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Por
Alexandre Mandarino
Cê
Tá Pensando Que Eu Sou Loki, Bicho?
Asgard?
berra o nosso herói.
Sim, Asgard. Terra dos deuses aesires, localizada majestosamente
no fim de Bifrost, a ponte do arco-íris, desde tempos imemoriais.
É este lugar ancestral que agora chora ao sentir sobre
o seu solo os pés do último czarniano. Ao seu lado,
Balder, deus da Luz e da Vida, adverte:
Acautela-te, pálido mercenário. Sinto um leve
torpor a rondar minhas narinas.
Cacilda, que frase mais escrota de se dizer.
Silêncio, criatura mordaz. Os pássaros me advertem
que minha amada Karnilla não está em seu palácio.
Isso nos poupa o trabalho de caminharmos até lá.
Mas... que me dizes, pequeno melro?
Puuuuutz...
Por Vanaheim! Não é possível! Que me contas,
pequeno ser alado? A aberração está em Asgard?
Pô, não precisa ofender.
Cala-te, Lobo. Não é a ti que me refiro. O panorama
é mais diabólico e assustador do que imaginava.
A bela e intocada Cidade Dourada está sob ataque. O que
todos julgavam impossível aconteceu: uma raça inteira
de seis bilhões de seres, banida há muito e justamente
por Odin, volta das trevas e das malignas espirais do tempo para
assolar a casa sagrada dos aesires.
...
Sim, o reino dourado está sendo atacado por Mangog!

Perto dos portões
sagrados que dão entrada à Asgard, a quilômetros
de distância de Nornheim, uma multidão de guerreiros
voa. Arrebatados por um tapa de Mangog, quatrocentos asgardianos
caem a centenas de metros de distância.
Pelas fossas fétidas de Futunheim! malogra Fandral,
ao lado de seus companheiros de batalha. No seu flanco direito,
Hogun, o Severo, arremessa inutilmente sua maça sagrada
contra a cabeça do gigantesco monstro.
Pelas barbas de Odin! Nada será capaz de refrear a fúria
colossal deste medonho ser?
Temo que não, Hogun! Por isso, cuidarei de verificar
agora mesmo como estão as mulheres e crianças do
reino, nos subsolos de Asgard. Abri espaço para o avanço
de Volstagg, o Rotundo!
"Avanço"? Parece-me que estás fugindo
do chamado da batalha, avantajado guerreiro! observa Fandral.
"Fugindo"? contesta Volstagg, já a distância.
Não fujo. Apenas me uno aos meus iguais.
Fandral e Hogun continuam a brandir suas armas contra Mangog,
ao lado de uma incontável horda de asgardianos, ajudados
por seus vizinhos vanires. Do outro lado do monstro, a 150 metros
de distância, a deusa Sif e seu irmão Heimdall lutam
bravamente para impedir a caminhada daquele que é a personificação
de seis bilhões de seres.
Onde está Thor nessa hora de desespero? indaga Sif.

Mas, Srta. Crawford,
conte-nos mais sobre isso.
Claro, David. O que quero dizer é que o uso de armas
como machados e espadas nada mais são do que mera representação
fálica; uma tentativa do homem recuperar sua condição
de macho viril e reprodutor, ainda que inconsciente. Você
pode notar que...
Clic
Thor desliga a televisão, levanta-se do sofá e vai
até a geladeira da Mansão dos Vingadores, em busca
de mais uma cerveja.

Certamente está
salvando nossos irmãos de Midgard de alguma nova desgraça,
minha irmã! afirma Heimdall Mas não temei. Já
derrotamos esta afronta à criação antes e
o faremos novamente!
Neste momento, trazidos por ventos das ninfas do ar, conjuradas
por Balder, Lobo e o deus da Luz pousam suavemente no solo asgardiano,
ao lado de Heimdall e Sif.
Acalmem-se, irmãos asgardianos. Balder está de
volta à cidade dourada e traz com ele um valoroso guerreiro!
grita o deus da Vida.
Vocês gostam de falar complicado, hein? E pior, sempre
berrando. Bem que dizem que todo viado é surdo...
Às armas, asgardianos! Por Odin! Pela espada sagrada!
Por Bor e Buri! Mangog jamais há de vencer esta contenda!
Caceta, que coisa mais descomunal! espanta-se Lobo.
Sim, mercenário. Mangog é mesmo do tamanho de
um palácio! explica Balder.
Que mané Mangog, perôba? Tô falando da bunda
dessa mulher aí responde o mercenário, apontando
para Sif. Vem cá, popozão divino! conclui, apertando
as nádegas asgardianas.
Cão asqueroso! berra Sif, que se vira e,
com um golpe de espada, corta o braço direito de Lobo.
Com a mão decepada ainda pendendo de seu traseiro, a deusa
retira o membro cortado e o arremessa longe. Se viestes
para ajudar, não me toques sob hipótese alguma,
animal!
Arrrgghh! grita o mercenário. Puta sacanagem!
Balder, me empresta essa merda aí! diz Lobo, arrancando
uma faixa que pende da túnica do deus da Vida. O czarniano
caminha alguns passos, colhe seu braço direito do chão
e o prende de volta, amarrando-o com o pedaço de pano.
Aoietgoaiutyepviketubjnbaçeitiaaaaaaaaarrrrrrrrrrrr!
Hã? Que porra é essa?
Lobo e os asgardianos se viram e vislumbram uma visão do
mais puro terror. Os portões laterais do reino estavam
sob ataque, desta vez a cargo de uma multidão de trolls
e gigantes do gelo, liderados por Loki, deus do mal, e Fenris,
o deus-lobo.
Agora fedeu de vez. Negada, vai metade pra lá segurar
esses bichinhos! ordena Lobo.
Por Odin! Que Asgard não tombe neste dia amaldiçoado!
grita Fandral.
A batalha é tremenda. Enquanto Lobo, Fandral e Balder se
juntam aos guerreiros que combatem Mangog, Sif, Heimdall, Hogun,
metade do exército asgardiano se dirige ao portão
lateral, para conter a nova invasão. Trolls tombam como
moscas, enquanto Loki gargalha e lança encantos aleatórios.
Três guerreiros se transformam em libélulas e saem
voando para nunca mais serem vistos. Um ajudante do vizir real,
que pela primeira vez levantava uma espada, é metamorfoseado
em ganso e logo em seguida pisoteado pelos guerreiros. Depois
de mais de uma hora de batalha absoluta, com baixas tremendas
dos dois lados, uma voz se faz ouvir nos céus da cidade
dourada:
Basta. Quem ousa perturbar meu sono sagrado?
Odin, deus dos deuses, desperta de seu descanso anual. Levantando
um de seus braços, o criador imediatamente teleporta a
horda de trolls para seu reino de origem. Fenris é banido
de volta ao passado e Loki mais uma vez aprisionado, acorrentado
sobre uma pedra nas regiões fronteiriças dos nove
reinos.
Ué? Por que esse velho não deu um jeito nessa
merda antes? Neguinho aqui lutando que nem corno e ele lá
dormindo? pergunta Lobo.
Como se atreve, ser rude? berra Hogun, que avança contra
nosso herói. Odin intervém:
Não, Hogun. Assim é a natureza deste que nos auxilia.
Nosso problema ainda é Mangog. Este monstro nem mesmo eu
posso espantar daqui tão facilmente.
Por Jottunheim, havemos de escorraçá-lo para nunca
mais voltar! grita Balder.
Espera, deus da luz. Enquanto o exército asgardiano tenta
conter a criatura, venha até o palácio real. E traga
seu companheiro de aventuras! diz Odin.
Balder e Lobo sobem as escadarias da magnífica construção
e chegam à sala do trono do palácio dourado de Odin.
Ao seu lado, o vizir fala:
Balder, construí um artefato místico capaz de
aniquilar Mangog em definitivo. Todavia, existe um risco mortal
para quem o utilizar. Conheçam agora o... Meganiquilopacificador!
Atrás do trono de Odin, uma porta se abre e, em meio a
uma luz cegante, surge o que parece ser um canhão. Ao seu
lado, uma armadura.
Tá dizendo que essa porra vai matar aquele cruz-credo
lá fora, velho? questiona Lobo.
É o que digo. responde o Vizir. Quer dizer...
Se entendi bem, um guerreiro deve vestir essa armadura e ser
arremessado por este canhão de encontro a Mangog. aposta
Balder. Tal é seu estratagema, sábio Vizir?
É Odin quem responde:
Temo que sim, Balder. A armadura foi fundida com Uru, metal
místico que também compõe o martelo de meu
filho. O lançador criado pelos servos do Vizir permitirá
que o guerreiro que a vestir viaje de encontro à criatura
a uma velocidade de 400 milhões de quilômetros por
segundo. Tal impacto eliminará de vez a besta. Mas temo
que também o herói que vestir a armadura. Por isso,
não pedirei que ninguém faça isso. Espere...
diz Odin, voltando-se para Lobo. Vejo que estás banhado
por uma película de energia Kundalini, invisível
a olhos normais. Devo julgar que foi amaldiçoado pela Eternidade.
Posso desfazer tal encanto, guerreiro.
Sério, matusa? Isso ia ser muito foda. Mas Lobo sempre
cumpre seus acordos. Antes de aceitar que me cure dessa tralha
da Eternidade, me dá aí essa máquina escrota
e essa armadura. Devo ao boiola aqui um favor em troca dele ter
me ajudado na caça a Darkseid. Antes de dever mais coisa
pra vocês, deixa eu pagar a primeira dívida.
Com essas palavras, nosso herói pega o canhão meganiquilopacificador
e a armadura de Uru e se dirige para a entrada do palácio
real. Posicionado no final das escadarias, Lobo veste a armadura
sobre sua roupa e a enrola com o seu gancho.
Pronto, já tô parecendo uma camisinha de metal.
Balder, seu boiola, me coloca dentro dessa porra e atira contra
o monstrengo ali.
Não posso permitir que tal ato de bravura em prol de
Asgard seja realizado por um visitante do nosso reino. protesta
o deus dos deuses.
Vai à merda, Odin! Atira, Balder!
Um estrondo absurdo e Lobo nem sente a viagem. A velocidade é
tão grande que imediatamente nosso herói já
está se chocando contra Mangog. Naquele momento, seis bilhões
de seres que personificavam a criatura são mortos. Com
isso, o Efeito Kundalini volta a agir. Ainda atordoado e em pleno
ar, Lobo é envolto por uma nuvem de energia verde e desaparece.
No instante seguinte, a poeira que antes era Mangog se transforma
em uma chuva, que cai sobre a cidade dourada, selando a paz sobre
seus edifícios majestosos. Odin chega aos pés da
escadaria real e discursa:
Asgard está salva e a ameça de Mangog já
não mais é. afirma Odin, sob os olhares de gratidão
dos aesires. Contudo, meu coração chora pelo sacrifício
deste ser. De hoje em diante, nesta data será comemorado
em Asgard o Dia do Lobo. E que nenhuma alma maléfica ouse
maldizer tal mercenário. Por Asgard! Pelo Reino Dourado!
Por Odin! respondem os asgardianos.

Caralho, onde é
que eu tô agora? pergunta Lobo. Ao seu redor, apenas areia
e o sibilar do vento. Tufos de vegetação ressecada
rolam pelo deserto, impelidos pelo ar. Ao longe, nosso herói
vislumbra um vilarejo.
Porra, tomara que tenha cerveja lá. Putz, essa foi sinistra.
O treco soltou um grito muito estranho antes de morrer. Eh, eh,
seis bilhões de uma vez só.
Caminhando até a cidade, Lobo sente seu corpo cansado e
machucado. O braço decepado já havia se reenraizado,
mas ainda sentia cãimbras no local. Na porta da cidade,
ele vê uma pequena placa: El Paso - 472 habitantes.
Putz, El Paso tem menos gente que o Mangog, eh, eh. Vê
se tem cerva decente nessa biboca.
Entrando em um boteco, sob os olhares assustados dos moradores,
Lobo chega ao balcão e grita:
Taberneiro! Uma caneca de cerveja gelada de Tyurcium!
Errr... Essa marca não temos, señor! Serve
outra?
Serve, mas traz gelada, porra!
Enquanto bebe, Lobo ouve os diálogos abafados e sussurros
ao seu redor: "Sí, deve ser amigo daqueles
dois que estão em..."; "No, ouvi dizer
que esses dois eram mutantes"; "Mutuñas? Bueno,
deve haver uma recompensa por esses dois, o governo americano
não caça esse pessoal?"
O czarniano bebe a cerveja de um só gole e sai do bar,
limpando a boca com as mãos. "Recompensa. Mutantes.
Parece ser o meu dia", pensa nosso herói. "Pra
onde é que fica esse tal de Novo México?".
Não perca, em Lobo 07, um pequeno massacre
de mutantes em El Justiciero Cha Cha Cha.
:: Notas
do Autor
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