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Starman # 11

Por Matheus Pacheco

So take me home, don´t leave me alone
I´m not that good but I´m not that bad
No psycho killer, hooligan guerilla
I dream to riot, oh you should try it
I´ll eat parole, get cold card soul
Your joy of life is on a roll
And we´ll all be the same in the end
`Cause then you´re on your own

(On Your Own — Blur)

Picos e Vales

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Vários são os poderes do alienígena azulado chamado Mikaal Thomas. Tais características únicas lhe valeram a designação de Starman pelo período em que foi o defensor da cidade de Opal. Muito tempo depois, nem mesmo ele sabe as exatas medidas que tais habilidades podem ter. Vitimado pela amnésia, só agora começou a recuperar plena noção das suas mais básicas características individuais.

Mas nada como uma prova de fogo para determinar a extensão de tais habilidades. E é isso o que acontece quando ele descobre não ser invulnerável a uma rajada de disparos de uma submetralhadora...

Jennie Lynn-Hayden, voando pouco atrás de seu amigo, só sai de seu transe de autopiedade quando um bolsão de uma secreção de tons róseos atinge bruscamente sua face, ao mesmo tempo em que um grito que cobre praticamente todo o espectro da audição humana (talvez mais, a julgar pelo desespero de todos os animais das imediações) a deixa completamente desorientada por alguns segundos.

Pior para o agressor, que cai já morto ao chão com sangue escorrendo de seus ouvidos.

"Não faço idéia de local ou tempo. Não sei onde ou quando estou. Sei apenas que me sinto estranhamente bem e calmo. Mesmo sem tomar água há muito tempo (eu acho), não sinto sede. Há dias (penso eu) que não como, mas não tenho fome. Não durmo mais, mas estou em forma.

Tudo me parece perfeitamente óbvio, mas ao mesmo tempo me sinto mais confuso que em toda a minha vida. Fisicamente minha vida é uma incógnita, mas espiritualmente tudo é perfeito. O que há aqui?

Já não é mais um coiote que me acompanha, são dezenas. Todos ao horizonte, me observando calmamente enquanto seguem meus passos. Acima de mim, um abutre solitário vem junto nesta travessia.
Travessia? Mas o que diabos estou atravessando?"

Ao cair no chão, Jennie já não pensa mais em sua dor — tanto física quanto psicológica — mas apenas em encontrar e avaliar o estado de saúde de seu companheiro.

— Mikaal? Aonde você está? Mikaal?

— J.. Jen..?

— Mikaal, como você está?

— D.. dói.. Mas eu consigo... lut... lutar ainda.

— De jeito nenhum. Por favor, junte todas as suas forçar e voe para a cidade. Fale com Jim e procurem um hospital — não sei até onde pode ajudar, mas...

— Você t... tem certeza que ag... UNGH... agüenta?

Súbito, um enorme guerreiro Mech esmeralda forma-se em volta de Jade, que não se priva de exibir um sorriso furtivo.

— Deixe comigo. Mas por favor, mantenha-se em segurança.

— C... certo, Jennie. Cuide-se...

— Deixe comigo, querido. Agora vá!

O ser azulado nem olha para trás, sabe que ficar apenas traria mais peso ao já difícil trabalho da amiga. Faz parte do conhecimento de um guerreiro saber a hora de avançar e a hora de recuar.

"Muito... tempo... caminhando.
Já não ag... agüento mais, pre... preciso descansar.
Pai... Mãe... Dave... Jennie... Eu... eu os amo... Desculpem minha fraq... fraq..."

"Muito me preocupa toda esta confusão. O futuro de Opal... da minha Opal não pode ser comprometido por um acesso de raiva de uma vagabunda esverdeada qualquer. Não, eu não deixarei que meu futuro aliado suma sem mesmo ter aparecido.

Mas como impedi-la? Como frear o rompante de raiva de uma poderosíssima meta-humana?

Somente seu amado, Jack Knight, poderia impedi-la. Mas já há dias não consigo detectá-lo em parte alguma, como se sua assinatura energética tivesse sido varrida da face da terra. Será que morreu? Seria uma pena perdê-lo sem que tenha tido oportunidade de avaliar todo o seu potencial.

Nem toda a minha concentração nas técnicas que o velho Kame me ensinou tem me auxiliado a encontrar o rapaz. Só pode ter morr... Knight?"

"Abro os olhos novamente.

Apenas pisquei, mas acordo em outro lugar. Verde. Tudo é verde à minha volta. Ao fundo ouço uma música. Algo sobre guerras mundiais e airbags. Ao fundo ouço uma música, que acaba por ser a trilha sonora do meu despertar."

In the next world war
in a jack knifed juggernaut,
I am born again.
In the neon sign,
scrolling up and down,
I am born again.
In an interstellar burst,
I am back to save the universe.
In a deep deep sleep,
of the innocent,
I am born again.
In a fast German car,
I'm amazed that I survived,
an airbag saved my life.


"Um airbag salvou minha vida. E eu nasci de novo...
À minha direita... Um vulto conhecido. Quem...?"

— Shade?

Terra arrasada.

Essa é a única definição para o rastro de destruição que o enorme construto esverdeado deixa para trás em seu rompante de raiva.

Jennie Lynn-Hayden, heroína, filha do Lanterna Verde original, esquece-se de todas as responsabilidades e implicações que seus poderes trazem. Esquece-se de todas as regras do bom senso que aprendera até agora. Esquece-se — se é que chegou a enxergar — dos dois cadáveres que já deixa para trás.

Seu objetivo está próximo, e à medida que avança mais e mais obstáculos letais surgem em seu caminho.

:: Notas do Autor

No início do texto, me apropriei das letras de On Your Own, da banda britânica Blur, e no meio acabei usando algo de Airbag, do Radiohead. Ambas são músicas que cabem na minha mais alta recomendação.
Este texto foi escrito ao som do REM acústico deste ano e é dedicado à memória de Christian Baarnard, John Lee Hooker e aos mortos no estúpido ato de arrogância acontecido no dia 11 em Manhattan.
Morte à intolerância e aos intolerantes, vida aos inocentes — que não devem pagar pela estupidez humana.



 
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