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Por
Alexandre Mandarino
É Só Usar a Cabeça
Jasper Sitwell analisou rapidamente a situação e então disse, com sua fria calma habitual:
— O plano é o seguinte. Gardner, voe até lá e ajude Sam imediatamente. Nós vamos logo atrás.
Gardner alçou vôo e em poucos segundos cruzou os cinco quilômetros que o separavam de Sam Wilson e do pavoroso grupo de dezesseis Sentinelas. Sob a escuridão noturna do deserto, apenas seus vultos e pequenas luzes podiam ser vistos, como o visor de um despertador no quarto de um insone. Falcão se desviava como podia de três Sentinelas, até que algo passou rapidamente através das cabeças dos robôs. O trio de crânios metálicos explodiu, enquanto uma broca gigante de energia amarela pendia do anel de Guy Gardner.
— Isso vai ser mole. — disse o ex-Lanterna Verde.
— Vai nada. — respondeu Falcão — Você derrubou três dos monstrengos, mas os outros treze acabam de assimilar esta falha. isso não dará certo com eles.
— O quê?
— Isso mesmo. Os Sentinelas aprendem com seus erros. Temos que destruí-los de formas sempre diferentes.
Como que para testar este fato, Gardner criou uma nova broca amarela de energia e arremessou-a na direção da cabeça de metal de um dos Sentinelas. Ela rapidamente se abriu, rearranjando suas peças. A broca passou através da cabeça sem deixar danos.
— Isso... é impossível. Robôs desse tamanho não podem ser rápidos.
— Não são robôs normais, Gardner. São Sentinelas.
— Uuuh, que medo.
Cinco quilômetros atrás, Paladino falava:
— Devia ter feito o Gardner levar um de nós, Sitwell. O Cyborg, por exemplo, seria de grande valia na luta contra os Sentinelas.
— Isso iria atrasar Gardner e queria que ele chegasse o mais rapidamente possível para auxiliar Sam. Mas estaremos lá logo, logo. Para dentro da nave, todo mundo. Não há mais sentido em nos escondermos, não com treze robôs gigantes fazendo a maior barulheira em frente à base da IMA (*). Vamos voar até lá e tentar usar os lasers da nave contra estas tralhas de metal.
Em menos de um minuto, a nave do CLASH pairava sobre a cena da luta. Um feixe duplo de raios laser arrancou a cabeça e um dos braços de um dos Sentinelas.
— Faltam doze! — disse Sitwell, que pilotava a nave com a ajuda de Paladino. Katana, Cyborg e Hal Chandler observavam a luta pelo visor.
— Jasper, deixe-me descer. Quero ver se minha espada pode cortar estas aberrações. — disse Katana.
— Não seja ridícula, Katana! — respondeu Jasper, para irritação da samurai — Nenhum de nós pode fazer nada contra os robôs no solo, com exceção de um: Cyborg. Stone, você desce agora mesmo e ajuda Sam e Gardner.
— Beleza. — respondeu Cyborg, que mal havia acabado de falar, já havia aberto uma das escotilhas e pulado da nave em pleno vôo.
— Ele... se matou. — disse o envelhecido Hal Chandler, em choque.
— Nada disso, coroa! — respondeu Paladino — Se o que eu ouvi sobre o Cyborg for verdade, isso vai ser demais. Vamos ver.
Cyborg esticou seu corpo e, estendendo os braços à frente, caiu em cheio sobre um dos Sentinelas.
— Aviso de sistema! Elemento não-identificado recém-chegado ao local da batalha. Análise revela enxertos eletro-mecânicos em seu corpo. Possível a...
A cabeça do Sentinela foi arrancada e reduzida a pedaços pelas mãos de Cyborg, que havia se posicionado no ombro do robô. Enquanto este caía, Victor Stone distendeu os braços e, esticando-os, alcançou outro Sentinela próximo. Do alto, Gardner exclamou:
— Caceta! É Dinamite, o Bionicão! "Eh, eh, eeei, Falcão Azul! É o Bionicããão!". Ei, Falcão! Não quer tentar um novo uniforme azul? Você e o Dinamite ali dariam uma bela dupla! Além do mais, os dois são...
SPANGH!
O tapa de uma gigantesca mão de metal derrubou Gardner dos céus e ele caiu a vários metros de distância, nas areias do deserto.
— Ah, essa não. Robô desgraçado, tu vai ver só. Pelo espírito indômito de Butch Cassidy! Coma chumbo, amarelo!!
Uma gigantesca Smith & Wesson amarela cuspiu balas de energia, que destroçaram o corpo de outro Sentinela. Ao mesmo tempo, Cyborg enrolava suas pernas e braços biônicos e extensíveis ao redor de um dos gigantes, que veio ao chão com um estrondo.
— Faltam nove. — disse Sitwell, dentro da nave — Já assimilaram nossos lasers. Hora de tentar outra coisa. Hummm... isso pode ser interessante.
Jasper apertou um novo botão do painel e os canhões laser foram substituídos por outro tipo de arma.
— Deixa eu atirar, quatro-olhos! Se for o que eu tô achando que é, isso vai ser demais. — disse Paladino.
O mercenário mirou e, quando atirou, versões dos raios repulsores do Homem de Ferro saíram pelos canhões. Dois dos Sentinelas foram varridos e desmembrados pelos jatos.
— Uau! E era! Sempre quis me sentir um herói de primeira linha, sabia? Mas já é bom poder me sentir um de segunda.
Faltam sete! — gritou Falcão pelo radiocomunicador, enquanto era perseguido por um dos robôs, em pleno vôo — Jasper, tenho uma idéia. Não me siga com a nave! Asa Vermelha, fique aqui e tenha cuidado!
Enquanto o animal arrancava os fios e pedaços dos Sentinelas já caídos, garantindo que não voltassem a funcionar, Sam Wilson começou a subir. E subir. E subir. Ligou o respiradouro e a proteção térmica de seu capacete e uniforme. E subia. Dez metros atrás dele, o Sentinela continuava sua perseguição.
"É agora... poucos metros para sair da atmosfera." — pensou Wilson — "Três, dois, um... agora!"
Fez uma espantosa guinada de 180 graus, passando a poucos metros do gigantesco rosto do robô. Este, surpreso, demorou dois segundos para tentar realizar a mesma manobra, mas já era tarde. Havia saído da atmosfera e penetrado no vácuo. Antes que se voltasse em direção ao ponto de partida, Sam Wilson arremessou dois de seus ganchos, avariando os jatos plantares do Sentinela. Com um esboço do que poderia ser uma expressão de supresa, o robô se afastou rapidamente para longe, na ausência de gravidade.
— Sam, isso foi brilhante! — gritou Paladino, do rádio da nave.
— Não sei, não... — disse Jasper — Diga isso para os habitantes do local onde esse robô gigante vai cair dos céus.
Enquanto isso, três dos robôs atacavam Guy Gardner, que tentava em vão revidar com brocas e ferramentas diversas de energia amarela. Foi quando ouviu a voz de Falcão pelo rádio:
— Gardner, já disse que eles aprendem com seus erros. Tente fazer o mesmo ao menos uma vez na vida e aprenda: o que você já fez não voltará a dar certo.
— Ah, é, papagaio de Capitão América? Então saca só essa!
Das areias do deserto, emergiram mais três Sentinelas, mas desta vez eram todos da cor amarela.
— Briga de robôs! Bwah-hah-hah-hah!!! — gargalhava Gardner, babando — Mas tá sem graça. Vou dar uma incrementada.
Enquanto os três Sentinelas enfrentavam os três construtos de energia amarela, Gardner fez surgir uma versão amarela do mutante Cable. Imediatamente, os Sentinelas entraram em frenesi:
— Mutante!! Nova entidade se insere nos dados visuais do ser conhecido como Cable.
Um dos robôs esmagou o construto com os pés, deixando um rastro de sangue e vísceras amarelas pelas areias do deserto.
— Gardner, de que isso adiantou? — berrou Jasper pelo rádio.
— De nada, mas sempre quis ver essa cena, quá, quá!!
Enquanto os três Sentinelas criados por Gardner faziam em pedaços os três robôs verdadeiros, Cyborg enfrentava um dos outros três Sentinelas reais remanescentes. Os outros dois robôs se aproximavam de Asa Vermelha, que arrancava com o bico e as garras as entranhas eletrônicas de uma das máquinas já derrubadas. Gardner, entretido com a luta entre os robôs, não havia observado isso. Falcão, ainda longe, gritou pelo rádio:
— Jasper! Asa não terá chance contra o ataque maciço de dois Sentinelas! Não vou chegar lá a tempo e Cyborg está ocupado! Ajude-o!
Antes que qualquer um pudesse agir, Katana saltou da nave, em uma queda de quase trinta metros. Em pleno ar, ela se contorceu e trincou a lâmina de sua espada nas costas de um dos robôs. A lâmina forjada há séculos cortou de leve o metal do Sentinela e aparou a queda da samurai, que pousou sob as areias sem muita violência. Asa Vermelha pousou em seu ombro direito, enquanto ela gritava:
— Venham, robôs malditos! Cansei de vocês!
Neste exato momento, Cyborg conseguiu jogar uma bomba de PEM (**) pela boca do Sentinela que enfrentava. O robô imediatamente entrou em pane e caiu sobre um dos dois Sentinelas que ameaçavam Katana e Asa Vermelha, partindo-o ao meio. O Sentinela remanescente olhou em volta e disse
— Análise da situação: ridícula.
Invertendo seus jatos, o robô voltou a imergir na areia do deserto, sumindo de vista. Na nave, Jasper Sitwell enxugava discretamente o suor de sua testa.
— Essa menina é maluca!
— Jasper, esse é o CLASH. — disse Paladino — Todos nós somos malucos.
Jasper olhou para ele intrigado e voltou a falar pelo rádio:
— Cyborg, sua bomba de PEM poderia ter desativado a nossa nave. Da próxima vez, pense em algo menos arriscado para seus companheiros.
— Qualé, CDF? — a voz de Gardner se fez ouvir — A destruição de naves já é uma tradição do CLASH. Não adianta lutar contra isso, he he.
Bufando, Jasper pousou a nave no solo do deserto, a menos de duzentos metros da montanha. Todos se reuniram, com exceção de Cyborg, que fuçava as peças dos Sentinelas caídos. O líder de campo disse:
— Bom, desculpem minha rigidez. Vocês se saíram muito bem. Agora precisamos entrar na montanha. Como certamente já sabem da nossa presença, estou em dúvidas se a esta altura um ataque direto não seria mais eficaz...
A voz de Jasper chegava abafada até o módulo auditivo do Sentinela que havia fugido, sob as dunas do deserto australiano. O robô colocou seus sensores para funcionar.
< Inimigo loiro de óculos parece ser elo mais fraco. Prosseguindo análise. Não. O mais velho. Não carrega sequer armamentos. Confirmado. Será ele. >
Em fração de segundos, o Sentinela emergiu do subsolo e, em pleno vôo, agarrou Hal Chandler, partindo imediatamente para o topo da montanha, onde uma porta metálica escondida na rocha se abriu, dando passagem ao robô. Guy Gardner e Falcão tentaram seguí-lo, mas quando chegaram ao local, a porta havia desaparecido sem deixar vestígios.
— Eu sabia! Sabia que ia dar merda trazer esse velhinho com a gente! — berrava Gardner.
— Espere, Gardner. — disse Jasper — Talvez isso possa ser útil para nós.
No interior da montanha, o Sentinela remanescente foi recebido por um pelotão de agentes com roupas amarelas e capacetes: a IMA.
— Revistem o prisioneiro.
— Já fizemos isso, senhor. Ele não está armado. Traja roupas comuns. Não há nada que possa ser considerado perigoso. Além de uma carteira com dinheiro e documentos, só encontramos isso. — o agente mostrava óculos feitos de papelão e celofane, com lentes nas cores verde e vermelha.
— Ele quer ver a morte bem de perto, Bwah-hah-hah-hah-hah!!! — gargalharam os agentes — Deixem essa porcaria com ele. Agente 24, leve o vovô para uma das celas.
— Útil? Como assim, CDF? — perguntou Gardner.
— A maioria de vocês não sabe, mas existiu um grupo chamado Os Vingadores nos anos 50, antes dos atuais heróis que utilizam este nome.
— Ahn? Eu fui dos Vingadores e nunca ouvi falar disso. — disse Falcão.
— Não é necessariamente um segredo; apenas um grupo que foi pouco falado na época e perdeu sua fama com o passar dos anos. — continuou Jasper — Talvez conheçam de nome o líder deles: um certo agente secreto chamado Jimmy Woo.
— Como é que é? O Woo?? — Paladino ficou intrigado — Líder de um grupo de Vingadores? Nos anos 50??
— Impossível. — disse Katana — James Woo tem no máximo a minha idade.
— Bem, não posso falar sobre isso, já que é um segredo pessoal de Woo e... outras pessoas. Mas na verdade Jimmy Woo está na ativa desde os anos 50, quando era agente do FBI. Nesta época, sim, ele tinha a sua idade, Katana. Faça as contas. Nem mesmo eu sei ao certo.
— Epa. Quer dizer que o japa tem a idade do meu avô? — disse Gardner.
— Nem sabia que era possível alguém como você ter um avô, Gardner, mas é mais ou menos isso. Bem, não importa. O que quero dizer é que Hal Chandler era um dos membros ativos desse grupo. Por isso ele está nessa missão: como um favor para Jimmy Woo, seu antigo líder.
— E quem é Hal Chandler? Quem eram esses Vingadores? — perguntou Falcão.
— O grupo era formado por Robô Humano, Homem-Gorila, Jann das Selvas, Marvel Boy, Namora, Vênus e Homem-3D.
— Não, peraí... "Namora"? Namora?? — disse Paladino.
— Sempre achei que aquela sunguinha não enganava ninguém. — completou Gardner.
— Não, não era Namor, seus idiotas. Era uma prima dele, pelo que sei.
— Mas gostei do Homem-Gorila. — disse Gardner — Querem ver a cueca que estou usando? — E começou a abaixar um pouco as calças.
— Ahn, Gardner, não acho que... — tentou Jasper.
— Vejam! Vários gorilas Grodd! — berrou, orgulhoso de sua samba-canção repleta de desenhos de pequenos símios.
Falcão levou as mãos ao rosto. Katana disse:
— Gardner, isso vai muito além de todos os conceitos da palavra "ridículo".
— Ridícula é você, ô japa. Eu não acredito que cês não tão sabendo da Groddmania! O gorila Grodd é a maior figura pop do ocidente! Por isso eu gostei logo de cara desse tal Homem-Gorila. Será que ele é primo do Grodd? Preciso perguntar isso pro Woo quando a gente voltar pro porta-aviões...
— Grodd... mania?? — disse Cyborg, coçando a cabeça em descrença. (***)
Hal Chandler sentou-se no banco de metal de sua cela e esperou os agentes da IMA saírem. Quando se viu sozinho no minúsculo ambiente, sussurrou:
— É agora, Chuck. Vamos ver se ainda damos para o gasto, querido irmão.
Hal retirou os óculos de papelão do bolso e colocou-os no rosto. Nas duas lentes surgiu a figura de seu falecido irmão Chuck Chandler. Hal, sentado na cela, entrou em um estado de transe e permaneceu imóvel. No canto da cela, uma figura tomava forma.
— Me diga pelo menos que o velhote, o tal Chandler, é o Homem-Gorila. — disse Gardner.
— Não, Hal Chandler, seus ignorantes, é o Homem-3D! — ralhou Sitwell.
— Ah, sim. Claro. O Homem-3D. — disse Paladino — E ele está lá dentro agora, com os agentes da IMA. O que ele faz?
— Hal Chandler coloca um par de óculos 3D e projeta a imagem física de um ser gestáltico, o referido Homem-3D. Esta imagem é uma espécie de fusão da mente de Hal com a de seu falecido irmão Chuck, que ficou registrada nas lentes dos óculos 3D graças a uma explosão radioativa. A mente dominante normalmente é a de Chuck, mas Hal permanece de forma inconsciente no cérebro do novo ser que se forma e lembra de tudo o que acontece. Como Chuck foi morto durante a explosão de uma nave skrull, ele adquiriu alguns poderes. Poderes esses que foram transferidos para a imagem nos óculos e, através delas, para o ser gestáltico que é o Homem-3D.
— Resumindo: ele coloca os óculos e aparece um novo cara. Mas o que acontece com o Hal Chandler real? — perguntou Cyborg.
— Fica em estado de transe, imóvel.
— Isso quer dizer que ele precisa agir rápido contra a IMA e abrir alguma entrada pra gente ou vão descobrir o cara lá, paradão.
— Sim. Além disso, o Homem-3D só permanece ativo por um período máximo de três horas contínuas. — completou Jasper.
— Isso fica cada vez pior. — disse Falcão — E o que esse "ser gestáltico" ou Homem-3D é capaz de fazer?
— Vejamos... ele tem a força de dois homens comuns.
Um silêncio constrangedor tomou todo o grupo.
— Finalmente me chama após tantos anos, Hal. A última vez foi quando?... já faz alguns anos. Lembro que foi para enfrentar aquele monstro verde...
— O Hulk, sim. — disse a voz de Hal, em um diálogo travado na mente do Homem-3D.
— E agora você está numa cela. Podemos sair daqui facilmente, mas seu corpo ficará aqui, em transe. Isso é perigoso.
— É nossa única chance, Chuck. Temos que tentar.
— Grakahhahahah! Bwwwwaahhahh-hihihahaha!! Haahhhhhhahahahaha!! — Gardner rolava no chão de tanto rir — "A força de dois homens comuns." Eu não aguento! Eu vou morrer-rer-heh-hahhahahahahahha!!!
— Pode rir, Gardner, mas o Homem-3D é nossa carta na manga agora.
— Ahahahahahahahahahah!! Eu quero uma camisa desses Vingadores dos anos 50! E o... aha-hah-hah!!... o Woo era o líder desses caras!! Bwah-hah-hah-hah!!! Eles são ainda melhores que o Grodd!
— Jasper, detesto dizer isso — falou Cyborg -, mas Gardner tem um pouco de razão. Ele não tem mais nenhuma habilidade?
— Bem, se me recordo direito, como seus poderes vêm da explosão de uma nave skrull, ele é capaz de sentir a presença de skrulls em um raio de dez quilômetros, e identificá-los mesmo que em outras formas.
— Hummm... faz sentido. — disse Cyborg.
— Faz? — perguntou Paladino.
— Além disso, ele é um excelente lutador, muito ágil e pode correr a uma velocidade de até 120 km/h.
Gardner se contorce em gargalhadas.
— Guarda! Guarda! Estou passando mal.
— Fica quieto aí dentro, seu idiota.
— Mas é sério. Acho que vou vomitar...
— Ah, não, acabei de varrer essa cela. Se vomitar aí eu vou...
— Buuurgh! — o Homem-3D imitou o barulho de vômito.
— Eu avisei! — o agente da IMA girou a tranca e entrou na cela, mas encontrou Hal Chandler sentado, babando, em transe.
— Putz... o cara tá mal mesmo. Melhor eu chamar o...
Um chute no rosto e o agente desmaiou. O Homem-3D, que havia ficado apoiado no teto, entre as paredes da exígua cela, carregou o corpo de Hal para fora, não sem antes retirar de um dos bolsos o radiocomunicador do CLASH. Acomodou-o atrás de uma pilha de engradados de metal, fora da vista dos agentes que passavam ao longe. Depois disso, aproximou-se do grupo de agentes mais próximos. Em menos de quinze segundos de socos e pontapés, cinco agentes estavam inconscientes. O Homem-3D continuou seu avanço às escondidas pela base.
— Quem são esses caras de balde amarelo na cabeça? — perguntou Chuck mentalmente para o irmão.
— São de um grupo tecno-terrorista chamado IMA e...
— E ainda dizem que os anos 50 é que eram ridículos.
Finalmente, após mais alguns minutos, o Homem-3D chegou a uma porta onde estava escrito "sala de controle". Ao lado dela, estava uma outra onde se lia "centro de operações". Ouviu por cinco minutos as vozes que vinham lá de dentro. Depois disso, entrou na sala de controle e imobilizou pelas costas os dois agentes que lá estavam, que nem tiveram tempo de ver quem os havia abatido. Examinou os mapas e comandos por alguns momentos e, então, apertou alguns botões. Ligou o radiocomunicador do CLASH e disse:
— Jasper, uma porta no lado norte da montanha acaba de ser aberta por mim. Pelos mapas que vejo aqui, passarão por um túnel de cerca de 150 metros e então sairrão no mesmo salão onde estou agora, ao lado da sala de controle. Aqui ao lado, está o centro de operações. Pelo que ouvi, um tal Modok pretende criar algo chamado "Hiper-Modok". Vocês devem saber o que isso significa. Tenham cuidado. O túnel não tem guardas e desliguei todas as câmeras, mas o salão está apinhado de gente. Ainda estou escondido, mas logo irão descobrir o que fiz. Venham logo.
Todos os integrantes do CLASH estavam de bocas abertas.
— Viram? Jimmy Woo não trabalha com amadores. Quer dizer, com exceção do CLASH. — vingou-se Sitwell, com um pequeno sorriso no canto da boca — Vamos, podem descobrir o que houve a qualquer momento!
Encontraram a entrada norte e seguiram rapidamente pelo túnel. Perto da entrada do salão principal, Jasper disse:
— OK, vamos tentar fazer isso rapidamente. As ordens são: imobilizem de qualquer maneira os agentes da IMA presentes. Mas cuidado: talvez sejam dezenas. Gardner, você e Cyborg vão para a sala de controle e ajudam o Homem-3D a invadir a sala ao lado, o centro de operações. Destruam tudo e todos que estiverem lá dentro. Mas, cuidado: se Modok realmente estiver por aqui, ele pode ser extremamente perigoso. Falcão, assim que entrarmos no salão, você e Asa Vermelha passam a nos dar cobertura a partir do teto. Imobilizem quem se aproximar do nosso grupo e tentem abrir caminho para a passagem de Gardner e companhia. Eu, Katana e Paladino vamos enfrentar os grupos de agentes. Precisamos desviar a atenção para nós, deixando o caminho livre para que o grupo de Gardner aja. Vamos começar em 4... 3... 2... 1... agora!
Jasper Sitwell e Paladino entraram atirando no salão. Dez agentes da IMA caíram em questão de segundos. Katana cortou três ao meio com sua espada, que parecia brilhar de satisfação. A confusão estava instaurada. Do alto, Falcão abatia agentes com vôos rasantes e ataques com seus ganchos retráteis. Enquanto isso, Gardner e Cyborg corriam ao encontro do Homem-3D, que podia ser visto a cerca de cem metros de distância da entrada da salão, ao lado de uma outra porta.
— Fala, tu é o Homem-3D? — perguntou Gardner, ao chegar ao local — Diz aí: o Homem-Gorila é parente do Grodd?
— Ahn?
— Esqueça o Gardner. — falou Cyborg — Vamos invadir e arrasar esse centro de operações.
Victor Stone arrancou com as mãos a grossa porta de metal. Do outro lado, centenas de agentes da IMA olhavam para eles, surpresos. Sobre eles, voando em uma cadeira eletrônica, um ser monstruoso e com uma enorme cabeça fitava o grupo.
— Matem todos eles. — disse Modok, calmamente.
O Homem-3D distribuía socos e chutes a todos que se aproximavam. Cyborg se engalfinhou numa luta ferrenha contra dezenas de agentes ao mesmo tempo, usando seus braços e pernas extensíveis. Guy Gardner flutuou até o teto e encarou Modok.
— Diz aí, cabeção! Tu é feio pra dedéu, hein? Mas me fala, quando tu nasceu com essa cabeça toda, coitada da tua mãe. Foi parto normal?
— Idiota. — um raio mental disparado por Modok arremessou Gardner com extrema violência para o outro lado da enorme sala. Cyborg gritou:
— Guy! Não é hora de dar moleza, cara! Ajuda aqui também!
— Pô, eu quero dar um pau nesse cabeçudo escroto! Mas já sei... isso funcionou antes, então vai de novo!
Imediatamente, centenas de construtos amarelos com o uniforme da IMA surgiram no centro de operações e no salão ao lado, só que com baldes enormes na cabeça.
— Taí, Modok, seu cão chupando manga na lama do lado do avesso! Criei uma nova IMA que é a sua cara.
A IMA cabeçuda gerada pelo anel amarelo enfrentava os verdadeiros agentes da organização. Em quinze minutos, os construtos haviam derrubado praticamente toda a resistência. Os grupos remanescentes eram enfrentados por Sitwell, Katana, Falcão e Homem-3D, enquanto Cyborg examinava os computadores do centro de operações. No teto, Gardner enfrentava Modok.
— Sabe a piada do bebê cabeçudo?
— Cale-se, seu cretino. Você tem inveja da minha mente superior.
— Cara, se é pra ter uma cabeça desse tamanho, eu prefiro ser burrão mesmo!
Rajadas de energia amarela e feixes de raios mentais disputavam espaço no centro de operações. Modok berrou:
— Não adianta! Nada que façam adiantará de nada agora. O processo de criação do Hiper-Modok já está concluído! Mesmo que o negro idiota consiga hackear os computadores, conseguirá no máximo informações sobre o processo como um todo. O Hiper-Modok já está pronto!
— Ouviu, negro idio... digo, Cyborg? Deixa o computador de lado! — gritou Gardner — Vai lá no salão, junta o pessoal e detona essa porra de Hiper-Modok, seja lá o que for!
— Você é uma anomalia ainda mais extensa do que eu imaginava. — disse Modok — O Hiper-Modok obviamente não está aqui dentro.
Cyborg, após terminar de checar os dados do computador, abriu a boca em espanto.
— Meu Deus... Sitwell!! — e correu para fora do centro de operações.
No salão principal, a luta já estava terminada. Os construtos amarelos começavam a se evaporar, em meio a incontáveis corpos de agentes da IMA inconscientes ou mortos — estes, por golpes de espada. O Homem-3D certificou-se de que o corpo de Hal Chandler estava intacto. Cyborg aproximou-se correndo de Jasper Sitwell.
— Sitwell! É... é inacreditável! O Hiper-Modok! É uma... ele está lá fora, no deserto. Melhor vocês verem por si próprios.
— 3D, fique aqui e tome conta do corpo de Hal, quer dizer, do seu corpo. Katana, vá ver o que Gardner está fazendo. Os outros me sigam lá para fora.
Katana passou correndo pelo Homem-3D. Ela parecia preocupada com algo, mas não com Gardner ou a missão. Assim que chegou no centro de operações, viu uma cena incrível. Gardner havia prendido Modok em tiras elásticas de energia amarela, em uma gigantesca atiradeira. O cabeçudo líder da IMA parecia zonzo.
— E, pra fechar com chave de ouro, sua cabeça ambulante, você vai presenciar sua própria transformação não em Hiper-Modok, mas... no primeiro e único... bodok!
As tiras se distenderam e arremessaram Modok a uma velocidade fantástica de encontro a uma parede de metal. O monstro atravessou as lâminas de ferro e caiu inconsciente e ferido após passar por cinco salas do complexo.
— Gardner! — gritou Katana — Vamos ajudar lá fora!
Gardner passou voando pela samurai, mas chocou-se em algo sólido.
— Indivíduo reconhecido. Processando. Guy Gardner.
Era o Sentinela remanescente. Gardner pôs-se em pé e preparou-se para atacar o robô. Mas levou as mãos à cabeça e começou a gritar de dor. De seu radiocomunicador craniano saía uma nuvem de fumaça preta. O ex-Lanterna Verde tombou no chão, sem sentidos.
— Você. Samurai.
O Sentinela avançou na direção de Katana, que levantou sua espada.
— Meu... Deus... — disse Jasper Sitwell.
A sombra do ser conhecido como Hiper-Modok cobria todo o céu noturno do deserto australiano. Sua cabeça parecia ter dezenas de quilômetros de extensão. Cyborg interrompeu o silêncio:
— É... é o que eu estava tentando dizer. É uma espécie de holograma sólido, construído com pouquíssimas partes mecânicas. Uma espécie de cópia da mente de Modok foi inserida em sua programação. Em suma, ele é um puta de um Modok, programado para tomar o controle das mentes de todas as pessoas do planeta!
— Todas as...? — disse Paladino — E a gente?
— Pelo que li, ele começará a exercer esse controle em cinco minutos. É o tempo que temos para derrotá-lo antes que ele nos controle, como ao resto da humanidade.
— Tem certeza, Cyborg? — perguntou Jasper. O ex-Titã confirmou com a cabeça.
— Jasper para o departamento CLASH. Chamando Jimmy Woo. Jasper para...
— Woo na escuta, Sitwell. O que foi?
— Woo, não dá tempo de explicar, mas escute com atenção. Se não tiver notícias minhas em quatro minutos e meio, quero que — veja bem — ordene um ataque em massa a este local. Nuclear, qualquer coisa. Mas tire esta área do mapa.
— Jasper, o que...
— Não há tempo, Woo. Quatro minutos e vinte segundos. Se eu não voltar a falar, destrua completamente este local. Arrase uma área de quarenta quilômetros quadrados, com a montanha-base como epicentro. Sitwell desligando.
No porta-aviões, Woo ligou para Nick Fury. Em dez segundos, Fury ligou para o presidente dos Estados Unidos. Quase imediatamente, o presidente entrou em contato com o NORAD.
A cabeça do Hiper-Modok cobria vinte quilômetros do deserto. Uma voz gravíssima e ensurdecedora se fez ouvir:
— Eu... eu... vivo...
Jasper, Paladino e Falcão olharam para a pantagruélica monstruosidade, sem saber como agir. Cyborg voltou correndo para o interior da montanha.
— Homem-3D! — gritou Victor Stone — Você ouviu?
— Sim, eu... ouvi as palavras de Jasper pelo rádio.
— Tive uma idéia. Onde está Gardner?
— No centro de operações. Katana foi chamá-lo e já deve...
— Vamos até lá!
Mal entraram no centro de operações, Cyborg e 3D viram Katana lutar ferozmente com sua espada, nas mãos de um Sentinela.
— Droga, Gardner está inconsciente! — disse o Homem-3D.
— Sim, mas o Sentinela está funcionando! Katana, não o ataque! Desça daí, se puder!
A samurai saltou para o chão e todos saíram da sala. Cyborg carregou Gardner e o Homem-3D parou por um minuto para recolher o corpo de Hal Chandler do canto onde estava. Correram para fora, seguidos pelo Sentinela. Assim que chegaram ao deserto, o robô parou, como se processasse alguma informação nova e terrível.
— Identificando nova entidade de enormes proporções. Resultado: mutação oriunda de processos genético-mnemônicos colhidos a partir do ser conhecido como Modok. Propósito: atacar a humanidade. — a voz do Sentinela soava trêmula, como que tomada por um medo artificial. E então se elevou em um grito — Mutante!! Ativar todas as unidades do perímetro. Alvo: construto de cabeça gigantesca.
No mesmo instante, 148 Sentinelas saíram do subsolo da base da IMA, destruindo completamente a montanha. A avalanche que se seguiu atingiu os membros do CLASH, que foram completamente soterrados. Uma luta horrenda e monstruosa se encenou no deserto australiano. Feixes de hiper-raio mental destruíam dúzias de robôs de uma só vez, enquanto outros Sentinelas arrancavam pedaços de metal e fios do corpo gigantesco do Hiper-Modok. Dois minutos depois, tudo estava terminado. Uma inacreditável montanha de sucata se estendia por quilômetros de distância. Os Sentinelas e o Hiper-Modok haviam se destruído.
Alguns segundos se passaram e o deserto foi tomado pelo silêncio. Vinda do alto, Asa Vermelha, que havia fugido da avalanche, pousou sob os escombros e as rochas que antes haviam sido a base-montanha da IMA. A ave emitiu um ruído estridente, como se sondasse a presença de seu dono. Então, uma mão ensangüentada abriu caminho por entre as pedras. Em seguida, a cabeça de Jasper Sitwell surgiu. O agente tossiu, tomou o radiocomunicador e disse, na frequência especial:
— Woo... é Jasper... cancele tudo. Missão cumpri...
E então desmaiou. Do outro lado da linha, Jimmy Woo emitiu um suspiro de alívio. O presidente, que estava no telão, ligou imediatamente para o NORAD. O mundo estava salvo. Mas às custas de quantas vidas?
Uma ave guinchava na madrugada do deserto australiano, observando um monte de rochas e o rosto pálido de Jasper Sitwell.
:: Notas do Autor
(*) Idéias Mecânicas Avançadas. 
(**) Pulso EletroMagnético.
(***) Se você também não sabia dos novos investimentos do gorila Grodd, leia Flash # 11 e # 12 e descubra tudo sobre a Groddmania.
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