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Por
Josa Jr.
"Clark...
de todas as coisas que pode fazer... todos os seus poderes...
o maior sempre foi o seu conhecimento institivo do certo... e
do errado."
(Pastor Norman McCay, em O Reino Do Amanhã 4 - por Mark
Waid)
Prólogo
Apartamento
de Lois e Clark. Um mês atrás.
...e
então, o Perry me ofereceu um mês como correspondente
internacional em Wakanda. O McGee desistiu e Perry precisa urgentemente
de um substituto. Eu ganharia uma bela comissão. E partiria
amanhã, no máximo.
Lois... Você não está pensando em ir,
está?
Não sei. Nunca estive em Wakanda. É uma boa
oportunidade.
Isso me lembra de quando eu era o novato do Planeta e você
a melhor repórter de lá. Odiava quando você
pegava um desses trabalhos. Você fazia falta... Mas pelo
menos era mais produtivo para mim. Não dividia a atenção
entre você e o resto do mundo. Não havia ninguém
na redação para eu não tirar os olhos.
Que lindo, Clarkie. E isso me lembra uma curiosidade que
sempre tive.
E o que seria?
Já que não tirava os olhos de mim... antes
de nos casarmos, você já usou visão de raios-X
em mim?
Lois!
Sinceramente,
às vezes não entendo essa mulher. Nunca irei entender.
Era uma noite tranqüila de quinta, não acontecia nada
de importante na cidade. Não havia nenhum crime para o
Super-Homem enfrentar. Mas, no momento, nenhum desafio parecia
ser pior que este.
E então?
Eu sempre respeitei sua a privacidade, Lois. Mas teve uma
vez...
O quê? O maior herói da Terra fez isso?
Eu não acredito!
Na igreja... quando você entrou com aquele vestido
branco, quando eu soube que você seria minha esposa para
sempre, eu... bom, acho que isso diz tudo não?
Mas aí tudo bem. Não precisa ficar vermelho,
senhor Homem de Aço.
Porém, atualmente eu me utilizo de meios mais manuais
para conseguir algo tão promíscuo.
E porque não me mostra estes meios?
Já que insiste...
No meio das
palavras de carinho de Lois, escuto tiros. Mas podem ser apenas
policiais. Um choro de criança. Possivelmente um vizinho
com o seu recém-nascido. Não, estou tentando me
enganar para não perder este momento com Lois. Os tiros
e o choro tem uma relação. Preciso fazer alguma
coisa. Isto é um trabalho para o Super-Homem.
Preciso
ir.
Clark... agora?
Sinto
muito.
Quantas vezes vamos ter que passar por algo assim? Anteontem,
foi o jantar!
Achei que já tínhamos resolvido isso.
Eu também. Vai lá...
Parto em direção
ao Beco do Suicídio. Uma voz captada com superaudição
me entristece.
"Não
me procure em Wakanda", ela diz.
Deve
Haver um Super-Homem?
(para Elliot S. Maggin, por perguntar pela primeira
vez)
Eu sou conhecido
por muitos nomes. Homem de Aço. Azulão. Último
Filho de Krypton. Homem do Amanhã. Escoteiro. Kal-El...
Super-Homem. Mas hoje eu desejaria ser conhecido por apenas um
nome.
Clark Kent.
Você já pensou que provavelmente trabalhará
até o fim de sua vida? Dia após dia. Sem parar.
Alguns descansos, é verdade. Mas no final, quase tudo foi
apenas uma irrefreável rotina. Uma batalha sem fim.
Todo mundo conhece a minha "profissão". Ela é,
digamos... salvador. Todos esperam sempre que o Super esteja lá
para salvá-los. Eu também espero estar lá
para salvá-los. Mas eu temo o que essa esperança
pode trazer ao mundo. E a mim.
Já foram 10 anos desde que o Super-Homem desfilou com seu
uniforme colorido e sua capa vermelha pelos céus de Metrópolis.
Dez anos que eu não tenho feriados. Já acordei ao
som de uma criança padecendo numa lixeira. Já saí
do banho às pressas por causa de um ataque terrorista.
E então, Lois...
Já faz quase três semanas desde a viagem para Wakanda...
apenas uns e-mails e um telefonema. Devo admitir: ela sabe se
esconder bem. Até de mim. Será que o Batman? Não...
melhor não incomodar Bruce com isso.
Provavelmente estou passando por essas dúvidas por causa
dela... já que o Homem de Aço atrapalhou várias
noites românticas. Me pergunto se realmente deve existir
um Super-Homem.
Eu também me pergunto.
De tão entretido em meus pensamentos, não devo ter
notado o vulto verde se materializando no quarto.
Espectro? O que o traz aqui?
Algo especial, Clark... Uma exortação. Você
é considerado por muitos a pessoa mais importante da Terra.
Mesmo não sendo daqui. É um novo salvador. Também
me questiono se deve existir alguém como você. Às
vezes me pergunto se você não estaria atrapalhando
o caminhar do homem. Talvez até obscurecendo a glória
de Deus. Ou alterando os caminhos tortuosos do Criador.
O que quer dizer...? Caminhos tortuosos?
É decepcionante ver um ex-freqüentador da escola
dominical de Pequenópolis perguntar algo assim.
Ele não fala mais nada, apenas balança seu manto
verde e tudo ao meu redor se transforma. De Clark Kent eu passo
a Super-Homem. O cenário não é mais meu apartamento.
Como fantasmas, nós pairamos sobre os arredores de Metrópolis.
Vejo um avião vindo em nossa direção.
Em alguns minutos, este avião cairá. Você
vai salvá-lo?
Meu Deus! Claro! Eu preciso. Torne-me sólido, por
favor.
Calma! Aqui estamos além do tempo. Não há
necessidade de se desesperar, Clark. O avião pode ser salvo,
se você quiser.
Que pergunta é essa? Claro que...
Contenha-se! Vê aquele casal? Somos transportados
para entre os passageiros. Observo as duas pessoas que Espectro
aponta. Parecem recém-casados, tamanha a afinidade.
Estes dois se encontraram hoje. Ao chegarem em Metrópolis,
ele a conhecerá. Uma criança será gerada,
um garoto cego.
Então, mais uma vez, ele altera o cenário. Um mundo
de horrores. Poucas vezes vi um lugar tão medonho. Me lembra
a Terra do Universo Compacto, destruída por criminosos
kryptonianos. Me lembra Apokolips, o mundo de Darkseid, onde ninguém
tem vontade própria. Mas parece pior.
Que lugar horrível é este...?
Este é o mundo que você pode gerar.
O Anjo da Vingança me explica tudo. Eu fico atemorizado
com o que descubro. Aquele lugar terrível das minhas visões
é a própria Terra. O Espectro diz que a criança
sofrerá discriminação e preconceito por ser
cega, ao ponto que não suportará carregar tanta
dor. Mais tarde, ele se tornará um líder mundial,
popular como nenhum outro, porém cheio de ódio.
Ele é como um Victor von Doom, mas tem uma arma quase impossível
de ser vencida. Graças ao poder mutante que também
nasceu com ele controlar mentes. Todas as mentes. É
um ser humano como nenhum outro. Todos cairão perante ele,
inclusive telepatas poderosos, como Xavier e J'onn. Em seguida,
os heróis restantes. E então o mundo.
Tempos depois, seu principal colaborador surgirá das trevas:
Darkseid.
Aqui nascerá a Nova Apokolips.
Como pode? Eu nunca deixaria isso acontecer.
O que não permitirá, Clark? Que o menino
nasça? Ou que o avião caia?
Será que realmente eu deveria saber que estou apertando
o botão do fim da Terra? Aonde Espectro quer chegar? Eu
não posso me negar o privilégio de ajudar as pessoas.
Porque o Espectro, alguém que já foi considerado
um super-herói, está fazendo algo assim? É
verdade que ele é um anjo, ou algo parecido, mas suas atitudes...
não batem com o que conheci dele.
Por alguns segundos fico pensando que decisão tomar, baseada
no que o Espectro diz. Como se surgido do nada, uma idéia
toma conta de minha mente... ele diz ser um anjo. E citou a velha
escola dominical de Pequenópolis. Talvez algo que ouvi,
há muito tempo por lá, possa funcionar. É
arriscado, mas não custa tentar...
Ah, claro, eu também deveria dizer que o pai da
criança foi salvo de uma enchente há quatro anos
atrás. Por você.
Eu não acredito no que você diz.
Loucura! Porque desdenha, depois de tudo que te mostrei?
Acabei de me lembrar de algo, "Espectro".
Homem insensato! Do que está falando?
Certa vez, eu aprendi que até um demônio se
faz anjo de luz. Espectro se assusta com tais palavras,
mas tenta manter a seriedade. Muito bem, demônio.
Qual deles é você?
Tolo, não use a Palavra assim.
Vejamos... Satannus? Blaze? Eu aposto em Neron.
Ele se cala por alguns instantes, mas logo começa a rir.
Ao mesmo tempo em que escuto a gargalhada horrenda do demônio,
vejo-o retirar o capuz e revelar sua face branca, que se transforma.
Como num bizarro negativo, o manto verde e seu rosto assumem tons
rubros. O odor de enxofre me nauseia. Ouvi falar de Mefisto pelo
Doutor Estranho. Se a descrição estiver correta,
é com ele que estou lidando.
Vejo que você é mais esperto que eu imaginava.
Não subestime o antigo "freqüentador da
escola dominical"...
Muito bom, Clark. Conseguiu estragar uma dos meus planos
mais elaborados. Há tempos venho tentando frear esta maldita
força do bem chamada Super-Homem. E agora eu tenho mais
um motivo. Adeus... e prepare-se para mais diversão...
em breve.
Fumaça e vapor me atingem. Quando abro os olhos, estou
novamente no meu quarto, sem as roupas de Super-Homem. Olho para
o relógio. Não se passou um minuto desde que saímos.
Então me lembro do avião e, rapidamente, parto para
salvá-lo. Em poucos segundos estou no local que Mefisto
me levou. Enquanto levo o peso da aeronave nas costas, as dúvidas
plantadas pelo demônio voltam a me atormentar e o peso do
avião parece até crescer.
Eu jamais conseguiria deixa o avião cair sabendo da quantidade
de vidas que se perderão nele. Mas, ao mesmo tempo, as
perguntas quanto aos "caminhos tortuosos" permanecem.
E se o que Mefisto falou for verdade?
Tolice, Super-Homem. Deveria saber que ele já foi
chamado de príncipe das mentiras.
Desta vez, é o Vingador Fantasma quem surge ao meu lado.
Será verdadeiro, ou Mefisto está tentando mais uma
vez?
Você...
Não se preocupe. Eu sou verdadeiro. Mesmo que não
acredite agora, trago uma palavra que você poderá
julgar a proveniência mais tarde. Um dos melhores dons que
recebeu foi o de discernir bem do mal. Tome cuidado com os próprios
demônios, Super-Homem. Mefisto tentou te enlouquecer, com
a culpa de não ter salvo centenas de passageiros, mas sua
formação o protegeu da terrível armadilha
que ele preparou. Mas não acabou hoje. Poderão vir
mais desafios.
Tão repentino e misterioso como surgiu, o Vingador Fantasma
desaparece. Queria saber por que ele sempre tem que falar em enigmas.
O avião se torna mais leve e eu posso finalmente deixá-lo
no chão. Os passageiros descem e o piloto me agradece de
joelhos e chorando. Digo para ele se levantar, mas ele permanece
ajoelhado. Antes que eu possa pedir mais uma vez que se levante,
duas pessoas me chamam a atenção por estarem se
abraçando.
O casal que Mefisto me mostrou.
Vocês estão bem?
Oh, meu Deus... obrigado, Super-Homem. Obrigado, mesmo.
Não teríamos ninguém para cuidar de nossos
filhos.
Obrigado a vocês também. Não podem
imaginar como foram importantes para mim.
Me preparo para levantar vôo, mas uma voz conhecida grita
meu nome e me faz parar. Tenho medo de virar para trás,
mas não posso deixar de fazê-lo. Com uma cara meio
irritada, Lois Lane se aproxima de mim.
Não fala mais comigo, não?
Lois! Que saudades... O que está fazendo
aqui?
Hã, Super-Homem... Eu ia salvar o avião,
mas você chegou primeiro...
Quê??
Eu estava no vôo, voltei mais cedo de Wakanda, super-lento.
Ainda bem que me salvou... ou nunca mais veria sua L.L. favorita.
Lois...
Eu a abraço e beijo seu rosto. Então este era o
real plano de Mefisto. Começo a chorar, mas limpo as lágrimas
rapidamente para que as pessoas não estranhem. Bem baixinho,
Lois fala que, sem querer, eu finalmente admiti que não
podia viver sem ela. Ela mal sabe o quanto isso é verdade.
Noto que o piloto ainda está ajoelhado. Eu me ajoelho com
ele. Ele faz uma pequena prece e agradece seu Deus por tê-lo
salvo. Eu olho para os céus e também agradeço.
Por cada vida e pela satisfação de ter feito meu
trabalho.
A batalha sem fim.
:: Notas do Autor
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