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Arqueiro Verde # 02

Por Cesar Rocha Leal

Tormenta

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— N-não sei... Eu não sei...

O terror nos olhos do criminoso revelam que ele realmente não sabe nada sobre a operação de prostituição infantil e tráfico de garotas comandada por Holsfield em Seattle.

— Escute aqui, cara... Dessa vez eu vou deixar você ir... Mas lembre-se que estas ruas estão sob minha proteção — ameaça o Arqueiro Verde, segurando o homem pelo colarinho e olhando-o fixamente nos olhos.

Livre, o marginal sai correndo, deixando Oliver Queen com o rosto tenso, em nada lembrando o homem alegre e dono de um senso de humor que precede sua fama. Há cinco dias ele percorre o submundo atrás de qualquer informação que possa levá-lo a uma prova do envolvimento de Holsfield com tráfico de menores. Por duas vezes ele conseguiu frustrar os interesses do seu adversário ao "estourar" casas de prostituição infantil, mas nada o deixa próximo de provas que tirem o criminoso da ativa.

Ao impedir a ação do Charada no European Convention Center*, o Arqueiro revelou seu alvo e Holsfield, uma presa difícil de ser capturada, entendeu que o vigilante está à espreita, desencadeando em queima de arquivo. Com a morte de Vilma Derring, uma informante de Oliver, a investigação tornou-se pessoal, fazendo-o redobrar seus esforços na busca de indícios. Mas Oliver está chegando ao fim da linha.

Apartamento de Richard Holsfield — 23h32

— Os negócios estão em dia, Starker?

Holsfield sempre faz essa pergunta a seu braço direito e guarda-costas, Horace Starker, durante a noite. Mas hoje o champagne parece ter deixado o patrão com um humor mais risível que o de costume.

— Tudo de acordo com a agenda, Sr. Holsfield. Mas não sem algum prejuízo, o senhor sabe...

— Aquele Robin Hood de meia tigela está começando a me preocupar. Quanto ele já nos custou, Starker?

— Mesmo sem prejudicar os negócios mais importantes, ele já fez a margem de lucro cair em 32% esta semana, senhor. Talvez devêssemos cuidar para que ele se torne um risco nulo.

— Não. De jeito nenhum. Se dermos um sumiço no Arqueiro, teremos a comunidade de superpoderosos investigando a sua morte. Não se esqueça de que ele é membro da Liga da Justiça. Se já temos dificuldades em lidar com um cabeça-dura só, imagine se tivermos de nos defrontar com o Super-Homem ou aquele marciano atrás de vingança.

Holsfield raciocina um pouco mais e prossegue.

— Devemos lidar com essa situação com mais finesse que o habitual. Quando parte o próximo envio de garotas para o Rio de Janeiro?

— Amanhã, senhor. As garotas americanas repatriadas para serviços no Brasil estarão saindo no local de costume.

— Certo... Acho que vou passar algum tempo no Brasil, então. Pelo menos até o intrometido fantasiado se cansar de ser inconveniente. As coisas por lá continuam as mesmas?

— Tirando a coqueluche do momento com relação ao racionamento de energia, tudo continua da mesma forma... Nada que possa nos incomodar...

— Ok. Faça os preparativos e contate aquele homem da alfândega, Lopes ou Dell, nunca lembro o nome dele... E mande uma das recém-chegadas ao meu quarto. Vou fazer um test drive no material.

— Perfeitamente, senhor.

Oliver Queen sente seus músculos darem sinais de fadiga. Ele agradece por não ter que trabalhar na manhã seguinte, pelo menos enquanto os cheques da Liga continuam a ser depositados em sua conta bancária. Resolvendo fechar a noite, ele segue por um beco, cansado e desmotivado, já que não consegue nada com relação a Holsfield.

Subitamente, uma granada de fósforo branco explode à sua frente. Mesmo tendo fechado os olhos rapidamente, a luz deixa o Arqueiro desorientado e cego por alguns momentos.

— Calma, amigo. Não estou aqui para lutarmos... Antes talvez, mas não agora.

— Estranho seu jeito de demonstrar isso. — responde Oliver, tentando definir a direção da voz para mostrar a seu atacante que é preciso muito mais que um golpe de sorte para vencer o Arqueiro Verde.

— Tentar me identificar não vai adiantar. Estou projetando minha voz para aumentar sua desorientação. Sei que você está atrás do Holsfield, e aviso que de nada vai adiantar esmurrar malandros de rua. A esfera que você procura é mais alta.

— Se você é um dos assassinos do canalha, estou avisando...

— Poupe-me de suas ameaças... O efeito da minha surpresa já deve estar acabando e vou ter que ser rápido. Amanhã, 21 horas. Depósito 97 em Camp Hillowy. Holsfield estará lá.

— E você também, certo? Espera que eu entre nesta armadilha tão fácil?

Oliver continua falando, sua visão voltando aos poucos... Se conseguir manter a outra pessoa falando por mais alguns segundos...

— Eu? Não... A violência já não me atrai como antigamente. Digamos que tenho dívidas a saldar e espero que, auxiliando você, eu comece a "zerar" minha conta mais rapidamente. Por enquanto, é só o que você precisa saber...

A visão do Arqueiro volta, mas ele sabe de duas coisas antes mesmo de conseguir enxergar: que seu benfeitor misterioso não está mais lá e que ele tem um compromisso na noite seguinte, às 21 horas.

A noite de Seattle está mais úmida do que o de costume. O Arqueiro Verde mantém sua vigília a um grande galpão no endereço fornecido por seu informante desconhecido. Nos fundos do galpão, uma pista de terra batida parece ter sido usada várias vezes para pousos e decolagens de um pequeno avião.

O humor de Oliver Queen não mudou desde a noite anterior. Holsfield não aparece e somente quatro vigias armados se encontram na área do galpão. De repente, um sorriso se forma em seus lábios. Um carro aparece na estrada e Holsfield está dentro dele. O veículo é uma van e quando o Arqueiro acredita que sairão vários mercenários de dentro do carro, tem uma surpresa.

Apenas um homem meio alto e vários meninos e meninas de, no máximo, quatorze anos, todos amedrontados, saltam do automóvel. Mesmo suspeitando que a informação seja para atraí-lo a uma armadilha, Oliver resolve agir. Sorrateiramente, ele se aproxima de um dos sentinelas e o ataca por trás. Com o joelho nas costas de sua vítima, Oliver expulsa todo o ar nos pulmões do bandido enquanto que, com uma pressão em sua nuca, o faz desmaiar.

— Seria mais fácil se vocês desmaiassem com apenas um soco, como nas séries de TV. — fala Oliver, para si mesmo.

Aproximando-se da lateral do galpão, ele olha por uma fresta. Um avião parece estar em preparativos de decolagem. Holsfield e seu capanga estão levando as crianças para a aeronave. Hora de agir.

— Starker, alguma destas pestes fala português?

— Não, senhor, nenhuma delas tem noção da língua. Ao chegar no Brasil, a barreira cultural manterá todas dependentes de nós e mais controláveis, como sempre.

— Foi realmente uma ótima idéia essa do intercâmbio cultural de crianças entre os dois países... — ironiza Holsfield, rindo — As pequenas brasileiras fazem muito sucesso por aqui também.

O Arqueiro se aproxima de outro sentinela e ataca-o com seu arco como se fosse um porrete. O homem cai e o herói entra no galpão pela fresta do teto, caindo atrás de algumas caixas, enquanto pensa se a figura misteriosa do beco na noite anterior seria aquele capanga magro que chegara com Holsfield.

Uma flecha é lançada e outro vigia, que ajudava a levar os meninos para o avião, urra de dor com uma seta prendendo sua mão à coxa, impedindo-o de usar a arma.

— O que... Droga, Starker! Pegue esse intrometido!

Com o grito de Holsfield, o último sentinela entra no galpão e começa a atirar nas caixas onde se abriga Oliver, enquanto Starker se aproxima com uma pistola pela lateral e Holsfield tenta levar as crianças para o avião. Muitas, porém, aproveitam a chance para correr.

Oliver vê onde está o atirador e lança uma flecha para o teto. O perfeito disparo solta a fiação elétrica do galpão, produzindo uma pequena explosão, fagulhas e fumaça. O atirador é surpreendido e com mais uma flecha e fica fora de ação.

Oliver olha para a confusão no avião. Holsfield tenta retomar o controle da turba de crianças, que correm e berram. Parece apenas conseguir arrastar uma menina. Nesse meio tempo, Starker se encontra em uma posição de tiro contra o Arqueiro, mas Oliver não deixa que o criminos tenha esta oportunidade. Uma nova flecha acerta o cano da pistola, tornando-a inútil. Starker sorri e se aproxima de Oliver, que joga seu arco e flechas de lado.

— Então vai ser mano a mano. Para mim, é até melhor.

Com essas palavras, Oliver chuta o rosto de Starker que, apesar de magro, demonstra uma força e resistência incomuns. Usando o impulso do golpe do Arqueiro, ele se afasta e retorna com um chute que atinge o herói em cheio. Uma sucessão de socos coloca o Arqueiro na defensiva. A preocupação com Holsfield, que ainda arrasta a garota para o avião, o deixa mais vulnerável ainda aos golpes de seu adversário. Starker, ao sentir que a vitória está garantida, saca uma faca de seu cinto. A faca Bowie, com uma lâmina de 20 centímetros, faísca com a luz indireta do avião e faz com que um lampejo de reconhecimento apareça nos olhos de Oliver. Os ferimentos da garota que era sua informante. Morta a facadas. O relatório do legista descrevia uma lâmina exatamente como aquela. Ele estava diante do assassino de Vilma Derring.

A raiva é a grande companheira de Oliver Queen. Seu gênio esquentado faz com que por vezes nem mesmo seu senso de humor o mantenha calmo. Eventualmente Oliver deixa que a ira tome conta de seu corpo. Não uma fúria descontrolada, mas que sirva a seus propósitos. Este é um destes momentos.

O Arqueiro pega em seu cinto uma ponta de flecha. Com o objeto de metal em sua mão esquerda, deixa que Starker se aproxime. O bandido ataca, mas o arqueiro se desvia da lâmina enquanto que golpeia seu adversário com a mão esquerda. A ponta da flecha rasga o colete do vilão, bem como um pedaço do peito deste. Oliver prepara-se para encerrar a luta quando sente uma dor na cabeça. O som que ecoa em seu crânio o faz perceber, tarde demais, que tinha sido um tiro. Holsfield.

Atordoado pelo disparo, que o atingiu de raspão, Oliver procura abrigo e vê Starker entrar no avião que se dirige para a pista de decolagem. O Arqueiro Verde ainda corre atrás da aeronave, mas não consegue alcançá-la. Só consegue ver de relance o rosto de Starker e da garota em uma das janelas. Uma menina de cabelos claros, que grita por ajuda. Tomado pela frustração, Oliver cai de joelhos. Holsfield escapou. Mas para onde?

Ao voltar para o galpão para buscar seu arco e flechas, Oliver percebe que ainda segura parte do colete de seu adversário. No bolso do farrapo da roupa está uma nota de compra. Apesar de não entender o que está escrito, uma palavra pode ser compreendida pelo arqueiro. Rio de Janeiro/Brasil.

— Parece que vou fazer uma longa viagem. — diz Oliver Queen, sentindo que a caçada ainda não terminou e olhando para a estrada por onde várias crianças ainda fogem do destino traçado por Holsfield para elas.

No próximo número: Um encontro no Brasil com um certo vigilante sem rosto.

:: Notas do Autor

* Ver edição anterior.



 
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