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Aquaman # 02

Por Eduardo Regis

Incômodos Profundos

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As águas rasas de Boston são um ambiente tranquilo, normalmente. Não tivera o Aquaman chamado tubarões para ajudá-lo, assim elas continuariam. Ele, no entanto, não contava com o destino que o aguardava. Não contava em acabar desmaiado e sangrando na areia do fundo do mar. (*)

Os tubarões, embora um pouco afastados por causa da briga entre o monarca de Poseidônis e a moréia, começam a ser lentamente atraído pelo sangue. Na superfície da água, é possível ver as barbatanas dorsais de vários dos grandes predadores, nadando em círculos. Um, mais atrevido, mergulha e se aproxima rapidamente de Aquaman, acertando-o com o nariz, tentando ver se trata de uma armadilha, ou se é, realmente, uma presa indefesa.

O tubarão não vê resposta e sabe que é hora de atacar. No entanto, o empurrão do peixe causa uma reação no inconsciente Aquaman, um alerta primitivo que o faz despertar, mesmo com toda a dor e injúria.

Aquaman acorda no susto, quase cara a cara com o tubarão vindo abocanhá-lo. O herói desvia o animal com seu gancho e se dá conta de que está cercado por um cardume deles. Sem pestanejar, Aquaman envia um sinal telepático para que todos vão embora, menos um, a quem ele comanda que o leve até o seu veículo. Os rasgos na perna e no abdômen ainda doem, ele definitivamente precisará de médicos.

Com alguma dificuldade ele se senta no veículo que havia deixado em águas mais profundas. Aquaman liga o piloto automático para Poseidônis e desmaia.

Orin entra no salão real mancando. Segue direto para uma grande poltrona de couro de atum e se senta, exausto. Mera chega ao salão, vinda de outro cômodo atraída pelo barulho.

— Orin! — ela se espanta ao ver os grandes cortes — Você está bem? Isso parece sério! — e corre para ajudá-lo.

— Realmente, dói um pouco. A moréia gigante era mais poderosa do que eu imaginava, ou talvez eu esteja um pouco desacostumado dessa vida. — ele sorri — Seria melhor pedir que alguém limpasse o veículo, eu o sujei todo de sangue.

— E você ainda faz brincadeiras. — Mera o repreende.

— Sempre ganho ânimo novo quando... — Aquaman para.

Mera o fita, seu semblante não esconde a apreensão.

— Quando chego em Poseidônis. Só de ver a doma ao longe, já é um alívio. — Orin abaixa a cabeça.

— Sim, de fato é um esplendor. Acho melhor chamar a equipe de médicos.

— Desta vez me parece uma boa idéia, qualquer coisa para sarar estas feridas mais rápido.

Mera se dirige a outro cômodo.

— Mera! — Aquaman fala, fazendo-a parar.

— Sim?

— Poderia chamar o professor Vulko?

— Claro. — Ela sai.

Aquaman desaba na poltrona. Esta é a ferida que ainda mais lhe dói. Só o simples pensamento de sua situação o faz sentir um frio enorme por dentro, um frio muito maior do que o das águas abissais do ártico. Embora ele queira mais do que tudo tê-la de volta, ele ainda sente a dor do filho que se foi quando a olha. É uma sensação estranha, de querer e ter que se afastar ao mesmo tempo.

Uma sensação por demais sofrida, bem mais do que os dentes de uma moréia gigante.

Os médicos entram correndo no salão real com uma maca, aonde colocam Orin e começam a tratá-lo. Vulko chega logo depois, mas já é tarde para falar com Aquaman, ele se encontra sedado, enquanto os médicos fecham seus ferimentos.

Na manhã seguinte:

— Então, Vulko, as amostras dos animais estão no refrigerador do veículo, só não consegui coletar nada da moréia, mas creio que ela deva ser da mesma natureza dos demais. — Orin fala.

— É provável. Os geneticistas irão comparar o DNA destes animais com a base de dados do genoma completo que temos das criaturas marinhas. Qualquer anomalia será encontrada. Mas... você disse algo sobre ondas de choque psíquicas? — Vulko está intrigado.

— Sim. Algo mais ou menos como um sinal de fúria. Não sei dizer bem o que era.

— Está claro que há algo por trás destes ataques.

— O bom é que temos poucos candidatos: Arraia Negra, Mestre-do-Oceanos ou Attuma, seriam minhas apostas.

— É possível. Mas nunca podemos descartar os seres da superfície. — Vulko alerta.

— Talvez. Eu verei o que descubro. Alguma notícia de outro ataque?

— Sim. Mais dois. Contidos por heróis da superfície.

— Então eu preciso voltar a patrulhar os mares — Orin conclui.

— Os ferimentos foram muito severos e... — Vulko é interrompido.

— Eu sei, amigo, mas ainda assim eu preciso agir.

— Você nem parece o mesmo que ontem se recusava a voltar a superfície.

— Algo está despertando novamente em mim.

— Sei bem o que é. Vou deixá-lo descansar, enquanto nada acontece. — Vulko sai dos aposentos reais. Na saída, cruza com Mera.

Mera entra nos aposentos devagar, sem se anunciar ou ser anunciada. Ela pára um pouco antes de entrar por completo e fica um tempo observando Orin deitado.

— Eu a senti dormindo comigo esta noite, Mera. — ele fala.

— Achei que conseguiria passar despercebida, pelo visto nunca consigo. — ela entra no quarto, se revelando de vez.

— Só gostaria de saber a razão de não ter ficado até a manhã.

— Só achei que não seria certo — ela vira o rosto tentando evitar a conversa.

— Talvez você esteja certa. Mas, ainda assim, teria sido ótimo. — Aquaman a olha fixamente.

— Vejo que você já está bem recuperado. Com licença. — Mera se retira.

Orin apenas fecha os olhos. Definitivamente ele tinha dado alguma mancada.

Na noite passada:

Mera entrou sorrateira no quarto de Orin. Ela o viu em sono profundo, as bandagens já não mais tão sujas de sangue indicavam uma boa melhora. Ela sorriu. Devagar ela se aproximou da cama. Ajoelhou-se próxima a ele e começou a lhe acariciar os longos cabelos loiros. Sua mão foi até o rosto, e passou, de leve, pela barba.

"Nunca gostei da barba." — pensou.

Aquaman se virou na cama, dando um susto em Mera. Ela retraiu as mãos e ficou quieta, até que se certificou de que o monarca continuava dormindo.

"Talvez eu possa. Não. Mas... acho que sim."

Mera lentamente se acomodou na cama, ao lado de Orin. O rei a abraçou e ela respirou ofegante, se sentindo nervosa por estar novamente entre os braços de Aquaman. Mera virou o rosto e encarou, de frente, a face serena de Orin. Ela olhou para seus lábios e, de repente, aconteceu.

— Júnior... Júnior... — a face de Orin se transforma em tristeza.

A ex-esposa de Aquaman não resistiu. Seu coração saltou à boca, o choro invadiu seus olhos. Tentando se conter, ela saiu lentamente do abraço de Orin e correu para seu próprio quarto. Mera fechou a porta com força e caiu em desespero ao lembrar-se da morte de seu filho.

— Maldito. Maldito. Eu jurei que iria me vingar. Haverá um dia no qual não me faltará coragem! Em que não haverá nada pelo que me temer novamente!

Assim ela mergulhou na noite envolta em lágrimas e dor.

Agora:

Após a visita de Mera, Aquaman não poderia dormir novamente. Embora os médicos tenham insistido para que seu Rei ficasse em repouso absoluto, há incômodos demais na vida dele agora para que ele possa se dar ao luxo de ficar numa cama. Aquaman se levanta, mas sente a fraqueza ainda muito presente.

"Hora de fazer o que eu mais tentei evitar." — decide em pensamento.

Momentos depois:

Aquaman se aproxima de uma sala repleta de monitores e computadores. Sentado em frente a uma das máquinas, de costas para Orin, está o cavaleiro das trevas de Gotham.

— Estou surpreso de meu teletransportador ainda funcionar. — Orin fala.

— Eu liberei seu acesso à torre de vigilância da Liga ontem à tarde, Aquaman. — Batman se vira e encara seu antigo aliado.

— Creio que você não deve ter discutido nada disso com o resto da Liga.

— Não. Eles não aprovariam. Na verdade, Aquaman, não entenda isso como...

Orin corta o detetive.

— Não. Nem eu venho até aqui com o desejo de retornar à Liga.

Batman acena que sim com a cabeça, aprovando a falta de pretensão de Aquaman.

— Preciso de ajuda.

— Eu sei.

— Vocês vão me ajudar?

— Não. Mas estamos lidando com o problema dos monstros marinhos da nossa maneira.

— É tudo o que eu preciso.

— Se quiser alguma outra ajuda, você me acha na caverna.

— Achei que você seria o primeiro a me atirar pedras — Aquaman se surpreende.

— Você se aliou à escória, Orin. Jogou sujo, como os piores homens jogam. Só que eu conheço os piores homens e você é muito mais incompetente do que eles nesse quesito.

— Obrigado. — Aquaman sorri, mas a calmaria é interrompida pelo sinal de alarme da Liga. Na tela aparece a imagem de um peixe gigante atacando uma praia no México.

— Já estou configurando o teletransportador para o local. — Batman diz.

Aquaman desaparece apenas para reaparecer quase que instantaneamente na praia aonde acontece o ataque. Banhistas correm desesperados para longe do mar, enquanto o gigantesco peixe, que deve possuir uns dez metros de comprimento, nada além da arrebentação, circundando um surfista.

Orin corre contra o fluxo de pessoas e mergulha nas águas quentes do México. Como um torpedo ele nada em direção ao surfista, ao se aproximar ele salta, agarra o rapaz pela cintura e mergulha novamente com ele. Imediatamente o peixe se vira para o herói e começa a perseguí-lo.

Orin, ainda carregando o rapaz, nada por debaixo d’água o mais rápido que pode em direção à praia. Ele não pode se demorar muito, afinal o surfista não é capaz, como ele, de respirar embaixo d’água. Orin atinge águas rasas demais para o peixe, e, com segurança, solta o surfista. O rapaz, embora tenha engolido um pouco de água, está a salvo. No entanto, salvar o surfista não era o único objetivo de Aquaman. Ele ainda precisa derrotar a ameaça do peixe gigante.

"Isso já está ficando muito perigoso. Preciso atacar a fonte desses problemas."

Aquaman mergulha em direção ao grande peixe e começa golpeá-lo com socos e estocadas de seu gancho. O animal tenta morder o herói, mas é sua cauda que atinge o abdômen de Orin com força, fazendo o Rei sentir a forte dor dos ferimentos abertos.

O monarca resiste ao choque da dor e continua a atacar sem descanso o animal. Aquaman é atordoado por outra onda de choque psíquico, uma raiva muito forte emanando pelo oceano e concentrando-se no animal à sua frente, por reflexo, Orin acerta um golpe com seu gancho perto de um dos olhos do animal e sente que arranca alguma coisa dura que estava presa por entre as escamas. O peixe, ao contrário dos outros monstros, não parece responder a onda psíquica.

Aquaman aproveita para desferir outro golpe com seu gancho, dessa vez atingindo um ponto mais fraco, fazendo o monstro se afastar. Enquanto o peixe vai mais para dentro do oceano, Aquaman vê uma pequena peça de metal caindo em direção ao fundo do mar. Com um impulso, ele a agarra, mas falha em reconhecer a natureza do pequeno cubo metálico

O animal, ao longe, começa a desaparecer mar à dentro. Aquaman, no entanto, tem uma idéia e, na ânsia de descobrir mais sobre os ataques, resolve seguir o monstro na esperança de encontrar qualquer pista

"Sem a raiva para dominá-lo e fazê-lo lutar sem controle, talvez ele retorne a algum covil, ou coisa parecida. Esta pode ser a chance de descobrir o que está acontecendo." — planeja para si.

Por um longo caminho Aquaman segue sorrateiramente o Peixe pelo oceano. Não é difícil manter o animal em vista, uma vez que seu tamanho avantajado e o incômodo que causa nas outras criaturas é de fácil percepção, o mais difícil, no entanto, é se manter sempre furtivo e suportar a dor das feridas remexidas. Sua determinação, porém, é muito superior ao cansaço e a indisposição e Aquaman segue o animal até as fossas de uma formação rochosa.

Com alguma dificuldade, devido ao seu grande tamanho, o peixe entra em uma caverna submarina.

"Parece que finalmente conseguirei alguma pista."

Aquaman espera um tempo e lentamente vai se aproximando da entrada da caverna. É espantoso notar que a boca da caverna é muito larga e que na areia e entre as pedras há uma vasta coleção de ossos e carcaças de animais submarinos.

"Ou a mãe daquele peixe vive aqui, ou estou realmente no caminho certo mesmo."

Orin entra na caverna, com sua visão capaz de enxergar em sombra ou em luz ele vai percebendo todos os detalhes. A caverna parece ser um longo corredor de rocha parcialmente escavada que segue até mais fundo.

Devagar, ele vai descendo. Finalmente o corredor se abre num grande lago salgado submarino. Um tanque gigante, aonde jaulas vazias e arrebentadas compõem o fundo, bem como algumas intactas com espécimes marinhos aparentemente normais.

O grande peixe está lá, encostado no fundo, sangrando. Acima do tanque há um grande bolsão de ar que preenche uma cúpula rochosa, de onde outro corredor segue.

Aquaman salta para o chão rochoso acima d água, no bolsão de ar. Imediatamente, válvulas e membranas especiais em seu corpo se modificam, algumas abrindo e outras fechando, tudo para que Orin possa respirar o oxigênio do ar.

Ele se aproxima da entrada do corredor e já começa a ouvir o som vindo de um aparelho de CD. Aquaman conhece aquela melodia folk, já a ouviu no tempo em que morava na superfície, no farol, embora ele não consiga ao certo lembrar qual é o nome da canção, nem mesmo o artista.

Não se deixando distrair muito pela música, ele segue pelo corredor até que tem uma visão do salão à frente. Ele pára. Seus dentes e punhos cerram. Ele dá alguns passos para trás, retornando ao ambiente anterior. .

"Não acredito. Eu sabia! Essa é a hora de colocar para for a tudo que eu tive que engolir em nome de meu povo. Hora de me livrar de vez dessa sensação de imundície que toma conta de mim!"

A vibração do comunicador em seu cinto o interrompe. Ele demora um pouco, mas o agarra e atende baixinho.

— O que é? — Ele atende rispidamente.

— Orin? Levamos um susto. Você saiu e seus ferimentos ainda não estão curados — A doce voz de Mera soa genuinamente preocupada.

— Você não vai acreditar em quem eu encontrei aqui...

— Aqui? Onde você está?

— Eu segui uma das criaturas até uma caverna e... ele está aqui.

Mera se choca com sua conclusão e sua voz fica presa junto a um nó em sua garganta.


Continua...


:: Notas do Autor

(*) Na edição anterior. voltar ao texto




 
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