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Aquaman # 05

Por Eduardo Regis

Todos Saúdem o Rei!

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Aquaman desperta. Seu corpo todo parece tomado de câimbras. Ele sente o frio do metal das correntes que o prendem do pescoço aos pés. No susto, tenta se soltar, mas é interrompido, pois sua atenção é desviada.

— Veja que incrível a ascensão social nos dias modernos! — a voz metálica do Arraia Negra parece ainda mais grave dentro da pequena sala onde estão (*) — Nasci uma criança qualquer, um desafortunado, negro, sofri preconceito e agora serei rei!

— Esqueça, Arraia. Poseidônis jamais o aceitará como monarca, o povo irá lutar até a morte.

— Esse é o problema de se viver num aquário, peixe dourado. Você pensa pequeno. Eu, no entanto, penso grande. Grande e longe.

— É o que alguns chamam de megalomania, Arraia.

— Não, Orin. Megalomania tem a ver com fantasia, e nada do que está para acontecer passa perto de ser delírio meu. Não me tire por um daqueles loucos do Arkham, por favor.

— Porque você não me matou logo?

— Sem querer parecer clichê, eu quero lhe mostrar uma coisa antes. Não para me vangloriar e nem para fazê-lo sofrer, entenda como um acerto final de contas. Você verá o real motivo de nossas intensas batalhas por todos esses anos. Você verá o motivo da morte de seu filho.

Aquaman fecha os olhos tentando conter toda a dor que a lembrança de seu filho morto lhe traz.

— Não fale nele, Arraia... — Orin tenta quebrar as correntes usando toda a sua força.

— Esqueça, você jamais conseguirá quebrar estas correntes. Aguarde um pouco, se acalme, já estamos quase chegando. Seu sofrimento será breve. Eu juro que desta vez nada sairá do previsto. — o vilão segura seu tridente e o aponta para o pescoço de Aquaman — Ao fim desta viagem, você estará morto.

A porta da sala se abre e mais uma figura se junta à conversa. Attuma encosta a porta com um leve sorriso no rosto.

— E como você vê, Aquaman, em sua morte há muito de sua culpa. — Attuma fala bem próximo do herói.

— Provavelmente aquele sentimento de arrependimento deve estar agora se espalhando por seu sangue. — o Arraia fala.

— Uma pena. — Attuma completa.

— Aposto que várias vezes deve ter ouvido de Vulko, de Mera, e até da Liga da Justiça, o absurdo que era se unir a nós para derrubar Namor. Tome agora sua recompensa! — o Arraia Negra grita.

— E advinha só, Orin? Ninguém vai ajudá-lo aqui. Não aqui embaixo. Você é odiado agora, e além do mais, eles nunca ligaram para as profundezas. — Attuma provoca.

— Namorita já deve estar mobilizando os bons homens da Atlântida! — Aquaman finalmente responde — Até sua filha, Andrômeda, já deve estar pronta para levantar a espada contra você!

— Namorita está mobilizando um jeito de sair do buraco onde eu a joguei, Orin. E Andrômeda, bem, digamos que ela não vai levantar nada por um bom tempo. Não há resistência em Atlântida, Aquaman. E a superfície não pode fazer nada, ou você achou que a ONU conseguiria realmente fiscalizar Atlântida? Não há um representante da ONU que tenha coragem de vir aqui. Eu faço o que eu quero aqui embaixo!

Aquaman fecha os olhos e engole em seco.

"O que eu fiz? Até Namorita está pagando alto por conta do meu orgulho."

— Que seja, mostre-me o que tem de me mostrar e me mate, Arraia, mas me poupe dessa falação incessante de vocês. Eu posso cair, mas a Liga e os demais não permitirão que a injustiça prevaleça nem mesmo no fundo das fossas abissais. Não se enganem: eles virão atrás de vocês!

Attuma e Arraia se entreolham.

— Isso, quem viver, verá. — o Arraia fala e os dois se retiram, trancando a porta e inundando a sala em escuridão.

Assim como as sombras tomam conta do ambiente, elas também se apoderam da mente de Orin. Os pensamentos mais negros de medo, vingança e arrependimento passam pela sua cabeça atormentada. Ele chega até a se convencer de que merece a morte, de que a deseja, mas foi o egoísmo que o colocou nessa situação, e ele não deseja ser dominado por este sentimento novamente. Ele precisa lutar, não por ele, pois sua vida não tem mais o mesmo valor, mas pelos outros, cidadãos de Poseidônis e Atlântida, pessoas que ele colocou em risco e em desconforto. O herói Aquaman precisa surgir de novo, difícil será encontrá-lo onde quer que ele esteja perdido.

O submarino para. Em instantes, o Arraia e Attuma surgem para agarrá-lo e arrastá-lo para fora com eles.

— Aproveite a sensação de estar no mar pela última vez. — os vilões saltam do submarino com Aquaman e todos vislumbram um cenário fantástico. Orin é tomado por um assombro sinistro. À sua frente, atlantes constroem uma gigantesca cidade submarina, que parece estar sendo idealizada para criaturas incapazes de respirar debaixo d'água.

— Uma cidade submarina para humanos? — Aquaman se espanta.

— Sim, Aquaman. — o Arraia fala, enquanto Attuma se afasta para resolver suas pendências com os construtores e arquitetos.

— Isso é loucura! Os humanos não...

— Não terão escolha, Orin. Enquanto falamos, o dr. Wallace instala uma das últimas máquinas nas calotas polares do planeta. Em questão de poucos meses, as calotas estarão derretidas, antes mesmo da humanidade se dar conta do que está acontecendo. Quando perceberem, será tarde demais para impedir o processo, e o planeta será totalmente submerso. E advinhe só? Eu terei uma cidade para os mais ricos e poderosos e me tornarei o soberano dos humanos!

Orin nem mesmo consegue expressar seu espanto diante do plano do Arraia.

— Attuma, claro, ganhará com o fim da humanidade como "raça dominante". Ninguém mais incomodará os atlantes, e os humanos ficarão felizes em servir Atlântida no que for possível.

— Arraia, isso pode significar, em algumas gerações, o fim da raça humana! Sua própria raça!

— É a seleção natural, Orin. A história nos ensina que os mais fortes se aproveitam dos mais fracos. Eu tenho a oportunidade em minhas mãos, não irei deixá-la passar em branco. Serei o rei dos humanos!

— Eu não posso acreditar no que estou ouvindo. Eu esperaria essa bárbarie de Attuma, o desgraçado é capaz de fazer mal à própria filha, mas você... eu sempre imaginei...

— Você sempre me imaginou como um lunático de segunda, um inofensivo humano numa roupa de bicho. Errado! Eu tenho minhas ambições, Orin. E chega! Hora de jogar sujo de verdade para chegar onde eu quero!

— Inofensivo? Você matou meu filho! Eu nunca o julguei inofensivo!

— Mas me julgava um qualquer!

— Não. Não julgava você um genocida, mas você está pronto para se tornar o pior de todos! Até mesmo pessoas desprezíveis como o Dr. Destino estariam dispostas a impedí-lo se soubessem de seus planos! — Aquaman se exalta.

— Mas eles não sabem, e não saberão. E até eles terão que pagar para morar aqui! Na água, ninguém pode comigo e Attuma juntos!

"Isso não pode acontecer. Eu preciso fazer alguma coisa. Está tudo em minhas mãos e não posso falhar de novo." — Aquaman se concentra na sua telepatia — "Criaturas marinhas, toda a forma de vida, pequena, grande, pacífica ou guerreira, todos vocês escutem meu chamado. Eu sou Orin, rei dos mares e oceanos e eu os peço para que ataquem. Ataquem o Arraia! Ataquem Attuma! Ataquem a cidade submarina!! Ataquem! Ataquem!!"

— ...então, Orin, o que me diz? O quê? — o Arraia começa a perceber uma estranha movimentação nos oceanos. Um estranho som, a água se deslocando na direção deles, como se uma corrente marinha tivesse surgido. Ao longe, nuvens de peixes começam a se formar. Nuvens tão grandes que são capazes de cobrir o horizonte. Ele se vira para Aquaman, e encontra o herói de olhos fechados. Na hora em que Arraia se fixa nos olhos de Aquaman, eles se abrem e o herói grita:

Ataquem!

Attuma leva as mãos à cabeça, lutando contra a ordem psíquica. Os trabalhadores atlantes pegam suas ferramentas e se viram para o Arraia. Milhares de peixes começam a circundar a cidade. Aquaman continua se concentrando, o esforço é inimaginável, sua cabeça já está prestes a estourar de tanta dor. Seus olhos abertos encarando o Arraia, esperando pelo movimento certo de vir.

Arraia levanta seu tridente e, com um golpe certeiro, crava-o no peito de Orin, por entre as correntes, quebrando a placa de aço que cobre parte de seu peito. O sangue jorra como numa explosão. Orin solta um berro gutural de dor e seus olhos cruzam mais uma vez os do Arraia. Todos os trabalhadores atlantes largam suas ferramentas, e os peixes começam a se dispersar...

Alguns minutos antes...

Em trapos, esquecido, barba grande, magoado, humilhado. Ele olha para a imensidão do mar à sua frente e não vê nada, nada mais que signifique algo de importante. As ondas quebram, os tatuís se escondem na areia. Nada disso lhe diz mais nada.

— < Então, amigo, o que você tanto olha neste mar? > (**) — diz um jovem que vem chegando com uma garrafa em mãos.

— < Imenso nada. > — o homem maltrapilho responde.

— < Tome isso, é mezcal do México. Meu tio me trouxe. >

O homem barbado pega a garrafa e começa a beber seu conteúdo.

— < Quer dizer que você costumava morar nos Estados Unidos? > — o jovem pergunta.

— < Isso, acho. >

— < Chegou aqui falando inglês. Onde mais poderia ser? >

— < Mais embaixo, não lembro. >

— < Ah, na Austrália. (***) Então, me falaram que você queria ganhar algum dinheiro e que aguentava bem carregar uns pesos. Tenho umas coisas pra descarregar de um barco, está interessado? >

— < Não. >

— < Mas... e o dinheiro? >

— < Não. Quero. Não quero. > — o maltrapilho devolve a garrafa para o outro — < Quero paz. >

O jovem se afasta, guardando sua garrafa e praguejando pela perda de tempo.

O vento levanta a areia da praia e alivia um pouco o calor, ele coça sua barba e dá as costas para o mar. Como fez todos os dias nos últimos meses, ele renega a estranha tentação de se banhar e se dirige para um casebre próximo. Ao entrar, livra-se das roupas, menos de sua calça de pano, e se joga em uma caixa d'água antiga que transformou numa espécie de banheira improvisada. A água cobre seu corpo e o alívio é quase imediato. Como se feridas cicatrizassem. Sem entender esse poder curativo da água, ele apenas aproveita e descarrega a tensão de ter ficado horas encarando o mar, resistindo ao seu críptico encanto, ao canto sussurrado das sereias.

Repentinamente, o homem vestido em trapos é atingido por uma onda psíquica. Ele se contorce dentro da caixa d'água enquanto em sua mente a seguinte mensagem se repete sem parar:

"Criaturas marinhas, toda a forma de vida, pequena, grande, pacífica ou guerreira, todos vocês escutem meu chamado. Eu sou Orin, rei dos mares e oceanos e eu os peço para que ataquem. Ataquem o Arraia! Ataquem Attuma! Ataquem a cidade submarina!! Ataquem! Ataquem!!"

Ele se levanta.

— Orin, Orin, Orin! Atacar Arraia, Attuma... enganado... enganado...

Com um salto, ele sai do casebre derrubando a frágil porta. Ainda molhado, corre até a praia, mas quando avista o mar, diminui a marcha. Lentamente ele se aproxima da água, deixando que ela toque seus pés com calma. Quando seu corpo encontra a água salgada do mar, outra mensagem invade sua mente.

"Ataquem!"

E ele salta, mergulha no mar à sua frente, sem nenhum medo, compelido a ir de encontro à fonte da mensagem e atacar seus inimigos, mas assim que começa a nadar, um grito de dor o atinge e toda aquela força que o levava em direção ao fundo do mar some. Mas agora ele se lembra, e sua motivação é outra.

De volta à cidade submarina em construção...

O corpo de Aquaman começa a afundar, sendo arrastado pelas correntes. O Arraia Negra observa atento o cortejo fúnebre de seu inimigo, mas é interrompido por Attuma.

— Mas o que foi isso?! Quase parto para cima de você!

— Foi a telepatia de Aquaman, o desgraçado deu sua cartada final, mas eu estava preparado. Eu sabia que ele faria isso.

— Você o matou?

O Arraia olha o corpo sumir na escuridão do fundo do oceano.

— Sem dúvidas. Mesmo que ainda haja um sopro de vida no corpo desse desgraçado, não há mais ninguém para ajudá-lo. Ele iria sangrar até morrer no fundo do oceano. Mas, por via das dúvidas, meu caro Attuma, eu arrancarei a cabeça dele e a darei aos tubarões.

— Acho melhor garantir. Se Aquaman estiver morto realmente, darei cabo de Namorita.

— E sua filha?

— Andrômeda, bem... não matarei sangue de meu sangue, mas não podemos deixar que ela represente perigo. Conto com você para resolver isso para mim. — Attuma se afasta.

— Assim que degolar o corpo de Orin! — diz o Arraia, enquanto mergulha atrás de Aquaman. Os olhos vermelhos de sua máscara brilham mais intensos, iluminando o caminho e revelando o corpo acorrentado do herói ainda afundando...


Continua...


:: Notas do Autor

(*) Leia a edição anterior. voltar ao texto

(**) Traduzido do espanhol. voltar ao texto

(***) A Austrália é conhecida como "down under", um apelido carinhoso para ilustrar bem o fato dela estar realmente beeem lá embaixo do mundo. voltar ao texto




 
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