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Por
Alexandre Mandarino
El
Justiciero Cha Cha Cha
Os arbustos rolavam
pelo deserto, impulsionados pelo vento da madrugada. Alguns vinham
de encontro ao jipe, como se a natureza desafiasse os dois mutantes
por estarem cruzando uma de suas paisagens mais inóspitas.
Preocupado com a ventania, Julio prendeu seus cabelos com dois
palitos.
Vai despentear tudo, depois da trabalheira que eu tive
fazendo escova observou o mutante conhecido como Shatterstar.
Calma, Gavinho. Já estamos quase chegando a Guadalajara
replicou Rictor.
Acho bom. Estou cansado de tantas lutas. Espero que sua
cidade natal seja algo minimamente aprazível.
Pode estar certo disso. Guadalajara já é
bem grande, mas nada de perturbador vai nos acontecer por lá.
Enfim teremos juntos o descanso de que precisávamos há
muito tempo. Você vai adorar o México, fique tranqüilo.
É bom mesmo, porque os últimos acontecimentos
envolvendo mutantes não foram nada tranquilizadores
insistiu Shatterstar.
Não seja chato, Shatty.

Quem é
o dono dessa biboca? berrou Lobo, após um minuto
de espera na sala de entrada da estalagem Sierra Rica. Foi quando
viu na parede o aviso: toque a sineta para chamar o recepcionista.
O czarniano esmurrou a sineta, que quebrou junto com a mesa da
recepção, onde estava apoiada. O barulho chamou
a atenção de um homem rotundo, que logo veio ver
o que havia acontecido.
Sangre de Madre! Fique calmo, señor!
Já estou a caminho. Pronto: Eduardito Ruetandaño
à sua disposição! Bem-vindo à Sierra
Rica! Deseja um quarto?
Calaboca, bola! A parada é a seguinte: os manés
lá na rua me disseram que dois mutantes tão hospedados
aqui. Cadê os caras?
Mutantes, señor?
É, caceta! Pelas fotos que eu vi no jornal, são
dois boiolas cabeludos.
Ah, deve estar falando do par de maricóns!
Eles partiram hoje de manhã.
Pra onde?
Creio que os ouvi falar em Guadalajara, señor.
Como eu chego nessa porra?

Minutos depois, o
Maioral estava sobre uma Harley-Davidson roubada, seguindo os
sinais da estrada em direção ao local conhecido
como Guadalajara. À sua frente, um carro com luzes no teto
bloqueava a passagem. Lobo parou e observou.
Veja, Galván, um motoqueiro cabeludo.
Sí, Lopez, vamos tirar umas notas dele. Se
tiver dinheiro como os dois maricóns que passaram
aqui de manhã, vamos jantar fartamente hoje! Pare, Hell's
Angel!
Que porra é essa? Cês são o quê?
Vamos saindo logo aí da frente, cacilda! reagiu
nosso herói.
Calma, marginal! Para onde vai? Me mostre seus documentos!
Lobo desenrolou sua corrente e começou a girá-la
sobre sua cabeça.
Galván, el hombre é loco!
Loco, não. Lobo!
Ele diz que é um lobo. Atire!
As balas dos velhos revólveres 38 acertaram a pele de Lobo.
Algumas ricochetearam, outras penetraram fundo na carne do mercenário.
Aaah! Filhos da puta!
Nosso herói acelerou e a moto saltou por cima do velho
Mustang, perdendo-se nas estradas do deserto.
Lopez, o que era aquilo?
"Esses babacas têm sorte. Se eu não tivesse
caçando os dois mutantes pela recompensa, tinha matado
os dois bonito. Mas se eu fizer isso, sou teleportado. Maldita
Eternidade!", pensou o mercenário.

Julio e Gaveedra
tinham deixado suas coisas no hotel e caminhavam pelas ruas de
Guadalajara, em busca de uma cerveja.
Sabe, Julio, este seu mundo continua me sendo estranho,
mas começo a gostar de coisas que vejo por aqui. Este local
é tranqüilo e me deixa calmo após tantas lutas
sem fim.
Eu disse que você ia gostar, Shatty. Além
do mais, estamos juntos e logo pod...
Uma maçã na testa de Rictor interrompeu a frase.
Mutantes! Saiam daqui! gritou um pequeno grupo na
calçada.
Sí, nós vimos vocês no jornal
de hoje. O que estão fazendo em Guadalajara? Aqui não
há lugar para mutunas!
Muito menos para mutunas maricóns!!
Chega! disse Shatterstar, desembainhando sua espada
de lâmina dupla. Agora vou ensinar vocês a
não serem tão hostis. Vão engolir seus preconceitos
com sangue!
Espere, Shatty disse Rictor. Não piore
as coisas. Veja, um leve tremor de terra e eles nos esquecem.
Vou aproveitar e levantar um pouco de poeira para encobrir nossa
fuga.
Rictor apontou para o chão e um pequeno terremoto assustou
os pedestres, afugentando-os.
Vê? Vamos, venha procurar um bar comigo.

Negócio
é o seguinte, putada. Tou procurando dois mutantes. Me
disseram que eles tavam aqui nessa cidade escrota. É bom
me dizer onde os caras tão ou vocês vão morrer.
N-não, señor. Não é
necessário violência. Viveiros, aqui ao meu lado,
viu os dois que procura. Conte para o señor, Viveiros.
Sí, eles estavam bebericando em um bar que
freqüento, o Alegria Rosa.
Onde?

Lobo invadiu o Alegria
Rosa a pontapés.
Muito bem, seus merdas, fiquem quietos ou essa porra vai
ser detonada! Quem aqui é mutante?
Rictor e Shatterstar permaneceram olhando para a frente, sentados
no balcão. As outras pessoas no bar olharam na direção
da dupla.
As duas frangas ali, é? disse Lobo.
Vocês, boiolas, a morte chegou!
Rictor se levantou e, encarando Lobo, disse: Quem é
você, um soldado de Fitzroy? Um novo sentinela? O que você
quer? Será que nunca teremos paz por sermos mutantes?
Não. Não. Quero matar vocês. E a quarta
resposta também é não.
Chega! gritou Shatterstar. Rictor, essa gente
só entende a linguagem da violência! Morra, imbecil!
Com esse grito, Shatterstar saltou sobre Lobo, brandindo sua lâmina.
Sinta o gosto da minha espada de dupla lâmina, ordinário!
A agilidade do mutante fez com que ele cortasse profundamente
o braço esquerdo de Lobo.
Aah! Chega, porra! Esse meu braço tá
machucado. Tu vai ver agora, ô gilete!
Um tabefe e Shatterstar atravessou o bar e a vitrine, caindo no
meio da rua.
Shatty! gritou Rictor, que apontou os braços
na direção do nosso herói. Um tremor de terra
desequilibrou Lobo e todas as pessoas do bar fugiram em desespero.
"Shatty"? Mas que viadagem, baitola! Tu vai sofrer
antes de morrer.
Rictor intensificou as vibrações sísmicas
e logo o próprio edifício ruía sobre suas
cabeças. Lobo se impressionou.
O cara joga pesado... mas eu sou o Maioral. Aí,
perôba! Toma essa!
Em meio aos destroços, Rictor levou um soco e também
foi jogado longe. Com o maxilar deslocado, murmurou para Shatterstar,
que se aproximava: Shatty... Temos que unir toda a nossa
força contra esse monstro.
Voltando-se para Lobo, Shatterstar berrou:
Minhas lâminas duplas vão fatiar você,
seu animal!
Para de falar nessa merda de espada dupla, sua bicha! Todo
mundo já sabe que você corta dos dois lados!
Antes que eu o mate, me diga: quem é você?
Por que está querendo nos matar?
Por causa da recompensa, seus manés!
Recompensa? Não existe nenhuma recompensa por nós,
seu idiota! Quem lhe disse isso?
Todo mundo! Me falaram que vocês, esses merdas de
mutantes, são perseguidos pelo governo.
Mas não é como num país sem lei, seu
cretino. Não existe recompensa!
Não? Lobo coçou a cabeça.
Não!
Humm... Bom, se não existe recompensa, as coisas
mudam de figura. Não vou matar vocês por causa da
recompensa.
Rictor se levantou e disse:
Viu, Shatty? Até você consegue resolver as
coisas conversando. É assim que tem que ser, chega de violência
sem sentido.
Como assim, perôba? Eu disse que não vou matar
vocês por causa da recompensa. Mas vou matar vocês.
disse Lobo.
Hã? Como assim? Não há motivo para
lutar.
Há, sim. Estou irritado, longe de casa, em um planeta
escroto e primitivo. Tem uma maldição nas minhas
costas. Se não existe recompensa pelas cabeças de
vocês, não vou matá-los por isso. Mas agora
é pessoal. Vocês vão morrer de qualquer jeito.
Mas por quê? Por que somos mutantes? perguntou
Rictor. A população de Guadalajara observava à
distância aquele estranho duelo em suas ruas.
Não. disse Lobo, com um olhar sombrio.
Não vou matar vocês por dinheiro, nem porque são
mutantes. Nem sei bem que merda é essa de mutantes. Também
não vou matar vocês por serem um par de bichinhas.
Isso não me diz respeito. Também não vou
matar por se vestirem como as merdas dos Cavaleiros do Zodíaco.
Essas coisas me irritam, mas se não tem dinheiro na parada,
eu não mataria vocês por isso. Não. Mas tem
uma coisa em vocês que me irritou muito. Vocês poderiam
ser mutantes, boiolas, idiotas, o diabo. Mas vão ter que
morrer por usarem esses malditos mullets! Aaaarrggghhhhh!
Lobo saltou com ódio sobre a dupla. Um pontapé e
Rictor voou metros de distância. Enquanto seu companheiro
tentava se recompor e fazer a terra tremer, Shatterstar se esforçava
para manter Lobo afastado com a sua espada. A lâmina dupla
cortou mais uma vez o braço do mercenário, que gritou
de ódio. Rictor provocou um longo e intenso abalo sísmico
e todos em volta caíram ou fugiram em pânico. A rua
se inclinou e Lobo rolou para perto do mutante, separando-se de
Shatterstar por algumas rochas.
Quer saber? Cansei dessa porra! Vem cá, seu terremoto
de merda! disse o Maioral, segurando Rictor com as mãos.
Aí, "Shatty", seu merda, olha pra cá!
Rictor se debatia, mas não conseguia se soltar. E estava
sem forças para provocar outro abalo de grande intensidade.
Voltando-se para ele, Lobo disse:
Tenta fazer o inferno tremer, desgraçado.
Segurando Rictor, o mercenário arrancou a cabeça
do mutante com as mãos. Um grito sem som saiu da garganta
de Rictor antes da decapitação. Lobo rodou a cabeça
e jogou-a para a frente.
Segura aí, Shatty. Rebate a bola com a espada! Eh,
eh.
Incapaz de crer em seus próprio olhos, Shatterstar avançou
ferozmente na direção de Lobo, com ódio e
lágrimas transbordando de seu rosto. Quando o mutante saltou
na direção do mercenário, um campo de energia
verde envolveu nosso herói.
"A maldição da Eternidade. Se não for
esperto, vou perder o Shatty." Aí, boiola,
tou indo nessa! Tchau!
Nããããããããããããooooo!
Shatterstar, que pulou sobre Lobo, tentando enforcá-lo.
Nesse momento, envolvidos pela energia Kundalini, os dois desapareceram,
deixando para trás um bairro inteiro destroçado
de Guadalajara e um corpo mutante sem cabeça, caído
no chão.

Um local incompreensível
formou-se ao redor de Lobo. Com uma mão, ele retirou Shatterstar
de seu pescoço e jogou-o longe.
Que lugar escroto. Shatty, que merda é essa? Você
entrou na energia Kundalini e influenciou na nossa viagem. Onde
nós viemos parar, baitola?
Não! Esse é o Mundo de Mojo! Maldito, você
me fez voltar para cá! E Rictor... Julio, você será
vingado! Aaaaahhhhhh!
Uma potente rajada de energia saiu da espada de Shatterstar e
atingiu Lobo em cheio. O choque foi tanto que o mutante perdeu
o mercenário de vista, graças à fumaça
gerada pelo ataque. "Maldito. Que apodreça no inferno.
Mas fiz isso muito tarde. Julio está morto e eu estou preso
no Mundo de Mojo. E... estou sem forças... esse ataque
acabou comigo".
Mojo, é? Tipo Mojo Lamen? disse uma voz.
A fumaça esvaneceu e Shatterstar não acreditou nos
próprios olhos. O mercenário ainda estava lá,
de pé.
Fez cosquinhas... disse o Maioral.
Nããããããõoo!
Aos berros, Shatterstar arremessou sua espada na direção
do nosso herói.
Putz, tu gosta mesmo de gritar, né, ô escandalosa?
Cansei de você.
Lobo aparou a espada em pleno ar e, rapidamente, lançou-a
de volta. As duas lâminas penetraram fundo no peito de Shatterstar.
Com os olhos arregalados observando o nada, o mutante cuspiu sangue
e murmurou: Ric...
Antes do corpo sem vida tombar no solo, Lobo já estava
sendo teleportado pela energia Kundalini para longe do Mundo de
Mojo. Por algum motivo, os nomes "Caos", "Gaia"
e "Éter" passaram pela sua cabeça.

Terminou seu
plasmotranse, senhor?
Sim... após semanas de meditação e
inércia, descobri a resposta. Mijorr iluminou meus fluidos
e logo teremos nossa vingança.
Que Medularr abençoe suas palavras, senhor.
Fique tranqüilo, fiel servo. Chame o esquadrão
de auto-reconstrutos carnais.
Mas... perdoe a afronta, senhor... eles...
Eu sei. Mas somente estes seres poderão proporcionar
a vingança que Uk merece contra o ser abjeto chamado Lobo.
Mesmo sob o risco da própria realidade genético-social
ser alterada, devemos nos vingar. Desça até as carnacumbas
e prepare o esquadrão. Vá!
Sim, Tarodequi.
:: Notas
do Autor
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