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Eras de Ouro - Spirit - Anos 40

Por Rafael 'Lupo' Monteiro

Máscaras

Jacob lustrou sua pistola calibre 38. Encarou-a de frente, fez mira no espelho. Colocou as seis balas lentamente na arma e guardou-a na cintura. Ajoelhou no chão, rezou pedindo proteção a Deus. Ele sabia que seu povo passou pela mais difícil das provações e que alguém haveria de vingá-lo. Ao fechar a porta e subir as escadas, ele sabia que deixaria de ser um policial para transformar-se em um vingador.

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Era a primeira ronda noturna de Jacob. Andava orgulhoso e parecia desfilar com o uniforme novo. Era um homem alto, de nariz aquilino, olhos e cabelos castanhos, puxando para o amendoado. Passava em frente ao bar Adega do Leão quando notou uma gritaria vinda lá de dentro. Entrou no bar e viu quatro malfeitores fortes partindo para cima do mascarado vestindo terno azul. Jacob pensou em intervir, mas não foi necessário. O mascarado simplesmente massacrou seus oponentes.

— Olá, policial! Chegou bem a tempo de mandar recolher os homens que vinham praticando furtos pela vizinhança nas últimas semanas. — sua voz era grave, seu olhar penetrante.

Jacob concordou balançando a cabeça, chamando os reforços em seguida.

Duas semanas depois, Jacob estava em uma diligência para ajudar o comissário num assalto ao Central City Bank. Quando chegou ao local, os jornalistas entusiasmados tiravam fotos dos bandidos desmaiados e do comissário falando da ajuda inestimável que obteve de seu amigo mascarado.

Uma semana depois, um atentado terrorista foi evitado. O autor, um gênio do crime, não foi capturado. Depois, Jacob teve que prender uma chantagista internacional já derrotada. E os ladrões pés-de-chinelo, então, quase todo dia eram presos.

E assim Jacob descobriu com quem um policial podia contar nas ruas de Central City.

Jacob subiu as escadas de seu prédio pensando no mascarado. Se alguém podia impedí-lo de fazer o que desejava, esse alguém era o mascarado.

Jacob era policial há seis meses quando seu novo vizinho chegou ao prédio. Era um sábado e Jacob estava de folga. Por isso, desceu para ajudar na mudança. Quando viu o homem, logo o reconheceu. E ficou aterrorizado.

"Esse homem, aqui?" — ele pensou, incrédulo.

O homem, um senhor de idade, careca, de olhos azuis bem claros, foi cumprimentá-lo. Apresentou-se como Karl Kohlhepp, um aposentado que trabalhou como advogado na Europa a maior parte de sua vida.

Mas Jacob sabia que seu nome não era Karl Kohlhepp e que ele nunca fora advogado. Ele na verdade chamava-se Helmut Obermeier e sua profissão era a de cientista. Ou carniceiro, sob o ponto de vista de suas cobaias. E Jacob havia conhecido várias de suas cobaias durante a Guerra.

Aliás, teve sorte de não ter sido uma.

Foi muito estranho ter que enviar uma carta para uma lápide no cemitério, mas Jacob o fez sem muita relutância.

Momentos depois, ao tocar a campainha, perguntou-se se estava certo em avisá-lo. Depois de três meses passando as noites em claro, decidira-se de uma vez.

Mas não tinha muito tempo a perder, pois a porta já estava se abrindo.

Era um apartamento bem modesto. Pouca mobília. E a que tinha não dava a sensação de que havia vida naquele local. Nenhuma planta, nada colorido, apenas um sofá preto no canto da sala e uma pequena mesa no centro. O que se destacava era o armário na parede, repleto de livros.

— Posso saber a que devo o prazer de sua visita? — Kohlhepp/Obermeier lhe oferecia um café que tinha acabado de fazer com alguns biscoitinhos amanteigados. Seu sotaque não era carregado.

— Pode, claro. Quero saber o que o senhor veio fazer em Central City. — respondeu Jacob, calmamente.

— Meu caro, pensei que já havia lhe dito que sou apenas um aposentado.

— Um aposentado que veio para a América, certo? — Jacob tinha um sorriso estranho no rosto quando sacou sua pistola — Vamos, quero a verdade, doutor Obermeier.

Ao ouvir este nome, o velho estremeceu.

— Está louco? Meu nome é Kohlhepp! Karl Kohlhepp!— gritava assustado, o ar começava a faltar.

— Sabe, a gente ouve histórias de cientistas que receberam anistia em troca de conhecimentos. A velha América e sua tradição de receber os imigrantes em necessidade...

— Homem, acalme-se, abaixe essa arma, por favor.

— Sabe o que não entendo? — gritava Jacob, com o rosto vermelho como um pimentão — Por que eu, que comi o pão que o diabo amassou, venho pra cá pra ser uma merda de um policial que esta cidade nem precisa, enquanto você, um carniceiro que matou muitos do meu povo, vem pra cá com regalias do governo que diz ter lutado pra salvar a mim e meus companheiros?

— Acho que está havendo um engano...

Não! Não há engano!

Jacob descarregou a arma no velho homem, que caiu no chão. Agonizando, o velho balbuciava algo:

"Não... Eu não..."

A poça de sangue logo se formou.

Minutos depois, o mascarado chegou. Ficou chocado com a cena. Jacob entregou-se pacificamente.

— Duas vidas perdidas. Por que fez isso, Jacob? — perguntou o mascarado, enquanto esperava a viatura da polícia chegar.

— Às vezes, temos que fazer o que mais ninguém pode ou tem coragem de fazer.

— Você tinha certeza de que ele era quem você pensava?

— Esse não é o tipo de coisa que se esquece facilmente...

— E valeu a pena trocar sua vida pela dele? — perguntou o mascarado, ainda incrédulo com o ocorrido.

— Sinceramente, não sei. Acho que não se pode ganhar todas, certo? — disse, com um sorriso nervoso.

— Existem situações onde simplesmente não há vitória possível.



 
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