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Por
Igor Appolinário
Uma mão esverdeada toca a testa da mulher loira deitada em uma cama de folhas. Ela geme e se vira sobre a folhagem, suas roupas rasgadas cobrindo frouxamente o corpo. O buraco no estômago, do tamanho de uma bala, está coberto por um emplastro vegetal.
Você ficará bem, doutora. Foi necessária a administração de um dos meus ungüentos mais fortes, mas creio que o efeito colateral não será muito... evidente...
Onde... estou... diz a jovem, desorientada Quem... oh! Você! Hera Venenosa...
Não se preocupe, dra. Quinzel, eu não lhe farei mal. Na verdade, acabo de salvar-lhe a vida.
Hum... eu... bem... obrigada. O que eu...
Não há dívidas a pagar, você me libertou e eu já lhe prestei minha retribuição. Estamos quites. Acho que você já pode partir, eu não gosto de companhia animal e acredito que você gostaria de ir atrás de quem lhe fez isso...
Ah, sim, ele vai me pagar por isso. Harleen se levanta de súbito e Hera estende a mão, apontando a muralha de sebe ao lado que se abre majestosamente, dando passagem para a saída de Arlequina. (*)
O Jardim da Morte Parte I
Torre do Relógio Gotham City
Nada ainda e já faz semanas! Como eles podem desaparecer assim? (*)
Eles têm muitos capangas fiéis, tão malucos quanto eles ou tão amedrontados, que sempre os ajudam a se esconder. Você já deveria estar acostumada com isso, Dinah.
Eu não vou ficar calma até os malucos voltarem pras suas celas acolchoadas. E você parece bem calma mesmo sabendo que o Coringa também fugiu.
Eu sei que o Batman vai pegá-lo, e ele vai apanhar muito, mas estou mais interessada em saber o paradeiro da dra. Quinzel. Ela não vai durar 15 minutos ao lado dele.
Nem ela nem os outros habitantes de Gotham com Hera Venenosa, Duas-Caras, Sr. Frio e os outros criminosos à solta.
A porta se abre e a jovem Cassandra entra no aposento. Ela joga a mochila que carregava no ombro em um canto e atira um jornal meio amassado sobre a mesa de Oráculo. Babs e Dinah lêem a manchete da capa:
Mulher desaparece no Parque!
Dona-de-casa é a quinta pessoa a sumir nas imediações do parque Robinson
Mais informações na pág. 03
Escola elementar Robert Schreck Gotham
Errado, errado, errado... meu Deus, essa menina tem que ter acertado alguma coisa!
Helena Bertinelli olha desolada para a prova a sua frente. Ela fica imaginando se deve encaminhar a dona do teste para uma sala especial, mas depois de olhar para sua própria mesa, e ver um mar de notas vermelhas, ela decide que o problema não é a menina...
"Eu tenho sido um pouco dura com eles... eles não têm culpa..." Helena olha pela janela e vê o céu escurecendo, a lua começa a aparecer. Helena se recorda da primeira vez que esteve na lua, a Liga da Justiça foi um sonho em sua vida, mas também com a LJA ela viveu seu pior pesadelo. Ser estraçalhada por uma fera extradimensional (**) nunca foi algo que ela imaginou fazer.
"Mas agora já estou curada..." pensa ela com as mãos sobre o estômago. Quem sabe já não é a hora de voltar?
Dinah, está me ouvindo?
Sim, Oráculo, alto e claro.
Eu descobri alguns registros de um cadáver de indigente encontrado nas proximidades do parque...
Ele já foi enterrado?
Não, acho que demos sorte, ele está no necrotério da cidade...
Necrotério municipal
Não, nós nunca invadimos lojas de brinquedos e floriculturas. São sempre cartéis do crime, laboratórios clandestinos, necrotérios...
Hunf! Vamos... logo...
Tá bom. Tá bom.
Canário Negro e Cassandra estão no telhado do necrotério municipal, Canário tenta abrir a porta da escada que vai até o último andar. Ela mexe no trinco e Cassandra, impaciente, tenta ajudá-la, mas acaba por atrapalhar a vigilante veterana.
Quer parar com isso!
Com... licença...
Cassandra afasta Canário na porta e, com um golpe certeiro na fechadura, a abre.
Pode... passar...
Humm... eu poderia ter feito isso...
Dois homens se aproximam furtivamente de um carro. A rua vazia cria a oportunidade perfeita e eles começam a mexer no automóvel. Um deles força a porta do veículo, mas uma flecha certeira atinge sua mão. Ele cai no chão de dor enquanto o outro olha em volta, procurando a origem do disparo.
A Caçadora se satisfaz com a pontaria que continua perfeita. Outra seta parte da balestra da vigilante e atinge a parede oposta, uma corda se tensiona e Helena desce por ela até os homens. O assaltante-vigia parte para cima dela, pulando sobre o parceiro jogado no chão, tentando, sem jeito ou habilidade, atingir a cabeça da vigilante.
Vocês nunca aprendem...
Caçadora pega o braço do assaltante e, usando a própria força dele, o joga para o alto, atinge-o no estômago e o faz aterrissar vários metros adiante, desacordado. Ela se aproxima do outro, que choraminga no chão, e agarra o cabo da flecha. O homem olha para ela, um silencioso pedido de misericórdia brilha em seus olhos, mas Helena ignora e torce a flecha, fazendo o homem desmaiar de dor. Ela amarra os bandidos, um todo roxo e o outro sangrando abundantemente, e os deixa para a polícia.
Acho que é por aqui...
Dinah abre a porta final da escadaria e se encontra em um amplo corredor. As paredes lisas pintadas de verde dão a dica de que realmente se encontram no local correto. A intervalos, portas de aço cortam a continuidade da parede, todas elas muito parecidas e sem qualquer identificação.
Oráculo... onde...?
OK, garotas, agora vocês estão em um labirinto de corredores. Sigam as minhas instruções e vocês vão chegar direto na sala do refrigerador...
Tudo bem, pode mandar. Não tem ninguém nos corredores.
Canário Negro e Cassandra seguem as instruções de Oráculo, passando por diversos corredores, aberturas e muitas portas de aço. Parece para elas que não saíram do lugar, pois cada parte do prédio é muito semelhante à outra, mas a sensação cessa quando Bárbara anuncia que depois da próxima curva elas estarão de frente para o alvo.
Bem, agora é só virarmos aqui e... droga! Um segurança!
Eu não imaginei que ele estivesse nesse andar logo agora...
O que vamos fazer? Eu poderia... ei!
Cass se esgueira pelo corredor, seus passos inaudíveis. Ela se aproxima do segurança sorrateiramente e lhe aplica um golpe certeiro, fazendo-o cair nocauteado. Depois ela arrasta o corpo inconsciente para dentro de um armário de vassouras, para não despertar suspeitas. Dinah a puxa para um canto quando um homem usando um jaleco branco sai de dentro da sala que elas procuravam.
Bom, vamos. diz Canário, entrando na sala do refrigerador Agora precisamos encontrar o corpo, mas isso é fácil...
Fácil... resmunga Cass, ao ver o grande refrigerador com dezenas de gavetas.
Parque Robinson
Jack Dawson nunca teve uma vida feliz. Mesmo quando era criança, os prazeres simples da vida lhe eram negados pela madrasta carrasca e pelo pai beberrão. Quando veio a maioridade, e a subseqüente rebeldia, Jack deixou a vida infeliz para trás, ou pelo menos assim imaginou. Mesmo morando nas ruas ele almejava iniciar seu próprio negócio, mas o tempo e a falta de recursos acabaram por minar seus sonhos. E hoje ele procura um abrigo quente entre as moitas e sebes no parque Robinson, longe dos outros desabrigados que também procuram um canto por lá.
Acho que aqui está bom. diz ele, se recostando contra a sebe, ficando próximo a um pequeno buraco. Do orifício em meio às plantas começam a sair estranhos ruídos, atiçando a curiosidade de Jack. Ele alarga o orifício e passa para o outro lado da sebe O que será isso...?
O silêncio impera no parque, mas, de repente, do labirinto vem um grito de horror, sufocado em meio a sua desesperada tentativa de pedir ajuda. Próximo ao buraco, o som de ossos quebrando e carne sendo rasgada deixaria qualquer um enlouquecido. Uma bota velha cai para fora da sebe e uma mão esverdeada surge pelo buraco, uma mão delicada que com um gesto leve e rápido faz a sebe se restaurar por completo.
Telhados de Gotham
A Caçadora se balança entre os prédios da cidade. Sentir o vento nos cabelos e a adrenalina de se encontrar vários metros acima do chão faz seus nervos estrilarem de emoção. Ela se apóia em um parapeito, ao lado de uma gárgula sorridente, e observa a cidade noturna toda iluminada.
Ah! Como eu senti falta dis... o quê? Helena olha para o prédio mais próximo e vê que a porta da escada está escancarada, a fechadura reluzindo no chão Alguém está assaltando o necrotério?
A Caçadora desce até o prédio arrombado e desce as escadarias. Ela percorre cautelosamente o labirinto de corredores até que encontra uma porta entreaberta, o segurança caído em um armário de vassouras. Helena escuta vozes na sala mais próxima e se encosta à porta para ouvir melhor.
Continue procurando, deve estar em uma dessas de baixo...
Pamela Isley, a ecoterrorista mais conhecida como Hera Venenosa, se aproxima de um grande tanque de um reservatório de água. Consigo ela traz um vidro com um líquido verde, o qual ela despeja na água cristalina do tanque. Em um painel de controle ela pressiona um botão e se afasta.
Em outra parte do parque, as pessoas caminham e correm calmamente, praticando seus exercícios diários. De repente, os irrigadores, que deveriam ser ligados apenas depois do fechamento do parque, começam a funcionar, molhando plantas e pessoas.
Droga! Acabei de fazer permanente...
Subitamente, as plantas atingidas pela mistura química de Hera Venenosa começam a crescer acima das expectativas e incrivelmente rápido, e começam a chicotear e prender as pessoas que se encontram mais próximas. Todos começam a correr para fora do parque, desesperados pelo ataque vegetal inesperado. Quando tudo fica vazio, as plantas se acalmam e samambaias extraordinariamente fortes fecham os portões do parque Robinson.
Meu, finalmente...
Essa é a última da fila. diz Canário, puxando, com a ajuda de Cassandra, outra gaveta Ei, acho que é isso!
Elas puxam a gaveta para fora e vêem um grande saco preto no local onde deveria estar o corpo. Canário está a ponto de abrir o zíper do saco, mas Caçadora entra na sala, a balestra em punho:
Parem vocês duas!
Droga, Caçadora, o que você está fazendo aqui?!
Calada! Não é só por que você é da turminha dele que eu vou deixar que invada um prédio público. Ainda mais um necrotério! O que vocês querem aqui?
Isso não é da sua conta, Helena. Essa é uma missão para a Oráculo...
Ah, ela! Tenho certeza de que ela está nos ouvindo agora, pois então dê adeus, vocês duas vão para a cadeia... o quê?!?!
Aproveitando a distração da Caçadora, Cassandra se aproxima da vigilante e a desarma, fazendo a balestra cair alguns metros mais ao lado de Helena.
Vá... embora...
Eu não recebo ordens suas, de ninguém. Vou ficar aqui até que me digam o que estão fazendo!
Dinah, acho que ela pode ser útil... diz Oráculo, pelo comunicador.
Essa sociopata?! Você tem certeza...? OK... você pode ficar, Oráculo acha que você pode ajudar.
Você não diz se eu fico ou não. Depois de ver o que vocês tanto procuram, eu decido se fico.
Cassandra abre o grande saco preto sobre a gaveta, um cheiro pestilento preenche a sala, atacando as narinas das mulheres. Dinah quase vomita e Helena fica tonta com o odor moribundo. Cass se limita a pegar uma câmera fotográfica, e começa a registrar o cadáver.
Mas isso são apenas ossos e restos de pele...
Músculos dilacerados e alguns tecidos de órgãos...
Canário Negro pega um pequeno pote de vidro e retira algumas amostras dos tecidos do cadáver, guardando-os para que Oráculo possa analisá-los. Quando todo o trabalho está terminado, as três mulheres se dirigem para a Torre.
Continua...
:: Notas do Autor
(*) Veja a fuga dos pacientes do Asilo Arkham na edição anterior.
(**) Relembre o triste destino de Helena nas garras dos N'Garai em LJA # 02.
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