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The Clash # 10

Por Alexandre Mandarino

Metendo a Mão na Argamassa

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Asa Vermelha sobrevoa os céus negros do deserto australiano, espiralando até pousar no solo arenoso. Ao seu lado, o agente Jasper Sitwell está inconsciente. A ave observa o monte de enormes rochas que soterram seu dono, Sam Wilson. Então, o falcão começa a sentir um tremor. Uma pedra cai do monte, rolando pelo deserto. E então mais outra. E outra. Uma mão metálica sai pela abertura. Em poucos segundos, Victor Stone provoca um pequeno desmoronamento, revelando uma clareira abafada e apertada entre as rochas. Em seu interior, os membros do Clash.

Cyborg treme e emite um gemido abafado. Além dele, o único herói consciente é o Homem-3D. Chandler é o primeiro a falar:

— ...unnf... Cyborg?... você está bem?...

— Acho que sim... não foi fácil fazer isso.

— O que você fez? Eu não entendi bem com a confusão toda... lembro do desmoronamento e de que tudo ficou escuro e abafado em um segundo.

— Eu estiquei meus braços e pernas retráteis ao redor do grupo, dando voltas até formar uma espécie de redoma metálica de proteção. Nem queira saber como tô me sentindo agora, cara.

Chuck Chandler olha em volta e diz:

— Todos inconscientes... meu irmão Hal, Falcão, Paladino e Katana, além de Gardner, que já havia caído antes mesmo do desmoronamento. Aliás, o que houve com ele?

— Se entendi bem, alguma coisa a ver com o telecomunicador dele ter explodido.

— Estranho isso.

— É. — diz Cyborg, com voz sombria.

— Veja. — torna a falar o Homem-3D — Ali está Sitwell, também desmaiado. E o pássaro do Falcão. Cyborg, você tem tudo sob controle?

— Ahn? Acho que sim. Por quê?

— Porque... eu preciso ir.

Mal diz estas palavras, o corpo do Homem-3D parece sair e entrar de foco, como um filme projetado em um cinema vagabundo. Então, ele encolhe até parecer sumir nas lentes dos óculos de Hal Chandler, caído no chão. Quando isso acontece, Hal parece suspirar.

— Só me aparece maluco. — diz Cyborg — Bom, Asa Vermelha, espero que também simpatize com negros não-alados e metalizados. Vamos ter que esperar esse povo acordar. Enquanto isso, deixa eu ver se faço funcionar o comunicador do Sitwell.

Cyborg se aproxima e toma o aparelho do pulso de Jasper Sitwell, que continua desmaiado no chão.

— Alô?... Woo? Jimmy Woo? Tá ouvindo aí, cara?

Uma voz ansiosa se projeta do aparelho.

— Aqui é Jimmy Woo! Quem está falando? Stone? É você?

— Sou eu, cara.

— O que aconteceu aí? Essa foi perto demais. Acabou tudo?

— Bom... vamos colocar assim: a montanha da IMA veio abaixo. Acho que todos os agentes da IMA morreram esmagados. Os Sentinelas e o Hyper-Modok se destruíram mutuamente. Cara, só vi briga feia que nem aquela numa rinha de galo no Harlem.

— E o Clash?

— Tá tranqüilo, Woo. Relaxa. Eu tô esperando o pessoal acordar. Assim que isso acontecer, a gente vai pegar a nave e voltar pro porta-aviões. Sossega aí enquanto isso. Aliás, não sossega: tenta ver o que rolou com o telecomunicador do Gardner.

— O quê? O telec...

— Victor Stone desligando.

Três horas depois, quando os primeiros raios do sol já despontam no horizonte, a nave do Clash aterrissa no hangar do porta-aviões aéreo da SHIELD, pilotada por um pensativo Victor Stone. Minutos depois, Paladino, Katana, Falcão e Guy Gardner caminham lentamente até a enfermaria. Cyborg e Hal Chandler esperam em uma pequena saleta enquanto Jasper Sitwell e Jimmy Woo conversam a portas fechadas.

— Saco isso. Por que a gente não pode participar do papo? — diz Cyborg.

— Coisas da SHIELD. — afirma Hal Chandler — Eu conheço Jimmy Woo há vários anos e ele é ótimo sujeito. Confiaria minha vida a ele. Mas ele foi agente do FBI e sempre teve essas manias de coisas top secret.

— Ridículo. — resmunga Victor Stone.

— Ridículo!!!!! Um Modok de vários quilômetros de diâmetro?? Isso é a coisa mais estapafúrdia que eu já vi! — grita Jimmy Woo.

— Pois é... onde Modok estava com a cabeça? — diz Jasper Sitwell, sorrindo de soslaio.

Woo arregala os olhos.

— Alguma coisa está mesmo errada. Jasper Sitwell fez uma piada!

— Olha quem fala. Como se você fosse um verdadeiro comediante.

— Mas vocês agiram bem, Jasper. Essa foi por muito, muito pouco.

— Foi mesmo. Mas veja isso. — Sitwell retira uma caixa do bolso.

— Isso é o que eu tô pensando?

— É. Vários CDs e disquetes que eu consegui apanhar do quartel-general da IMA antes de tudo desabar.

— Vamos ver isso.

Minutos depois, Woo e Sitwell observam uma estranha animação na tela do computador. Um capacete amarelo se metamorfoseia em uma cabeça de polvo, com vários tentáculos. A cabeça, por sua vez, vira um punho fechado e este, finalmente, se transmuta em uma mão amarela fechada.

Woo fica de boca aberta.

— Sitwell... você entendeu isso? O capacete é da IMA, seguido pelos dois símbolos da HIDRA e, finalmente, por uma... Garra amarela.

Jasper olha pensativo para a tela. Será que Woo, no fim das contas, tem razão? As ações terroristas globais de organizações como IMA, Hidra e várias outras estariam sendo coordenadas pelo Garra Amarela?

Neste momento, a porta se abre repentinamente, revelando uma enorme figura loira, vestindo um terno ocre.

— Vocês estão errados. Desculpem a invasão, mas não há tempo a perder. Eu sou Brian Braddock. Quem está por trás de tudo isso que estão enfrentando é o cientista chinês conhecido como Mandarim.

No dia seguinte, na sala de reuniões do Clash, todos se sentam, olhando para Jimmy Woo, que está à frente de um telão. Nas poltronas, estão os membros do Clash: Paladino, Katana, Falcão, Guy Gardner, Cyborg e Hal Chandler, além do cientista-chefe do departamento Clash, Gaffer, e do recém-chegado Brian Braddock, que atrai os olhares suspeitos dos membros da equipe.

— Bom, vamos começar. — diz Woo — Não há tempo a perder. Antes de tudo, alguns esclarecimentos. O homem aqui presente é Brian Braddock, ex-agente de uma secretíssima organização de inteligência britânica. Ele, claro, também é o meta-humano conhecido como Capitão Bretanha.

— Ah, sei. — diz Guy Gardner — Aquela cópia escrota do Capitão América.

— Gardner, por favor. Chega. Chega.

— OK, vou ficar quieto, china. Mas se tu acha que precisa de um inglês boiola aqui na equipe, quando a gente podia ter o legítimo Capit...

— Chega, Gardner.

— Pfff.

— Como eu ia dizendo, antes do nosso cada vez mais tradicional momento Muppets, sempre a cargo do nosso Lanterna Amarela....

— Warrior. — corta Gardner.

— A palavra é "chega", Gardner. Emita mais um fonema qualquer e será expulso da reunião. Pela última vez, como eu ia dizendo, Jasper Sitwell e Brian Braddock reuniram informações importantes e esclarecedoras, embora conflitantes. Sitwell, por favor.

Jasper se levanta e coloca o CD recolhido na base da IMA em um dos computadores. Em instantes, as estranhas animações são projetadas diante dos olhos dos membros do Clash. Ao final, Woo volta a falar:

— Como viram, a mensagem é clara. O Garra Amarela. Mas — e aqui é que o problema começa — Braddock tem dados distintos. Brian, por favor.

Virando sua poltrona de forma que fique de frente para o resto do grupo, Brian Braddock conta em poucas palavras o que foi descoberto pelo seu amigo, o agente inglês McMurdo.

— McMurdo é experiente e um dos melhores homens da organização onde trabalhei. Ele tem motivos bastante fortes para acreditar que o Mandarim, antigo inimigo do Homem de Ferro e do Hulk, é o cabeça por trás das recentes ações terroristas mundiais.

— Então por que você tá aqui, ô Sean Connery, no lugar do cabeça de lata? — corta Gardner — Ou mesmo do Hulk. Aquele monstro imbecil com certeza é mais esperto que você. E tem um sotaque mais divertido.

— O Mandarim foi responsável pela transformação da minha irmã em uma coisa ridícula. E Sean Connery é escocês. Eu sou inglês.

— Tudo a mesma merda. — diz Gardner.

— Escuta aqui... — Braddock se levanta da cadeira.

— Se querem agir como mongolóides, continuem. Vamos. — diz Woo.

Braddock torna a se sentar.

— Você mencionou uma irmã, Braddock. — continua Jimmy Woo — Ela é quem eu penso que é? A ninja dos X-Men?

— Era... sim, Psylocke. Betsy Braddock. Ela morreu. Aliás, essa é outra questão da qual também pretendo cuidar no momento certo. Mas esse Mandarim foi quem a transformou em algo irreconhecível para mim, seu irmão.

Sitwell pigarreia e toma a palavra:

— Quando eu trabalhava como o elo de ligação entre a SHIELD e as então assim chamadas indústrias Stark, tive a oportunidade de ver Stark e seu guarda-costas, o Homem de Ferro, extremamente preocupados com as ações do Mandarim. Ele é um homem extremamente perigoso.

— Assim como o Garra Amarela. — intervém Woo — Mas o problema persiste: qual dois está por...

O intercomunicador pessoal de Woo toca, sobre uma mesa. Woo pede licença e atende.

Longos minutos se passam, enquanto Woo fala ao aparelho. Finalmente, ele desliga — mais tenso ainda do que antes.

— As coisas acabam de se complicar ainda mais. Quem me ligou foi sir Denis Nayland Smith, um veterano ex-agente do MI-6, o serviço secreto britânico.

Brian Braddock levanta as sobrancelhas:

— Nayland Smith? Claro, já ouvi falar dele. É uma figura proeminente nos círculos de inteligência. Agiu entre os anos 30 e 80, quando finalmente se aposentou e se afastou do MI-6. Mas o que ele tem a ver com essa história?

— De acordo com ele, um agente do MI-6 tem, assim como o seu amigo McMurdo, motivos de sobra para acreditar que quem está por trás de todas as ações recentes de terror é um chinês conhecido como Fu Manchu.

Fu Manchu?? — grita Gardner — Vocês tão de sacanagem, né? Esse cara não existe.

Woo olha bem nos olhos de Gardner:

— Existe. Eu o encontrei nos anos 50, na China. Foi uma experiência... terrível, da qual me envergonho. Eu era um agente novato na época.

— Mas... Fu Manchu? — pergunta Braddock — Smith tem certeza de que isso tem algo a ver com este caso?

— O agente do MI-6 ouviu a mesma palavra que seu amigo, o tal McMurdo, e que os agentes da SHIELD...

— A Argamassa? — completa Braddock — Que diabos é isso?

— Exato. A Argamassa. É o que precisamos descobrir. Sir Denis Smith pediu a Nick Fury que nós aceitássemos no Clash um homem de confiança dele. Um certo Shang Chi.

— Mas já estamos com oito agentes. — diz Sitwell — O quorum do Clash é de sete membros.

— Não, vocês estão com sete agentes, com a chegada do nosso amigo Braddock aqui. — interrompe Hal Chandler — Eu estou partindo hoje mesmo. Woo, meu velho, foi um prazer ajudá-lo, mas não vejo a hora de voltar para minha filha.

— Claro, Hal. Eu estou muito grato e satisfeito com a sua ajuda. Obrigado, velho amigo.

— Mas... — Sitwell torna a falar — Mesmo com a saída do Homem-3D e entrada do Capitão Bretanha, temos sete agentes.

— Sim. Shang Chi entrará como agente honorário. Uma espécie de contato entre a SHIELD e o MI-6. Pelo que estou imaginando, vamos precisar de toda a ajuda possível.

— Porra, peraí! — berra Guy Gardner — Mais um china? A gente já tem a Kill Bill aqui — e aponta para Katana -, além de, claro, você, Woo, que é obviamente outro china. Pra que um terceiro china? Sem falar que, olha só os outros membros dessa merda. Dois negões, um inglês de terno e um viado. Eu vou ser o único americano de verdade dessa porcaria?!

— Eu não sou viado! — protesta Paladino.

— E o que tem esse china de tão especial? A gente não precisa dele, Woo!

— Mas ele é filho de Fu Manchu!

O quê? Puta que pariu, vocês tão malucos??!

Escócia. Um castelo abandonado. Início da noite.

Em uma fila, dez homens e mulheres maltrapilhos aguardam, como vacas em um matadouro. Um chinês de olhos de serpente bate palmas. Soldados usando armas primitivas se aproximam e empurram o grupo para a frente, em direção a um imenso poço.

— Os mendigos. Joguem todos na Argamassa.

— Sim, mestre celestial. — responde um dos guardas.

Em cinco segundos, o grupo de dez homens e mulheres, recolhidos pelas ruas de Londres, está caindo em uma escuridão que parece não ter fim.

Então, ela chega.

A luz. Uma luz ofuscante, que imediatamente queima as retinas dos dois mendigos mais idosos. E, pouco depois, o pior de tudo: a imersão.

O grupo afunda em uma substãncia indefinida. Animal, vegetal e mineral. Pentagramas, cruzes, suásticas, imagens de Zeus e Apolo se misturam ao redor das mentes de toda a humanidade. A escrita dos funcionários de Kali, cuspida pelas taturanas imantadas de Alcebíades. A sinfonia jamais escrita pelos patos de Southampton, que coaxam no estilo texano. Morfeu, Morte, Desespero e um homem vestido de palhaço, que gargalha e arranca seus sisos superiores, oferecendo-os ao grupo. Os dentes são feitos de barro, mas recheados de algodão-doce. Adolescentes totalmente livres de germes brincam em gangorras de poliestireno, com imagens especulares de raios-x. De longe, muito longe, vêm os gritos. Está na Hora dos Homenzinhos! Hulk Esmaga Paus! Ai, Minha Santa Noite! No Dia Mais Claro, na Aquerupita Mais Densa. Tony Stark tira onda que é cientista espacial. Um homem vestido de papa João Paulo II e Quasímodo gargalha pelas torres de uma Notre Dame localizada ao lado da cabana de um homem amarelo chamado Etrigan. Kryptonita, kryptonita, sim, queremos kryptonita. Longas carreiras de kryptonita em pó, melecas verde-neon. Nossos corpos estão derretendo — aquilo ali no chão não é o seu baço? Eu adoro me balançar neste pneu, enquanto você zarpa pelos nove minutos e trinta e dois segundos de plena potência. Que nunca chega. O mar se abre, como em um bungee-jumping glacial e então todos vemos — ali está ela! O enorme, imenso, gigantesco olho branco, a retina de Gargântua enquanto ele expele água pelos flancos e é arpoado pela sua cretinice. Anotações, rápido agora, veja, lá está Kurrgo, o senhor do planeta X. Não é ele? Eu reconheceria essa cabeça em qualquer lugar, a calvície azul e as mechas amareladas de cabelo de bebê em pó.

Longe dali, Sue Dibny acorda no meio da noite, assustada. Ela olha para o homem ao seu lado. Seu nariz está tremendo como gelatina. Ela sua frio.

Na escuridão da madrugada do departamento Clash, Gaffer abre uma porta e nota um estranho barulho. Ele abre e fecha suas mãos. Elas estão rangendo como madeira velha. Nnnnnhhn. Nnnnnnnnhhn.

No laboratório de criogenia do departamento Clash, uma figura inconsciente e guardada no interior de um tubo grita:

Bucky!! Bucky!!!!! Não!!! Bucky!!!

No castelo escocês, três palavras sibilam por entre longos lábios orientais:

— Mexam a Argamassa.

No quarto de Guy Gardner, no departamento Clash, um insone ex-Lanterna Verde olha para o teto. Então, se levanta da cama e toma uma terrível decisão:

— É, é isso. A Groddmania já é coisa do passado. E confesso que o Woo e o Homem-3D ganharam o meu respeito. O velhote dos óculos coloridos mandou bem nessa última missão. E, pensando bem, se não fossem os Vingadores dos anos 50, talvez não existissem os Vingadores atuais, liderados pelo meu ídolo, Capitão América. Mas eu, Guy Gardner, sei muito bem como homenagear os Vingadores originais da década de 50 e ao mesmo continuar fã dos gorilas.

Após dizer isso, Gardner começa a tirar as calças. Segundos depois, com a cueca na mão, ele proclama:

— Sim, chega das cuecas do Gorila Grodd! A partir de hoje, usarei somente as cuecas dos Vingadores dos anos 50! Me emociono só de olhar pra elas! (*)



Olhando-se no espelho, Guy diz, com um sorriso:

— Ficou sensacional! Isso vai ser o maior barato! Ah, ah! E pro Woo não ficar puto, também encomendei estas cuecas pra ele:



— O Garra Amarela. Será que ele vai gostar?


Na próxima edição: Cyborg, Falcão, Paladino, Katana e Guy Gardner tiram um dia de folga e resolvem visitar Luke Cage no Harlem. O que pode dar errado? E mais: a volta dos hashashins!


:: Notas do Autor

(*) Da esquerda para a direita, no desenho da cueca de Guy Gardner: Jimmy Woo, agente do FBI; Vênus; Marvel Boy; Homem-3D; Homem-Gorila; Robô Humano; Namora; Jann das Selvas. voltar ao texto




 
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