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Tucão # 02

Por Matheus Pacheco

Segurando Uma Aranha Com Apenas Um Dedo

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— ... Então eu disse pra vagabunda passear, que eu não agüento mais cobrança.

— Fez bem, eu acho. De onde já se viu ficar fodendo com uma vagaba daquelas e ainda ter de ouvir esporro? Larga mão mesmo, porra!

— Eu sei lá. Sei que me senti bem pra caralho depois disso. Onde vai, Jotapê?

— Mijar. Já tô estourando.

— Belê. Na volta pega umas pra gente.

— Porra, deixa de ser vagabundo, cara! Desta vez passa que o lance é ali do lado do banheiro. Mas é desta vez, viu?

— Tá, tá... Agora vai lá e pega estas cervas.

— Vagabundo...

— Porra, Tucão. Desculpa ficar te torrando com estes lances de mulher, mas é que você é mais velho e...

— Tá, já entendi. Eu sou devagar mas nem tanto. Na boa, Mongol, nem estressa que não tem rolo. Pode alugar meu ouvido quando quiser, velho. Tu é gente boa, o filho que eu queria ter tido se tivesse achado alguma vagaba que valesse a pena.

— Porra... Valeu, velho. Mas vamos deixar de frescura e beber. Falando em frescura, quando é que a gente vai fazer aquele trampo pro Polaco?

— Ele falou em fim do mês, cara. Nem sei direito. Não tou muito empolgado não.

— Ah, sei lá, cara... Amsterdã. Deve ser divertido queimar um sem ter de estressar com meganha. Sem falar que eles devem ter erva muito boa lá.

— Bah, porra nenhuma. Os lances do Joe são os melhores que eu já vi. Além do mais eu tou parando com essas porras, tão me fazendo mal pro fígado.

— Você anda é cagado com este lance de heróis, né?

— Que nada! É que não agüento mais chapar mesmo. Se bem que as coisas eram bem melhores antes desses maníacos aparecerem. Eta, bando de mal comidos!

Huahuahuahuahuahua! Tu é mesmo um cagão, Tucão! Pega a cerva aí!

— Ah, calaboca Jota! Tu é que é escroto demais e não mede o perigo do que faz.

— Ah, parem de bater boca vocês duas! Já tão me dando nas batatas!

— Esta mala... Eu vou indo, pessoas, dar uma dormida que amanhã tem pôquer no Louie e eu tou a fim de descolar uns pilas pra ver se meto em alguma no fim de semana.

— Tucão e suas putas. Bah, já vai tarde. Até.

— Falou, Tuc! Te cuida aí, tá certo?

— Na boa. Hoje eu tou limpo, não rola nada.

— Então tá, té mais.

— Té...

"Caralho, como é chato esse Jotapê. Fica pegando no pé! Queria ver se fosse ele a se foder sempre com os musculosos viadosos. Pfe... Ele que vá se foder. Bem ao contrário do Mongol, que é gente boa pra caralho. Dá pra confiar no cara, posso sentir isso. Além do mais ele é meio esperto, não costuma fazer muita cagada. Se tivesse no lance nos tempos bons, não ia ter o menor problema em virar gente grande — talvez até um segurança de chefão, sei lá... Naqueles tempos era tudo mais fácil. Não tinha tanta gente no trampo, não tinha tanta gente contra o trampo. Além do mais, os meganhas eram camaradas, deve pra lidar com eles — hoje em dia só com muita grana pra lidar com a lei. Tudo complicou muito hoje em dia. Merda... Mas foda-se, eu não estou mais interessado nisso. Logo, logo eu tou caindo fora desse lance. É só eu descolar um esquema pra me sustentar . Os caras confiam em mim, eu sei. Não ia ter problema em cair fora. O foda ia ser descolar grana. O que será que eu posso fazer de trampo pra ganhar um graninha? Nada que canse muito. E que não tire o meu tempo livre também. Sei lá. O mais importante é me manter longe destes fantasiados filhos de umas pu..."

"Caralho. De novo não! Onde agora? Dá até medo de abrir os olhos..."

— Porra, Demônio! O que tu quer agora?

— Demônio? Quem você acha que eu sou, cara?

"Peralá, porra. Esta voz... É diferente da do vermelhão. É mais simpática. Mas eu conheço... De onde eu conheço esta voz? Quem será este bosta? Bah, se foda. 'xa Eu ver quem é... Putaqueopariu!
Nãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonão..."

— O que tu quer, cara? Eu tou limpo, já vou avisando. Eu te processo, porra!

— Ai, que meda! Bicho, tem mais processo contra a minha pessoa que torcedor do NY Knicks. Não que seja muito, mas de vez em quando aparece um...

"Engraçadinho do caralho..."

— Que tu quer, cara? Eu tou limpo.

— Quantas vezes você vai repetir isso, Tucoso?

— Até tu dizer o que quer, cara! Eu tenho mais o que fazer do que ficar conversando com magrão vestido de inseto pendurado na parede!

— Que sujeitinho chato! Nunca te disseram que as preliminares são mais importantes que os finalmentes? Vamos conversar um pouco!

— Que conversar o caralho! Porque cê me pegou, cara?

— Um demoninho vermelho me disse que você era o cara certo pra dar a informação que eu quero ouvir.

— E o que tu quer ouvir?

— Que me amas!

— ...

— Ficou bravo, Tuquinho?

— Nãããão... Porque eu ficaria? Tou aqui pendurado de cabeça pra baixo falando com um maluco vestido de azul e vermelho me falando piadinha. Se eu não estivesse em Nova Iorque eu ia ter certeza que é pegadinha.

— Maluco vestido de azul e vermelho? Assim você me magoa, Tuquera... Eu estou sendo tão educado contigo!

— Pelamordedeus, pára com esta porra de conversinha pra boi dormir e me fala o que você quer, caralho! Eu tenho mais o que fazer!

— Noffa! Que moça nervosa! É que eu quero umas informações de você, Tucona!

— Tá. Isso tu já me disse.

— Uma casa, em Queens. Movimento suspeito à noite. Dois andares. Som alto o dia inteiro. Toneladas de fertilizante nos fundos. E olha que eles não plantam nem cebolinha no jardim.

— Sei lá, cara! Tem louco pra tudo nesse mundo. Porque você tá me falando isso?

— Porque eu andei sabendo que você é amigo do pessoal que anda por lá. O demoniozinho me disse que você estava com eles na semana passada.

"Ah, não! Não faz isso comigo, cara! Eu não posso entregar o Joe! Ele é minha passagem pra fora dos negócios, é o único que confia em mim! Além do mais o bagulho dele é o melhor que existe no mundo todo, não dá pa deixar tudo acabar assim. O que eu faço, caralho?"

— Cara, não sei de nada! Eu juro! Confia em mim, porra!

— Sei lá, Tuquera. Não senti muita firmeza, não. Acho que você tem coisa pra falar... Que tal a gente subir mais uns andares? Dizem que o terraço do Clarim tem uma visão linda a estas horas da noite...

— Pelo amor de Deus, cara. Não faz isso. Eu tenho horror a altura, sempre tive.

— É... Andei sabendo.

"Que filho de uma puta. Tá brincando comigo. Ele sabe que eu estou em desvantagem, sabe que eu sei. O que eu faço, caralho?"

— Não vai falar nada sobre o tal Joe Bola?

— É Bala, porr... Ai, caralho!

— Pois olha só! Ele sabe de quem se trata, afinal. Vai lá, desembucha!

— Pára, cara! Eu não sei de porra nenhuma! Só acho que você devia estar pensando num cara que é famoso por aí.

— Tá. Foi o mesmo que o Coelho da Páscoa me disse e eu me arrependi até a morte de acreditar. Aí, estou começando a ficar puto contigo. Vou parar de ser legal e começar a agir sério!

— O... O que você tá dizendo, cara?

— Você não acha que eu tenho a fama que tenho à toa, né?

— Ai... Aiaiai... Aiaiaiaiaiai... Caralho...

— Fala ou o Clarim vai ter mais notícias minhas amanhã.

— Tá bom, é o seguinte...

— Então é isso, inseto. O único rolo que tá tendo é com uma velha chata lá que fica reclamand...

— Velha chata????

BONG

"Ai, merda. Aquilo doeu. O que será que eu falei de mal? Bom, pelo menos eu tou vivo, só falta bolar um jeito de sair desta nojei... Opa! Peraí, isso aqui tá mexendo, cedendo... Quantos metros será que é daqui pro chão? Tomara que não machuq..."

BONG

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