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Por
Otávio Niewinski
Tales
to Astonish
Parte II
"Você
tem medo de alguma coisa? Eu quero dizer, um medo irracional,
que nem mesmo você sabe de onde saiu? Eu tenho. Tenho medo
de altura. Então, confesso que essa viagem de helicóptero
até a Área 102 não me deixa muito confortável."
"Ah, você me conhece, não? Prazer, Jack McGee.
Estou viajando a serviço do Planeta Diário, o jornal
onde trabalho. O meu editor, Perry White, me descolou uma pauta
muito interessante. Está para ser votada pelo Congresso
uma lei que estimula o desenvolvimento de armas atômicas
no país. Sim, eu sei, é um retrocesso nesses tempos
de desarmamento e blablablá, mas o fato é que ela
está prestes a ser aprovada. O detalhe é que há
informações de que muitos congressistas estão
sendo pressionados a votarem a favor da lei por algum peixe grande
do crime. Eu fiz uma investigação rápida
e cheguei no nome do Hulk. E é isso que vim fazer aqui
nessa instalação militar no meio do nada, que foi
provavelmente seu último paradeiro: descobrir por onde
anda o nosso amigo verde. Espero que eu encontre algumas respostas
interessantes."
"O piloto do helicóptero alugado pede permissão
para aterrissar dentro da base, diz que está trazendo um
repórter que já havia entrado em contato para uma
entrevista eu e finalmente aterrissa. Quando descemos da nave,
alguns militares checam a minha identidade e mandam o piloto voltar
sozinho. Dizem que eles mesmos me levarão de volta à
cidade mais próxima. Dá pra ver que a segurança
é coisa séria por aqui."
"Os soldados me acompanham até a sala do comandante
da Área 102, general Stan David. A primeira olhada já
diz tudo: sujeito arrogante. O cinzeiro, cheio de pontas de cigarro,
mostra que ele fuma como um condenado. E eu, que larguei o cigarro
há poucas semanas, já fico com vontade de fumar
também. Acho que é melhor começar essa entrevista
logo."
Bom dia,
general. Eu sou McGee, o senhor deve ter sido avisado que eu viria
hoje.
Claro, claro. Fui informado de que você iria me entrevistar
sobre a atual situação da Área 102, é
isso?
"É
claro que não. Esse foi apenas o despiste que usei para
marcar a entrevista. Na verdade, vou perguntar sobre o paradeiro
de Bruce Banner, mas o general não pode saber disso...
ainda. Então..."
Exato, general.
Podemos começar?
Claro! exclama o general, com uma baforada de cigarro. Eu
ligo o gravador.
Bem, quando liguei para a base tentando esta entrevista, imaginei
que o comandante fosse o general Thaddeus Ross. O que...
O general Ross se aposentou, McGee, mas isso não foi
muito divulgado. Aconteceu logo depois que a filha morreu. Você
deve ter lido sobre a morte dela na imprensa.
Sim, claro. Por sinal, a moça faleceu aqui mesmo na base,
certo?
Exato. Estava visitando o pai, e faleceu. Depois desse incidente,
a Área 102 deixou até de ser uma instalação
secreta de pesquisa.
"Visitando
o pai? A quem ele pensa que engana? Betty Banner era casada com
o Hulk! E a última notícia do Hulk dá conta
de que ele foi capturado e trazido para cá, quase na época
em que a moça morreu."
General,
ela estava mesmo visitando o pai? Soube pela própria imprensa
que a filha do general Ross faleceu nessa instalação
na mesma época em que o exército capturou o Hul...
Isso é informação confidencial, sr. McGee!
Atenha-se às perguntas sobre a base! diz o general, exalando
fumaça pela boca e pelo nariz.
É que eu tenho uma curiosidade muito grande em saber
o que era feito aqui na base na época em que o Hulk estava
à solta. falo. Será que ele cai nessa?
Isso eu posso te contar, jornalista. Mas o que é
feito desde que o Hulk foi capturado, é segredo de Estado.
o general dá mais um sorrisinho irônico
Civis tendem a não entender isso.
General, porque tanto mistério? O que há por trás
disso, afinal?
Não há nada "por trás
disso", McGee. Nada. Apenas não estou autorizado
a falar sobre a captura do Hulk. O que você sabe é
tudo o que há para saber: ele foi capturado. Ponto.
Sim, mas ele está aqui? Se não está, onde...
Chega, McGee! o general levanta irritado e pressiona um botão
em seu telefone Segurança, o sr. McGee já terminou
a entrevista. Podem acompanhá-lo à saída!
Por aqui, sr. McGee. diz um dos dois soldados que entram na
sala para me "acompanhar" à saída. Merda.
Fui com muita sede ao pote. Agora vou ser enxotado dessa base
e talvez nunca mais consiga entrar.
OK, rapazes, já estou indo. Obrigado pelo seu tempo,
general.
Disponha, McGee. grunhe o general.

Interlúdio
Uma cidadezinha próxima à Área 102. Um
homem maltrapilho se esgueira em um beco. Desorientado, sujo e
faminto, todos os que passam por ele desde que chegou, há
poucos dias, lhe chamam de mendigo ou simplesmente viram o rosto.
Mas ele não está mendigando. Ele não consegue
fazer isso. Só consegue balbuciar uma única palavra:
Verde...

Tchau, pessoal!
"Esse
sou eu me despedindo dos antipáticos soldados que me trouxeram
de helicóptero de volta para os arredores da cidade de
onde saí rumo à Área 102."
"Já que a entrevista com o general David não
deu em nada, vou ter que tentar outros contatos. A aposentadoria
do general Ross me pegou realmente de surpresa. Enquanto caminho
pela rua em direção ao hotel se é que se
pode chamar aquele pardieiro de hotel onde estou hospedado,
ligo para o Planeta e peço que me descubram o telefone
do general, para que eu tente falar com ele. Como isso vai levar
um tempo, aproveito para tentar outro telefone, que eu já
havia pesquisado: Rick Jones, em sua casa em Los Angeles. O guri
deve ter alguma coisa a dizer. Afinal, ele e a mulher são
astros da TV. Uma voz feminina muito sensual atende."
Você
ligou para a residência de Rick Jones e Marlo. Não
estamos em casa no momento. Deixe seu recado após o bip,
a não ser que você seja um fiscal do imposto de renda.
Desculpe, o Rick me obrigou a dizer isso. BEEP
"Odeio
engraçadinhos."
Alô,
sr. Jones, aqui é Jack McGee, do Planeta Diário.
Gostaria de agendar uma entrevista com você para uma reportagem
que estou fazendo. Talvez seja do seu interesse, é sobre
o seu velho amigo verde. Ligue de volta quando puder, o número
é 555-6734. Obrigado e até logo.
"Que sede.
Como hoje não tem mais nada pra fazer, e o carro do Planeta
que me deixou aqui nesse fim-de-mundo só volta para me
buscar amanhã, acho que vou aproveitar para tomar uma cerveja
naquele boteco atrás do hotel..."

Interlúdio
Área 102. Um oficial da base faz uma importante e sigilosa
ligação.
Alô? Ah, é você. Aqui é o major Mantlo.
Sim, tenho novidades. Não, o alvo ainda não foi
encontrado. Mas tem um repórter enxerido por aqui. Eu o
ouvi conversando com o general quando passei na frente da sala
dele. O sujeito está na pista do que você está
procurando. Pode causar problemas. O que devo fazer?
Uma voz monstruosa do outro lado da linha responde:
Suma com ele. Prenda-o na base. Em hipótese alguma
ele pode achar meu alvo antes de mim. Lembre-se, Mantlo: as provas
de corrupção que eu tenho envolvem você também.
Não falhe comigo, ou eu farei o que fiz com aqueles capangas
outro dia em Metrópolis. Adeus.
O major Mantlo desliga o telefone, suando frio. Em seguida, pega-o
de novo e faz mais uma ligação.
Tragam dois soldados imediatamente até a minha sala.
Temos uma captura urgente a fazer!

"Aaaahhh...
eu estava mesmo precisando disso! Quanto tempo aturando aquele
lixo de Lexbeer que está espalhada por toda Metrópolis...
depois daquela, até essa cerveja mexicana parece o néctar
dos deuses..."
"Olhando ao redor, vejo os freqüentadores do bar...
incrível como as pessoas que freqüentam botecos em
cidadezinhas parecem sempre as mesmas. A única diferença
é que aqui, perto do deserto, elas suam mais. E
o bar fica ainda mais fedorento."
"Veja só aquele mendigo que está entrando.
O pobre diabo deve ser o típico maluco da cidade. Aquele
que ninguém nunca dá bola e que, às vezes,
alguma senhora dá um prato de comida por pena. Aposto que
o idiota deve estar entrando aqui para pedir bebida. O barman
vai dar é uma surra nele."
Verde... fala o pobre-diabo. Não está
dizendo mais coisa com coisa mesmo.
Sai já daqui, maluco. Não tem nada pra ti
aqui. diz o barman. Tu vai acabar espantando a minha
freguesia! Ah... aí vêm uns milicos da base, eles
vão cuidar de ti direitinho! Ah, se vão!
"Olho
para a porta e vejo dois soldados entrando no bar. E parece que
eles querem falar... comigo?"
Finalmente
achamos o senhor. Acompanhe-nos, por favor. O senhor está
detido para investigações. Há suspeitas de
que o senhor seja um espião que entrou na base hoje para
roubar segredos internacionais. fala um dos soldados, enquanto
o outro segura o meu braço.
Ei, peraí! Só fui lá hoje fazer uma
entrevista! Eu tenho os meus direi...
"A pressão
de um cano de pistola discretamente apontado para os meus rins
me faz deixar as reclamações um pouco de lado."
OK,
vamos deixar a conversa para depois, certo? esboço
um sorriso.
Verde...
"O maluco
resolveu parar de importunar o barman e resolveu importunar os
soldados que estão tentando me levar. Agora é que
ele toma um tiro mesmo."
Sai
daqui, retardado! irritado, um dos soldados dá uma
coronhada no mendigo e o arremessa para trás do balcão,
quebrando alguns copos. Vira-se para o barman. Desculpe
o transtorno, senhor. Após deixar o sr. McGee na base,
voltaremos para pagar o prejuízo.
"Mas o barman não está ouvindo o que o cara
está dizendo. Ele já pulou para a frente do balcão
e parece aterrorizado. De repente, o balcão começa
a rachar, e um grunhido como eu nunca tinha ouvido toma conta
do ambiente."
RRRRRRRRRRAAAAAAAAAAAAARRRRRHHHHHHHHHHH!!!!
"O balcão
fica em pedaços quando uma criatura enorme e esverdeada
se ergue do local onde antes estava um simples mendigo. Olho para
os lados e vejo que estão no bar só eu e os dois
soldados, que ainda me seguram firmemente. Os demais fugiram com
medo."
"A minha vida passa diante dos meus olhos. Penso nas decisões
que tomei e que deixei de tomar. Penso no medo de alturas. Penso
que talvez tenha sido uma idiotice parar de fumar, afinal. Agora
que vejo que a minha busca pelo Hulk acabou pois é
ele que está nos encarando, furioso, a três
metros de distância penso que nunca saberei como
Bruce Banner chegou a esse ponto. Vendo a morte assim, de perto,
tenho certeza apenas de uma coisa. E vou compartilhar isso com
meus novos amigos do exército."
Pelo
menos eu tomei minha última cerveja.

Talvez McGee não
descubra, mas você vai descobrir como o Hulk chegou a esse
ponto no próximo número. ;-)
:: Notas do Autor
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