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Por
Dell Freire
Demônios
Caminham Pelo Vale das Sombras
Nova York Em
uma noite macabra, como são todas as noites
A boca de Edward Shoomer fica seca, provavelmente pelo nervosismo,
enquanto arrasta o corpo de sua mulher para a banheira. Minutos
antes, o corpo desfalecido o faz lembrar de um passarinho morto;
seu rosto pálido, frágil, e seu olhar sem vida demorararão
a recuperar o calor que antes transmitiam. Após assassinar
a esposa e o filho, Shoomer os arrastou para o meio de um pentagrama
desenhado com giz e, seguindo o ritual que lera em um velho livro,
ofereceu suas almas para invocar um demônio que satisfizesse
todos os seus desejos. É algo mais antigo que o mundo,
sabe bem ele, a idéia de capturar demônios e subjugá-los
à sua própria vontade para satisfazer suas ânsias
e caprichos. Mas desta vez é diferente.
"Vou trazê-los de volta", pensa Shoomer, não
tão convicto quanto gostaria. "Vou enganar o próprio
demônio e uma das primeiras coisas que meu servo fará
será lhes dar o dom da vida"
Ele ajeita o corpo nu da mulher na banheira. Seus braços
gelados e sem vida fazem o homem pensar, por um minuto, que não
terá sucesso em sua empreitada. Ele balança a cabeça,
negando a possibilidade, e dá um riso nervoso pois, desta
vez, o demônio não sairá vencedor. Ele está
tomando todos os cuidados. Só fez o ritual após
a aprovação de um ocultista inglês que conhecera
pela Internet, um profundo conhecedor de velhos segredos que o
ajudara a memorizar e interiorizar o ritual em cada passo. Cada
passo...
Passos? O assassino treme ao perceber que não está
mais sozinho em casa. Alguém pesado caminha com uma confiança
capaz de pôr medo em todos os gárgulas e grifos que
Shoomer pudesse invocar se tivesse prática nesses ritos.
Seria o demônio em pessoa vindo buscar a alma e os corpos
de seus entes queridos? Instintivamente, ele fecha a porta do
banheiro, não antes sem tropeçar no corpo sem vida
do filho. "Merda. Sempre no meu caminho. Levará uma
surra quando voltar à vida"
Ele tranca a porta do banheiro com chave e cadeados, com urgência
e confiança em sua pequena segurança doméstica.
Para sua surpresa, um braço envolvido em correntes arrebenta
a porta, atravessando-a e segurando-o pelo pescoço. Com
força, Shoomer é empurrado de encontro à
porta, de dentro para fora, uma, duas, quantas vezes fosse necessário
para ele a abrir. Desajeitadamente, o aprendiz de feiticeiro,
sem alternativas, acaba por abrir a porta.
A princípio, olhando de baixo para cima, Shoomer acredita
que seja um arruaceiro, um maldito ladrão que Nova York
teima em cultivar, com suas correntes penduradas em todo o corpo
revestido em roupa de couro. Mas quando olha para o que seria
o capacete, sente que aquela coisa é mais do que aparenta.
A caveira em chamas quase parece sorrir quando o falso bruxo sente
a verdade do que vê.
Não... Ainda não é chegada a hora! o
homem se afasta, vociferando algumas palavras de força
que havia memorizado para afugentar o diabo. Da sexta torre
de Satã virá um sinal que se vinculará com
estes sabores e igualmente moverá o corpo da matéria
da minha requisição. ele faz um sinal com a mão,
fazendo o monstro fixar um pouco de atenção em suas
palavras.
Eu reuni os meus símbolos adiante e preparo meus ornamentos
do que é para ser, e a imagem da minha criação
espreita como um dragão agitado aguardando a sua liberdade.
A visão se torna uma realidade e, através do alimento
que meu sacrifício lhe dá, os ângulos da primeira
dimensão se tornarão a substância da terceira.
ele abaixa a cabeça e junta as mãos, como se estivesse
prestes a começar uma nova prece a Satã.
Não sou quem você pensa, homem! o Motoqueiro
Fantasma o segura pelo colarinho, forçando Shoomer a encará-lo
de frente. Não percebe o que fez? Este não
era meu caminho, mas o espírito da vingança me guiou
até aqui. O amor que perdeu não retornará
e apenas as noites de pesadelo serão sua companhia a partir
deste dia maldito. Veja em meus olhos o que você fez. Veja!
De repente, o rosto do aprendiz de feiticeiro começa a
contrair, refletindo a mesma dor que sentiram sua esposa e seu
filho ao serem mortos pelo homem que devia sustentá-los
física e moralmente. Ele começa a chorar. As correntes
do Motoqueiro Fantasma parecem adquirir vida própria, agitando-se
e se enrolando no corpo de Shoomer, que entra em agonia gradativamente
e, em uma morte surda, encontra a paz.
O Motoqueiro Fantasma anda pela casa do homem, em busca de algo.
Ele caminha rapidamente, retirando livros dos lugares e jogando
móveis no chão até encontrar o que quer na
sala de jantar desnuda de objetos. Um pentagrama torto, mal desenhado
com giz, está no centro, com símbolos satânicos
totalmente mal feitos e gotas de sangue salpicando o chão.
Calmamente, ele se aproxima e enxerga o que o possibilitará
se vingar do crime desta noite. Ele pega o livro, folheia-o rapidamente
e encontra um pedaço de papel com o nome do demônio
que deveria ser invocado e da cidade onde ele habita. Trommon.
Londres.

Londres Algumas
semanas depois
A assinatura está perfeita, apesar de John Constantine
não falsificar um cheque há anos e seu conhecimento
grafológico não ser profundo como gostaria. O rosto
sério de Cheryl Masters, sua irmã, demonstra sua
relutância em aceitar os fatos que se atropelam uns ao outros,
fazendo-a cair em uma teia de acontecimentos que fogem ao seu
controle. Uma dívida de jogo de seu marido a obrigou a
recorrer ao irmão, o único que tem condições,
mesmo que pouco honestas, de ajudá-la neste momento.
Ele entrega o cheque, que Cheryl pega sem olhar em seus olhos.
Com um gesto mecânico, Constantine acende o cigarro.
Por favor, John! Já lhe disse que não gosto
que fume em minha casa!
Cigarro não é tão mal, Cheryl. Peça
ao seu amado Tony para trocar o álcool e o jogo pelo fumo;
o pior que ele pode ter é um câncer.
John!
Desculpe, mana. ele senta na cama de casal, ainda fumando
e pegando um jornal do dia, meio amassado.
Eu me preocupo com você, sabia?
Não esquenta. O fumo não vai me fazer mal de novo.
Não é disso que falo... Você está
ficando velho, meu irmão. E sou a única pessoa que
você pode chamar de família, além de Gemma.
Vai ter um momento que ninguém mais vai querer ficar ao
seu lado, principalmente com essas suas esquisitices sobrenaturais
e esses seus amigos estranhos. ela se senta ao seu lado. Estou
pensando em seu futuro.
Futuro? Ei, você está falando com o cara que já
exigiu o impossível, durante o movimento punk. Eu não
sei o que quero; mas, quando souber, sei como roubá-lo,
ok?
Odeio quando mente pra si mesmo, bancando o adolescente...
Mentiras? ele joga o jornal para o lado e se levanta. Esse
cheque é uma mentira? Ora, por favor, não comece
a me ver como um fracassado, como alguém que queria tudo
e só conseguiu merda, entendeu? Faço exatamente
o que eu quero e como desejo e, pra mim, essa é minha única
lei. Eu sou assim; não tenho a mesma merda de vida que
você e seu marido. ele pensa em se sentar novamente, mas
veste o blazer e sai bruscamente. Antes, porém, vira-se
para a irmã e, com a boca cheia de raiva, dispara. Vá
se foder! Não preciso de você!
Constantine sai da casa rapidamente, sem olhar para trás,
abraçando-se para evitar o frio. Perdido nos próprios
pensamentos, não vê o carro que quase o atropela;
em seguida, o motorista buzina sucessivamente. Ele aperta os olhos
e consegue enxergar quem estava por trás do volante, deixando-o
ainda mais irritado. É Tony Masters, responsável
pela vida maravilhosa de sua irmã e sua sobrinha.
Em meio a acenos entusiasmados do cunhado, Constantine pega uma
pedra no meio da rua e a arremessa com violência, quebrando
uma das janelas do carro.

Enquanto a mulher
de olhos azuis e cabelos negros se dirige ao caixa da loja de
CDs, uma pergunta persiste em sua mente: "O que deu em mim?
Não gosto da abordagem de estranhos, mas ele realmente
me parece tão especial... tão diferente..."
A moça volta seus olhos novamente para o homem de sotaque
alemão que a espera e sorri, meio sem jeito. Há
poucos minutos, o estranho puxou conversa, falando com um ligeiro
sotaque alemão, mas demonstrando grande conhecimento sobre
a cultura inglesa e a política local. Evidentemente o estranho
está interessado na jovem. O que a surpreende, porém,
é seu repentino consentimento.
A mulher, enquanto faz a compra, ouve o Secretário do Interior
conceder uma entrevista para o rádio sobre os recentes
conflitos raciais na cidade nortista de Manchester. Diversos jovens
brancos invadiram a casa de uma vizinhança predominantemente
composta de paquistaneses e indianos; como represália cerca
de 100 jovens dessa vizinhança atacaram um pub normalmente
freqüentado por brancos. A tropa de choque foi acionada para
abafar os conflitos, travando uma verdadeira guerra campal com
os dois grupos étnicos, que atiraram tijolos e coquetéis
Molotov contra os policiais.
Que loucura, hein? Parece que não se tem mais paz nesse
mundo... a balconista, uma mulher de aproximadamente 50 anos,
começa a trocar opiniões com a jovem.
Isso é culpa desse povo que teima em invadir o nosso
país. As leis deviam restringir a entrada de povo não-europeu
em nossas terras. Não é justo. São milhares
de empregos que perdemos. responde a linda morena de olhos azuis.
E , como se não bastasse, temos que aturar os mutantes
pedindo espaço e direitos iguais na mídia...
O governo devia era por todos os paquistaneses, indianos, mutantes
e homossexuais em uma ilha bem longe e deserta. Deviam exilar
todos. Pro diabo com eles!
Assim que termina de falar, a jovem morena recebe a nota fiscal
e, após abstrair-se na discussão política
que teve com a senhora do balcão, volta-se para procurar
o homem de sotaque alemão que a cortejara, sem encontrá-lo.
Segundos antes, Kurt Wagner, ainda com seu indutor de imagens
ativado, abandonou a loja.

John Constantine
abandona o fliperama, chutando-o após mais uma derrota.
Enquanto vai ao balcão pegar mais bebida, vê um homem
usando um sobretudo, cabisbaixo. Olha para o seu rosto e, com
surpresa, o reconhece, sabendo que o outro jamais o reconheceria.
John o chama para beber, mas ele recusa. O mago o chama pelo nome:
Daimon Hellstrom. Na TV, algumas cenas do conflito racial. Hellstrom
aceita o convite, curioso em saber que tipo de homem o reconheceria.
Não saio no Times, nem sou uma modelo da Vogue; como
pode me reconhecer?
Tenho os melhores informantes que você pode imaginar,
Hellstrom... Nesse mundo, isso é o que conta. Mas me diga,
o que está fazendo por esses lados?
Estranho... Se você me conhece devia me temer, se enfurecer
ou ter repugnância com a minha natureza... Mas não
sinto o cheiro de medo em você.
Se se esforçar, vai acabar sentindo o cheiro de alguns
dias sem banho, velho. Relaxa, tem dias que me sinto tão
só que bater um papo com o demônio vem bem a calhar.
Constantine puxa uma cadeira para o novo amigo e senta-se em
outra. Por favor. convida, acendendo mais um cigarro.
Quando se sentam, entra no pub um homem desconhecido para
a maioria, mas não para John, que o chama pelo nome:
Ei, Elfo! Estava mesmo te esperando.
Kurt Wagner se aproxima, com o indutor ativado em uma imagem padrão
que usa para a maioria das ocasiões, e aperta a mão
de John. Era bom revê-lo, apesar do passado.
Não sei como te achei naquele número.
Basta discar 666. Você sempre me encontra lá. Me
diga, como vai o filho da puta canadense?
Ele ainda não esqueceu o incidente em Gotham.
Ei, eu só fiz o que tinha que ser feito...
Eu entendo isso, ele também entende... Mas Logan,
não; ele jamais te perdoará...
Bah, estranho que nem todas as feridas dele cicatrizem. Constantine
retira algo do capote Tenho algo pra você: um CD da banda
alemã Faust. Passei em três lojas até
consegui-lo.
Que tipo de música é essa? pergunta Hellstrom,
totalmente perdido na conversa, enquanto Kurt Wagner agradece
ao mago.
Faust é uma banda de Krautrock, uma espécie
de rock progressivo alemão, misturando várias tendências
do folclore à música eletroacústica. Unindo
guitarras distorcidas, construção clássica
e muito ruído. Estava louco pra consegui-lo. explica
Wagner. Obrigado, John. ele passa uma das mãos sobre
a embalagem com zelo.
Ah, me desculpem... Kurt Wagner, Daimon Hellstrom. Hellstrom,
Wagner.
A TV exibe cenas de um cinegrafista amador em meio aos conflitos
raciais ocorridos em Manchester. Um homem branco, 76 anos, é
espancado duramente por uma gangue de paquistaneses; ao fundo,
o carro em que estava explode, se tornando uma carcaça
em poucos segundos.
Merda de racismo. Quanto mais mexe, mais fede... diz Constantine,
parando de olhar para a TV. Primeiro fodemos com eles aos colonizá-los
e agora fodemos eles aqui na Inglaterra. E posamos como coitados!
Na verdade, somos metade vítimas, metade cúmplices.
Você sabe como esse tipo de coisa me deixa? pergunta
Wagner, enquanto pede um copo de cerveja.
Diabos! Você bebe, elfo?
Sim, mas não na frente das crianças. ele retoma
o assunto. Fico impressionado como a intolerância cresce
a cada dia. Mata-se por qualquer tipo de diferenças. Regionais,
raciais, genéticas, sexuais, religiosas...
E a diferença é o que há. É o que
torna tudo mais divertido. afirma John
Eu que o diga. o demônio sorri.
Às vezes acho que você criou a diferença.
Não, mago. Eu não crio nada, só desfaço.
Se alguém ata um nó, eu desato. Se alguém
aperfeiçoa um instrumento, eu o desafino.
Se eu sou o tesão, você é o broxa. implica
John. Kurt, como anda aquela sua idéia de produzir uma
revista voltada ao público mutante?
Como você soube desse projeto?
Ele tem contatos... afirma Hellstrom, mal-humorado.
Dificilmente sairá. Em todo o lugar que vou, afirmam
que meu projeto é racista, que privilegia a raça
mutante. Talvez tenha que deixar isso pra daqui a alguns anos.
Os negros também tiveram o mesmo problema nos Estados Unidos
quando quiseram lançar suas revistas. Parece que a única
cultura que importa é a do macho, adulto e branco.
Foi sempre assim e vai continuar por muitos anos.
Isso foi uma previsão, John? Falando em magia, como vai
a Kit?
Não estamos juntos há algum tempo.
Lamento.
Eu não.
Mentiroso... afirma o mutante.
Ele mente até a raiz do cabelo; está com medo
de ter perdido a mulher da sua vida. intervém o filho
de Mefisto.
Lendo mentes, Daimon?
Não precisaria de tanto, John.
Vá se foder!
Comigo já são dois pra quem você fala isso,
só hoje. O que vai dizer agora? Que não precisa
de mim?
Hellstrom, seu filho da puta, se continuar brincando de telepatia
comigo, te despacho daqui a pontapés.
Gentileza da sua parte. Não precisa se incomodar. Hellstrom
vira outra caneca.
Sabem o que mais? Não tenho saco pra ficar bajulando
mulher, não é meu perfil; são todas iguais.
Foi tão difícil assim?
John Constantine olha bem nos olhos de Kurt Wagner.
Foi uma desgraça que quase rasgou meu coração,
Kurt.
E não é sempre desse jeito?
Merda, elfo. Você dá o melhor de si, se arrasta,
tenta mudar e só o que consegue é um pé na
bunda. Os beijos de outras mulheres me lembram o dela; o sorriso,
um gesto nos cabelos, os olhos. A Kit é a Mary, a Jennifer,
a Joann, aquela moça atrás do balcão, a velha
tecendo, a puta dando o melhor de si numa cama em um motel barato
ou a menina pulando corda numa rua deserta. A Kit está
em todas elas.
Há um silêncio por alguns segundos.
E isso nunca acaba, sabia? diz Hellstrom, surpreendendo os
outros dois. Ele fecha os olhos por segundos e vê o rosto
de sua esposa morta, Patsy Walker, a ex-Vingadora conhecida como
Gata do Inferno. Hellstrom decide não falar no nome dela,
respeitando sua própria dor. Também já
cheguei ao ponto em que todas as mulheres acabam sendo uma só.
Não uma em especial, como você vê, John. A
eternidade me mostrou que, por dentro de toda diferença,
há um ponto em comum.
Um mesmo coração, feito do mesmo material. Apenas
o de cada mulher tem a sua própria batida, o seu próprio
ritmo. diz o alemão, imitando rapidamente o controle
das baquetas por um baterista.
Sim, é exatamente isso. concorda Hellstrom.
Isso é magia. afirma o inglês. Sem truques,
encenações ou palavras herméticas.
Eu sei disso e você também. afirma o demônio.
Mas é mais fácil acreditar em truques de salão,
em poderes 'ocultos' ou sacrifícios inúteis para
se enxergar o óbvio. O maior poder do mundo está
no seu interior. Não existe outro.
O foda é saber o que fazer com ele...
Desde que se faça, não há problemas, mago.
Para o bem ou para o mal, o importante é fazer; não
existe mal maior do que ficar parado. Hellstrom faz um círculo
imaginário com um dedo e coloca um ponto imaginário
em seu centro. Isso é Mulaprakriti, a raiz da matéria
do mundo ou o ovo do mundo, para os antigos. Se girarmos rapidamente
uma esfera homogênea e transparente, olhando para seu eixo
giratório, veremos que ele terá a aparência
de um ponto; mas voltando-a para um lado, o eixo se parecerá
com a linha que forma o diâmetro do círculo. É
um símbolo para o ovo da vida. O ovo é uma esfera
oca, representando uma vitalidade dormente, mas completa; assim
que começa a incubação, surge um ponto germinal
em seu centro que irá se separar em três camadas.
E assim o primeiro ponto da vida física se torna a trindade
mística.
Mas do que diabos você está falando? pergunta
o mutante.
É merda ocultista. Que não vale nem a bosta que
se faz pela manhã, ao acordar. Certo, Hellstrom?
Eu não diria melhor, mago.
De repente, quebrando o clima da conversa, surge o som ruidoso
de uma moto ao fundo, algumas correntes também se fazem
ouvir. Segundos depois, com um estrondo, a porta é chutada.
Todos no pub tomam um susto, inclusive John, Kurt e Daimon.
Céus, eu quero sossego... Meu coração já
não é mais o mesmo. diz John, visivelmente chateado.
Dois motoqueiros olham para o monstro que aparece:
Belo capacete, xará!
Lenta e assustadoramente, a cabeça do Motoqueiro Fantasma
se vira, observando-os; os dois se afastam, sabendo que o que
vêem não é deste mundo.
Acho que é comigo... Hellstrom fala para os amigos,
enquanto bebe um gole maior.
Você!
Eu não disse? os três começam a rir.
Você é responsável pela morte de duas pessoas,
Daimon Hellstrom!
Eu? Mas do que está falando? Hellstrom parece estar
realmente surpreso.
Edward Shoomer. Este nome lhe é familiar? o rosto em
chamas do Motoqueiro Fantasma se inclina, ficando próximo
ao rosto do outro demônio.
Ei, ei... exclama John, agitando as duas mãos em sinal
de calma. Faz o favor de sentar, cabeça de fósforo.
E quem é você? exclama uma voz sombria e amarga,
enquanto seu dono está de punhos cerrados.
John Constantine se levanta, estende a mão direita, que
segura um cigarro, até a cabeça em chamas do Motoqueiro
Fantasma e acende o fumo, fazendo o gesto com a mão esquerda
que impede que o vento se apague.
Eu? Ninguém realmente importante. ele volta a sentar,
tragando profundamente a fumaça.
Espera aí! Hellstrom se levanta, irritado. Quer dizer
que aquele idiota do Shoomer matou mesmo a esposa e o filho?
Você é Tronmon, o demônio! Você
é o ocultista que se comunicava com ele via Internet, forçando-o
a fazer o sacrifício! aponta o furioso Motoqueiro.
Internet? exclama Kurt, olhando de forma entediada o copo
de cerveja...
O que você queria, Kurt? Tive que me adaptar às
modernidades. Você sabe: em Roma, viva como os romanos...
ele se volta para o Motoqueiro. Shoomer entendeu tudo errado...
Mas por que um pequeno sacrifício incomodaria o Espírito
da Vingança?
Por que a Grande Besta merece mais do que alegorias desnecessárias
e sacrifícios banais. Seu pai não ficaria satisfeito
se visse um sacrifício tão inútil.
Eu fico me perguntando porque a clientela do pub está
indo embora... exclama baixinho Constantine, irônico.
Talvez seja hora de fazermos o mesmo, amigo. afirma o alemão.
Essa é a hora em que nos xingamos e caímos um
em cima do outro, certo?
Sim, Daimon. as mãos do Motoqueiro Fantasma se entrelaçam
com as correntes que surgem e se movimentam ao redor do corpo
coberto pela roupa de couro.
Amigos, obrigado pela conversa agradável. Eu precisava
disso. ele aperta a mão do mago e, em seguida, a do mutante.
Respira fundo, ligeiramente entediado em ter que retomar o seu
papel de vilão. Retira o capote, mostrando sua fantasia
infernal e um enorme tridente que surge misteriosamente de dentro
da capa. Os poucos clientes remanescentes do pub começam
a correr em uma desabalada carreira, empurrando John e Kurt.
Morra, Daimon! berra o Motoqueiro Fantasma, avançando
sobre o outro com uma fúria vingativa, empunhando as correntes.
Que a fúria de Set me dê força para mandá-lo
ao Inferno, maldito! grita Hellstrom, abrindo os braços
e olhando para o alto, como se tentasse comungar com o mal.
Ouve-se a quebradeira e, enquanto a briga rola solta, Kurt e John
saem papeando.
Volto para os Estados Unidos ainda hoje. diz o mutante. E você? O que vai fazer?
Tenho um compromisso.
Qual?
Pedir desculpas à minha irmã.
:: Notas
do Autor
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