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Por
Conrad Pichler, sobre um plot de Eduardo Sales Filho
Quando o Homem-Absorvente Vem Para Chinatown
Restaurante Fu Mun, Chinatown
— E aí, Daniel? Isso tá bom? — perguntou o rapaz de cabelos castanhos claros, conhecido como Bobby Drake.
— É... — respondeu o garoto de pele pálida e cabelos negros escorridos, antes de outra grande garfada num prato de frango xadrez — E me chama de UnT (*)...
— Certo! É... eu prefiro o frango do Li T'ai Po, na outra esquina...
— Não... chomp!... esse eu... chomp!... não! Glup! Nesse muquifo eu não vou, cara...
— Certo! Mas, você, ainda, não me falou como colocou aqueles três traficantes no chão...
— Humm, hein? Cara, é melhor ficar quieto! Sabe, eu... eu ando meio visado por aqui... vou catar minhas coisas e sumir...
— Tá! Mas e aquelas pedrinhas... as...
— Pérolas... — UnT começou a fazer movimentos nervosos.
— São drogas, e você não...
— Nah! Eu não transo essa... não, cara... eu não.... sabe como é, eles implicaram... — UnT levantou irritado pegou sua mochila no chão — Eles não gostam de mim... acho que vou para Cozinha do Inferno, lá é mais tranqüilo...
Nisso, uma explosão ecoa pela rua, vibrando todo o restaurante.
Alguns minutos antes, no Restaurante Li T'ai Po (**)
Um homem, de uns dois metros, ergue um pequeno e esguio velhinho chinês a altura de sua face reluzente. Ele é Carl "Crusher" Creel, o Homem-Absorvente (***).
— Qualé, velhinho!? Não tenho todo o dia, cadê o teu chefe?
— < Eu não vejo ele, desde que você esteve aqui ontem! > — disse o velhinho, em chinês. Crusher apenas coçou o ouvido com o dedo mindinho.
— Tá... entendi tudo... o Shell não tá gostando do sindicato de Chinatown se armando contra ele... tá sacando!?
— < Eu não falo sua língua... mas você vai ver o que meu filho fará com você! > — o velhinho sorriu educadamente para o Homem-Absorvente, quando este sentiu um golpe forte nas costas.
Um jovem chinês golpeava constantemente as costas de Creel com um bastão.
— Quê? Tá achando que eu tô sentindo dor? — o vilão sorriu.
— Não! Eu estou desviando sua atenção... deixá o tio solto, pala meu plimo agi, né! — disse o chinês, com sotaque carregado.
Nisso, o velhinho entrou pela porta do balcão, desaparecendo atrás de um biombo. Nesse mesmo instante, um outro jovem chinês saiu de uma portinhola portando uma metralhadora automática, descarregando-a no peito do Homem-Absorvente.
— Querem saber, seus viadinhos? Eu nem tô sentindo cosquinha! Eu estou em puro titânio! — nisso, o vilão pega sua bola de metal e arremessa contra os dois chineses, que são empurrados através do biombo, no meio do restaurante, ainda, fechado.
— Nossa, cara! — disse uma voz irônica nos fundos — Não sabia que o Tampax-Man gostava tanto de bolinho da sorte!
— Homem-Aranha! — sim, era o Homem-Aranha, saltando com sua roupa azul e vermelha para cima do reluzente Homem-Absorvente.
— Ah, que bonitinho! Você me reconheceu! — Aranha usou sua teia para grudar as pernas de Creel ao chão — Mas me diz aí: você prefere o Jackie Chan ou o Bruce Lee?
— Seu verme! Se acha que vai me prender, esquece! — dizendo isso, ele soltou uma de suas pernas — Se nem os Vingadores ou o Hulk deram jeito em mim, você acha que pode? — ele soltou a outra perna e, alcançando sua bola de ferro, arremessou o Aranha contra uma pilastra.
"É a segunda vez em semanas que eu me pego com um supervilão dentro de espaços fechados... e sempre num restaurante típico... que poxa!" — o Aranha pensou rapidamente, e logo forjou uma estratégia para tirar o Homem-Absorvente de sua vantagem.
O espetacular Homem-Aranha era Peter Parker, rapaz franzino e pouco popular que foi picado por uma estranha aranha. Ele adquiriu as habilidades ampliadas de uma vasta gama de espécies aracnídeas, dentre elas, superagilidade e superforça, que permitem saltar atrás dos biombos e erguer um tambor de gás de 50 quilos como quem ergue um saco de pipocas.
Mas a teia sintética que ele usou para criar um casulo em torno do recipiente foi ele mesmo quem desenvolveu. Em menos de vinte segundos, ele tinha preparado a armadilha contra o Homem-Absorvente, que se erguia.
— Ei, Tampax-Man! Lá vai o china que você queria! — voando pelo ar, o casulo explosivo girava, quando Creel acertou-o com toda força, fazendo-o explodir e lançando o corpo do vilão no meio da rua!
Segundos depois...
— Humm, argh! — o Aranha ergueu-se de baixo de um escudo de teia e pedaços de mesas, que ele forjara — Nossa! Vou ficar ouvindo buzina o dia todo no ouvido! — o Homem-Aranha levantou-se cambaleando e saiu do prédio semidestruído — Ainda bem que esse lugar era do tráfico, assim eu não fico com a consciência pesada... — o Aranha se aproximou do corpo caído — Dei mesmo um jeito nesse bucéfalo! — o sentido de aranha ativou!
— Argghh! — o Homem-Absorvente, convertido em concreto, esmurrou com toda força o estômago de Peter, que pôs sangue pela boca. Erguendo-se, Creel surrou violentamente a cabeça e o peito do Aranha ainda umas vezes até que ele caiu no chão.
— Eu disse que nem os Vingadores acabaram comigo! — Creel sorriu sob o sol, no meio da rua, retornando a forma humana, mas...
— Isso porque você não pegou os X-Men pela frente, ô coisa feia! — encerrando o vilão num bloco de gelo, um jovem faz um semicírculo no ar, sobre uma haste de gelo. É Bobby Drake, o Homem de Gelo (****) — Ei! Esse é o Homem-Aranha, o cara tá péssimo!
Bobby Drake desceu de sua haste gélida até o herói aracnídeo, que estava inconsciente.
"Ele teve uma concussão, parece grave, precisa de ajuda... mas do pouco que sei, ele não é muito bem quisto do público, até acham que ele é mutante, como eu... e talvez por isso sua identidade seja protegida." — enquanto Bobby pensava, ele não percebeu que seu bloco de gelo começou a mover-se, tomando a forma do Homem-Absorvente.
— Seu fedelho desgraçado! Seu gelo é uma forma interessante, mas eu prefiro metal! — disse Creel, arremessando o Homem de Gelo, com uma espécie de tacape de gelo, contra uma van.
— Ei, ô cão de caça! Vem me caçar! — o Homem-Absorvente virou-se para trás e contemplou a face de UnT, que devia quase dois mil dólares ao chineses e uns três mil ao chefe de Creel, o novo rei do tráfico, Shell.
— Isso já tá começando a ficar bom! Derrubei o Aranha, o menino-de-gelo e agora... eu vou arrancar tua cabeça, malandro! — Creel converteu-se em metal e preparou o ataque — Quem pega droga com o Shell e não paga têm os dias contados com o Crusher Creel, aqui!
Creel perseguiu o jovem UnT...
Na van, Bobby se ergueu, ainda tonto, mas lembrou do Aranha caído e foi ajudá-lo. Uma multidão começou a se formar nas calçadas, alguns já ameaçavam xingar os mutantes, outros, o Aranha e ainda havia aqueles que soltavam gritos de apoio. Mas antes que o grupo se fechasse em volta deles, Bobby criou uma passarela de gelo e desapareceu entre os prédios.
Uma hora depois, em Manhattan, o apartamento de Bobby Drake, cedido pelo Professor Xavier
— Você acha que é grave, Hank? — Bobby pergunta para seu amigo Henry McCoy, o mutante meio-homem, meio-animal, chamado Fera.
— Não. Foi uma concussão séria, mas não grave, o meu aparelho de ressonância magnética portátil não indica nada. É melhor deixar ele dormir um pouco... mas, me diga, o que estava fazendo em Chinatown? — perguntou a fera de coração e intelecto humanos, tirando os óculos.
— Eu estava passando pelo Madison Square Garden, quando vi um garoto derrubar três traficantes chineses. E eram bem grandes. Ao vê-lo usar um golpe supersônico, saquei que ele era mutante. Daí, dei uma força pro cara e paguei um lanche. Mas acho que ele é viciado também.
— Nobres corações, os dos ingênuos! Tenho certeza que ele ficou grato e deixou você e o outro nobre aqui, se embrenharem em sua viciosa circunferência... — Fera deu uma cambalhota no ar e pousou numa poltrona confortável no outro lado da sala.
— Sabe, achei que o Professor X, ou o Instituto X, pudessem dar uma força pra ele... — Bobby coçou a nuca e levantou da outra poltrona, de frente à do Fera.
— Acredito que as pendências financeiras de vosso amigo para com os poderosos criminosos do poder paralelo o impediu de ponderar a sua deveras caridosa proposta?
— Isso! Agora o cara tá percorrendo o submundo com um dos mais poderosos supervilões no seu encalço... queria que o Aranha acordasse logo, ele tem mais experiência nesses "casos de submundo" do que nós, Hank. — Bobby aproximou-se do Aranha e desligou a luz do abajur. Ele e Hank foram para a cozinha ver se tinham algo para comer.
Nos frios becos de Chinatown, já pela noite
"Se eu me esconder nesses apartamentos, o Crusher não vai me achar." — pensou UnT, subindo uma escada de incêndio — "Se ele me pegar, o Shell vai tirar meu couro... eu tenho que dar um jeito de fugir... eu tenho que sumir... eu preciso... eu preciso de um trago de Pérola... eu preciso..."
Mas quando UnT chega ao topo da escada, um forte baque o joga para baixo, aos pés de um Homem-Absorvente transformado em diamante.
— Sabe, guri, cê deu trabalho. Mas cê vai pagar suas dívidas... vai pagar com sangue!
Na próxima edição: o Homem-Aranha precisa de toda a ajuda do Homem de Gelo para encontrar o Homem-Absorvente! Mas será que eles chegarão a tempo de salvar UnT?
:: Notas do Autor
(*) UnT é Daniel Donne, viciado em drogas, mutante e, quase sempre, endividado com traficantes. Ele apareceu no Hyperverso pela primeira vez na minissérie Aranha, a versão Vertigo Knights da Mulher-Aranha. 
(**) Li T'Ai Po é um poeta chinês, um dos melhores, viveu no século VI. Suas poesias escritas em ideogramas (forma de escrita dos chineses) são consideradas um modelo para os poetas concretistas, aqui do Brasil.
(***) Pra quem é fã, ou não, vale lembrar que Carl "Crusher" Creel era um presidiário (daí suas roupas listradas e a grande bola de aço que ele carrega sempre) que recebeu um encantamento de Loki, o deus nórdico da mentira e da trapaça (irmão do deus do trovão, Thor, dos Vingadores) que permitiu a Creel absorver as qualidades de quaisquer materiais, inclusive energia, apenas com o toque. Depois de ser derrotado várias vezes por Thor, os Vingadores e até pelo Hulk, ele ficou sumido, agora está sob as ordens de Shell, o misterioso novo Imperador do crime de Nova York.
(****) Robert "Bobby" Drake é o Homem de Gelo, o mais jovem dos X-Men originais, que fez parte, também, do X-Factor. Ele foi hostilizado pela própria família e como todo mutante, é hostilizado por toda a sociedade. Agora, ele vive sozinho em NY, num apartamento cedido pelo professor Charles Xavier.
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