hyperfan  
 

Arqueiro Verde # 01

Por Cesar Rocha Leal

Nichos

:: Sobre o Autor

:: Próxima Edição
::
Voltar a Arqueiro Verde
:: Outros Títulos

— Eu não sei quem falou mal do clima de Seattle... Eu adoro isso aqui.

A voz ecoa no salão do European Convention Center. O criminoso conhecido como Charada fala com um sorriso no rosto, saboreando cada momento de alegria. Seus dois comparsas são brutamontes de cabeça raspada vestindo macacões azuis e segurando tacos de baseball. Ambos mantêm sob vigilância duas dúzias de socialites. Um dos garçons está no chão, inconsciente e sangrando devido a um forte golpe na cabeça.

— Sei não, chefe, eu cridito que a gente devemos adiantar nosso lado, arguém pode aparecer e nóis não temos berros como você...

— Tolo de mente curta... Nenhum de nossos convidados irá causar qualquer problema... Mesmo que eu não estivesse armado, a presença de vocês é mais do que suficiente para amedrontá-los.

— Mas e se os meganhas aparecerem. — pergunta o outro capanga — ou quem sabe o Batman... Ele não gosta muito de você...

O semblante do Charada se torna mais firme quando ele responde em um tom seco:

— Os "meganhas" não vão aparecer, pois não existem motivos para eles desconfiarem que estamos aqui; o Batman muito menos... O único herói desta cidade é aquele que chamam de Arqueiro Verde e eu já cuidei para que ele não nos atrapalhe enquanto fazemos nossa "coleta".

— E como cê fez isso, chefe?

— Entrei em contato com a polícia local e mandei uma pequena charada para ser entregue ao nosso amigo verde. Como sempre a solução mais óbvia do enigma leva um justiceiro a me procurar em um local onde não estou...

Neste momento, um dos reféns, sem conter a raiva estampada em seu rosto, olha fixamente para o criminoso vestido de verde.

— Querendo saber qual foi a charada, meu amigo seboso? Acho que para você eu posso contar — diz o vilão.

O homem estremece ao sentir o cano da arma em sua testa enquanto o Charada continua a falar:

— Eu perguntei: Quando não se tem uma, não se tem discernimento... Quando se tem uma e meia é motivo de grande festa... Mas você só é importante para a sociedade quando se tem mais de duas... Apesar de que dizem que a vida começa quando se tem quatro. O que é amigo?

— Não... n... não sei... — responde o homem amedrontado.

— Burro, eu deveria matá-lo...

O vilão começa a apertar o gatilho da arma, mas pára em seguida e se afasta de sua vítima gritando bem alto:

— É a década... Você não adivinhou, mas nosso amigo das flechas provavelmente sim... E deve estar indo para o Public Market Center, onde está sendo realizada uma exposição de fotos dos últimos dez anos.das ruas de Seattle

— Mas chefe, e o que nóis estamos fazendo aqui?

— Apenas assaltando a convenção anual que reúne os homens de negócios mais notórios da cidade. Homens importantes como o senhor Henrich Willem, — diz o criminoso, apontando para um dos convidados — eleito o Homem da Década pela revista Time... Bwa-há-há-há-há...

Neste momento, o capanga que está mais perto da porta cai com um estrondo. A razão é um homem louro, de cavanhaque, que o atinge com seu arco e, com habilidade inigualável, dispara uma flecha de ponta de metal prateado, acertando a arma do Charada. Assustado e surpreso, o vilão grita:

— Você é melhor do que eu pensava, Arqueiro... Muito mais inteligente...

O segundo capanga parte para cima do herói, que acerta uma flecha em seu taco de baseball com a mesma velocidade e precisão de antes. Aproveitando a surpresa do homem, o vigilante acerta um devastador soco no plexo, fazendo seu adversário se abaixar. Uma joelhada no rosto é o golpe final que faz o capanga cair inconsciente.

— Quando um criminoso é igual a uma festa de arromba? Quando ele é um estouro!

Com essas palavras, o Charada tira seu casaco revelando uma série de explosivos em sua roupa. Ele segura o detonador na mão esquerda; um fio o liga diretamente aos explosivos.

— Acho que estou de novo em posição superior...

Sem responder à provocação, Oliver Queen arma seu arco com duas flechas que partem zunindo no ar. A primeira atravessa a mão do Charada e se prende na parede atrás deste, fazendo com que ele largue o dispositivo; a segunda corta o fio do detonador.

AAAAAAAAAAHHHHHHHHHHH.... Você me feriu, furou minha mão, não é justo... Heróis não fazem isso! Depois de decifrar a charada que mandei para a polícia, você poderia demonstrar a sua superioridade física, mas não me machucar... Ei, onde está sua máscara? E as regras...

O semblante de Oliver se embrutece quando ele se aproxima do homem preso à parede.

— Em primeiro lugar, a polícia não me passa recadinhos de malucos. Em segundo lugar, sequer sabia que você estava aqui. E, finalmente, eu não jogo com nenhuma "regra" com a qual você esteja acostumado.

O terror começa a crescer nos olhos do Charada quando o Arqueiro se aproxima. Então, com um meio sorriso, Oliver coloca o dedo na extremidade posterior da flecha que prendeu a mão do criminoso e a puxa para baixo. Ao largar a flecha, ela vibra, trazendo mais dor para o vilão.

O Arqueiro Verde parece estar procurando alguém na multidão de reféns, que se amontoa na parede oposta, e sai... Não sem antes sentir prazer com os gritos de dor que seu adversário faz enquanto a flecha continua a vibrar.

Gotham City, 23h48

— ... o criminoso foi detido pelo vigilante conhecido como Arqueiro Verde. Minutos após a prisão, a polícia verificou que os explosivos eram falsos e que a arma não possuía balas...

A repórter na televisão continua a falar, mas Dinah Lance não está mais prestando atenção, pois o som da campainha é insistente.

"Visitas? A esta hora? Normalmente quem tem mais assuntos a tratar neste horário é Canário Negro, não Dinah Lance", pensa a moça. Mesmo com seus anos de experiência, ela não pode deixar de se espantar ao ver quem é seu visitante.

— Oliver? O que você...

— Ainda bem que você estava em casa. Eu... preciso conversar com alguém... e poucas pessoas podem entender o que ocorreu.

Dinah deixa seu ex-amante entrar e percebe o quanto sua presença ainda mexe com ela. A parceria de Arqueiro Verde e Canário Negro durou anos, dentro e fora dos lençóis. Eles se afastaram há alguns anos, mas as lembranças dos bons e maus momentos ainda estão vivas em sua mente.

— Soube que você voltou morar em Seattle. Como veio parar aqui em Gotham?

As lembranças da cidade também surgem vívidas em Dinah, a chuva constante, o clima frio e úmido mas que, em alguns aspectos, é mais aconchegante e menos sombrio que a gótica cidade de Gotham.

— Usei o transportador da Liga... sabe como é. Prerrogativas de sócio do clubinho...

— Você usou o transportador do Batman?

— Não... não saí na Batcaverna, ou seja lá como ele chama seu QG ultimamente... O morcego tem uns três ou quatro transportadores em endereços comerciais desativados. Às vezes, o cara me assusta.

— Ele sempre me assusta.

Um sorriso brota no rosto do Arqueiro, mas é logo substituído pela tensão. Dinah conhece muito bem seu ex-parceiro para saber o quanto ele está preocupado. Resolve começar a conversar sobre o que viu na TV, para que ele complete as informações e acabe desabafando no processo. Essa tática sempre deu resultados quando moravam juntos.

— Ouvi falar de você na TV.

— Humpf... O que você viu foi um maluco de colante atrapalhar meu dia e mais uma vez me compararem com mais um dos muitos mascarados que fazem jogos com esses babacas.

— Dá certo com o morcego, não é?

— Meus objetivos são diferentes. Pessoas como ele, ou mesmo como Hal, parecem querer ser arquiinimigos destes caras para fazê-los se preocupar mais em planejar crimes mirabolantes do que assassinar milhões de pessoas. No caminho para cá, eu acabei estourando a cara de mais uns dois assaltantes, mas não foi o suficiente para me acalmar.

— A culpa disso é sua mesmo. Não foi você o inventor da Flecha Luva? O cara que patrulhava as ruas de Star City no Carro-Flecha?

Diante da tensão no rosto do Arqueiro ao ouvir a menção a estes dispositivos, Dinah desiste da brincadeira. Algo muito sério deve estar remoendo a mente de Oliver para que ele fique neste estado.

— Além do mais você decifrou a charada, não foi? Afinal, acabou impedindo o golpe no Convention.

— Decifrei nada... Nem sabia que aquele zureta estava na cidade. Eu estava é vigiando Richard Holsfield, um dos convidados.

— Holsfield?

— Esse sacana está envolvido com turismo sexual para executivos em viagem ao Rio de Janeiro, aliciando meninas aqui e lá no Brasil. Meu único rastro até agora foi o que uma garota de rua, Vilma, me contou. Estava de tocaia vigiando os passos do safado, mas aquele alienado de verde me fez revelar minha presença antes da hora...

— Alienado de verde? Pensei que esse era você...

Um sorriso aparece na boca sensual de Dinah ao ver a cara de indignação de Oliver. Ela sabe que não deveria provocar, mas é impossível resistir à piada.

— O pior que ele ainda me acusou de sair sem máscara! O idiota não sabe que deixei de usá-la há anos? Só abro exceções quando estou em missões com a Liga.

— Sempre achei que você fica mais charmoso sem ela...

— Humpf... Um dia posso achar que você está falando sério... Mas o que aconteceu é que fiquei tão nervoso com o acontecido e por ter perdido o elemento surpresa no caso Holsfield que tive que vir até aqui... conversar...

A tensão está presente no ar e nos dois ex-parceiros. Eles ainda sabem porque as coisas acabaram não dando certo: as escapadas de Oliver, a incapacidade de Dinah ter filhos, a falta de cumplicidade que acabou por minar a relação. Mas, neste momento, eles sentem o quanto são importantes um para o outro e, apesar de não ser uma decisão consciente, eles sabem o que está prestes a acontecer.

Mas Oliver ouve um nome que o faz esquecer completamente de sua companheira. Ele a joga de lado no sofá e encara fixamente a televisão, onde a âncora do noticiário continua a falar:

— ... o corpo de uma menina de treze anos em um beco de Seattle. A garota se chamava Vilma Derring, foi esfaqueada várias vezes e abusada sexualmente. Segundo familiares da garota contatados em Utah, ela fugiu de casa há dois anos e ninguém tinha notícias suas. Os investigadores acreditam em envolvimento com drogas e...

A mulher continua a falar, mas Oliver não está mais ouvindo. Ele sabe porque a garota foi morta; descobriram que ela era sua informante e, após o verem no Convention Center, decidiram apagá-la. Por sua culpa, a garota está morta.

— Ollie, meu Deus...

As palavras de Dinah morrem em sua boca ao ver o quanto seu ex-amante fica transtornado com a notícia. Seus olhos estão semicerrados quando ele volta a pegar seu arco e sua aljava.

— Aonde você vai?

— Caçar.

Sem mais palavras, puxando seu capuz para se proteger da fina chuva que cai em Gotham, o Arqueiro Verde parte em busca de sua presa.

Continua

:: Notas do Autor



 
[ topo ]
 
Todos os nomes, conceitos e personagens são © e ® de seus proprietários. Todo o resto é propriedade hyperfan.