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Por
Alexandre Mandarino
Riders
On The Storm
Olá, eu
sou o Vigia. Minha tarefa é, como sempre, observar os acontecimentos
do cosmos, sem jamais intervir ativamente. Também sou encarregado
de ordenar sub-plots e flashbacks em uma história
e este parece ser o caso aqui. Vamos caminhar juntos pelos misteriosos
mares dos interlúdios, antes de presenciarmos a possível
morte de um querido mutante terrestre. Comecemos pelo
Interlúdio I
Há cerca de um ano, tempo da Terra
Em um enegrecido canto do cosmos, diversos fragmentos amarelos
flutuam, abrigados pela atmosfera rarefeita de um planetóide.
Ao fundo, uma figura grande e envolta em trevas os observa atentamente.
O brilho que emana de seus olhos vermelhos é a única
fonte de luz do local. Após alguns minutos em silêncio,
a figura bradou, com voz petrificada:
Refaça-se, Intermediário.
Os fragmentos reluziram com mais força e deram início
a um temporal de movimentos. Dançando pelo ar, os pedaços
de energia amarelada pouco a pouco se uniram em uma forma humanóide.
Onde estou? Quem é você? Por que me trouxe de volta
da não-existência?
Você foi derrotado ridiculamente em sua última
batalha, Intermediário. Foi feito em pedaços, desintegrado
como se nada fosse. Eu o reconstruí, usando alguns dos
poucos segredos que obtive além da Muralha.
Eu o conheço, Lorde Negro. Devo lamentar em saber que,
com isso, sou agora seu servo.
Vejo que não necessita de explicações.
Intermediário, sua nova tarefa é voltar a servir
a Eternidade.
Mas foi o que eu sempre fiz.
Sim, mas desta vez você planejará o fim dela. Estamos
protegidos aqui, na Região Negra de Nihil, única
zona do infinito onde ela não pode nos ouvir. Você
seguirá meus planos. Volte a trabalhar para a Eternidade.
Quando um ano exato houver transcorrido, enviarei um mensageiro
poderoso para destruir a maldita dama cósmica. Sua tarefa
é deixar a Eternidade de sobreaviso a respeito da chegada
deste ser.
E o que você ganha com isso? Não é melhor
mantê-la ignorante sobre a existência de seu possível
algoz?
Não, Intermediário. Nada melhor que uma Eternidade
tomada pelo medo. E o verdadeiro verdugo não será
o mensageiro. A existência da Eternidade será ceifada
pelas minhas próprias mãos. Agora volte ao seu posto
na Entrada Kundalini e nunca, nunca se esqueça de que deve
sua nova vida a mim.
Vamos agora avançar um ano em direção ao
nosso presente e ver o que se passa com os engenheiros do G.E.N.O.M.A.,
que estão na terceira lua do planeta Kag, a "lua cinza",
para compor o nosso...
Interlúdio II
O engenheiro-chefe Zza passou por um grupo de mendigos siameses,
que pediam esmolas em uma esquina do bairro central da "lua
cinza". Cada cabeça olhava para um lado da calçada,
como se fossem guardas do quarteirão. Zza jogou uma moeda
de Fg:
Não vão gastar tudo em Gizz de Feetal e saiu
gargalhando.
Logo o engenheiro-assistente retornou de dentro da taverna. Zza
perguntou:
E então? Conseguiu as informações sobre
o paradeiro da criatura?
Sim, engenheiro-chefe. Ele está em busca da Entrada Kundalini.
... mas... por quê?...
Ao que parece, ele foi contratado para eliminar a Eternidade.
A... Eternidade? perguntou Zza, assombrado. Mas quem o teria
contratado para uma tarefa tão claramente impossível?
Meu primo teve medo de me dizer. Ele escreveu o nome neste papel,
disse o assistente, passando um guardanapo dobrado para Zza. O
engenheiro-chefe abriu o pequeno origami de sujeira e leu o nome
de quem havia encomendado a "morte" da dama cósmica.
Número 17, estamos envolvidos em uma situação
muito mais grandiosa e perigosa do que imaginávamos. Mais
do que nunca, faz-se mister que eliminemos o czarniano. Onde ele
foi visto pela última vez?
A minutos-luz do trigésimo-quarto posto avançado
de Thanagar.
Encha de cuspe a nave-gen. Vamos precisar de muito combustível.
Sim, eu, o Vigia, também já estou de saco cheio
desses interlúdios. Mas resta apenas uma última
parada: a câmara geneticonsagrada de Uk, que é o
palco para o...
Interlúdio
III
Tarodequi abandonou
as meditações ancestrais no campo estático
de urina e se enxugou. O engenheiro-mago chamou o sub-engenheiro-vizir:
Trak, partirei
em uma viagem de suma importância. Irei em busca de nossa
equipe de engenheiros-paramilitares que tripulam a Nave-Gen I.
E, provavelmente, em busca de sua perigosa caça.
O... czarniano? perguntou o vizir com descrença.
Infelizmente, sim. E talvez gente ainda mais poderosa. Não
sei bem ainda o que está acontecendo, mas preciso ajudar
a equipe de Zza antes que seja tarde demais.
Para eles, senhor? Acha que a criatura pode matar a todos?
Não a criatura, Trak. Mas todos nós corremos risco
de vida. Todo o Universo. As alianças silépticas
de baba de barata mogadícia me permitiram vislumbrar parte
do que está acontecendo. Se o que desconfio for verdade,
é bom começar a rezar para todos os seus fluidos
corporais sagrados.
Com estas palavras,
Tarodequi se cobriu com uma espessa teia de folhas, sangue e esterco
cósmico e partiu rumo ao espaço.
Bom, esse é
finalmente o fim dos interlúdios. Deixo vocês agora
com o chamado Maioral, o protagonista desta série. Não,
não vou acompanhá-los. Posso ser o Vigia, mas não
tenho estômago para as aventuras deste Lobo e a Área
Azul da Lua é um ótimo lugar para repousar nesta
época do ano. Adeus.

Tu vai morrer
também, caolho escroto! berrou o Maioral, pulando
sobre Ciclope. Surpreso, Scott por pouco conseguiu se desviar
do golpe e caiu para o lado, abrindo ao máximo seu visor
de raios óticos. O jato de energia avermelhada atingiu
Lobo em cheio, provocando um estrondo terrível e despedaçando
completamente aquela parte da nave dos Piratas Siderais.
Chega! Não
sei quem é você, seu idiota, mas você acaba
de espancar vários dos meus melhores amigos e ainda tenta
profanar um amor já complicado o bastante. É bom
que tenha um ótimo motivo para tudo isso, porque eu já
estou cheio.
Só então
Ciclope percebeu que a criatura não estava mais no cômodo.
"A reconstrução
das paredes pressurizadas foi quase instantânea. O ser deve
ter sido expelido da nave pelas rajadas óticas. Deve estar
agora do lado de fora", pensou Scott Summers. "Bom,
ele não vai escapar assim tão fácil".
Scott abriu
seu armário e vestiu um traje de luta shi'ar. Feito com
uma mescla de titânio e metais existentes somente nas mais
distantes colônias skrulls, ele permitia um vôo bastante
razoável por áreas sem gravidade, apesar de seu
peso. O capacete ajustou-se automaticamente ao visor de Ciclope,
garantindo o poder de fogo. Scott respirou fundo e saiu para o
espaço vazio.
Surpresa,
seu merdinha!
Um soco no
rosto e Scott foi cuspido para a superfície superior do
casco da nave.
Tu achou
mermo que o Maioral aqui ia arregar por causa de uma bichona que
nem você? Tu é terrestre, né? Que nem aquele
velho ridículo de tapa-olho que eu espanquei mais cedo.
Você agrediu meu pai, seu cretino? gritou Scott.
A traveca era teu pai, é? Cês tem que ir no oculista,
viu? Que família mais desgraçada!
Com um grito
de raiva, Scott lançou uma série de sucessivos raios
óticos, que queimaram rapidamente o corpo de Lobo em vários
pontos.
Ui! Tu ia
ganhar uma grana trabalhando na iluminação das boates
pornô de Trosobah, sabia? Mas tu achou mermo que ia me machucar
com essas luzinhas? Fala sério, baitola!
Lobo pulou
e caiu sobre Scott, que recebeu em cheio uma sucessão de
golpes no rosto.
Eu cheguei
perto da nave pra perguntar pra esses putos onde fica a Entrada
Kundalini. E aquela porrinha voadora me atacou sei lá por
quê. Cês me deixaram muito puto e agora vão
sofrer! Diz aí, seu merda, onde fica a Entrada Kundalini??
Ciclope respondeu,
sem fôlego:
Não...
conheço... esse lugar, seu verme.
Quê? Ah, vai procurar então!
Com um pontapé,
Lobo jogou Scott do casco da nave. Os retro-foguetes da armadura
de combate estavam avariados com os golpes. "Grande. Agora
estou à mercê desse maníaco, sem ter como
me movimentar no espaço. Mas... espere, eu sou um cretino.
Posso usar os próprios raios óticos para me impulsionar
para trás e me afastar deste monstro até me recobrar.
Mas... se usá-los demais, ficarei sem reservas de força
e sem minha única arma".
Scott ativou
um pequeno feixe ótico. Seu corpo logo começou a
se deslocar na direção contrária, se afastando
do czarniano.
Que sacanagem
é essa? Tu tá fugindo? gritou Lobo, que ligou
o controle remoto em seu cinto, ativando sua moto espacial. Assumindo
o controle do veículo, o mercenário voou em busca
de Ciclope.
Tu vai virar comida de golfinho, seu olhota. Se bem que é
sacanagem fazer os bichos terem caganeira.
A situação
ridícula se prolongou: Scott movendo-se para trás
graças ao feixe de raios óticos e Lobo atrás
dele em sua moto. A nave dos Piratas já havia sumido de
vista e, cerca de cinco minutos depois, Scott finalmente foi alcançado.
Lobo pegou o mutante por uma das pernas e o rodou sobre sua cabeça,
gritando:
Vou te ajudar
a ir mais rápido, boiola.
Soltou Scott,
que zuniu em direção a um asteróide. Ciclope
se chocou com força contra o solo do planetóide,
despedaçando boa parte de sua armadura. "Agora falta
pouco para que ele rasgue o tanque de oxigênio", pensou.
"Estou perdido. Quem é esse cara? O que ele quer com
essa tal Entrada? Se eu pudesse avisar os outros X-Men... Jean...".
Ciclope sorriu,
surpreso por seus últimos pensamentos terem sido realmente
dirigidos para a mulher amada. "Depois de tanta coisa por
que passamos, meu amor, parece que morrerei sozinho no espaço,
longe de você e sem sequer saber o motivo. Jean... eu sempre
amei você". Em delírio, Scott viu o rosto de
Jean Grey flutuando no espaço, maior que o próprio
asteróide, que flutuava a esmo. O rosto pouco a pouco assumiu
a forma de um pássaro em chamas.
"O Efeito
Fênix... mas Jean não pode estar por aqui... e nem
mais... o que está acontecendo?", pensou.
Enquanto isso,
Lobo se aproximava novamente:
É
isso aí, cagão. Se lamenta aí na pedrinha
que o Maioral tá chegando pra arrancar de vez teu couro
e fazer sofá com ele.
O Efeito Fênix
parecia tomar todo o quadrante, iluminando o cosmos. "Será
que Jean é um anjo... e veio para me levar em paz para
o outro lado?", Scott delirava. Aos poucos, seus olhos se
tornaram menos turvos e o Efeito Fênix adquiriu uma forma
arredondada. "Não é um anjo", pensou Ciclope.
"É um sol... espere... ainda resta esperança...
só pode ser... o sol thanagariano... quatro vezes maior
e mais quente que o terrestre... uma imensa... bateria...".
Scott se concentrou em recobrar o controle. Deitou no chão
do asteróide, recebendo diretamente os raios solares daquela
estranha estrela. Sentiu seu cérebro aquietar-se e suas
energias voltarem. Sua cabeça agora fervilhava, como que
abastecida por uma frota inteira de caminhões-tanque. "Minha
cabeça está em chamas. Como queima... é...
insuportável... nunca acumulei tanta energia antes".
Lobo se aproximava:
Vai rezando,
viadão. Tá pegando um bronze aí, é?
Abre teu olho, eh, eh!
Ciclope pensava,
calmamente: "venha, idiota... enquanto abro meu visor para
um feixe concentrado de energia... isso... chegue mais perto...
mais... mais... mais perto...".
Lobo estava
a pouco mais de cinqüenta metros de Scott:
É
agora que tu morre, olhota!
Agora! disse Ciclope com raiva, finalmente liberando na direção
do czarniano um concentradíssimo feixe de raios óticos.
Graças às estranhas energias do sol de Thanagar,
os raios saíram visivelmente mais espessos, na cor marrom.
A explosão
foi indescritível e muda. A claridade ofuscante pareceu
tomar todo o Universo por um instante. Lobo foi atingido em cheio
pela carga e urrou de dor. Quando finalmente a claridade passou
e os olhos de Ciclope se recuperaram do brilho e da ardência,
não havia mais sinal do mercenário. "Finalmente...
acabou", pensou Scott, antes de desabar pesadamente sobre
o asteróide.
A 34 quilômetros
dali, Lobo desabava como um abacate sobre o solo de um planeta
sem vida. O choque com a terra deixou o czarniano inconsciente
por vários minutos. Finalmente, ele despertou, desorientado.
"Taquiupariu. O cara pegou pesado com essa porra. Que parada
foi essa? De repente o cara se invocou do nada. Ai".
Sua moto espacial
estava destroçada. Algumas poucas placas de metal do veículo
haviam caído por perto. O resto, com certeza, perdeu-se
no espaço.
"E ainda
destruiu minha Argh-Davidson novinha. Caolho escroto".
Lobo se levantou
com dificuldade e estalou as costas.
Ahhhh. Viado!
E agora, que eu tô sem moto, tô todo fodido e nem
achei ainda a caralha da Entrada Kundalini?? Vou voltar lá
e falar praquele merda do D...
Cale-se,
ser nojento e asqueroso! Verifique seus impropérios!!
A voz veio
do alto.
Ahn? Ah,
que que foi agora? Quem tá aí em cima?
As nuvens se
abriram, revelando a Nave-Gen I.
Finalmente
o encontramos, criatura. Somos os engenheiros do G.E.N.O.M.A.
(sim, os Geneticistas Especializados em Numerar e Obsedar Monstros
Alienígenas!). Nosso objetivo é simples: somos os
cientistas, você é a cobaia. Renda-se!
Lobo olhou
para o alto com descrença:
Quê??
Cumequié? Cobaia, moi?? E que papo é esse de CREMONA???
É
G.EN.O.M.A., ser abestalhado! corrigiu o alto-falante enrouquecido
da Nave-Gen I, enquanto choviam perdigotos sobre o nosso herói.
Tá
bom, vê se vocês conseguem genomar isso!!, disse Lobo,
lançando um enorme pedregulho para o alto.
O engenheiro-chefe
Zza berrou: Número 17!! Manobras evasivas!!!
A Nave-Gen
I, soltando flatulências, se contorceu e evitou a pedrada.
Cês
não tinham uma nave mais escrota, não? berrou
o mercenário.
Senhor, ele
profanou a sacrossantidade da nossa Nave-Gen I. disse o abobalhado
engenheiro-assistente 216.
Eu ouvi! respondeu Zza, indignado. Vamos mostrar pra ele.
Número 17, ative os raios fecais!
Feixes de estrume
mole choveram sobre o planeta, enquanto a Nave-Gen I emitia ruídos
orgásticos ao expeli-los. Coberto pela pouco recomendável
substância, Lobo berrou:
Cacilda!
Isso é cocô! Cês me cobriram de cocô!
Agora vocês vão ver com quantos tezkjios falantes
se faz uma paureba glutoniana!
Enquanto procurava
pedras maiores, Lobo foi atingido por uma lança de metal,
atirada em suas costas.
Pare aí
mesmo, criatura fedorenta, disse uma voz rouca que mais parecia
o gorgeio de um canário.
Parem todos com esta bagunça em nosso setor! Vocês
todos devem respostas ao Pelotão de Ataque Thanagariano
Número 14!!!!!!!
Lobo se voltou
e vislumbrou, poucos metros acima do solo, quatro soldados alados
de Thanagar, todos de baixa patente.
Qualé,
agora? Aí já é apelação!! Quê
que cês querem?
Um dos soldados
disse:
Senhor, creio
que estamos, err, em um grande infortúnio. Reconheceu esta
voz? Apesar da fétida cobertura marrom, esse ser é
o czarniano.
Por Lomarr Hol!!, disse o cabo alado. Senhor Lobo, nós
só queremos verificar o quadrante. Recebemos ordens para
isso!
Ah, ordens, é? disse Lobo, enquanto avançava
na direção do pelotão, tentando retirar a
lança thanagariana de suas costas e ao mesmo tempo limpar
a casca de feixe fecal. Subitamente, foi atingido novamente do
alto, desta vez por bolsões de sangue de cabra durlaniana.
Não
mais se mova, criatura asquerosa. Você está agora
diante do poderio supremo do engenheiro-mago.
Dentro na Nave-Gen,
o nome "Tarodequi" foi sussurrado. "Ele está
aqui para nos ajudar".
Eca! Pô,
aí já é sacanagem. Nem eu sou porco assim!
Sangue de cabras durlanianas, aquelas titicas que mais parecem
lesmas! Que meleca!
Cale-se,
ser disse Tarodequi, que flutuava sobre um tapete mágico
de carne. Estou aqui para impedi-lo de matar a Eternidade! Que
loucura se apossou de você para fazer isso?
Neste momento,
uma nova figura entrou em cena:
Quem citou
em vão o nome-testemunho da(o) m(inha)eu (d)am(o)a?
O Intermediário
aproximou-se, flutuando levemente sobre as espirais cósmicas.
Gizz de Feetal!
berrou o czarniano. Que putaria! Só eu é que
não vôo nessa merda? Quero ver é vocês
todos descerem daí!
Mal acabou
de proferir estas palavras, Lobo foi novamente coberto por jatos
de esterco. Do alto, uma figura magra se aproximava, cavalgando
um asteróide de forma estranha pelos vagalhões espaciais.
Pó pará tudo aê embaixo qui Coprofax tá
na área! Ninguém se mexi na parada ou cês
vai tudinho tê qui si vê com o arauto de Galactus!!
Tarodequi,
Intermediário, os engenheiros do planeta Uk e até
mesmo o pelotão thanagariano levaram quase simultaneamente
às mãos às suas testas, em desgosto: "Era
só o que faltava para piorar a situação:
Coprofax", foi o pensamento geral.
Tamos aí
mermo pra impidir esse tal de Lobo aí de matá a
dona Eternidade, aquele trubufu espacial.
Porra, todo mundo já sabe da minha missão? disse
nosso herói. Mas não se estressa, não,
negada, que eu só vou poder matar essa dona aí se
achar a caralha Kundalini, que é onde a piranha vive.

Neste exato momento,
há milhares de anos-luz dali, uma figura negra a tudo assistia.
É
chegado o momento, Desaad.
De seus olhos
partiram dois raios vermelhos, que em instantes atravessaram o
cosmos.
As sementes
que plantei há exatamente um ano finalmente deram frutos.
Em breve, a equação antivida será minha.

Sobre um asteróide,
Scott Summers viu os dois relâmpagos escarlates cruzarem
o quadrante em questão de milissegundos. "O que serão
essas coisas?", pensou. "Nunca vi nada tão rápido".

Lobo gritou: É
isso aí, putada. Ou vocês me falam como chegar na
Entrada Kundalini ou eu mato todo mundo na base da porrada!
Mal terminou
a frase, o mercenário foi surpreendido por dois fachos
vermelhos, que instantaneamente zigue-zaguearam até atingir
o corpo do Intermediário, que alucinou de dor. O bi-ser
cósmico explodiu com um som estridente, que fez todos em
volta fecharem os ouvidos. Pedaços de energia nas cores
amarela e azul, que antes eram fragmentos do Intermediário,
se uniram na forma de um tornado. A ventania foi ficando mais
forte, até sugar todos os seres presentes para o seu interior.
Tarodequi pensou: "Estamos perdidos. É a Entrada Kundalini".

A anos-luz, em um
planeta tomado pelo fogo e pelo cheiro de fossas, uma figura gargalhou.
O Intermediário
era um tolo. O miserável débito que tinha comigo
foi pago com a própria vida. O idiota era a peça-chave:
ele era o encarregado de estar neste momento, naquele planetóide,
com exatamente aquelas pessoas. Por isso escolhi Lobo para "matar"
a Eternidade. As presenças de Tarodequi e seu bando de
engenheiros eram requisitos básicos para os meus planos.
Também foi fácil contar com o novo arauto de Galactus,
outra peça-chave. A configuração está
correta, Desaad. Tudo transcorrerá como previmos um ano
atrás. Em questão de poucas horas, finalmente saberei
a fórmula da equação.
Meu senhor, devo parabenizá-lo por este feito.
Cale-se, verme. Todos os elementos necessários estão
lá: a estupidez do Lobo, o misticismo carnal de Tarodequi,
o cientificismo covarde dos engenheiros, a podridão de
Coprofax e até mesmo o elemento proto-divino, proporcionado
pela patrulha thanagariana, que nós sabíamos que
passaria por ali naquele momento. E, claro, o Intermediário,
que não desconfiava que ele mesmo era a Entrada Kundalini,
graças aos rearranjos místico-genéticos que
operei nele durante o nosso encontro. Com estas peças,
a jornada pela Kundalini fatalmente terminará com a morte
da Eternidade, que estará à minha mercê em
questão de horas, para o golpe final, que virá pela
minha mão.
Só restou
a Desaad pensar: "Sim, mestre. Tudo deu certo. Mas o Caos
prevê que os acontecimentos somente chegarão à
conclusão que o senhor almeja se mais nenhum viajante inesperado
tomar a Entrada Kundalini. Mais nenhum".

As flores do reino
dos Nornes haviam acabado de se abrir, gotejando ainda o orvalho
acumulado nas frias madrugadas de Ymir. Karnilla abriu os olhos
e viu que, mais uma vez, seu amado havia saído sem se despedir.
Estavam nesta relação há tantos séculos
e o cansaço já se abatia sobre a alma da feiticeira.
"Meu querido, por que deves sempre dividir-te entre o teu
amor e o maldito dever? Por que não cedes de vez aos clamores
do teu coração e do teu sexo e repousa em paz entre
as luxúrias de meu reino?".
A milhas dali, o alvo do amor e desejo da rainha Norne cavalgava
pelas planícies de um dos nove reinos. Depois de horas
de viagem, finalmente apeou a cansada montaria em seu palácio,
na região mais refinada da Cidade Dourada. Chamou por sua
fiel serva, a anciã Iggeirrogga.
É
tu que estás a chegar, meu senhor? perguntou a velha.
Sim, fiel anciã. Mas logo partirei. Devo pedir permissão
ao nosso soberano para investigar estranhas vibrações
que senti no cosmos.
Vibrações?
Sim, velha. Não esqueças que, antes de ser
o Bravo, sou mormente o Deus da Vida, da Luz, da Verdade e da
Esperança. Não tenho um elo que me permite ser uno
com a natureza? Pela graça da magia mais arcaica, não
sou eu o abençoado com o dom da invulnerabilidade? Não
te esqueças que nada na natureza, nada no universo é
capaz de me ferir mortalmente, com a dolorosa exceção
do freixo.
Como poderia esquecer disso, meu senhor, se fui eu quem
te curei e limpei teus ferimentos quando daquela desonrosa traição
do Deus do Mal?
Sei disso, minha fiel serva. E bem sabes que a ti serei
eternamente grato por tal façanha e cuidado. Mas devo partir,
e já. Peça que selem e preparem minha biga de cães
sagrados. A natureza do cosmos sofre de uma cicatriz, que contém
o porvir de terríveis chagas. Como o Deus da Vida, é
meu dever sagrado investigar. Se algum mal maior pode se abater
sobre o Universo, é dever de Balder, o Bravo, sair ao seu
encalço.
:: Notas
do Autor
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