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Imagine Quarteto Fantástico

Por Cesar Rocha Leal

Herança de Trabalho

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Central City — 17:48

Nos céus da cidade, uma sombra inusitada surge. Para os desavisados poderia parecer um OVNI ou uma espécie de avião militar, mas a estranha nave nada mais é do que o famoso Fantasticarro, com dois dos mais famosos membros do Quarteto a bordo.

— Yahoooooo!!! Preparem-se, central-citianos, estamos na área...

— Calma, cabeça-de-fósforo. Acho que nem é assim que se chamam os nativos da cidade.

— Não me importa, Ben, eu estou adorando vir aqui; esta cidade tem história. Ela e Keystone, sua "irmã gêmea", são o berço dos Flashs... Tem uma história dos caras em cada beco e esquina daqui. O Quarteto é considerado o primeiro grupo da segunda era heróica, mas na verdade temos uma tradição a manter... Jay Garrick, Barry Allen, que foi muito chegado ao Reed, o pentelho do Wally West... E agora Johnny Storm e o Coisa em Central City.

— Ai, minha Santa Aquerupita. Não se esqueça que temos apenas que nos apresentar no Centro dos Veteranos às 23:00 horas e cair fora daqui. Eu conheço a cidade dos meus tempos de soldado e digo que, tirando o bar do Ernie, não tem nada de mais.

— Você é muito ranzinza, Ben! Eu estou indo dar um rolê por aí, nos encontramos no bar do Ernie mais tarde para irmos para o centro. Em chamas!!!

O jovem ativa seus poderes flamejantes e voa do carro, deixando Ben Grimm resmungando.

Alguns minutos mais tarde, Johnny está caminhando por becos escuros e estranhamente sombrios. A cidade tem uma atmosfera noir que impregna qualquer um que ande por suas ruas, desde que não o faça em uma velocidade superior à barreira do som. Sua atenção é despertada por cartazes referentes à recente campanha para a eleição do novo comissário de polícia da cidade. Os dizeres da candidata Eliana Dolan Colt são meio bobos, mas funcionam: "Elejam novamente um Dolan para comissário de Central City".

Ao ouvir um ruído, o Tocha Humana observa uma figura idosa aparentando cerca de oitenta anos, conversando com dois homens mais novos. O velho é estranho. Usa um sobretudo escuro, luvas roxas com detalhes amarelos, se apóia em uma bengala e parece estar acostumado a uma posição de autoridade.

— Vamos, seus ignóbeis! Eu quero terminar de descarregar o navio e preparar minhas acomodações em breve. Essa cidade vai finalmente sentir o desespero em virtude de minha ira.

— Tá bom, vovô, mas vamos com calma, se a mamãe sabe do que você tá fazendo ela vai ficar irritada.

— Bah, sua mãe sempre renegou o sangue da tradição da família, mas agora que vocês se prontificaram a me auxiliar em meus objetivos, nada mais irá atrasar minha agenda secreta.

Intrigado com o tom da conversa, Johnny Storm escuta atentamente. Mas o herói está mais acostumado a agir abertamente contra seres como Blastaar ou Dr. Destino e não a espiar nas sombras de caixotes de um porto escuro e, por não tomar o devido cuidado, acaba recebendo uma forte pancada na cabeça.

— Vovô, tinha um cara aqui escutando sua conversa com os manos.

— Murray, eu já disse para você não usar essas expressões chulas como "manos", eles são seus "irmãos", clara e objetivamente. Laços fraternais, não de uma gangue de rap! Mas traga este espião até aqui...

Sendo carregado pelo homem que o atacara, o Tocha Humana se amaldiçoa por não ter se certificado se havia mais um bandido. É nesta hora que descobre que a pancada em sua nuca fora mais forte do que parecia. Uma tontura impede que ele se sinta preparado para ativar seus poderes com segurança, e o medo que sempre teve de matar alguém com suas chamas faz com que Johnny Storm fique a mercê dos seus adversários.

Bar do Ernie

Ben Grimm está bebendo uma cerveja no balcão do bar, já perdendo a paciência com um bêbado chato que continua a falar com ele.

— Xêrio! Eu assistia teu desenho na TV todjo dia. Eu lembro que voxê era um guri chamado Ben Grimm e que juntava dois anéis para se transformar no Coisa. Puxa, vinha pedra de todo quanto era lado e ninguém se machucava... Faz aí exe truque, fax... (*)

— Ô xará, aquilo foi só um desenho boboca que usou minha figura mediante pagamento, e eu já me arrependi disso há muito tempo. Mas eu garanto que não tem nada de verdade naquelas histórias...

— Mentira, ixo é para desviar minha atenção da sua identidade secreta! Xaiba que ixo não vai funxionar... Xêrio, tinha aquela gu... hic... guria que andava contigo... Meio baranga, mas ajeitadinha... Xê traçava ela, né? Por acaso ela era irmã da Velma do Scooby-Doo? E a Daphne? Xê comia ela também?

— Ai, minha tia Petúnia... dai-me forças...

Cais de Central City.

Johnny Storm começa a se desesperar. Apesar de burros, os três homens que o seguram são fortes o suficiente para que ele não consiga se libertar. Sem poder usar seus poderes com segurança, ele acredita que pode vir a ter um fim indigno a sua vida de aventuras. Um dos exploradores da Zona Negativa morto por ratos de porto e um criminoso octagenário... Se o velho começasse a falar sobres seus planos, talvez houvesse tempo de se libertar, mas isso é um clichê de antigos seriados de aventuras e filmes de 007; é claro que não poderia esperar que acontecesse na vida real.

— Sua presença por um lado é benéfica... — declara o velho, em tom solene — Assim terei uma platéia para explicar meus planos...

— Ahn? — o Tocha se surpreende.

— Ora, meu jovem, você não espera que uma grande mente criminosa em vias de consumar sua vingança contra a odiada cidade de seu nêmesis não gostaria que um rapazote ouvisse sobres seus brilhantes planos?

Enquanto o homem vibra ao continuar a falar sobre suas façanhas, o Tocha Humana acaba não prestando a atenção, procurando se concentrar o suficiente para ativar seus poderes sem que viesse a matar ninguém.

Após quinze minutos de um monótono discurso o bandido vira para Storm:

— E então, não é de uma simplicidade aliada com uma grande genialidade? Nunca houve uma maquinação tão grandiosa... Mas, meu caro bisbilhoteiro, está na hora de eu eliminar possíveis testemunhas... o que, em outras palavras, significa que você irá dar um longo mergulho, para sempre.

A cabeça do jovem herói continua doendo, causando uma insistente tontura. Uma aflição toma conta dele: ou Johnny se mantém fiel à sua promessa de nunca matar ninguém com seus poderes, ou os usa sem segurança para poder se libertar e salvar a própria vida. Mas, nesse momento, um estranho barulho chega aos ouvidos de Johnny e a ponta de um guarda-chuva é pressionada com força no pé de um dos homens que o seguram. O capanga larga seu prisioneiro devido à dor e à surpresa do ataque. Em seguida o guarda-chuva faz mais uma vítima: o outro jovem que segurava o Tocha Humana é atacado com um golpe na cabeça.

Se vendo seguro somente por um homem, Johnny age. Usando uma chave de braço, ele faz com que o último dos adversários caia e acaba vendo a figura inusitada de seu salvador. Um homem de idade avançada em uma cadeira de rodas, usando seu guarda chuva ora como porrete, ora como uma elegante espada. O mais estranho é que apesar de sua deficiência, ele parece muito forte, o que o permite guiar a cadeira de rodas com destreza.

— Eu devia saber que você iria aparecer... — fala o bandido — Maldito Denny Colt… Sim, eu já desvendei o segredo de sua identidade há muitos anos... Vamos, meus netinhos, vamos cair fora.

Rapidamente, o velho e seus três netos somem. Decidindo verificar o estado de Storm, o homem na cadeira de rodas não os persegue. Nesse momento é que o Tocha Humana percebe suas roupas: um terno azul marinho, com um chapéu de feltro na mesma cor, gravata vermelha e uma máscara de couro que cobre a área ao redor dos olhos... definitivamente não uma figura que se vê todos os dias.

— E então, meu jovem, como você está?

— Tudo bem, eu acho... — diz o Tocha, enquanto se recupera — Mas quem é você?

— Pode me chamar de... um espírito amigo. — responde o homem.

— Ahn… tá.

— Você tem sorte, aquele era o terrível Octopus, um grande vilão, muito perigoso.

— Mas ele não parecia o Dr. Octopus... — conjectura Johnny.

— Bah, eu não estou falando do desse maluco de braços mecânicos, estou falando do Octopus original, o flagelo da humanidade, que por muitas vezes tentou conquistar seus objetivos malignos e perpetuar o mal em nossa cidade. — responde o homem na cadeira de rodas — Sinto muito que você tenha passado por tudo isso, não deve ser uma coisa que acontece todos os dias, hein?

— Apesar da inusitada situação em que me encontro, não se trata de algo tão inédito para mim... Meu nome é Johnny Storm, eu sou o...

— Tocha Humana. Pois bem, seu neófito, sendo um combatente do crime a coisa muda de figura... Por que não usou seus poderes para impedir aquele rato de fugir?

— Acontece que levei uma pancada na cabeça, não estou em condições de controlar meus poderes, poderia ter matado alguém.

— Certo, louvável, mas pelo menos deve ter ouvido sobre os planos do canalha. Antes ele se limitava a perseguir lucro, mas a coisa se tornou mais pessoal entre nós com o passar dos anos. Fica difícil descobrir o que ele quer hoje em dia...

— É... eu não prestei muita atenção nesta parte...

Você não prestou atenção? — grita o velho — Mas o que você estava fazendo, contando a féria do dia?

— Eu estava tentando me libertar, afinal...

— Deixe pra lá, neófito, não pode se esperar muito de um amador mesmo. — resmunga Colt — Agora só nos resta uma saída.

— Amador? Mas... eu... Que saída?

— Teremos que entrar no covil da besta. Andaremos pelas ruas de Central City até sermos presos na armadilha que certamente o vilão deve ter preparado, depois escaparemos e o pegaremos... Isso se meus filhos não descobrirem que eu fugi de meu quarto e apareçam atrás de mim... Eles são amorosos, sabe, mas não percebem a necessidade do que eu faço... Ora, eu não saí de cena nem quando aquele menino Barry Allen começou a agir, por que agora eu iria...

Johnny Storm guia a cadeira de rodas no sentido indicado pelo velho, que não pára de divagar. Por um momento passa pela cabeça do jovem herói que a noite estaria apenas começando.

Por outro lado a paciência de Ben Grimm também continua sendo posta à prova.

Bar do Ernie

— É xêrio, xeu Coisa, hic... eu nunca entendi... Nos desenhos dos Xuperamigos, aqueles gêmeos se tocam para virar coisas e dizem "Super-Gêmeos, ativar!". Mas muitcha gente axa que eles juntam dois anéis mágicos... Não é nada dixo, quem fax ixo são os doix que chamam o gênio (e não gêmeo) naquele desenho do Shazam, que usa nome de outro desenho de super-herói na verdade...

Após muito caminhar nas ruas escuras, o velho continua a comentar com Storm suas opiniões sobre a aposentadoria.

— E minha neta agora quer ser comissária de polícia, eu até acho louvável, mas ela também quer que eu pare com minhas rondas, imagine o que o antigo Anjo, o original, não esse moleque dos meninos X, iria pensar...

Nesse momento, ao passarem por uma viela, um poderoso gás anestésico é bombeado para o ar. Ele sai da bengala do criminoso Octopus, que se encontra escondido nas sombras. Em questão de segundos, Colt e Storm caem na inconsciência.

Ao acordarem, os dois heróis encontram-se em um grande cilindro de metal. Não conseguem ver nada do lado de fora, mas ouvem uma voz que sai de um alto-falante no teto do cilindro.

— Finalmente acordaram! Eu, Octopus, tive que desistir de meus planos anteriores, porque vocês interromperam o descarregamento dos componentes que eu precisava para minha super-bomba. Mas eu sabia que acabariam me seguindo, portanto, de um jeito ou de outro, terei minha vingança!

— Super-bomba? — questiona o Tocha Humana.

— Cale a boca, neófito! — responde Colt — O jogo é de Octopus no momento, temos que esperar.

Hahahahaha... O jogo vai terminar hoje, Colt, e finalmente serei vitorioso. Vocês não podem ver além de sua prisão, mas eu posso, graças a uma superfície transparente do meu lado. Se puderem notar, existe um pequeno orifício na base do cilindro. De lá será bombeado o gás tóxico que finalmente fará com que eu fique livre de sua presença.

Um barulho começa a ser ouvido e do buraco sai um gás de cor amarelada.

— Droga, vou ter que agir, mesmo sem ter controle total de meus poderes tenho que nos tirar daqui. Em cha...

— Calma, neófito. — o idoso herói bate com o guarda-chuva na cabeça de Storm, impedindo-o de completar sua transformação, e continua a falar em tom baixo para que o criminoso não os pudesse escutar — Você é muito afoito, terei que ter uma conversinha com o tal Richards e sua irmã sobre isso. Analise, garoto, essa armadilha é mortal, mas pense antes de agir. Se queimar aqui dentro pode causar uma explosão, que, num ambiente confinado, irá nos transformar em carne de hambúrguer. Se prestar atenção, irá lembrar que o vilão falou em "bombear" o gás. E pelo som que ouço se trata de uma antiga bomba manual, provavelmente funciona através da força dos braços dos netos de Octopus. Se você não consegue controlar a totalidade de suas chamas, talvez possa controlar uma emissão menor apenas de seus dedos.

— Acho que consigo, sim, mas o que faremos com isso?

— Se projetar chamas através do orifício por onde sai o gás, elas vão se acumular na bomba. Provavelmente vão sair e assustar os criminosos ou, se tivermos sorte, o gás será inflamável, resultando em uma bela explosão no interior da bomba, que, por ter uma válvula de controle para que o gás não volte a seu recipiente original, não permitirá que o mesmo exploda, apenas a quantidade que já se encontra dentro da bomba manual.

Apesar de estranha, a teoria do velho parece possível. Johnny se agacha perto da saída do gás e faz com que uma pequena chama entre pelo mesmo.

A subseqüente explosão é grande. Estilhaços racham o cilindro em que se encontravam os heróis, que dessa forma forçam sua saída. Do lado de fora, os três capangas se encontram desacordados, mas não há qualquer sinal de Octopus.

— Há! A fuga deste rato não me surpreende, por anos eu tento alcançá-lo sem sucesso. — fala Colt.

— Vamos levar esses homens para a polícia. Depois de deixar você em sua casa, irei encontrar Ben no Bar do Ernie, que por sinal, sequer sei onde é.

— O velho Bar do Ernie... eu te levo lá, garoto, depois você me leva para casa. Meus filhos vão ficar contentes em te conhecer, e saber que finalmente decidi me aposentar. Com heróis como você em ação, acho que posso me dar ao luxo de descansar, pelo menos até Octopus voltar. Por outro lado será bom conhecer esse tal de Coisa, e ensinar algumas coisas a ele.

Um sorriso se forma no rosto de Johnny Storm.

---Tenho certeza de que ele ficará muito feliz em compartilhar experiências...

— É mesmo? Mas não pense ele que por ele ser mais velho que você eu irei pegar leve; vou ensiná-lo como agir, ah, sim. Poderia falar sobre o Spider, você ouviu falar nele? O velho Richard Wentworth sabia como levar terror aos coração criminosos, ele...

Johnny sai, empurrando a cadeira de rodas do velho Denny Colt e escutando as histórias incessantes do velho combatente do crime. É, Ben Grimm mal sabe o que o aguarda.

Esta história é dedicada a todos os "velhófitos" de plantão.

:: Notas do Autor:

(*) Houveram três séries de desenhos animados do Quarteto Fantástico pela Hanna-Barbera. A primeira, na década de 70, trazia a equipe original. A segunda, já nos anos 80, introduzia um robô de nome Herb no grupo no lugar do Tocha Humana, porque na época os produtores não quiseram usar um personagem incandescente. Nas HQs, a presença do robozinho em um desenho animado foi explicada da seguinte forma: Johnny Storm não estaria presente no dia da assinatura do contrato para produzir a série (na mesma edição, uma versão HQ de Herbie é apresentada aos leitores) — essa história foi publicada pela Editora Abril em Grandes Heróis Marvel #12 (primeira série), em junho de 1986. A terceira série do Quarteto foi produzida nos anos 90 e ainda pode ser vista em canais de TV a cabo.

O detalhe é que, em meados dos anos 80, foi produzida uma série solo do Coisa, na qual ele era um jovem cursando o colegial que se transformava no poderoso super-herói graças às experiências do pai de uma colega para enfrentar as confusões de uma gangue de colegas motoqueiros. O garoto se tornava o Coisa juntando dois "anéis mágicos". A série causaria embaraço em qualquer herói de quadrinhos que se preze, ainda mais que, com a dublagem brasileira, o personagem ficou conhecido como A Coisa.



 
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