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Capitão América # 11

Por Rafael Borges

Anteriormente: Meses atrás, um atentado terrorista em Wall Street deixou Sam Wilson, o herói conhecido como Falcão, em estado de Coma. Durante os últimos meses, o Capitão América tem buscado o homem que é considerado o responsável por esse ataque: Ra's Al Ghul. Em Londres, Talia Al Ghul invadiu o Força Aérea Um, seqüestrou o presidente americano e exigiu que o Capitão e Sharon Carter libertassem o prisioneiro da cela 28 Leste. Depois de uma invasão espetacular à prisão de segurança máxima não-oficial montada na Terra Selvagem para os prisioneiros do combate ao terror, o Capitão descobre que libertou o próprio Ra's Al Ghul.

Made in USA - Parte III
... And Justice For All

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"A justiça está perdida
A justiça foi violentada
A justiça já era." (*)

Em algum lugar do Saara:

— Venha conosco, soldado! — diz o terrorista conhecido como Ra's Al Ghul, estendendo a sua mão ao Capitão América.

Steve Rogers e Sharon Carter o trouxeram para as coordenadas estipuladas por Talia. Depois de alguns minutos, eles notaram a aproximação de três helicópteros sem identificação. Tratava-se obviamente do transporte enviado para levar o mestre da Liga dos Assassinos de volta a seu covil.

Desconfiado, o Capitão nada responde.

— Podem subir! — Insiste Talia, após um afetuoso, porém contido, abraço no pai. — Já ordenei a Ubu que levasse seu presidente a salvo para a América.

— Achei que Ubu fosse o homem que deixamos amordaçado em meu apartamento. — Sharon Carter se manifesta de maneira cáustica.

— Existem diversos Ubus para diversas tarefas diferentes. — explica Ra's, acomodando-se em uma poltrona do helicóptero com o auxílio de sua filha — Apressem-se! Ainda restam muitos esclarecimentos a serem feitos até o final do dia.

Apesar de contrariado, o Capitão aceita o convite e sobe a bordo acompanhado pela Agente 13. Se Ra's Al Ghul está tentando mostrar alguma hospitalidade, não custa nada aceitar enquanto for conveniente. Afinal, qualquer informação a respeito do esconderijo dos terroristas pode ser valiosa no futuro. Além disso, munidos de armamento pesado, os soldados da Liga de Assassinos poderiam tê-los feito prisioneiros de qualquer forma.

O comboio segue viagem sem pressa pela paisagem desértica. O tom avermelhado do pôr-do-sol entre as dunas é tão intenso que chega a ofuscar a visão. Formando traços infinitos no horizonte, o Saara jaz por milhares de quilômetros. Seria impossível ignorar o contraste entre as pequenas figuras humanas em meio à grandeza do deserto a sua volta.

— E então, soldado? — comenta Ra's, voltando-se para Steve Rogers, depois de alguns minutos conversando em particular com sua filha — Ao admirar essa região mais antiga do que a própria civilização, não fica claro que a raça humana não tem o direito de macular essa terra maravilhosa em que vivemos?

Por um instante, os olhos do americano permanecem fitando o horizonte. Então, ele volta o olhar para o homem que acabou de resgatar e responde, sem hesitação:

— Para mim, está claro que Deus criou toda essa beleza com o único propósito de que o homem pudesse admirá-la.

Do fundo do helicóptero, Sharon Carter é incapaz de conter seu riso, mesmo sabendo que periga ser repreendida pelos soldados que a cercam.

— Estou velho demais para acreditar em tal coisa!— Retruca o Cabeça do Demônio, vestindo o manto cerimonial trazido por sua filha.

Vinda da cabine do piloto, Talia aproveita para intervir na conversa antes que a tensão ultrapasse níveis controláveis:

— Quando chegarmos ao meu lar, provaremos de uma vez por todas que meu pai não foi o responsável pelo incidente em Wall Street. — explica — Ordenei que fosse trazido o único homem que pode conhece o verdadeiro culpado pelo atentado. O responsável pela investigação antes que essa cruzada americana contra o terror tivesse início: Sam Wilson.

— O Falcão? — surpreende-se o Capitão América — Ele despertou do coma?

— Ainda não. — responde Talia — Mas veremos o que o Poço de Lazarus pode fazer com um homem com a fisiologia única como a dele.

A fortaleza secreta de Ra's Al Ghul, algum tempo depois:

Morra! — esbraveja Sam Wilsom em plenos pulmões.

Trazido de seu leito de hospital em Nova Iorque até os confins do deserto africano, o Falcão foi submetido a um peculiar ritual. Ainda desacordado, seu corpo foi mergulhado totalmente na solução única que compõe o mitológico Poço de Lázarus.

Durante centenas de anos, Ra's Al Ghul utilizou as propriedades medicinais do poço para prolongar sua longevidade e curar quaisquer ferimentos a que fosse submetido. Então, não há grande surpresa no fato de que o Falcão, após retornar à superfície, despertou do estado de coma em que se encontrava nos últimos doze meses.

Igualmente previsível foi sua reação ao acordar. Tomado pela conhecida insanidade que aflige a todas as pessoas que deixam o Poço de Lázarus, o Falcão partiu para o ataque contra a antiga conhecida Sharon Carter. Entretanto, uma vez que nenhum dos soldados da Liga de Assassinos têm permissão para adentrar à câmara do ritual, ninguém foi capaz de desvencilhá-lo do abraço mortal que aplica na agente da Shield.

Sob o olhar atônito de Ra's Al Ghul e sua filha Talia, o Capitão América parte para salvar sua antiga namorada da morte iminente nas mãos do amigo que se encontra fora de si. Usando toda a força de seus músculos, ele dá com o ombro contra as costas do colega. O impacto poderoso pressiona a caixa torácica, expelindo todo o ar de seus pulmões. A reação é imediata. O Falcão solta a Agente 13 e vai ao chão, sem fôlego.

— Percebo que minha filha fez muito bem quando o escolheu para me libertar. — comenta Ra's, colocando a mão sobre o ombro que Steve Rogers usou no golpe — Suas habilidades físicas são ainda mais impressionantes do que as do Detetive.

Rapidamente, o Capitão se afasta do toque de seu anfitrião. A mera lembrança de que foi o responsável por libertar um terrorista conhecido (**) o enoja. Entretanto, cada jogador usa as cartas que têm. E, em cada partida, novos trunfos aparecem.

— Ungh!

Jogado ao chão, Sam Wilson solta um gemido. Começando a se recuperar do golpe sofrido, ele soa cada vez mais como um ser humano, pois a influência insana do efeito Lázarus já se dissipa lentamente de seu organismo.

— Manifeste-se, Falcão! — exorta o Cabeça do Demônio. Impaciente, ele é incapaz de aguardar até que o herói esteja completamente recomposto — Diga a seu capitão quem é o responsável pelos atentados terroristas!

— ... Ungh... Ryker... — responde o Falcão, ainda contorcendo-se no chão. Nenhuma dor, entretanto, seria capaz de impedi-lo de finalmente revelar a verdade — O general Ryker... ordenou o ataque... para justificar a invasão à Wakanda.

Na mente do Capitão América finalmente todas as peças do quebra-cabeça se encaixam. Afinal de contas, foi o General Ryker o primeiro a incriminar Ra's pelo atentado. (***) E foi justamente ele quem mais ganhou com a recente iniciativa anti-terrorismo da qual é o próprio comandante.

Durante todos esses meses, com Ra's Al Ghul encarcerado, o exército americano esteve caçando um fantasma. Um bode expiatório usado apenas para justificar o viés belicista que domina Washington. E o verdadeiro responsável era exatamente o primeiro a fomentar o crescimento cada vez maior dos recursos financeiros usados nessa caçada inútil.

Mas o Sentinela da Liberdade percebe que tais ponderações devem ficar para ouro momento. Naquele mesmo instante, ouve-se ao longe o som de uma poderosa explosão que faz estremecer as paredes da câmera subterrânea em que eles se encontram. A fortaleza está sendo bombardeada.

— Ryker sabia exatamente o que estava fazendo! — exclama Sharon Carter — Os agentes da Shield são marcados com um sinalizador subcutâneo. Ele só precisou seguir o sinal em meu corpo para localizar o esconderijo da Liga dos Assassinos!

— Pelo som, ele deve ter trazido o próprio porta-aviões aéreo da Shield até aqui para o bombardeiro! — Conclui o Capitão.

— Então, o próprio Ryker deve estar a bordo. Talia, execute o general imediatamente! — ordena Ra's al Ghul, do alto de sua prepotência — Esse ataque não pode passar impune, principalmente depois dos meses em que permaneci como um rato naquela maldita jaula americana!

Ao som dessas palavras, sua filha parte sem hesitar. Ela se dirige ao hangar da fortaleza e pretende realizar um solitário e audacioso ataque ao porta-aviões.

— Sharon, impeça Talia! — comanda o Capitão América, preparando-se para recolher o amigo Sam Wilson que ainda convalesce no piso.

— Permita-me discordar, soldado! — Interrompe Ra's desembainhando a lâmina afiada de sua ornamentada espada — Não posso permitir que minha ordem seja contrariada.

— Então, prepare-se para enfrentar seu mais duro oponente! — deixando o colega de volta a sua posição inicial, o Capitão assume postura de combate.

Os corredores da fortaleza, pouco depois:

Talia conhece essa construção como a palma de sua mão. Para Sharon Carter, entretanto, os caminhos tortuosos percorridos até o hangar se assemelham a um labirinto. Este foi o único motivo pelo qual a Agente 13 não foi capaz de impedir que a terrorista chegasse até a pequena aeronave.

A tecnologia empregada na construção do jato não se assemelha a nada que a Shield tenha encontrado antes. Carter pode apenas presumir que Talia acredita que a aeronave seja capaz de enfrentar a última palavra em artilharia aérea americana, já que ela se prepara para a decolagem sem temor algum.

Com a mesma valentia que sua adversária, Carter lança seu corpo sobre a asa direita do jato em pleno movimento pela pista subterrânea que dá acesso ao hangar. Sua única esperança é impedir a decolagem e sua estratégia é usar o metal na fivela de seu cinto para atrapalhar o movimento do flip responsável pela elevação na altitude.

De dentro da cabine de pilotagem, Talia percebe que sua adversária está tendo sucesso quando a aeronave se recusa a decolar. No final da pista, o jato capota em alta velocidade, transformando-se em uma pilha de destroços retorcidos. Por sorte, a Agente 13 foi arremessada a metros de distância.

Após alguns instantes em que tudo o que se podia escutar era o som do bombardeio militar realizado pela Shield, Talia consegue finalmente se libertar das ferragens e caminha até sua oponente, que se encontra inconsciente devido ao impacto. Incapaz de realizar sua missão, a única coisa que a impede de dar cabo da vida de Sharon Carter é a preocupação com a segurança de seu pai. Então, ela se apressa em retornar, pela pista subterrânea. Mesmo sob acirrado ataque de mísseis, ela deve retornar à fortaleza.

De volta à Câmara de Lazarus:

Enquanto, alguns metros acima, os soldados da Liga de Assassinos tentam sem sucesso derrubar o porta-aviões da Shield que os bombardeia, o Capitão América e Ra's Al Ghul travam um combate colossal. Além dos golpes de seu adversário, cada um deles se preocupa em escapar dos desabamentos cada vez mais freqüentes que são causados pelas explosões que comprometem a estrutura da fortaleza.

Para cada golpe preciso de esgrima desferido por Ghul, há uma defesa sensacional do Capitão, usando seu escudo. Cada um à sua maneira, eles se tornaram mais do que humanos. Seja com a ação do soro do supersoldado no sangue de Steve Rogers ou pela constante exposição aos efeitos do Poço de Lazarus, ambos possuem resistência além de qualquer maratonista olímpico. Poderiam duelar por dias, sem que um saísse vencedor.

Mas como o destino costuma aprontar das suas, justamente quando Ra's se encontrava encurralado contra a parede, um desabamento o isola de seu adversário. Fora do alcance do Sentinela da Liberdade, só resta a ele esbravejar juras de vingança:

— Não pense que estou derrotado, soldado! — brada com toda a força — De uma forma ou de outra, minha ira recairá sobre o seu governo! Sobre toda a maldita raça humana que contamina o planeta, está me ouvindo?

Do outro lado da barreira formada por destroços, o Capitão pode realmente ouvir. Mas, no momento, sua maior preocupação é retirar o debilitado Sam Wilson daquele lugar. A ação das explosões é tamanha que tudo pode vir abaixo a qualquer momento. Quando o ataque tiver cessado e o Falcão já estiver em uma das cabines do porta-aviões, ele retornará à procura de Ra's.

Infelizmente, as buscas serão infrutíferas.

Além de algumas dezenas de assassinos da Liga que serão levados à prisão da Terra Selvagem, a Shield não será capaz de localizar Ghul ou sua filha. Vivos ou mortos, eles permanecerão desaparecidos.

Epílogo: A cabine do general Ryker, algumas horas depois do anoitecer.

É tudo uma questão de planejamento.

Pela forma com que foi tratado por Sharon Carter e pelo Capitão América quando foram resgatados pelos agentes da Shield, ficou claro que o Falcão já lhes revelou toda a verdade. Mas quem em sã consciência seria capaz de rebelar-se contra o comandante-geral das ações anti-terroristas dos Estados Unidos da América?

Além disso, não há provas concretas de seu envolvimento com o atentado a Wall Street. Há apenas a palavra de um vigilante mascarado que esteve em coma durante o último ano e pode facilmente ter o testemunho contestado em corte por uma junta médica. Ainda mais simples seria se o Falcão não sobrevivesse à viagem de volta á América. Afinal de contas, seu estado ainda é delicado.

Todas as possibilidades passam pela cabeça do general Ryker enquanto ele se senta em sua confortável cadeira forrada de couro e se serve uma dose de Johnny Walker Blue Label. Sua concentração é tamanha que ele não percebe a figura que se esconde à meia luz atrás da escrivaninha.

Os dedos de Ubu envolvem firmemente a o pescoço do general.

— Pelos crimes cometidos contra o Mestre, você deve morrer!


Na próxima edição: Nova Orleans abandonada.


:: Notas do Autor

(*) O título dessa edição faz referência à música da banda americana de heavy metal Metallica, no disco de mesmo nome. De forma nem um pouco sutil, a letra expressa a como um dos preceitos fundamentais do sonho americano foi deturpado. voltar ao texto

(**) Como mostrado na edição anterior. voltar ao texto

(***) Confira as acusações do general na segunda edição de Capitão América. voltar ao texto




 
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