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Eras de Ouro - X-Men - Anos 80

Por Danilo 'Doc Lee' Anastácio

O Átomo e o Preconceito

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"Época triste a nossa... mais fácil quebrar um átomo que um preconceito."
— Albert Einstein


Nova York — noite

A vida de Wolverine já teve momentos melhores. Mas nenhum momento é pior do que este, para ele. Há pouco tempo, ele ia se casar com sua amada Mariko Yashida, mas uma ilusão criada pelo adversário Mestre Mental acaba impedindo a realização do casamento. Uma depressão exacerbada se abate sobre o mutante.

Num estado de espírito quase que totalmente inverso ao de Wolverine, está Kitty Pryde, a Ninfa. Ainda que abalada com o que aconteceu com seu colega de equipe, Kitty acha que ele pode dar a volta por cima e, na tentativa de ajudá-lo nisso, convida ele e um outro x-man, Colossus, para irem juntos ao cinema. Relutante, Logan decide atender ao convite da jovem.

Ao fim da sessão, os três mutantes se dirigem à saída do cinema. Kitty está sorridente, tentando animar Logan de todo jeito.

— E aí, o que acharam do filme, pessoal? — pergunta a Ninfa, ainda comendo os restos da pipoca que devorou durante o filme.

— Nada mal, mas o outro Guerra Nas Estrelas era bem melhor. — comenta Piotr Nikolaievitch Rasputin, o Colossus — Não gostei dos ursinhos de pelúcia.

— Os Ewoks? Ah, Peter! Sempre achei eles fofinhos, desde a primeira vez que vi O Retorno de Jedi! E você, Logan, o que achou?

Logan não responde. Está olhando para o nada, embora seus olhos pareçam esconder-se sob a sombra de sua própria sobrancelha, tornando-os negros como a cor de sua jaqueta de couro.

— Logan?! — Kitty parece tentar acordá-lo.

— Hã? Ah, sim, bom o filme. — o mutante com garras retráteis tira um charuto do bolso e o acende — Agora vamos embora daqui.

— Ei, calma! Por que a gente não vai ali comprar um lanche antes de voltar pra Mansão? Que tal, Peter?

— Ah... podem ir vocês dois, eu espero aqui.

— Tá bom! Vamos, Logan? Aí eu peço pra darem pra você o novo compacto do Depeche Mode! Não é legal?

Sem falar nada, Logan concorda, enquanto Kitty puxa seu braço, indo até uma lanchonete próxima. Piotr os espera, escorando-se num poste. Mas ele está desatento a ponto de ser acertado por um um aparente dardo tranqüilizante no pescoço. Assustado, ele vira-se para trás imediatamente após o tiro e tenta ativar seu poder mutante, mas não tem forças para isso. Um novo dardo o acerta e ele vai ao chão, ainda tendo tempo de pedir ajuda:

— Kitty...

— Rez? Ele tá acordando.

A voz semi-eletrônica está falando de Colossus que, ainda sem forças, se encontra crucificado em uma sala estranha, iluminada apenas por alguns poucos lustres, com vários computadores e aparelhos tecnológicos, e uma quantidade ainda maior de fios e sujeira. Alguns pôsteres (de shows de bandas punk, outros a favor do nazismo, fotomontagens) e uma pequena biblioteca adornam e dão um tom bizarro ao local.

Um homem de óculos escuros e com um aparente implante cibernético na parte direita da cabeça aproxima-se do mutante, com um sorriso no rosto.

— Boa noite, Colossus.

— Quem é você? Eu vou... — ele tenta se mover, mas nota que há alguns fios conectados em seu corpo.

— Vai a lugar algum. Se você "for", vai ativar todos esses fios e vai acabar morrendo. Mas, mesmo que quisesse, não poderia ir a lugar algum. De qualquer modo, meu nome é Rez, esses — ele aponta para as outras pessoas no local — são meus amigos. Gostamos de nos chamar de Neuromancers.

Piotr fica em silêncio. Olha para os colegas de Rez e vê que todos eles têm algum tipo de implante eletrônico em seu corpo. Do outro lado do grande cômodo, vê uma cadeira e percebe que todos os computadores têm fios chegando até lá. Depois, olha nos olhos de Rez.

— O que vocês querem comigo?

— Ora, o que você espera que se faça com um maldito de um mutuna comunista? Vamos usá-lo e depois matá-lo, óbvio!

Kitty Pryde engole em seco ao ouvir de Wolverine quem são os Neuromancers.

— "Nazistas cyberpunks"? Isso parece coisa de filme de terror dos anos 50. — ela tenta disfarçar o medo.

— É. Mas é verdade. Não devíamos ter deixado Peter aqui sozinho. Diabos...

— Mas você tem mesmo certeza de que são esses tais Neuromancers?

— Claro, já ouvi falar muito neles. Tá vendo esse desenho aqui no dardo? É o símbolo deles. Eles deixaram isso aqui de propósito pra sabermos que eles estiveram aqui e provavelmente pegaram o Peter. Além disso, não é apenas um dardo tranqüilizante normal, deve ter alguma outra função.

— E agora? O que a gente faz? Vamos avisar os outros na Mansão?

— Não precisa. Os caras não devem ter ido pra muito longe. Talvez eu ainda consiga farejar o Peter. Então, não me atrapalhe.

A Ninfa concorda, do mesmo modo que o magricela com cabelo moicano Laney concorda com Rez quando este o pede para tirar sangue do braço de Colossus. Rez pede também para sua namorada Molly pôr um disco da banda "X" no aparelho de som, e ela atende prontamente colocando o vinil com precisão, devido ao fato de sua mão direita ser mecânica.

— Esse implante novo do meu braço esquerdo arrebentou a boca do balão, Rez! — diz um dos Neuromancers, um homem careca, grande e forte.

— É verdade, Vernor. Mas vamos ficar ainda melhores quando tivermos o aço orgânico desse comuna em nossos corpos. Você não perde por esperar.

— Legal! Se não fosse aquela tal IMA ter vendido esses implantes pra gente... — o grandalhão Vernor é cutucado pelo baixinho Armitage, outro careca, cuja cabeça tem alguns fios ligados a um dos computadores.

— Não fale disso na frente do prisioneiro, imbecil! — é a mesma voz semi-eletrônica de antes, que sai do computador e não da boca do Neuromancer — Vai que ele se liberta e sai falando pra todo mundo sobre nós!

— Ele não vai se libertar. Pode estar certo disso. — diz Rez, confiante, enquanto se dirige para a cadeira do outro lado da sala.

Laney vai até ele com um pouco do sangue de Colossus dentro de uma seringa, enquanto Molly começa a plugar os fios todos no corpo de Rez.

— Tá aqui um pouco do sangue do mutuna, Rez.

— OK, pode injetar. Armitage, Vernor, Chia, preparem para ativar os programas em todos os computadores.

— Boa sorte, gatão. — diz Molly, depois de dar um beijo na boca de seu namorado. Depois, se afasta dele indo até um dos computadores.

O Neuromancer Laney injeta o sangue de Colossus numa veia do braço direito de Rez.

— Agora é só deixar os computadores cuidarem do resto. — conclui o rapaz de moicano vermelho.

— Você ouviu isso?

— O quê? Outro rato nojento?

— Não, uma música.

— Ah, já ouvi antes. Acho que é "Los Angeles", do X. Por quê, Logan?

— Então tem mais gente por aqui. Os Neuromancers devem ter algum esconderijo aqui mesmo no esgoto. Tenta atravessar o teto.

— Tá.

Kitty Pryde usa sua intangibilidade, atravessando o teto, e encontra a sala onde estão Colossus e os Neuromancers. Depois desce de volta.

— É aqui mesmo. Deve ter uma entrada por perto.

— Está lá. — Wolverine aponta para a entrada que acaba de encontrar. Em seguida, tira sua jaqueta preta e fica apenas com seu uniforme marrom de x-man.

Enquanto isso, no esconderijo dos Neuromancers, os programas são iniciados nos computadores. A idéia destes cyberpunks é que os computadores possam fazer com que os programas "reproduzam" o poder de Colossus no corpo de Rez, tornando o implante cibernético perfeito. Piotr é obrigado a, junto com os outros Neuromancers, assistir ao processo e ver se ele dará certo ou não em Rez. Mas fica alegremente surpreso quando a Ninfa surge ao seu lado.

— Kitty! Cadê o Logan? Me tire daqui, rápido! — sussurra o russo.

Armitage consegue perceber a presença de Kitty no recinto.

Ei! Olhem! Outra mutuna com o prisioneiro!

Os Neuromancers viram-se para trás e também notam a Ninfa. Laney é o primeiro a sair correndo na direção dela, pronto para acabar com a x-man. Só que ele não contava com um segundo mutante, que surge por trás do amontoado de metal onde Colossus está crucificado, num grande salto. Suas garras à mostra, dando um grito selvagem e caindo com as todas as garras de modo certeiro no tórax do Neuromancer e levando-o instantaneamente ao chão.

Enquanto Kitty retira os fios do corpo de Piotr, Wolverine trata de dois dos cyberpunks — Armitage e Chia — com extrema facilidade, mas acaba levando um fortíssimo soco de Vernor e vai parar no outro lado do esconderijo. Molly pega um rifle que estava escondido e corre na direção de Colossus e Ninfa, atirando loucamente. Só que nenhum tiro acerta os mutantes, protegidos pelo poder de Kitty Pryde. Depois que ela despluga todos os fios de Colossus, ele finalmente consegue usar seu poder e se liberta de onde estava preso e vai tratar de ajudar Wolverine. Intangível, Ninfa acaba deixando Molly desesperada e consegue vencer a cyberpunk com alguns golpes — de sorte — bem dados.

Piotr Nikolaievitch se aproxima de Wolverine e, já preparado, pergunta:

— Tudo bem por aí?

— Sim, xará. Pronto pra um arremesso especial?

— Como sempre!

Colossus então segura Wolverine com as duas mãos e, vendo que Vernor se aproxima, lança o colega na direção do Neuromancer. Logan voa com as duas garras e começa a retalhar seu adversário, que já não tem mais ação.

Após isso, o mutante russo segue até a cadeira onde está Rez e o observa. Fazendo força, Rez abre os olhos e tenta falar.

— Não... me m-mate... por f-favor...não in... interrompa o p-processo...

O x-man olha observa-o por alguns segundos. Depois, sem muito esforço, começa a arrancar os fios do corpo de Rez, que solta um último grito distorcido.

— Nossa... ele vai morrer? — pergunta Kitty.

— Não faço a menor idéia. Mas vamos deixá-lo aí. Talvez ele continue vivo como um vegetal, não sei. É o bastante para ele começara a repensar suas idéias anti-mutantes e anti-comunistas.

— Pode até ser que ele repense, xará. — comenta Logan — Difícil vai ser todos os outros milhões de humanos preconceituosos repensarem também.


:: Notas do Autor

Agradecimentos especiais a Alexandre Mandarino pela idéia e pela ajuda.



 
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