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Batman Especial

Por Leonardo Araújo

Sombras de um Crime

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É um sóbrio fim de tarde nublado e Bruce Wayne está no cemitério de Gotham City para prestar sua solidariedade a Jeph Siegel e ao pequeno Frank Siegel. Jeph é um dos executivos das empresas Wayne; aliás, excelente administrador. A sra. Melissa Siegel morreu num acidente aéreo sobre as florestas africanas. Frank chora compulsivamente, olhando para o caixão fechado que, de forma lenta, é abaixado até a cova. Suas pequenas mãos contraem-se com firmeza, segurando o paletó escuro do pai.

Um menino chorando a perda da mãe é uma imagem bastante forte na mente de Bruce. Ecos do passado o atingem. Então, ele se aproxima do garoto e, se abaixando, diz:

— Há fatos em nossas vidas dos quais não entendemos o sentido. Simplesmente não sabemos o motivo pelos quais acontecem. Quando eu era um pouco mais novo que você, Frank, perdi meu pai e minha mãe... o tempo não apaga a dor da perda, mas nos ensina a conviver com ela. O importante é sabermos que Melissa não gostaria de vê-lo assim. Nós sabemos disso. Você sabe disso.

Embora o garoto não desvie o olhar dos coveiros que lançam terra sobre o caixão, Bruce nota que ele ouviu suas palavras. Porém, fica sem saber se elas foram bem entendidas.

Já de pé, Bruce dirige-se para Jeph:

— Pode contar como meu apoio no que for necessário, principalmente quanto a Frank. As empresas Wayne têm ótimos programas de esportes e atividades diversas para seus funcionários e familiares.

— Agradeço sua gentileza, sr. Wayne. Ficaremos bem, assim que absorvermos melhor essa... tragédia.

Bruce começa a afastar-se lentamente da cena, quando escuta um chamado:

— Sr. Wayne!

Ao olhar na direção da voz, nota que Frank o chama.

— Sr. Wayne, como foi que o senhor fez?

— Fiz o quê, Frank?

— Como o senhor aprendeu a conviver com isso?

— Me entregando às atividades do meu dia-a-dia. Preencha seu tempo com atividades das quais goste. Dê atividade ao seu corpo e mente. Lembre-se: o que uma mãe mais quer é a felicidade de seu filho.

— Venha, Frank. — chama Jeph.

Bruce sabe que não foi isso que ele fez, embora tais ações possam preservar o garoto. Sua dor iniciou tudo o que ele é hoje.

Uma limusine o aguarda.

— Como ficou o garoto, patrão? — pergunta Alfred.

— Melhor do que eu esperava. Trouxe o uniforme?

— Embaixo do banco, patrão Bruce. Devo inventar alguma desculpa para a jovem senhorita loira com a qual o senhor marcou um jantar esta noite?

— Sim, Alfred. Diga que estou em reunião. Eu ligo depois.

Doze dias se passam.

Bill é um profissional experiente e gosta de trabalhar só, para não ser atrapalhado ou ter incompatibilidades. Esta semana ele está em Gotham, a negócios. Só que o ramo de Bill é o assalto; de preferência, joalherias. Minutos atrás, Bill passou por uma delas. A joalheria é de médio porte, num bairro de classe média. Ele praticamente a "ouve" implorar para ser assaltada. A fama do guardião de Gotham pesa em sua mente.

— Será que ele existe mesmo? Sei lá, são tantas histórias... mas ninguém vê o cara...

Então Bill se resolve: vai fazer uma "limpa" na joalheria. Entra rapidamente no primeiro beco escuro que vê. Aproveita a penumbra que o lugar proporciona neste início de noite para retirar suas preciosas "ferramentas de trabalho". A pistola é só para segurança, caso algo dê errado. Algo errado? Para Bill, sim. Muito errado, erradíssimo, o mais errado que poderia dar. Apesar da escuridão, ele pode ver a silhueta sombria a poucos metros à sua frente. Grande, com orelhas pontudas e uma capa.

E a voz...

— Você não é bem-vindo a Gotham. — rompe o silêncio em um tom gutural.

Bill não é homem de ter medo. Já esteve na guerra do Golfo e foi até condecorado por bravura. Mas no momento ele está apavorado, tão apavorado que não consegue agir ou falar.

— Não tolerarei sua presença na minha cidade após a meia-noite.

A força que lhe falta no corpo faz com que sua mão deixe a pistola cair. Bill se desmancha.

"Ele deve achar que eu quis fazer algo. Aimeudeus, tôferrado..." — pensa Bill.

Ao levantar o olhar para o ponto de onde vem a voz, Bill se surpreende em constatar que não há mais ninguém ali. Ele está inteiro, ao menos fisicamente. Espremendo-se junto à parede, para ter certeza de que ninguém o pegará pelas costas, Bill sai do beco com um só pensamento:

— Onde é a rodoviária?

Naquela mesma noite, algumas horas mais tarde, Bruce comparece, muito bem acompanhado, a um jantar beneficente. Políticos, ricos e famosos estão por todo o salão. Um ambiente bastante fútil para o homem-morcego. Compartilhando a mesa de Bruce e sua acompanhante estão alguns executivos das Empresas Wayne. Dentre esses, o sr. Siegel e uma bela acompanhante. Bruce acha que conhece a garota. O casal demonstra ser bastante próximo.

Mark, um dos presentes, faz um comentário malicioso, em voz baixa, para Bruce:

— Parece que o seguro de vida que Jeph recebeu, devido à morte de sua esposa, deixou-o mais sociável, hehehe!

A alteração do semblante de Bruce é nítida, a situação passa a lhe causar um desconforto irritante. A tensão é tão evidente que o próprio Mark intervem:

— Calma, Bruce, o seguro é bastante antigo. Eu estava brincando...

— Brincando... claro! É que eu pensei ter reconhecido a acompanhante.

— Claro que reconheceu. — diz Mark — Cinco anos atrás, concurso de Miss América. Ela foi a segunda princesa e não tirava os olhos de você no jantar oferecido pela prefeitura às candidatas de Gotham.

— Ah. Foi isso. Jessica é o nome dela, não é?

— Não, Bruce, Mary. São tantas que você sequer guarda os nomes...

— Mais baixo, Mark, eu estou acompanhado.

— OK, OK.

No dia seguinte, Wayne continua a desempenhar o papel de playboy. Desta vez, em visita de rotina a uma das fábricas. Enquanto dá respostas evasivas a seus executivos, que estão saindo de seu escritório, sua mente se vê questionada sobre o quão fútil é esse papel. Como ele perde tempo como Wayne!

"O crime não descansa em Gotham e eu tenho de fazer esse teatro. É frustrante. Não posso negar que Bruce Wayne atrapalha Batman, mas Gotham necessita de ambos. Talvez seja a única coisa que realmente me mantém nesse... papel."

Enquanto esses pensamentos ocupam sua mente, sua atenção se foca em uma cena que vê pela janela de seu escritório: o sr. Siegel sai do prédio e entra num conversível dirigido por, ao que parece, uma bela moça. Bruce a reconhece. É Mary, a moça do jantar.

Como sua rotineira ronda noturna já está atrasada, troca rapidamente de roupa e é Batman quem acompanha o conversível até seu destino final: um belo apartamento de classe média alta, bastante privativo.

Seus instintos não o deixarão em paz se ele não tirar essa história a limpo. Descendo junto a uma das janelas do apartamento, Batman fixa nesta um amplificador de vibrações de alta precisão, acoplado a um pequeno gravador.

Feito isso, deixa a conversa sendo gravada.

Parece ser uma noite tranqüila na cidade, como poucas são. Porém, Oráculo o avisa que os bombeiros receberam um chamado. Um prédio bastante antigo está com princípio de incêndio. O homem-morcego dirige-se velozmente ao Batmóvel. Uma "carona" no teto de um caminhão abrevia o tempo que ele perderia pelo alto dos prédios até o veículo. Em minutos, além dos caminhões de bombeiro, o Batmóvel corta as ruas de Gotham.

Batman chega antes dos bombeiros e usa o prédio ao lado para alcançar os andares superiores. Não é preciso usar seus conhecimentos especializados para concluir que há vítimas presas: o prédio é bastante velho, carece de equipamento de segurança; é tarde da noite, muitos estavam dormindo quando iniciou o incêndio; as chamas começaram nos andares inferiores.

— Hora de testar o novo equipamento. — diz para si mesmo — Oráculo, passe a planta do penúltimo andar para meu visor.

Batman analisa um ponto contra o qual a parede pode ser perfurada sem perigo de atingir ninguém.

O equipamento parece uma espécie de lançador de algo similar a um arpão, preso a cabos de aço. Ele dispara dois dos "arpões", que atravessam a parede do prédio em chamas, na altura do penúltimo andar. Puxa os cabos para certificar-se de que estão bem ancorados. Fixa rapidamente o lançador numa base própria, já presa ao chão. Usa seu lançador para prender uma corda no prédio vizinho e chegar até ele.

Uma vez no prédio, vai até o local onde os arpões se fixaram e trava-os abrindo ganchos anexos. A fumaça já é densa.

Um grupo de seis pessoas se aproxima dele.

— Rápido, vistam este equipamento conforme minha demonstração!

Rapidamente distribui quatro "cadeiras", similar às que os bombeiros usam em resgates, demonstrando como devem ser vestidas e fixadas ao corpo.

— Batman, Robin chamando. Estou junto ao prédio. — emite o comunicador.

— Posicione-se no prédio ao lado, no décimo-quinto andar, salão de festas. O resgate será feito por lá. Auxilie as vítimas que enviarei. Leve oxigênio.

Dito isso, Batman verifica se o equipamento está bem preso às pessoas. Engancha duas delas nos cabos e deixa que a gravidade as levem até o prédio ao lado. Robin as recolhe e as desequipa. A rotina segue por horas, até ter certeza de que ninguém mais está no prédio.

Ao fim da noite, o detive retorna ao apartamento onde sua escuta permaneceu ligada e a recolhe.

Já na caverna, Bruce houve a fita criteriosamente. A falta de palavras de paixão acirrada, como é de costume às paixões recentes, e comentário de viagens antigas, que não se repetiram, o faz concluir que a relação do casal é bem anterior à morte de Melissa.

"Pelo arquivo da polícia, o corpo de Melissa nunca foi achado. Desistiram da busca após quinze dias. O piloto do avião foi achado." — pensa Batman.

— Oráculo! Está na escuta?

— Pode falar. Estou acompanhando sua movimentação de arquivos.

— Ótimo. Veja o que consegue sobre Alex Schildt.

— O piloto, certo. Retorno assim que possível. Desligo.

— Robin! Ainda acordado?

— Na escuta, Batman.

— Lembra do garoto do qual lhe falei há duas semanas?

— Sim, Frank. Quer que eu verifique a situação?

— Exato. Avise-me tão breve quanto possa tirar conclusões sobre o caso. Desligo.

O fato merece uma atenção mais aproximada, conclui Batman. O presidente das empresas Wayne envia memorandos e diretivas aos seus diretores. O fim de noite e início de manhã são particularmente importantes para organizar as outras funções das vidas de Batman e Bruce. O descanso vem, quando possível, após esta etapa.

— Patrão Bruce! Está uma bela manhã ensolarada. O senhor me pediu que o acordasse às 10 horas. São exatamente 10 horas.

— Obrigado, Alfred. Irei para o escritório da Waynetech. Assim que eu sair, informe a Tim minha localização.

— Perfeito, patrão Bruce.

Cerca de duas horas se passam entre Bruce acordar e Tim fazer contato, desta vez pelo celular.

— Tenho informações. Não se preocupe, a linha está segura. — diz Tim.

— Conte-me.

— Frank anda ainda bastante triste. O pai é muito ausente na vida dele. Procura recompensar esta falta com presentes, mas nesses dias, as coisas não estão indo bem.

— E quanto aos cursos e atividades extras?

— Ele não está participando. Tem ficado em casa. Uma coisa me chamou a atenção, Batman: ele é bom com números, vi pelo seu boletim escolar e me informei com amigos em comum.

— Ele costuma usar a internet?

— Sim, com freqüência.

— Coloque Barbara a par da situação. Solicite-a que invente algum jogo, alguma forma de prender a atenção dele. Veja o que é possível. Desligo!

— Chame Lucius Fox para mim. — solicita Bruce, pelo canal interno, à sua secretária.

Alguns minutos depois:

— Bom dia, Lucius. Entre.

— Boa tarde. Já são mais de 12 horas?

— É, o tempo passa rápido aqui.

— Principalmente quando se chega tarde. O que deseja?

— Lucius, gostaria que me desse cobertura na próxima semana. Já lhe enviei um arquivo com as providências que gostaria que tomasse. Vou visitar uma amiga que mora... longe.

— Outra vez, Bruce? Já não basta só as de Gotham?

— Você sabe que a aventura é uma necessidade para mim. Outra coisa...

— Sim.

— Lembra de Frank, o garoto...

— Sim, lembro. O que quer que eu faça?

— Quero saber como ele está. Sei que ele é bom com números. Invente uma bolsa, um grupo, algo que possa trazê-lo para atividades com outros garotos. Seja criativo e rápido.

— Quando acho que vou perder a paciência com você, vem sempre uma surpresa. Farei o que me pede.

— Obrigado, Lucius. Sei que posso contar sempre com você, amigo.

— Oráculo, pode me ouvir?

— Perfeitamente, Batman. Já tenho alguma coisa para você sobre o piloto.

— Envie por e-mail. Faça uma reserva para Malone em algum vôo para a África do Sul, Johannesburgo, após as 21 horas.

"Alex Schildt, 45 anos, 20 anos dos quais pilotando, nenhuma ficha criminal, poucos parentes, sem filhos ou esposa, diabético, ligeira miopia, formado em Direito, free-lancer. Nada de discrepante." — assim, rapidamente, Batman analisa a ficha do piloto do avião que transportava Melissa. Ele está agora em Johannesburgo, África do Sul. Mais precisamente no Roma, um hotel simples em Edenvale, a nordeste de Johannesburgo.

Sair e entrar são atos feitos com discrição: seus cabelos estão tingidos de marrom claro, usa bigodes e óculos escuros, além de algumas pequenas alterações na face feita com maquiagem. O detalhe é uma pequena barriguinha de chope. Malone está em campo.

Um ônibus deixa Malone nos arredores do aeroporto.

Após observar o local e andar pelas instalações, Batman vai ao encontro de alguns homens que trabalham no setor de vigilância.

— Amigo, por favor... — dirigindo-se a um dos funcionários locais — Onde posso conseguir um vôo panorâmico da região?

— Meu tio é piloto, ele voa pro senhor. Quando o senhor vai querer?

— O mais rápido possível. Tenho um compromisso em Maputo e não quero me atrasar por causa do passeio.

Três horas depois, Bruce sobrevoa o rio Vaal, exatamente na região em que o avião de Melissa caiu.

— O rio não parece tão cheio! — grita Malone para o piloto.

— Estamos em época de estiagem... uma das piores dos últimos anos.

— Por favor, retorne ao aeroporto acompanhando o rio.

— OK, o senhor é quem manda, chefe.

Horas depois, já numa locadora de automóveis, Batman analisa as fotos do rio, feitas com uma microcâmera, traçando uma rota de acesso até o ponto da queda do avião. Uma rápida entrada nos arquivos eletrônicos da polícia local dá a localização precisa de onde os destroço do avião estão.

— Mais alguma coisa, senhor? — pergunta-lhe a jovem atendente enquanto lhe entrega as chaves de um utilitário.

— Sim. Alguém pode embarcar meu material de camping?

— Claro, senhor.

Bruce sai da cidade e segue por uma rodovia até perto do local do acidente. Um acesso secundário o conduz às margens do rio. Em seguida, pára o utilitário em um local discreto, aproveitando a vegetação natural para esconder o veículo e o dissimular, enquanto ele mesmo veste um equipamento de mergulho.

A noite cai e, apesar desta dificultar ou impossibilitar qualquer observação, é exatamente o período em que o morcego camufla suas atividades.

Um bote inflável com motor elétrico o leva até o ponto onde o avião havia caído. Ele agora, com um pequeno sonar, vasculha o fundo para saber a exata posição dos destroços. Em seguida, uma rede circular é lançada ao redor da área de mergulho: isso manterá longe indesejáveis habitantes marinhos e caçadores aquáticos noturnos. A rede está embebida numa forte loção que exala um cheiro de óleo, fazendo uma barreira química junto à barreira mecânica natural da resistente malha da rede. Batman não tem tempo para combate com crocodilos ou qualquer coisa do gênero.

O silencioso bote é ancorado. O sonar também serve para lhe mostrar o que foi cercado no lançamento da rede de segurança. Felizmente nada que seja preocupante. O mergulho é iniciado.

Um caro equipamento o acompanha: um propulsor submergível acoplado a câmeras e luzes próprias para o ambiente aquático.

Já no fundo, Batman revira os destroços, enquanto filma tudo. Não terá mais de quarenta minutos de mergulho. Ao chegar ao motor do avião, após alguns minutos e à luz do equipamento, analisa cabos e fios. O cabo de aceleração parece ter sido sabotado. A água escura e turva dificulta as coisas. Ele recolhe o pedaço em questão, após filmá-lo, para uma melhor análise posterior.

Metade de seu tempo passou quando ele decide entrar na cabine. Os objetos soltos que vê são recolhidos para averiguação. Preso ao fecho de um pequeno estojo de primeiros socorros está um saco plástico, com traços de um pó branco. Ambos são recolhidos. Os últimos dez minutos são gastos na análise da fuselagem externa, em busca de tiros ou algum impacto que pudesse ter abatido a aeronave. Uma cuidadosa filmagem é feita.

Horas se passam até que Malone retorna ao quarto de seu hotel e pode, finalmente, analisar o que pescou no seu passeio noturno.

— Cocaína. — diz para si mesmo, provando com a ponta da língua uma quantidade ínfima do pó encontrado no saco plástico — "Qual deles usava? O piloto?" — o relatório enviado por Oráculo traz a informação. Consumidor eventual, verdade, mas pode ter sido a causa do acidente — "Aqui! O cabo de aceleração foi cortado cuidadosamente. Apenas alguns fios foram deixados. As manobras não chegaram a rompê-lo. Não foi a causa, embora pudesse ser, brevemente, caso o vôo tivesse continuado." — pensa Batman, enquanto analisa o cabo do acelerador.

Uma fileira de formigas chama a atenção do detetive sobre o estojo de primeiros socorros. Um frasco se rompeu e as formigas se dirigem ao líquido que de lá saiu.

"Insulina. Óbvio." — rapidamente, pega o último frasco fechado da "insulina" e o submete a análise química, juntamente com o frasco que foi rompido derramando-se dentro do estojo.

Um e-mail codificado é enviado a Oráculo e Bruce agora aguarda. Quinze minutos depois, seu telefone toca.

— Linha segura, chefe.

— Oráculo, siga as instruções que enviei. Verifique se Schildt estava com a glicose alterada quando morreu.

— OK, já estou fazendo isso! Estou ligando para avisar que alguém está comprando muito material de ponta em geração e transmissão de força. Também matéria base de supercondutores.

— Levante o destino!

— Laboratórios B&C.

— Faça um levantamento de compras anteriores e projetos do laboratório. Mantenha-me informado. Desligo.

— Calma. Outra coisa: Robin vai falar.

— Robin falando.

— Estou ouvindo.

— Joel Pacheco, um assassino de aluguel, usando o nome de Bosco Lopez, esteve presente ai na época do acidente. O cruzamento que você solicitou acabou de obter essa informação. O corpo da senhora Siegel não foi encontrado.

— Mande-me o perfil e fotos do sujeito. Sobre o corpo eu já sabia. Mais alguma coisa?

— Não.

— Desligo.

Ao voltar sua atenção para as perícias químicas, verifica que as ampolas que deveriam conter insulina continham glicose. Um e-mail com o perfil de Pacheco chega.

Naquele fim de manhã, Malone faz nova visita ao piloto que fez o vôo panorâmico sobre o rio Vaal. Desta vez com a intenção de seguir os passos de Pacheco. Nada obtém. O piloto nunca viu o rosto da foto, suposto primo de Malone.

Horas se passam, com Malone jogando papo fora, pagando bebida a funcionários do aeroporto e pilotos que freqüentam os bares locais. Até que finalmente o barman, no terceiro bar que entra, reconhece o homem da foto.

— Sinto, senhor, mas só sei informá-lo que o vi, pois seu primo estava muito mal acompanhado. Ele estava com o Estaca, um sujeito que não tem boa fama por aqui.

— E onde encontro o sr. Estaca? — pergunta Malone.

— Isso eu não sei.

— E como...

— Senhor, não quero confusão no meu bar.

— Entendo. 100 dólares o fariam facilitar minha busca por meu primo?

— É que o Estaca...

— Escreva onde encontro esse sujeito e eu troco o guardanapo com a informação pelos 150 dólares do meu bolso.

Como esperado, a barganha obtem sucesso. Agora Bruce tem um nome, ou apelido, e um endereço.

Ao retornar ao hotel, Batman desencadeia uma busca no serviço de informação local, apoiado por Oráculo, o que vem a confirmar dados sobre o suspeito. Foto, descrição física, prováveis endereços, ramos de atuação. Estaca receberá uma visita esta noite.

É quase meia-noite quando Bruce encontra Estaca em um de seus endereços. O capuz lhe faz falta, mas não quer que Batman seja visto nas redondezas. Por isso, apenas uma roupa escura e uma máscara lhe cobrem a verdadeira aparência.

A porta da frente da casa voa longe quando Batman a bota abaixo. Um dos três ocupantes do apartamento parte para cima de Batman. O sujeito é bem grande e rápido. No momento seguinte, o apressado tem seu nariz, três dentes e o maxilar quebrados com o choque de sua face na parede. Algumas jovens passam seminuas pelo corredor da casa. Estaca e um outro avançam armados e atirando em direção ao invasor.

Um grito agudo, seguido por sangue espirrando na parede. O comparsa de Estaca está abatido. Batman arremessa a pistola, que o primeiro marginal tentava usar, acertando a testa do infeliz.

Estaca continua a atirar. Uma pequena carga pré-programada explode lá fora, apagando a luz do imóvel. Só os clarões dos disparos iluminam o ambiente. Apenas dois disparos e Estaca está no chão, imobilizado, agonizando de dor, com Batman torcendo seu braço enquanto um joelho lhe parece esmagar a coluna, tal a pressão em suas costas.

— Seja bom consigo mesmo, animal. Use seus instintos para abreviar sua dor.

— O que você quer, porra... ahhhh!

— Algumas semanas atrás, um sul-americano o procurou. Estatura mediana. Usava o nome de Bosco Lopez.

— Sim, eu só... aiii... vai quebrar meu braço.

— Então fale depressa tudo o que quero.

— Tá bem... mas me solta... ahhhh.. filho de uma pu.. — um soco atinge sua boca em cheio.

— Você ainda tem o outro braço, duas pernas e eu nem toquei nos seus órgãos internos. — adverte Batman. A voz sinistra ecoa no ambiente.

— Coff, tábemtábem... ele queria o endereço de um piloto inglês... Schinfre, não, não! Schildt, Schildt é o nome. Também queria o hangar que guardava o avião dele... coff... e a rotina do cara... só sei isso. Não me bata mais...

Sirenes da policia local ecoam no ambiente enquanto Estaca percebe falar sozinho. Batman já se retirou.

No fim da manhã, Malone se dirige até o lugarejo onde o corpo do piloto foi achado, às margens do rio Vaal.

Enquanto percorre a pobre aldeia, como um voluntário da Cruz Vermelha atendendo pescadores locais, Batman analisa o caso cuidadosamente. O exame do corpo do piloto é fundamental para confirmar suas suspeitas.

Já é início de tarde quando uma senhora lhe dá uma preciosa informação: o filho dela, que mora na aldeia vizinha e é o padre da região, abrigou uma jovem sem memória que vagava pelas margens do rio.

— Como vê, sou da Cruz Vermelha. Posso ajudar a jovem se a senhora me indicar como encontrar seu filho.

— A moça foi levada à Casa de Repouso Nossa Senhora, pra capital.

— Pretória?

— Sim, lá mesmo. Isso faz uns dois dias.

Assim que é possível, Malone retorna a seu quarto no hotel. Instruções são enviadas para Oráculo e Robin, via e-mail.

Credenciais falsas e um novo disfarce se fazem necessário.

Batman entra como faxineiro no hospital em que a jovem está internada. Seu árduo treinamento no domínio de suas emoções quase não são suficientes para obliterar a esperançosa torcida que faz no fundo de seu peito.

Após percorrer alguns corredores sem maiores percalços, a recompensa de seus esforços ultrapassa qualquer parâmetro: uma jovem, claramente vestida como paciente, ajuda algumas crianças enfermas, lendo histórias. É Melissa, sem sombra de dúvida. Ele a conhece pelas fotos.

— A senhora quer ajuda com as crianças? — pergunta Batman.

— Não, obrigada. Você é americano? Seu sotaque...

— Australiano. A senhora é americana?

— Acham que eu sou. Alguém da embaixada virá amanhã para tentar verificar isso. É que eu perdi a memória.

— Sinto muito. A senhora está aqui no hospital mesmo?

— Sim. Fico na enfermaria B, no terceiro andar.

— Se precisar, é só chamar, sou bom com leituras e varro rápido.

— Hahaha. Obrigada, mais uma vez.

Tudo confirmado.

Naquela noite, no teto de um edifício local, Batman recebe a visita de Ajax.

— Oráculo me avisou que precisava de mim. Do que se trata?

— Há algumas semanas, um acidente aéreo de um monomotor aconteceu a algumas dezenas de quilômetros daqui. Foram vitimadas nele Melissa Siegel e o piloto do avião. Jeph Siegel, marido de Melissa, contratou um assassino de aluguel, bom por sinal, para matar sua esposa. Motivo: queria assumir a vida com sua amante, que o pressionara para isso, e obter o prêmio de um antigo seguro de vida da esposa. Dentre outras medidas, o assassino levantou a ficha do piloto, descobriu que ele era diabético e providenciou uma troca de ampolas de insulina por glicose. O resultado da autópsia indica o elevado nível de glicose no piloto por ocasião do acidente. Achei as ampolas trocadas e levantei os movimentos do assassino enquanto esteve aqui. Vítima da taxa de glicose elevada, o piloto teve convulsões e desmaiou enquanto sobrevoava o rio Vaal, deduzo. A aeronave perdeu o controle e caiu no rio.

— Onde entro na história?

— Melissa sobreviveu e você é a segunda pessoa a saber disso. Perdeu a memória e está hospitalizada neste prédio. Uma vez recuperada, ela pode, facilmente, confirmar minhas suspeitas. Preciso que você restaure a memória dela. Há uma criança no meio deste fogo cruzado.

De posse da foto de Melissa e informado do local aonde a mesma se encontra, Ajax segue, em sua forma invisível, parede adentro.

Naquela manhã, em Gotham, a detetive Montoya recebe um arquivo eletrônico, com uma senha particular que lhe indica a procedência. Todos os dados levantados pela investigação estão ali.

Já é fim de tarde quando Bruce retorna a Gotham e é recepcionado por Lucius.

— Tenho uma péssima notícia. — diz Lucius.

— Nada pode estragar este dia, Lucius. Pode me dizer.

— Jeph Siegel foi preso, acusado de assassinar sua esposa.

— Jura? E Frank?

— Está numa excursão. Chega no meio da noite. Só um minuto, meu celular... pronto. Sim, é ele. O quê?!! Como assim? OK. Obrigado.

— Você dizia...

— Bruce, um milagre, algo muito bom... Melissa Siegel está viva e vindo para cá!

— Eu lhe disse que nada estragaria meu dia!




 
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