parte do treinamento de ambos foi em conjunto.

— Slade Wilson é o Exterminador, certo? Foi ele quem treinou aqueles que tentaram nos capturar.

— Soube que Wilson foi chamado pelo seu novo contratante: Ra's. Também soube da ameaça velada que Ra's estava fazendo a Hipólita. Com Diana fora, pensei em resolver dois problemas de uma só vez. Disfarcei-me e entrei com o pessoal de serviço no iate. Eu sabia onde estavam as armas e os explosivos. Só não sabia que vocês tomariam a iniciativa tão cedo. O resto da história você já sabe.

— Foi ridículo aquele terrorista achar que Hipólita, em qualquer hipótese, poderia se aliar a ele. — diz Ártemis, com o olhar perdido no horizonte.

— Ra's é um terrorista. Ele blefa, por vezes: é uma forma de pressionar. Ele considera a humanidade uma praga na Terra e quer exterminar essa praga. As amazonas são um raro exemplo de respeito à natureza.

— Gaia tudo nos provê! Mas daí a achar que Hipólita poderia ser aliada dele, francamente! — ela fala, num tom severo.

— O que ele tinha a perder? Ter poder suficiente para ameaçar as themysciranas é para muito poucos.

Nisto, o helicóptero começa a sua manobra de aterrissagem.

— E agora? — ela questiona.

— Vou continuar no caso Slade.

— E eu seguirei meu caminho. — fala, ao mesmo tempo em que beija a face de Batman.

Ele, um pouco surpreso pelo beijo, aguarda-a descer da aeronave. Observa a linda ruiva ir se afastando. Seus instintos o impelem a tê-la por perto, ela é uma amante excepcional, mas seu trabalho impede qualquer ação neste sentido. Além disso, há Diana. Bom, elas e ele terão de se entender sobre o ocorreu nas últimas 48 horas. Por fim, como um agradecimento, grita para a amazona:

— Ártemis! Você luta muito bem. As amazonas formam ótimas guerreiras. Foi um prazer.

A guerreira sorri com o canto da boca e fala num volume que ele não pode ouvir:

— Um imenso e inesquecível prazer!


Na próxima edição: Dois dos maiores estrategistas do mundo, lutadores de extrema perícia, obstinados, inigualáveis. Eles são os melhores no que fazem e estão em rota de colisão: Batman x Exterminador.




 
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