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Aquaman # 04

Por Eduardo Regis

O Verdadeiro Monstro

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Um belo dia nas rochas junto ao instituto oceânico da Escócia. O sol traz um calor confortável e o azul do céu está intenso como poucas vezes. O mar, calmo, quebra devagar na praia de pedras. Um aparelho de CD toca clássicos dos anos 80 enquanto colegas de trabalho bebem cerveja e dançam animados.

— Foi uma grande descoberta, Bernard! — uma mulher ruiva abraça um jovem de barba loira e cabelos ralos. Os dois brindam com suas canecas repletas com a melhor das cervejas da região.

— Sim, Valeria. Foi mesmo. Tenho certeza de que isso nos garantirá uma publicação na Science ou na Nature (*) — Bernard ri incontrolavelmente.

— Acho que ele já bebeu demais! — um outro homem grita da mesa de comidas.

— Ok. Mas um Marine Biology (*) dá! — Bernard levanta a caneca mais uma vez.

— Aí sim! — o homem faz um ok com os dedos enquanto devora uma salsicha.

— Já pensou no título do artigo? — a ruiva fala.

— Já. "O papel do gene McF-35 no desenvolvimento da bexiga natatória em espécies marinhas diversas". Que tal?

— Charmoso. — um fala.

— Estiloso. — a ruiva concorda. — Nobel? — ela ri.

Repentinamente uma das pessoas quebra a harmonia da festa.

— O que é aquilo? — um senhor de idade aponta para o meio do mar, entre as ondas.

— Aquilo o quê? — Bernard McFerlingh força a vista. Ele reconhece algo — Parece um homem... Deus... um homem loiro saindo do nada do meio do mar.

Todos olham espantados enquanto a figura do Aquaman vai se aproximando. Canecas caem e rolam pelo cascalho, desperdiçando a maravilhosa cerveja...

— Este é o Instituto Oceânico da Escócia? — Aquaman pergunta.

Um homem gordo e barbudo vestindo um kilt balança que sim com a cabeça. Sua cara abobalhada não esconde o espanto que um bando de biólogos marinhos estão sentindo ao falar com um homem-peixe.

— Eu gostaria de falar com o Doutor Bernard McFerlingh. É um assunto urgente.

Bernard fica claramente desconfortável. Sua cara de preocupação o destaca dos outros.

— O que você quer com ele? O que diabos é você, cara? — o barburdo de kilt pergunta.

— Diga a ele que o homem conhecido pela superfície como Aquaman lhe deseja falar sobre as criaturas marinhas que vêm atacando o mundo.

Todos olham para Bernard.

— Acho que eu já descobri o que precisava. — Aquaman se aproxima do doutor. — Vamos conversar doutor. Na sua casa — Aquaman aponta para o instituto — ou na minha? — ele vira o rosto para o mar, sorrindo.

— Por favor, entre. — Bernard fala, repleto de receio.

Aquaman se senta em uma cadeira e fica em frente à mesa do Dr. McFerlingh.

— Doutor, eu preciso saber sobre Vincent McFerlingh.

— Mas... mas eu achei que era sobre monstros marinhos...

— E é. Eles parecem ter sido criados por esse homem.

— Como? Meu pai... ele não... Ele está morto.

— Eu encontrei arquivos com citações a seu pai dentro do computador de um criminoso conhecido com o Arraia Negra. (**) Ou ele está vivo, ou alguém está usando o trabalho dele.

— Vivo e trabalhando? Isto é ridículo! Ele teria mais de cem anos de idade agora! — Bernard quase ri da idéia.

— Você não acharia tão ridículo se já tivesse visto metade do que eu vi.

— Mesmo assim, sinto muito, Aquaman. Não posso ajudá-lo.

— Olhe, você precisa me ajudar. De alguma maneira, seu pai pode ser o responsável pela morte de várias pessoas. Você não pode ficar indiferente a isso! — Aquaman gesticula e acaba arranhando a mesa de Bernard com seu gancho. Acontecia, às vezes, dele perder a noção do espaço com o gancho — Me desculpe por isso.

— Está tudo bem — Bernard se afasta um pouco da mesa — Eu vou ajudá-lo. Vou lhe passar tudo que eu tenho sobre o trabalho dele.

— Fico grato. — Aquaman responde aliviado.

— Você faz parte da Liga da Justiça, não é? — Bernard pergunta.

— Não mais. Eu precisei me afastar. Vai me ajudar ou não? — Aquaman pergunta, desviando o assunto.

— Está certo. Eu vou lhe dizer exatamente aonde me encontrar hoje à noite, mas prometa que isto vai ficar somente entre nós.

— Está prometido.

À noite...

As águas geladas e escuras do lago mantêm o veículo anfíbio de Aquaman quase invisível durante todo o percurso. Lentamente ele vai se desviando das rochas e navegando pelo terreno desconhecido do Lago Ness.

"Estou sentindo um grande medo vindo das criaturas aquáticas desse lago. Como se algo terrível vivesse aqui. Um grande predador. Essa sensação só corrobora que estou indo pelo caminho certo".

O painel do veículo apita e em um monitor aparecem indicações de latitude e longitude.

"É aqui".

Aquaman vai para a superfície com seu veículo. Assim que ele o estabiliza, ele abre a escotilha e vislumbra a paisagem da superfície do lago. Os campos verdes e montes ao redor estão envolvidos em uma fraca névoa. Venta bastante e as águas parecem extremamente calmas. Orin olha ao redor até achar o que procura, uma casa à beira do lago.

Ele mergulha e vai nadando em direção à grande casa. Embora possa nadar em velocidades descomunais, ele vai lentamente, observando este novo ambiente. De repente, seus ouvidos adaptados ao ambiente aquático escutam o barulho de um grande animal se deslocando.

Aquaman para.

"O predador".

Flutuando, Aquaman começa a se concentrar nas águas ao seu redor.

Outro grande deslocamento de água. Algo grande se movendo, e rápido.

A figura surpreendente de um grande réptil com um largo pescoço e corpo similar ao de uma baleia se aproxima nadando velozmente em direção ao herói. Sua grande boca se abre e fecha.

"Poseidon! Um réptil?"

Orin se desvia do ataque fatal da criatura, mas é lançado para longe por uma de suas nadadeiras.

"Essa criatura não pode ser da natureza!"

Com seu pescoço longo, o réptil faz uma manobra e ataca Orin, batendo com os dentes na placa de metal em seu tronco. O Aquaman revida, cravando seu gancho na boca do animal, ele sente a carne da criatura rasgando, mas o monstro continua.

"O Arraia investiu todos os seus esforços nessas mutações. Esta parece ser a mais bizarra. Mas...algo não faz sentido. Este lago é de água doce..."

O Aquaman investe contra o monstro, ele atinge o dorso do animal com um poderoso soco e arranca um pedaço de uma nadadeira com seu gancho. O animal revida com uma mordida em seu ombro.

"Ainda bem que já estou recuperado dos outros ferimentos, senão certamente não aguentaria a luta contra esta criatura."

Orin se desvencilha da boca do animal e dá-lhe um forte chute.

"Chega! Hora deste animal sentir o gosto dos torpedos de Poseidônis."

Ele nada em direção a seu veículo. Com um salto, Orin sai da água e cai em cima da máquina. A cabeça do monstro é projetada, por seu longo pescoço, para fora d água. O Aquaman tenta entrar pela escotilha, mas o animal investe contra ele. Mirando seu gancho, Aquaman atinge a cabeça da criatura, acima de um dos olhos. A manobra o dá o tempo necessário para mergulhar dentro do veículo.

O monstro tenta quebrar a máquina, mordendo-a e atingindo-a com sua cauda.

"Agora sim, veremos do que você é feito."

Orin vai até o painel de comando de seu veículo e tem uma desagradável surpresa. O painel está totalmente destruído, botões arrancados, fios cortados e placas arrancadas.

"A escotilha ficou aberta... não."

Pelo visor o herói vê a esguia figura de um humanóide coberto por escamas de peixe nadar até perto do monstro e montá-lo como se fosse um cavaleiro. O Aquaman sai pela escotilha em tempo de ver o monstro subir à superfície, com seu mestre.

As escamas esverdeadas refletem o pálido luar. O cavaleiro parece um homem, a não ser pelas escamas, total falta de pelos e membranas entre os dedos. Ele veste uma calça de neoprene negra e segura alguns fios estraçalhados em suas mãos. Com um sorriso vil no rosto, ele olha para o Aquaman e atira os fios na água.

— Acho que você já descobriu a surpresa que preparei para você, Aquaman! — a voz anasalada sai forte.

— Vou ficar de lhe agradecer por essa depois, se não se importar.

— Bem-vindo à minha casa. Não é tão grande quanto o seu reino, mas é o suficiente para as minhas ambições.

— O lago é sua casa?

— Sim. O Lago Ness é minha casa e eu sou seu verdadeiro monstro!

— Suponho que você e o tal McFerlingh sejam amigos — Orin estuda atentamente os movimentos dos inimigos.

— Não acho que eu lhe deva explicações e, sim, o contrário. Afinal, você é o invasor!

— Eu não sabia que a Escócia considerava o Lago Ness um território livre.

— E o planeta Terra considera os mares e oceanos como territórios livres? Acho que existe uma faixa de mar de mais ou menos algumas centenas de quilômetros próxima a fronteira dos países que, geralmente, os pertence. Não? — o homem-peixe sorri novamente.

— Você com certeza está envolvido com McFerlingh. Este réptil que usa de montaria só pode ter sido feito por mutação genética!

— Clonagem e aperfeiçoamento. Agradeça aos dinossauros presos na Terra Selvagem por isso.

— Você cometeu crimes imperdoáveis contra a natureza, McFerlingh. Até seu filho concorda que você passou dos limites! — Aquaman aponta seu gancho para o homem-peixe.

— Deduziu que eu e McFerlingh somos a mesma pessoa! Ora, que perspicaz! Mas eu não sou a aberração aqui, mutante!

— Não seja ridículo, eu sou um atlante!

— Não como os outros, você tem poderes que nenhum deles tem... deixe-me ver... isso faz de você um mutante! Com certeza! Sim, Aquaman. Eu estudei bastante sobre você.

— Você não sabe nada sobre mim! — Aquaman salta em direção a McFerlingh, mas o réptil o atinge com seu pescoço no meio do salto, jogando-o em direção a algumas pedras nas margens do lago.

— Não acho que você vá conseguir nem chegar perto de mim, Aquaman. Não mesmo! Também não acho que alguém vá aparecer aqui para te ajudar, então...acho que você vai morrer!

— Não conte tanto com isso. — Orin atira seu gancho. A arma voa até o homem-peixe, perfurando-o ombro. O Aquaman dá um puxão no cabo do gancho, tirando McFerlingh de cima do réptil e trazendo-o para junto de si, às margens do lago.

Orin pisa no peito de McFerlingh e retira seu gancho cravado. O homem-peixe urra de dor.

— Agora você vai me contar tudo o que eu quero saber, ou eu vou... — Aquaman é surpreendido pelo réptil, que num movimento rápido vai até a margem e o atinge com um outro golpe de seu pescoço. O herói rola pela grama.

McFerlingh se levanta e começa a correr em direção ao grande animal. Em um movimento rápido, o Aquaman agarra uma grande pedra próxima e a atira em direção ao dorso da criatura. A pedra atinge o monstro com muita violência. Ouve-se o barulho de ossos quebrando. O réptil sente o golpe e mergulha nas escuras águas. McFerlingh para sem ação. Ele se vira furioso para Orin.

— Desgraçado! Esta é uma criação quase divina! Você não pode simplesmente vir aqui e fazer isso! — o homem-peixe avança terra à dentro, em direção ao herói.

McFerlingh dá um chute em Aquaman, mas o herói dá um rolamento, se devia e se levanta.

— Às vezes perco a noção do que posso e não posso, essa é a parte ruim de ser um Rei! — Orin atinge um soco bem no meio do estômago do inimigo.

O homem-peixe acerta dois socos na cara de Orin, que revida com uma joelhada e uma cotovelada no queixo. McFerlingh cambaleia, mas ainda tem forças para aplicar um chute certeiro no peito de Aquaman.

— Eu sou mais forte! — McFerlingh grita.

— Já ouvi essa antes! — Orin atinge um soco no nariz de McFerlingh, levando-o a nocaute.

O homem-peixe cai na grama à frente de Aquaman. Lentamente as escamas começam a desaparecer e as feições de homem começam a se revelar. Quando a transformação se completa, Aquaman tem certeza de que encontrou a pessoa certa, pois é Bernard McFerlingh que ele vê caído à sua frente.

Alguns instantes depois...

Aquaman joga um pouco de água no rosto de Bernard. McFerlingh acorda assustado. Ele tenta se mover, mas está preso a uma cadeira por correntes de aço, dentro de sua própria casa.

— Que surpresa, Vincent. Bem que o Batman tinha razão em desconfiar de algo a mais... Belo disfarce esse seu de Bernard, afinal são poucos homens de cento e tantos anos que parecem ter uns cinquenta.

— Batman? Mas você não disse que não era mais da Liga da Justiça?

— Esqueça isso. O que o Arraia Negra está pretendendo?

— O que você fez ao ferlingesiossauro?

— Ferlingesiossauro? Nada. Ele fugiu por causa dos ferimentos. Apesar de ser uma aberração, ele não tem culpa de ser o que é. Em breve uma equipe científica virá até o lago para capturá-lo e ele será levado para um lugar seguro. Conheço algumas pessoas em instituições sérias que gostariam muito dessa oportunidade e um jovem talentoso que trabalhava comigo que será capaz de ajudá-los. Mais calmo agora? Seu bicho de estimação terá um bom futuro. Pronto, diga-me logo o que o Arraia pretende!

— E se eu não disser?

— Eu o levarei para Poseidônis, aonde enfrentará o cárcere perpétuo por atentado contra a vida do Rei. Agora, se você me disser o entregarei à polícia Escocesa. O que lhe parece melhor?

— O Arraia já conhecia minha fama em genética e mutações. Como pode ver, minha experiência é bastante pessoal... agora eu sou um homem-peixe, agora não... já fazem décadas... enfim, ele me procurou para ajudá-lo a criar monstros imunes ao seu controle mental. Me pagou um bom dinheiro para isso. Baús de ouro das naus Espanholas.

— E para que ele queria fazer tudo isso? Apenas para me matar?

— Não sei. Ele não me deu tantos detalhes. Quando se trabalha muito com estes loucos fantasiados você aprende a não meter o nariz nos assuntos deles.

— Há mais alguém envolvido nesse esquema? É melhor me falar, pois eu vou pegar todos os seus computadores e papéis e analisá-los muito bem. Vou descobrir todos os seus segredos e se eu souber que você me escondeu algo vou pedir sua extradição para Poseidônis.

— A Escócia jamais faria isso!

— A Escócia me agradeceria por livrá-los de uma aberração como você. Não se iluda.

Vincent engole seco.

— Está bem...eu ouvi mais um nome. Um físico americano, Doutor Phill Wallace. É tudo que eu sei, juro.

— Muito bem então, McFerlingh. Vamos chamar as autoridades.

Aquaman deixa o cientista acorrentado enquanto volta ao lago para ver se consegue consertar seu veículo.

"O maldito destruiu boa parte dos sistemas, mas talvez Vulko possa me dar alguma orientação. Melhor eu entrar logo e..." — Um barulho na água chama a atenção de Orin.

"O réptil voltou para defender seu mestre." — Aquaman se prepara quando vê algo prestes a sair das águas. No entanto, não é bem o que ele esperava. Ao invés do corpo escamado do réptil, sobe uma nave aquática conhecida. Os dois visores da nave, como os olhos da máscara não deixam dúvidas: é a nave do Arraia Negra.

"Mas o que..." — Antes que possa até se surpreender direito, o Aquaman é atingido por um raio vindo da nave. O raio elétrico atinge seu corpo, parcialmente submerso no lago. O choque é extremamente poderoso. Aquaman grita de agonia até que afunda inconsciente, enquanto começam a aparecer na superfície vários peixes mortos...


Continua...


:: Notas do Autor

(*) Science, Nature e Marine Biology são revistas internacionais de divulgação científica, direcionadas principalmente às descobertas dentro das Ciências Biológicas, sendo a última especializada em Biologia Marinha. voltar ao texto

(**) Leia a edição anterior. voltar ao texto




 
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