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Tucão # 01

Por Matheus Pacheco

Do Demônio e Outros Amores...

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Quarta-feira, 5h30

"Eu devo estar louco. Isso não é hora pra estar trampando, porra. Por que eu não fui ser vendedor de cachorro-quente ou algo assim? De quebra eu ainda me livrava daqueles malucos mascarados que ficam me enchendo o saco."

"Porque sempre eu, caralho? Bem que o Jotapê e o Mongol podiam ser o alvo dos caras de vez em quando. Mas não... Sempre o mau e velho Tucão é que se fode e vai pro cepo. Merda..."

"Agora estamos aqui, nós três, mais o Joe Bala vendendo uns bagulhos pra este tal de Alfredo Pinozzi, ou seja como se fala este nome. Cinqüenta quilinhos do melhor skunk que se pode achar por aí, decerto para aqueles bundões de Wall Street poderem descansar e dar umazinha depois de cheirar toneladas durante o trampo deles."

"Só o que tá me dando medo são aqueles cinco gorilas do italiano. Porra, os caras têm uns dezessete metros de altura e mais armas que o Stallone em filme do Rambo. Os berrinhos que eu e os caras temos não dão nem pro cheiro se eles resolverem apagar a gente; sorte que o Joe tem o melhor material do país e não pode nem deve ser apagado assim, por raivinha..."

"Já tou de saco cheio. Chegamos faz uma hora. As tradicionais ameaças e humor negro levaram meia horinha, entregamos o bagulho depois e agora o Joe tá contando a grana. Porra, US$ 5 milhões em espécie. Que coisa! Deixa meu salarinho de duzentos paus por missão no chinelo."

"Vontade de mijar. Porra... Só falta dar merda enquanto eu estiver ali no cantinho... Vou rapidão lá pra não dar rolo."

— Jota, vou dar um mijão ali no canto. Rapidão, falou?

— Tá, vai. Mas volta duma vez, cara.

— Falou...

"Ah, coisa boa. Às vezes é melhor mijar do que meter naquelas vagabas da zona. Não deveria ter bebido tanta cerv..."

"Ai minha cabeça! Porra, parece que alguém me desceu o cacete. Que será que houve? Só lembro de estar esperando o Joe Bala contar a grana pra gente cair fo..."

— Caraaaaaaaaaaalho!

— Gostou da vista, Tucão? Você está mais pesado que eu me lembrava. Não vai ser fácil continuar te segurando pendurado aí.

— Então me deixa no chão, porra! Aliás, quem é voc... Demônio! Sempre tu, né? Bosta, o que você quer?

— Estou esperando pra pegar o Joe Bala faz tempo e você vai me ajudar. Me diga, onde é o Horto?

— Hor-o-quê? Sei lá eu do que você tá falando, cara!

"Ai! Porra, o cara largou um pouco da corda. Eu nunca vi ele matar, mas não duvido nada de um cara que se veste com uma roupa de diabo vermelho. Eu acho que ele é um destes mutunas malditos, porque sempre sabe quando eu tou mentindo ou nervoso."

Porra, Demônio! Não zoa não, segura essa bosta aí! O que você quer saber? Eu não sei direito onde é o lance do Joe.

— Que canseira nas mãos... E o que você sabe?

"Merda, o cara soltou mais um pouco. Daqui a pouco eu vou pro espaço. Que eu digo pra ele? Nunca consigo enganar o sujeito!"

— Tá bom. Eu sei que é uma casa das grandes que ele usa pra morar e pra plantar os esquemas dele. Ele tem toda a manha destes lances de genética e consegue fazer o melhor produto do mercado. Mas eu não sei onde é, cara!

"Espero que ele caia nessa. Eu já falei demais e tou fodido demais por isso. Garanto que metade dos italianos de NY devem estar querendo meu couro a uma hora destas."

— Sei não, Tucão. Eu acho que você sabe onde é o Horto, sim. Sabia que as minhas mãos começam a suar muito depois de me esforçar bastante? As coisas começam a escorregar...

— Demolidor, pelamordedeus! Eu sou um cara morto se souberem que tou te passando estes lances. Um cara morto!

— E se não me passar é um cara morto também. Que tal? Além do mais, ninguém vai saber que você está falando comigo. Seus amiguinhos estão todos inconscientes.

— Merda... Merdamerdamerda... Cara, este lance do Joe fica no Queens. No continente. Não é difícil de achar, do lado de uma pensão pra velhinhos.

— Ora, muito obrigado, velho amigo. Como sempre, você é de grande utilidade.

— Porra, tomara que eu nunca mais te encontre, cara. Tomara.

Ele fica quieto e começa a me descer. Porra, eu tou cagado de medo aqui em cima. E inteiro fodido por ter passado estas informações pro demôn...

"De novo não! Maldita dor de cabeça!"

"Acordo dentro de um carro em movimento. Não consigo mexer as mãos direito. Algemas... Olho em volta e vejo o pessoal do negócio, menos o Alfredo e o Joe. Estes chefões são uns filhos de umas putas. Nunca se dão mal nestas histórias."

"Que merda de camburão desconfortável. Só espero que o Lou pague minha fiança duma vez. Odeio dormir na cadeia. Eu devia me aposentar, definitivamente..."

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