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Por
Rafael Borges
América Parte IV Anarchy in the USA
Eu não acredito no que você está me pedindo, Urich! exclama Robbie Robertson.
Robertson é o editor do Clarim Diário, um dos mais importantes jornais da cidade de Nova York, e acaba de ler uma matéria enviada via e-mail por seu melhor repórter. Uma matéria, não. A matéria.
Só estou pedindo que revise o texto, Robbie. responde Ben Urich, fumando mais um cigarro Você sabe com sou ruim com a ortografia.
Isso não é hora para piadas, Ben! o editor se inflama e acaba desferindo um golpe contra uma das divisórias que separam os ambientes na redação.
Geralmente, ele supera as pressões do dia-a-dia tumultuado do Clarim com serenidade. Durante anos, ele ofereceu apoio a Urich contra as imposições excêntricas e muitas vezes abusivas de J. J. Jameson. Mas, desta vez, o repórter foi longe demais.
As afirmações que você fez nesta matéria... prossegue Robertson, depois de se acalmar por alguns instantes Isso pode derrubar o presidente. E você nem ao menos citou a sua fonte!
Ben Urich encara o amigo.
Não era preciso. Alguma vez eu te passei uma informação que não fosse verdadeira? ele diz, pitando mais uma vez o cigarro Amanhã, tudo isso virá a público. Se não publicarmos hoje, vamos perder o maior furo da história americana.
Robbie coça a cabeça. Ele confia no colega. Mas há certos limites que nem mesmo uma amizade antiga o faria ultrapassar.
Está bem! Eu vou falar com o Jameson, mas não garanto nada.
O editor se vira e caminha lentamente em direção à sala do proprietário do jornal. Sua mente é tomada por dúvidas. Em 35 anos de jornalismo, ele nunca viu nada semelhante.
Robbie! antes que ele pudesse bater à porta de Jameson, Urich o chama de volta Não que isso mude alguma coisa, mas a minha fonte é o Capitão América.

Na primeira hora da manhã seguinte:
Você não pode entrar aqui, soldado! diz o Super-Homem.
Montando guarda na porta do salão oval, Kal-El se ergue como uma muralha para impedir que o Capitão adentre ao gabinete pessoal da presidência americana.
Não me chame de soldado! responde Steve Rogers, encarando o kryptoniano de frente. Sua acompanhante, Sharon Carter, permanece em silêncio No dia em que entrei para o exército, recebi a patente de capitão!
Isso não muda nada. afirma o Super-Homem, sem alterar sua posição em um centímetro sequer As manchetes nos tablóides não lhe dão o direito de invadir a Casa Branca.
Você não está entendendo, escoteiro. a Agente 13 interfere na conversa Já falamos com os representantes do congresso e com o presidente-eleito, Fox. Só estamos aqui porque o Capitão fez questão de oficializar o ato pessoalmente.
A imagem do imponente brasão em forma de "S" no peito do homem de aço reflete sobre a estrela e as listras que adornam o reluzente escudo do sentinela da liberdade. Eles já lutaram juntos em algumas oportunidades, mas nenhum dos dois hesitaria em partir para o combate para defender os ideais em que acreditam.
Neste momento, uma voz abafada pela porta de carvalho centenária se faz ouvir de dentro do salão oval:
Deixe-os entrar. diz o presidente Bush.
Hesitante, porém sem perder a compostura, Kal-El abre caminho. Bush se levanta calmamente de sua escrivaninha e caminha até o Capitão América, parecendo saber o que o aguarda.
Você está preso. diz o Capitão, com um par de algemas em punho.
A cena é assistida com enorme pesar tanto pelo homem do amanhã quanto pela agente da SHIELD. Ele nunca pensou que a gravidade da situação pudesse chegar a esse ponto. E ela não poderia acreditar que Steve Rogers encontraria coragem para confrontar dessa forma tudo o que ele defendeu em sua vida.
Eu conheço meus direitos. responde Bush, enquanto tem as mãos atadas.
Uma lágrima escorre pelo rosto do presidente, mas ele se esforça para não demonstrar grande alteração emocional.
Eu só quero fazer uma ligação. prossegue Uma ligação para o meu pai.

Dias depois:
Foi assim que tudo terminou. relata o Capitão América.
Mais uma vez, ele se encontra ao lado de seu amigo Sam Wilson. Em um passado não tão distante, eles foram parceiros na defesa do sonho americano. Hoje, o Falcão se encontra em estado de coma e o Steve Rogers tem o coração partido.
A cerimônia de posse de Lucius Fox foi adiantada para o início da próxima semana. prossegue o capitão para o colega inconsciente Devido às circunstâncias, o general Ryker foi forçado a suspender a invasão a Wakanda. Destino e Ra's Al Ghul permanecem desaparecidos.
Por enquanto! adentrando o quarto, Sharon Carter se manifesta de forma inesperada, como de costume. Ela caminha até o Steve Rogers e lhe oferece um abraço Nós vamos encontrá-los.
Disso, eu não tenho dúvidas, Sharon.

Epílogo:
O papa está morto. atesta o médico.
O pesar é visível no semblante de todos os sacerdotes que circundam o leito de morte do santo padre. A luta contra a doença foi ferrenha nos últimos anos, mas há limites que nem mesmo a fé inabalável pode suplantar.
Aos poucos, as pessoas vão deixando o quarto, meio sem saber qual rumo seguir. Quando o corpo é levado pelos enfermeiros, só resta aos líderes da igreja católica se reunirem para a eleição de um novo pontífice e o nome de Joseph Ratzinger já desponta como o favorito.
O último cardeal a deixar o recinto se preocupa em recolher a taça de metal que estava à cabeceira da cama. Com todo o cuidado, ele a leva até a fornalha do Vaticano e não sem antes se certificar de que não está sendo visto a joga para a incineração.
Se, como dizem, o fogo purifica todas as máculas, isso deve ser o bastante para destruir todos os traços do veneno. Não fosse essa exótica substância extraída das peçonhas de uma aranha africana, João Paulo II ainda estaria enfrentando a agonia que o acompanhou nos últimos anos.
Vida longa ao novo papa! diz o cardeal, em voz baixa, como que para si mesmo Vida longa ao novo Reich.
Na próxima edição: O papa nazista.
:: Notas do Autor
O título este capítulo, assim como o dos anteriores, faz referência a nomes de músicas. "Back In the USA" é um clássico dos anos 50, gravado por Chuck Berry.
"Rocking in the Free World" e "Born in the USA" são duas músicas de protesto de Bruce Springsteen. A primeira fala sobre a política americana e a segunda trata sobre os sentimentos de um veterano do Vietnã.
Já "Anarchy in the USA" é a versão americana do Megadeth para o clássico punk "Anarchy in the UK", dos Sex Pistols.
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