hyperfan  
 

O Eleito - O Vencedor

Por Rafael Borges

Fazendo a América
Parte II

:: Edição Anterior
:: Voltar a O Eleito
:: Outros Títulos

Agora:

Nos alto-falantes, Freddie Mercury anuncia a todo volume que não há tempo para perdedores.

A notícia chegou há poucos segundos. A apuração dos votos finalmente chegou ao fim. Depois de exaustivos meses de campanha, Lucius Fox foi eleito o primeiro presidente negro dos Estados Unidos da América. Com lágrimas escorrendo por seu rosto, ele abraça a esposa em uma explosão de alegria que tomou conta de todos os representantes do partido democrata presentes no comitê da campanha em Washington.

Do outro lado do palco, o sorridente milionário Bruce Wayne cumprimenta alguns assessores sem nunca desgrudar de sua acompanhante, a cantora Lyla Cheney. A situação se altera quando ele encontra o responsável pela segurança do evento e pede à pop star que se afaste por alguns minutos. Mesmo contrariada, ela parte e os deixa a sós.

— Obrigado por vir, Jonn. — agradece Wayne, com um discreto abraço.

— Não há de quê, Bruce. Depois do que aconteceu em Gotham, há dois meses, não poderíamos arriscar a segurança do sr. Fox. — responde o engravatado — Ah! Clark mandou lembranças.

— Diga ao Kent que ele deveria se alegrar por ter um homem como Fox na Casa Branc... — Wayne é interrompido pelo chamado distante de uma familiar repórter do Planeta Diário, a que atende de pronto com um aceno — Por outro lado, eu mando o recado por Lois.

Os fogos de artifício riscam os céus noturnos da capital da nação. Entre eles, uma pequena mancha vermelha e azul se recusa a esmaecer como as demais. Os olhares mais atentos poderiam perceber que se trata de uma figura quase humana, pairando vigilante sobre o evento.

Duas semanas depois:

A bolsa de valores de Nova York já foi considerada um dos dez pontos turísticos mais procurados da cidade. Mais de setecentos mil visitantes passavam por aqui a cada ano para aprender mais sobre o mercado de ações ou simplesmente para ver os corretores correndo nervosos por aí, gritando palavras de ordem e jogando pedaços de papel por todo o chão.

Infelizmente, por motivos de segurança, o local foi fechado à visitação pública depois dos atentados terroristas de 11 de setembro. Naquela oportunidade, a instituição se viu obrigada a suspender todas as atividades por quatro dias, o maior período de inatividade desde 1933.

Desde a Primeira Guerra Mundial, a instituição se tornou o mais importante posto de comercio em todo o mundo. A movimentação financeira a ultrapassa a casa de um bilhão e meio de dólares a cada dia.

Em meio ao ambiente caótico do salão principal, quase ninguém nota o discreto caminhar de um homem silencioso entre centenas de outros que não param de gritar. Vestindo o uniforme padrão de Wall Street, traje social esporte, ele se mistura facilmente aos demais, carregando uma valise de couro.

O estranho olha para o alto com um nervosismo que poderia chamar atenção, não fosse este um local marcado por uma dos mais palpáveis níveis de stress do planeta. Depois de vasculhar alguns cantos da construção centenária, seu o olhar agitado finalmente vislumbra o que procurava.

Do alto do salão, uma águia o observa de volta. Com a leveza que caracteriza esses pássaros, ela desce ao nível das pessoas no piso da sala e parte para o ataque, tentando tomar a maleta das mãos do estranho.

Alguns dos engravatados percebem o surreal da situação, mas não interrompem as atividades. Afinal de contas, mais do que em qualquer outro lugar, aqui o tempo significa dinheiro.

Sem conseguir se desvencilhar do imponente pássaro, o homem tira de dentro do paletó uma adaga adornada em motivos árabes e parte para esfaquear a ave que o ataca com o poderoso bico e as esporas de suas patas. Nem assim, o barulho ensurdecedor de dezenas de compras e vendas de ações à sua volta diminui.

A única coisa capaz de fazer o incessante mercado de ações de Nova York parar nesta tarde de segunda-feira é a súbita entrada de um homem negro vestindo um colante vermelho aos berros:

— Todo mundo pra fora! — diz Sam Wilson, o herói conhecido como Falcão, enquanto usa suas asas controladas ciberneticamente para planar sobre as cabeças de todos e chegar mais rapidamente a seu alvo — É uma bomba!

Sem hesitar, o vingador desarma o suspeito com um direto golpe que o leva ao chão. A faca que o estranho tinha em punhos escorrega por diversos metros pelo piso de mármore. O próximo passo é tomar-lhe a valise.

O Falcão abre cuidadosamente a fechadura dourada e, atônito, percebe que não há nada no interior da mala.

— Onde está a bomba? — ele levanta o estranho do chão aos berros.

A resposta vem do outro lado da sala. Enquanto os corretores se esbarram em uma desorientada evacuação de emergência, outro homem de feições estrangeiras levanta uma valise de couro exatamente igual à primeira.

— Está aqui! — ele adverte — E o tempo acabou!

Ao ouvir essas palavras, o herói se projeta a toda velocidade em uma tentativa desesperada de tomar para si a maleta e afastar a bomba dos civis. Infelizmente, não lhe resta o tempo para tanto. O que vem a seguir é uma explosão que não tem grandes proporções, porém seus efeitos podem ser considerados devastadores.

Nos dias que se seguem, as estatísticas oficiais chegam a mais de cinqüenta corretores mortos e quase trezentos feridos.

A mídia dá especial ênfase ao homem que tentou evitar a catástrofe. Devido a sua fisiologia alterada, Sam Wilson conseguiu chegar ao hospital ainda com vida. Entretanto, mais de um ano se passará antes que ele possa dar qualquer declaração sobre o que aconteceu naquela fatídica tarde.

O Falcão se encontra em estado de coma.

Uma semana depois:

— ... George W. Bush chegou a afirmar que os responsáveis pela segunda-feira negra de Wall Street serão levados à justiça ainda antes do término de seu mandato. Tanto o atual presidente quanto o presidente eleito Fox se encontram em local não determinado por motivos de segurança. Fica dúvida quanto à...

A voz metálica que é emitida do televisor de alta definição é interrompida quando um poderoso golpe atinge a tela plana, destroçando ruidosamente o aparelho.

Por entre as sombras da caverna, a figura aterradora do taciturno homem-morcego se faz notar. Devido aos acontecimentos recentes, ele se encontra em um estado de humor ainda pior do que o habitual.

Ao seu lado, está o homem de aço, cujo uniforme em tons claros contrasta totalmente com o ambiente. De braços cruzados, ele acena com a cabeça em desaprovação.

— Isso não vai ajudar em nada, Bruce.

— Eu não consigo falar com Lucius desde o atentado, Clark. O general Ryker o isolou totalmente de qualquer comunicação alegando motivos de segurança nacional. — responde Batman, visivelmente desapontado — Nem mesmo Oráculo conseguiu descobrir o tal "local indeterminado" onde ele e Bush se encontram.

— Você já devia saber que há sistemas que nem mesmo Bárbara consegue invadir. — Super-Homem coloca a mão sobre o ombro do amigo.

Em um gesto que beira o brusco, Wayne agarra a mão do companheiro e prossegue:

— Mas você consegue, não é? — ele indaga — Você pode me dizer onde está Lucius Fox.

— Sim, eu posso. — o kryptoniano leva alguns segundos para responder. E só o faz depois de um longo suspiro — Mas eu não vou.

Batman se surpreende com a sua atitude. Ele não está acostumado a se surpreender. Debaixo da máscara, ele franze as sobrancelhas, como que procurando as palavras. Mas não as encontra.

— Você sabia no que estava se metendo, Bruce. — retruca o Super-Homem — Fez de tudo pra ganhar um aliado no alto escalão de Washington, mas eu te avisei que essas coisas não podem ser controladas por homens como eu e você.

Ao dizer essas frases, o homem de aço parte, deixando para Wayne a solidão da caverna com a qual ele se acostumou em toda a vida.

— Não sei se consegui um aliado. — Batman diz para si mesmo em voz alta — Acho que simplesmente perdi um amigo.




 
[ topo ]
 
Todos os nomes, conceitos e personagens são © e ® de seus proprietários. Todo o resto é propriedade hyperfan.