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Birds of Prey # 07

Por Igor Appolinário

A Filha Pródiga
Parte Final — De Pai Para Filha

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Torre do Relógio — Gotham City

— Cassandra! Você vem comigo!!

A jovem asiática que está sentada no sofá fica aterrorizada, como se aquela voz fosse a coisa mais pavorosa que já ouviu. Ou ainda, como Bárbara percebe, algo que ela nunca ouvira antes. Cassandra não se move, tremendo muito e olhando fixamente para o homem na janela: o criminoso e assassino profissional David Cain.

— Não me ouviu, garota? Você não pode falar, mas tem uma audição perfeita. Eu mesmo me certifiquei disso.

Cain avança em direção à jovem, mas Dinah se interpõe entre eles com firmeza para impedir que ele chegue à garota. O mercenário olha com frieza para a vigilante, seus olhos pesquisando e analisando a mulher, como se preparasse o próximo ataque. Oráculo se pronuncia, com um leve tom de irritação na voz:

— O que você quer com a garota, Cain?

A menina asiática agora tem 10 anos de idade, ela está em pé no centro do tatame, olhos fechados, a face com uma expressão séria, os braços tensos esticados ao longo do corpo. Do outro lado da sala, David Cain abre a porta corrediça e três estranhos mal-encarados entram. A menina abre os olhos e lança um olhar frio aos homens, frio e calculista, como se esperasse o próximo movimento deles. O mercenário faz um sinal para os homens, que avançam sobre a garota com fúria nos olhos...

Torre do Relógio

— Você ficaria surpresa...

— Eu não busco respostas evasivas, Cain. O que você quer com ela?

— Bem, já que você quer tanto saber. Ela é minha filha.

— O quê?!?!?! — gritam Oráculo e Canário Negro em uníssono.

— Eu adotei no Vietnã uma órfã que morreria de desnutrição ou provavelmente se tornaria uma prostituta. Mas eu tinha outros planos para ela, muito mais nobres... ela seria minha assassina perfeita, faria dela uma máquina de matar. Durante anos ela passou pelos mais duros treinamentos para moldar corpo e mente; os mesmos treinamentos que um certo "amigo" em comum também passou...

— Você é um maníaco! — grita Dinah — Como pôde fazer isso com uma criança? Uma menina deficiente!

— Aí que você se engana, mulher. Cassandra não é muda por causa de uma deficiência física. Eu a fiz assim. Não lhe ensinei a falar e a privei do conhecimento da fala, tudo em prol de um bem maior, é claro!

— Que bem maior pode haver em privar uma criança da fala? — pergunta Oráculo, horrorizada.

— Seu cérebro não compreende linguagem alguma. Seu próprio nome, talvez? A não ser a linguagem corporal de seus inimigos, prevendo cada movimento antes mesmo dele ser executado. Perfeita! Agora, se me dão licença, essa conversa já esgotou minha paciência! Como um pai zeloso, devo levar minha filha para casa.

Nunca!

Canário Negro ainda se coloca entre Cassandra e Cain, mas o homem, muito maior e mais forte, joga Dinah para o lado, caindo aos pés de Bárbara. Oráculo faz menção de pegar algo em sua cadeira, mas Cain vira-se para ela e vai em sua direção. Cassandra, que até então mantinha-se quieta e amedrontada no sofá, se levanta rapidamente e se interpõe a eles, encarando seu pai em posição de ataque.

A pequena Cassandra desvia de um golpe de faca do primeiro homem, agachando-se a sua frente e aplicando um soco certeiro em seu estômago. Ela pega a faca caída no chão e joga no homem que corre em sua direção. Ele desvia, mas a faca acaba acertando o outro que vinha atrás, que tomba no chão.

O único inimigo remanescente encara a menina com medo no rosto, mas ela continua impassível e se prepara para o golpe de misericórdia. O homem ataca com golpes desesperados, mas Cassandra apenas desvia e apara os socos e com uma precisão incrível atinge um nervo no pescoço dele, deixando-o imóvel. A menina se aproxima de Cain, que assistia a tudo a um canto da sala, e faz uma reverência.


Cassandra continua protegendo Oráculo. Cain parece atônito com a reação da garota, mas um estranho brilho de decisão surge em seus olhos. O mercenário move-se rapidamente e desfere um golpe direcionado à garota, mas ela apenas desvia o soco com um tapa. Ainda mais rápido que ele, Cass desfere um soco no peito de Cain, desequilibrando-o.

Ele fica furioso e tenta atacar diretamente Oráculo, mas Dinah apara o golpe com o próprio corpo. Cassandra coloca a mão no ombro de Cain, o homem se vira para ela e a vê apontando para a janela por onde ele entrou, a chuva caindo incessantemente lá fora.

OK! Se você quer assim...

Cassandra, agora com 11 anos de idade, está sentada no tatame, encostada na parede contrária a entrada. Cain entra pela porta corrediça, a garota se levanta e se curva em cumprimento. O homem pega uma pistola e aponta para ela. Cass assume posição de combate, sem tirar os olhos do oponente a sua frente.

Cain engatilha sua pistola e Cassandra ataca, seguindo sem medo em sua direção. Ele atira seguidamente e a garota desvia de todas as balas, que vão perfurando a parede as costas dela. Ela se aproxima mais e mais, enquanto o homem continua firme em seus disparos. Cass chega tão próximo que sua cabeça fica a apenas um palmo do cano da arma...


A chuva cai pesada nas ruas de Gotham. Densas gotas chocam-se contra os prédios e postes. Ninguém arriscaria sair nessa tempestade que desaba sobre a cidade, quase ninguém...

Cain e Cassandra parecem nem perceber o aguaceiro que os encharca; eles apenas se encaram de uma distância segura, cada um em uma calçada distinta. Canário Negro também se expõe à tempestade, agora completamente uniformizada, apenas observando o que os dois vão fazer...

— Cain, não machuque a garota!

— Cale-se, isso é entre eu e ela. Ela quer provar que não precisa mais de mim, mas eu vou mostrá-la que ainda tem muito que aprender. Não se intrometa!!

Cain e Cassandra se lançam um sobre o outro, com golpes se chocando tão rápido que os olhos de Canário mal podem divisar os membros dos oponentes. Eles se movem por toda a pista deserta, sempre se encarando e, aparentemente, nem dando atenção para cada soco ou chute desferido contra o inimigo. Mas sempre tentando atingir algum ponto vital.

A chuva castiga a terra, mas os oponentes não dão sinais de fraqueza. Dinah não consegue acreditar na perseverança deles, mesmo que a luta pareça ficar eternamente empatada. Apenas um deslize poderia fazer de um deles uma vítima do outro, um deslize... Cassandra é pressionada por Cain a subir na calçada, mas as pedras molhadas fazem a garota escorregar e cair no asfalto. Cain arma um golpe, direcionado ao coração da menina...

Não!!! — grita Canário, saltando na frente de Cassandra...

A pistola está no chão, seu cano quente solta uma fumaça esbranquiçada. De um lado dela está Cassandra, ajoelhada no tatame e respirando ofegantemente, e do outro Cain, com a boca sangrando e uma grande mancha vermelha no rosto. Eles se olham, como se ainda esperassem alguma outra reação.

Cain coloca a mão no bolso, o que deixa Cass alerta, mas ele tira uma foto de dentro dele e mostra para a menina. Cassandra olha atentamente para a pessoa impressa no papel e então seu "pai" amassa a figura e pisa em cima, deixando apenas alguns restos rasgados sobre o tatame.


Canário Negro está caída no chão, sua boca sangra enquanto ela aperta o peito com as duas mãos. Cassandra se levanta rapidamente e tira Cain de perto de Dinah. Eles voltam a lutar, ainda mais ferozmente, mas Cass parece muito mais determinada.

— Não... cuidado! — grita Canário, mesmo com muita dificuldade.

Cassandra ataca Cain furiosamente e lhe dá uma rasteira, fazendo-o cair pesadamente no chão. Ela pula sobre ele, erguendo o punho e preparando o golpe de misericórdia contra seu pai.

— Cassandra... não!!! — grita Oráculo da janela da Torre, de onde observa toda a ação.

Um homem enorme senta-se em uma grande cadeira de vime. Pela janela de seu escritório podemos ver a paisagem tropical do lado de fora. Por todas as paredes vemos cabeças de animais selvagens. O homem na cadeira de vime conversa com um outro, mais franzino, que parece desconfortável em sua cadeira rústica de madeira. Dois seguranças estão estáticos ao lado da porta, a única entrada ou saída da sala. Eles estão atentos, mas relaxados, até que...

Ra-tra-tra-tra! Bum! Bum! BUM!!!

Os seguranças pegam suas armas, mas, antes que possam reagir, a porta da sala explode, enchendo o lugar com muita fumaça. Alguns outros tiros são disparados e finalmente o silêncio predomina. Do meio da fumaça, surge a pequena Cassandra, agora com 12 anos de idade. Os seguranças estão caídos a um canto, em meio a uma poça imensa de sangue. O homem franzino está escondido, tremendo sob a mesa do homem gordo, que fica imóvel diante da imagem da garotinha.

Cassandra pula sobre a mesa e com sua mãozinha desfere um golpe certeiro na garganta do homem gordo, matando-o instantaneamente. Cain chega a sala, o homem franzino sai de baixo da mesa e começa a implorar por sua vida, mas o assassino apenas pega sua arma e atira na cabeça dele. Ele olha para Cassandra, que está sentada na mesa encarando a mão ensangüentada. Ele se aproxima da menina, mas ela sai correndo da sala, aos prantos. Cain tenta seguí-la, mas um dos seguranças, em seu último suspiro, atira em sua perna, fazendo-o cair no chão. Gritando para a menina voltar...


Cain está caído no asfalto. O peito do seu uniforme rasgado. Sua pele está roxa, exatamente onde se deu o impacto do golpe. Cassandra está parada ao seu lado, recuperando o fôlego e segurando um pedaço de pano nas mãos, o símbolo de Cain arrancado de seu peito.

Tossindo, Canário tenta se levantar, ainda sentindo uma dor descomunal no peito

Cassandra corre para ajudá-la e apóia a vigilante no seu ombro. Elas começam a andar para a entrada da Torre, mas Cain chama a atenção da garota. Cass se vira e vê o homem caído, estendendo a mão para ela.

— Por favor... minha filha!

Cassandra parece indecisa, ela olha de Canário para o mercenário e então vê Oráculo no alto da Torre. Ela olha para Cain, que tenta parecer o mais indefeso o possível, mas toma sua decisão. Cass solta o pedaço de pano com o símbolo de Cain, que voa com o vento da tempestade e cai ao lado do assassino.

Epílogo 1 — Torre do Relógio — Alguns dias depois...

— Então, Barb, o que vamos fazer com a menina?

— Não sei, agora que todos os ferimentos dela se curaram... não sei...

— O que você está pensando? Mandar ela de volta para o país dela?

— Não! Cain voltou para a região, ele pode querer persegui-la. Deus sabe o que ele faria com ela...

— Bem, então eu só vejo uma saída...

— Você não está pensando... aqui? Mas não dá... ela não... eu...

— Não consegue pensar em uma boa desculpa? Bom, pense que vai ser meio que uma catarse: você vai ter seu próprio "Robin". Se bem que você e o Asa Noturna...

— Engraçadinha... Mas você tem razão, não posso deixar ela na rua, ainda mais com o que ela pode fazer.

Cassandra, que observava tudo atrás da porta entreaberta, entra na sala, eufórica.

— Calma, menina!

— Isso mesmo, calma. Você só vai ficar aqui se me prometer uma coisa. Vai ter que se esforçar a aprender a não machucar as pessoas... muito...

Cass fica muito feliz e pula em cima das novas amigas, abraçando-as bem apertado.

Epílogo 2 — Algum Lugar na Ásia

Cain está sentado em uma poltrona velha e esfarrapada, ao seu lado uma garrafa de vodca pela metade, no chão várias outras vazias. Em uma mesa do lado esquerdo da poltrona está um projetor antigo, com um filme rodando. Na tela, em preto-e-branco, Cassandra muito jovem enfrenta Cain. O rolo pára no exato momento em que o foco da câmera se fixa no rosto de Cass e lentamente vai se queimando, até a tira se partir abruptamente...



 
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