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Por
Otávio Niewinski
Tales
to Astonish
Parte I
"Metrópolis.
Uma das maiores cidades dos Estados Unidos e do mundo. Nela vivem
milhões de pessoas, um verdadeiro formigueiro humano que
infesta as ruas da cidade diariamente. Eu sou uma dessas pessoas,
mais um anônimo que tenta ganhar a vida dia após
dia. Bem, nem tão anônimo assim, é verdade.
Sou repórter do Planeta Diário, o maior e mais conceituado
jornal da cidade. Mas eu não precisava ter dito isso, não
é? É claro que você conhece o Planeta."
"Já fui um jornalista muito famoso, sabia? Jack
McGee, o repórter dos meta-humanos, era como me chamavam
quando eu ainda trabalhava em um jornal de Boston. Meu trabalho
lá era correr o país atrás de matérias
sobre esses super-humanos que estão sempre por aí,
se espancando. Na época, eles eram novidade! Eu era ousado.
Chegava muito perto das batalhas deles, às vezes até
mais perto do que o recomendável. Conseguia exclusivas.
Entrevistei o Homem de Ferro. Capitão América. Flash.
Gavião Negro. Minhas reportagens eram muito boas.
Por causa delas, o Planeta me contratou, há alguns anos.
E aí as coisas começaram a dar errado."
"Aqui trabalham muitos ótimos repórteres. Mas
tem duas figuras que particularmente me incomodam: Kent e Lane.
Quando cheguei, vindo de Boston, fui imediatamente destacado para
cobrir as atividades dos meta-humanos na cidade. Seria fácil,
afinal esse é o meu forte. O problema é que esses
dois, Clark Kent e Lois Lane, sempre conseguem as melhores
reportagens. Aquele caipira desligado do Kent sempre está
no lugar certo, na hora certa. E quando ele não está,
adivinha quem está? Lane. Sempre."
"Por isso, a minha carreira começou a afundar desde
que vim para o Planeta. Passei a fazer reportagens mais... digamos...
normais. Jornalismo investigativo. Consegui assim me livrar da
concorrência daqueles dois. Não totalmente, às
vezes eles ainda me furam, mas bem menos do que antigamente."
"Hoje é um dia típico. Perry White, o editor-chefe
do Planeta, me chamou para sua sala, provavelmente com mais uma
pauta maçante para mim. Ultimamente Metrópolis está
calma. Imagino que ele deva me enviar para cobrir um fato marcante
como um gato preso em cima de uma árvore ou coisa assim.
Espero que pelo menos ele não mande o Olsen junto para
fotografar. O guri é muito chato. Mas quando chego na sala
de Perry, ele me surpreende."
McGee, nossos repórteres têm recebido informações
de que há suspeitas de corrupção no governo.
Até senadores estariam envolvidos. Quero que você
investigue. fala Perry, sentado em sua cadeira, atrás
de uma mesa entupida de papéis.
"Quer ver uma coisa? Observe a pergunta que vou fazer para
o Perry."
Que repórter, exatamente, conseguiu essa informação?
Foram dois, na verdade. Lois e Clark. Mas como eles estão
com muito serviço, decidi passar a matéria para
outro jornalista, e acho que você é o indicado. responde ele.
"Não falei? Sempre eles. Mas claro que eles
não têm tempo de seguir uma dica furada dessas. Sobra
sempre pro McGee, o pau-pra-toda-obra. Mas tenho que garantir
o meu salário, então..."
O que temos até agora, chefe? pergunto.
Não me chame de chefe, McGee! Perry esbraveja O que
temos é o seguinte: alguns informantes de Washington estão
dizendo que vários políticos estão sendo
manipulados, possivelmente através de chantagem, para apoiarem
uma lei que incentivaria a construção de silos com
armamentos por todo o país. Já ouviu falar nessa
lei?
Sim, já ouvi algo sobre isso. Mas quem seria o suposto
chantagista? pergunto. Aposto que você já percebeu
que eu fiquei intrigado. Perry também percebeu.
É exatamente isso que você vai investigar. Ninguém
sabe quem é o sujeito. Ele cobre seus rastros muito bem.
Perry se levanta da cadeira e começa a caminhar pela
sala Mas a possibilidade de que essa pista seja quente é
grande, pois todos os políticos que estariam envolvidos
foram suspeitos de corrupção no passado. Claro que
nada nunca foi provado.
Quer dizer eu falo, sintetizando nossa conversa que o tal
chantagista teria provas do envolvimento desses políticos
em jogadas ilícitas, e estaria fazendo uso delas para forçá-los
a dar apoio a um projeto de lei que vai incentivar as bombas atômicas...
"Perry me interrompe, e aí sim fala, ao meu ver, a
verdadeira notícia."
Atômicas, não, McGee. Pelo menos, não bombas
atômicas convencionais. São bombas gama.

Interlúdio
Uma cidadezinha nos confins do Novo México. Um homem
vaga pelas ruas, sozinho. Ele cheira mal, suas roupas não
passam de farrapos. A barba esconde seu rosto. Mal consegue falar,
por causa da fome. Ele não sabe como chegou ali, não
sabe quem é nem de onde veio. Seus pensamentos são
confusos e caóticos. Só uma coisa é fixa
em sua mente. Uma cor. Verde.

"Bem, depois
que o Perry me deu aquelas informações, não
tinha mesmo jeito de deixar essa matéria passar. Perry
falou a minha língua. Ora, todo mundo sabe que a radiação
gama criou um dos mais controvertidos superseres que já
surgiram: o Hulk. E de superseres, ah, sim, disso eu entendo."
"Faço uma ligação pelo celular para
os meus melhores informantes. Peço que descubram pistas
sobre esse caso. Qualquer pista. Então, parto para investigar."
"Minha próxima parada é na frente do computador.
Navego pelo arquivo de jornais do site do Planeta na internet.
Procuro dentre as várias edições uma reportagem
de alguns meses atrás. Está lá, na principal
manchete da capa: Mulher do Hulk morta por envenenamento radiativo.
Reportagem escrita por... bem, não vou lhe dizer o nome.
Só as iniciais: CK. Sem comentários. Mas o fato
é que a reportagem fala da morte de Elizabeth Ross Banner,
filha do General Thaddeus Ross o qual já entrevistei
no passado, e diga-se de passagem, foi um entrevistado muito chato
e esposa do Hulk que, por motivos um tanto óbvios,
nunca entrevistei."
"Nem eu, nem quase ninguém. O Hulk, alter-ego do físico
nuclear Robert Bruce Banner, sempre passou a maior parte do tempo
esbanjando selvageria ou escondido dos olhos do público,
e nas raras vezes em que seu lado humano assumiu o controle, a
coisa durou tão pouco que eu nunca consegui marcar uma
hora a tempo."
"Bem, a reportagem diz que, após anos acompanhando
Banner pelo mundo, a filha do General acabou sendo envenenada
pela radioatividade que emana do atormentado doutor. Fala também
que pode ter contribuído para a tragédia uma carga
de raios gama a que Betty foi submetida anos atrás, e que
a transformou em uma espécie de harpia. Mas o fato é
que recentemente a moça morreu. E foi uma morte horrível,
pelo que descreve o depoimento de seu pai."
"Mas a história acaba por aí? Nããão!
No final da extensa reportagem, um apanhado da vida do Hulk, que,
afinal, foi o causador da morte. Como tudo começou; o Hulk
selvagem; o Hulk cinzento; o Hulk em Las Vegas; mais recentemente,
o Hulk se autodenominando Maestro e declarando guerra. A última
notícia dele era que havia sido capturado pelo exército
mais uma vez, em uma operação nunca antes vista,
que envolveu centenas de soldados. Depois disso, nada. Também
fala do destino das diversas pessoas que se envolveram com o monstro:
Rick Jones, hoje apresentador de TV. Fred Sloan, escritor. Michael
Berengetti, morto... Neste momento, algo me vem à cabeça.
Será que..."
"Volto alguns anos nas edições do jornal e
encontro matérias sobre uma das mais incríveis encarnações
do Hulk: Joe Tira-Teima. Nesta época, a pele do Hulk havia
se tornado cinza, ele possuía bem mais inteligência
e um aspecto ligeiramente diferente. Trabalhava como leão-de-chácara
de um cassino em Las Vegas, cujo dono era o tal Berengetti. Se
não me falha a memória, esse Berengetti era famoso
por ter bons contatos no governo. Será que nesta época,
em Vegas, o Hulk poderia ter obtido do Berengetti provas de falcatruas
dos políticos? E se a personalidade de Joe Tira-Teima tivesse
ressurgido agora, ele resolveria agir? Mas por que coagi-los a
incentivar novas bombas gama? O que ele quer com isso? Não
parece ter muito sentido..."
"Meu celular toca. É Eddie Rotondano, um de meus informantes.
Rotondano é um policial grandalhão e bem-humorado
que me dá umas dicas de vez em quando. Pago essas dicas
com pilhas de donuts. Mas não confio muito nele. Certa
vez ele quis me passar a informação de que o Homem-Aranha
seria casado e que essa suposta mulher do Aranha estaria esperando
um filho para breve. Bah! Que tipo de idiota ele pensa que eu
sou? Em todo o caso, pego um táxi até o local onde
combinamos de nos encontrar o Hospital Geral de Metrópolis
para conferir o que ele tem."
"Chegando lá, Eddie me leva a um dos quartos, onde
há um paciente muito ferido. Muito ferido mesmo.
Parece ter sofrido um acidente muito grave. O homem se chama Jim,
e quase não consegue falar. Eddie chega perto do ouvido
dele e cochicha que sou um repórter e que a causa de seu
'acidente' pode me interessar. Me aproximo e Jim começa
a contar sua história."
"Ele diz que faz limpezas eufemismo para 'matar
gente' para um político influente do Congresso.
Claro que não cita nomes. Mas diz que este político,
numa passagem por Metrópolis, lhe deu ordens expressas
para que um homem, que também estava de passagem pela cidade,
fosse eliminado. Disse que este serviço era muito importante,
pois o futuro presunto era um chantagista que estava pondo em
risco sua carreira política. Disse também para Jim
levar munição pesada e outros capangas para ajudá-lo."
"Na noite combinada, Jim e os outros seguiram de carro o
político até um armazém nas docas. Ele iria
encontrar o tal chantagista no armazém. O plano era simples:
após encerrado o encontro, o político sairia em
seu carro primeiro. O carro que saísse em seguida seria
o do chantagista, que nesse momento deveria ser eliminado."
"Após cerca de meia hora de espera, o carro do político
saiu do armazém e partiu, apressadamente. Jim e seus comparsas
saíram de seu carro e engatilharam as armas. Um minuto
depois, outro automóvel, de cor preta, espaçoso,
com quatro portas, saiu do armazém. Era o alvo. Jim e seus
comparsas abriram fogo. O carro preto bateu em um poste e parou,
totalmente crivado de balas. Ninguém sobreviveria àquilo."
"De repente, alguma coisa saiu do carro alvejado,
arrebentando o teto. Era enorme. Urrava. Assustados, os
pretensos assassinos entraram em seu carro e arrancaram em disparada.
Pelo retrovisor, Jim enxergava a 'coisa'. Parada. Observando-os
se afastarem. De repente, ela não estava mais lá.
Alívio. Então, algo desabou sobre o capô do
carro, esfacelando-o: era a 'coisa'. Ela então ergueu o
veículo com extrema facilidade e o arremessou de encontro
a um prédio. Todos morreram, menos meu amiguinho Jim aqui.
E a última coisa que Jim ouviu antes de desmaiar foi uma
gargalhada... a mais aterradora que ele já tinha ouvido."
"Então, faço uma pergunta, no fundo já
sabendo a resposta."
Como era essa... essa "coisa" que vocês
deveriam matar, mas que acabou atacando vocês?
Era muito grande. Muito forte. Parte das roupas rasgaram-se
com nossos tiros, mas a "coisa" não sofreu nenhum
arranhão. E, com as roupas rasgadas, eu pude perceber:
ele era verde! Ele era o Hulk, cara! sussurra Jim,
o medo saltando dos olhos antes de perder os sentidos.
"Aí está. Você ainda tem alguma dúvida
de quem é o vilão da nossa história? Eu,
Jack McGee, sinceramente, não tenho. E acho que descobri
o caminho para o Pulitzer."
:: Notas
do Autor
O título da saga que você começa a acompanhar
nesse número, Tales to Astonish
(algo como "Contos Surpreendentes" em português),
é o nome da revista americana que foi casa do Hulk
por vários anos. Quando sua primeira revista (The Incredible
Hulk), lançada em 1962, foi cancelada no número
6, o personagem passou a ser publicado na Tales..., sempre
dividindo o espaço com outros heróis. Mais tarde,
com sua popularidade consolidada junto ao público, as aventuras
do Hulk assumiram totalmente a revista, e ela mudou de nome para...
The Incredible Hulk, mas continuando a numeração
da Tales... a partir do número 102. Ou seja, a revista
The Incredible Hulk teve os números 1 a 6... e depois
a numeração pulou direto para o 102! Esses americanos...
;-)
O personagem Jack McGee vem do seriado do Hulk dos anos 70 (aquele
com Bill Bixby e Lou Ferrigno). Nesse seriado, McGee perseguia
o Hulk para tentar descobrir qual a relação da criatura
com o Dr. Banner (tá, McGee não era muito esperto
nesse seriado...). É claro que, como nos quadrinhos, no
Hyperfan a identidade do Hulk é publicamente conhecida,
então o objetivo de McGee será outro, como você
acabou de ler na história desse mês.
Ah! O policial Eddie Rotondano, chapa do Jack McGee, não
é outro senão o Dudu, nosso espetacular escritor
de Homem-Aranha e X-Men.
Bom, espero que se divirtam com a nova fase do Hulk e até
mês que vem!
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