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O Eleito - Lucius Fox

Por Rafael Borges

Fazendo a América

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Dois minutos atrás:

E se não der certo? A pergunta não cala na mente de Lucius Fox. Foram meses e meses de campanha, um esforço fenomenal para mobilizar o país de costa a costa e quebrar os tabus anglo-saxões de praxe. Dentro de alguns minutos, os resultados de cada um dos estados serão revelados, podendo encerrar sua jornada com fracasso fragoroso ou sucesso retumbante.

Apesar de tudo isso, ele consegue pensar apenas na quantidade obscena de dinheiro que foi gasta nos fogos de artifício para a festa de sua vitória nas eleições presidenciais americanas de 2005. Mas, e se não der certo? O que eles vão fazer com os fogos de artifício?

Ao longe, ele avista a esposa sorridente na primeira fila. Fox sabe que ela deve estar tão nervosa quanto ele, mas o sorriso estampado em seu rosto o ajuda a arrumar forças para não deixar transparecer a insegurança. Isso e o aperto de mãos firme que recebeu há alguns instantes do velho amigo Bruce Wayne. Se um dos homens mais ricos do país pôde confiar a liderança de suas empresas a ele durante tantos anos, por que duvidar de sua capacidade justo agora?

Lucius deixa as hesitações de lado quando percebe um dos assessores diretos do comitê se aproximando apressado com um telefone na mão.

— Os resultados chegaram. — ele diz.

Esta é a hora.

Dois meses atrás:

— Eu disse pra ninguém se mexer! — diz o terrorista, apontando sua arma para a cabeça de Bruce Wayne.

O milionário, assim como todos os demais presentes no comitê de campanha de Lucius, não tem escolha a não ser obedecer. Eles foram pegos de surpresa quando, há quase meia hora, o prédio localizado no centro de Gotham City foi tomado rapidamente por uma dúzia de agentes da Hidra.

Enquanto Wayne observa a forma com que os terroristas cobriram todas as saídas, ele escuta as palavras do líder do grupo:

— Nós viemos aqui esta tarde para dar uma amostra definitiva de que a raça pura ariana não vai aceitar se submeter ao comando de um africano de linhagem suja! — ele grita, apontando para o candidato à presidência.

Do lado de fora, os repórteres já se aglomeram às margens do perímetro de segurança estabelecido pela polícia de Gotham. Sem poder confirmar a maioria das informações sobre os fatos que se desenrolam dentro do edifício, eles têm de se contentar em noticiar o histórico de ataques terroristas empreendidos pela Hidra.

— ...como forma de reafirmação dos idéias nazistas, o grupo causou milhares de dólares em prejuízos à nação. Só nos resta esperar o desenrolar dos acontecimentos nesta tarde. Trish Tilby, para a GNN.

— Aqui é Ben Urich. Que outro Urich poderia ser? O repórter! O Jameson me mandou pra entrevista com o candidato Fox e eu caí bem no meio de uma coisa muito maior! Me coloca na linha direto com o Robbie Robertson!

— Catherine Grant para a rede Galáxia de notícias. Diretamente do local onde a organização conhecida como Hidra ataca novamente. O grupo tem sua formação supostamente ligada ao Barão Von Strucker...

Do outro lado da faixa amarela, Bullock desiste de tentar acalmar os ânimos da multidão que já se forma e acende um cigarro.

— E aí, comissa? — ele diz, se dirigindo a James Gordon — Quando é que a gente vai dar sinal verde pro nosso pessoal entrar? Não me diga que vamos ficar esperando o morcegão dar as caras mais uma vez?

Gordon coça o bigode e abaixa o olhar. Ele sabe que Batman não costuma agir em plena luz do dia. Principalmente no meio com uma platéia repleta de câmeras de TV transmitindo ao vivo. Uma invasão pode custar muitas vidas, mas o comissário não pode permanecer imóvel diante de um incidente de tamanhas proporções.

Felizmente, antes que ele tenha de comunicar sua decisão a Bullock, uma figura de colante passa imponente pelos dois. Os polícias ficam boquiabertos quando ele se dirige com passos decididos para o prédio, soltando apenas algumas palavras:

— Me dêem alguns minutos. Eu vou entrar.

Bullock cospe para longe seu cigarro e toma ar antes de conseguir balbuciar qualquer comentário.

— Aquele era quem eu estou pensando que era?

Enquanto isso, dentro do comitê, o líder da Hidra dá continuidade a seu discurso racista:

— O saudoso Barão Strucker jamais permitiria tamanha afronta à pureza genética! O Quarto Reich trará o mundo livre das raças inferiores! — sua voz aumenta na medida em que ele se aproxima de Lucius Fox.

Quando o terrorista se encontra a alguns passos de distância, o candidato se levanta e o encara. Os demais agentes da Hidra esboçam uma reação imediata, apontando suas armas, mas recebem um gesto de comando para aguardarem.

— Eu não vou mais tolerar isso! — diz Fox, em tom imperativo, porém com a voz baixa — Não posso aceitar que todas essas pessoas passem por isso apenas porque um grupo terrorista não quer um negro na casa branca. Se vocês vieram aqui pra me matar e dar cabo da minha candidatura, façam isso de uma vez!

— Como quiser. — o terrorista sorri ao engatilhar sua arma.

Mas ele percebe que não terá tempo de usá-la quando o reluzente escudo de listras vermelhas acerta seu punho em cheio, desarmando-o.

Não há dúvida. Trata-se da marca registrada do Capitão América.

O herói surge mais rápido do que os agentes da Hidra poderiam antecipar, derrotando um a um com seus punhos ou com os arremessos certeiros de sua arma circular.

Ninguém percebe, porém, a ajuda que o soldado recebe. Bruce Wayne aplica um golpe rápido, deixando um dos terroristas desacordado. Rapidamente, ele ajeita o terno e disfarça a atitude valente.

Se a campanha caminhava em temperatura morna, esse incidente vai servir para levar ao público a figura de Fox da melhor maneira possível. A Hidra queria fazer dele um mártir, mas acabou tornando-o um herói.

Wayne se permite soltar um sorriso discreto.

Dois anos atrás:

— Eu ainda não acredito que vocês estão me convencendo a fazer isso, Bruce! — diz o sorridente Fox.

Há poucos instantes, alguns dos mais importantes representantes do partido Democrata deixaram seu escritório na Torre Wayne. Finalmente ficou decidido que Lucius vai concorrer às prévias do partido.

— Pode acreditar! — responde Bruce Wayne — E eu só não abro uma garrafa de champanhe pra comemorar porque tem uma mulher linda esperando um telefonema meu na costa oeste. Você sabe que eu não gosto de decepcionar essas atrizes de Hollywood, não é?

O playboy milionário sai da sala e deixa Fox refletindo em sua poltrona. Ele está temeroso da decisão que acabara de tomar. Mas é a chance pela qual sempre esperou. A chance de fazer algo não apenas pela empresa, não apenas pela sua comunidade. É a chance de fazer algo por todo o seu país.

Ele não pode deixar essa chance passar.

A alguns metros dali, Wayne fecha rapidamente as portas de seu luxuoso escritório. Sentado em sua mesa, ele contempla a vista panorâmica de sua janela. É possível ver Gotham em todo o seu esplendor daqui.

Qual não é a sua surpresa quando tudo o que ele vê é a figura de um homem de braços cruzados, pairando sobre o parapeito de um dos edifícios mais altos de todo o país.

— Não vai me deixar entrar, Bruce?

— Não te esperava tão cedo, Clark. — mesmo sem a máscara, suas feições se alteram, deixando transparecer seu lado sombrio. Com um toque no console sobre a escrivaninha, a vidraça se abre por completo para que o homem de aço possa entrar.

— Não foi culpa de Jonn. — diz Super-Homem, com visível desconforto pela situação — Certos pensamentos são simplesmente impossíveis de se esconder. Esse esquema é grande demais para você levar até o fim.

Batman se levanta abruptamente e coloca as mãos sobre a mesa:

— Não há "esquema" algum! — Wayne se exalta — Não há nada de errado em financiar a campanha de um homem digno à presidência! Lucius Fox pode fazer mais por este país do que qualquer outra pessoa que eu conheça.

O homem de aço acena negativamente com a cabeça e solta um suspiro antes de responder. Ele está claramente desapontado com o amigo.

— Se fosse apenas isso, eu poderia entender. — ele diz — Mas há instituições sagradas demais para se prestar às ações de homens como eu e você. Se as coisas passarem dos limites, infelizmente serei o primeiro a me opor, Bruce.

O Super-Homem sai pelo mesmo caminho que entrou. Mas antes de passar pela janela, ele ainda encontra tempo para dizer uma última frase:

— Espero que esse dia não chegue nunca.

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