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Gambit - No Limiar de um Coração Partido # 01

Por Rafael Borges

No Limiar de um Coração Partido
Parte I

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Remy LeBeau desperta de sonhos atribulados.

Três pistas indicam que ele ingeriu uma considerável quantidade de bebida na noite passada: o gosto amargo de sua boca, o quarto desconhecido em que ele acordou e, principalmente, o fato de que não tem a menor idéia sobre quem seja a garota deitada ao seu lado na cama.

Ele se recorda apenas que a noite anterior envolvia um clube de blues. E, enquanto se esforça para recapitular os eventos que o levaram à atual situação, escuta batidas nada discretas na porta.

— Sophie, querida. — diz a voz vinda de fora do quarto trancado — O café está na mesa, minha filha.

Pelo menos ele sabe seu nome. E descobre muito mais sobre ela quando a garota levanta tranqüilamente e atravessa o quarto vestindo apenas uma reveladora calcinha de renda vermelha.

— Só um minuto, papai! — ela diz.

Antes que a garota possa se voltar para o mutante cajun, ele já vestiu suas calças e se prepara para uma saída estratégica pela janela. Não é a primeira vez que Gambit passa por uma situação dessas.

— Onde você está indo, meu bem?

— Não entenda isso como uma rejeição, mon chére. Apenas suponho que seu pai não ficará tão encantado quando souber de minha presença aqui.

— Ele já sabe! Contei quando desci mais cedo para tomar água. O vinho de ontem me deixou com sede...

Vinho! Vinho sempre tem esse efeito em mim!

— Mas a gente pode deixar meu pai esperando mais um pouquinho... — a garota alça seus lábios para um beijo.

O resto é fácil.

Vinte minutos se passam antes que Gambit desça para o café.

A última coisa que ele poderia esperar era uma mesa farta, montada com a maior elegância. Principalmente quando reconhece o pai da tal Sophie: monsieur Lampard é o patriarca de uma das mais importantes famílias do Clã dos Ladrões e sempre foi conhecido por seu temperamento quente.

Então, o tom suave de sua voz soa ainda mais inesperado:

— Passe o açúcar, monsieur LeBeau?

— Claro!

Sophie toma uma xícara de chá sem nunca desviar seu olhar insinuante de Remy. Sua mãe, uma senhora da alta sociedade de Nova Orleans, faz as vezes de anfitriã:

— É uma grande honra recebê-lo, sr. LeBeau. — ela diz — Ficamos gratos de saber que nossa pequena Sophie está convivendo com o patriarca do clã. Ela geralmente só se interessa por rapazes que, sem dúvida não estão no seu nível.

— Mãe... — a garota interrompe.

Então é isso!

Até outro dia, Gambit teria sido escorraçado a tiros do quarto da filha de Lampard. Mas, agora que ocupa o cargo de líder da Liga dos Ladrões, a família da garota considera uma honra que ela passe as noites com ele.

O que há de errado com o mundo?

Quatro horas depois, a mesma pergunta ainda permeia os pensamentos do mutante.

Em um dos mais caros restaurantes da cidade, ele se senta à cabeceira da mesa que reúne os mais importantes líderes dos clãs. Ladrões e Assassinos discutem os termos de sua renovada trégua, enquanto os pensamentos de Gambit vagam pelo decote de uma das garçonetes.

Depois de um tempo, ele pede licença para ir ao banheiro. Ainda o surpreende que todos se levantem, quando ele deixa a mesa. Nunca esteve habituado a esse tipo de reverência em sua vida.

Encarando o próprio reflexo no espelho, ele esvazia os bolsos. Além do telefone da tal garçonete que o distraía, ele encontra dois talheres de prata do restaurante. Não consegue se conter e acaba surrupiando essas lembranças para manter a forma.

Patético.

Nesse momento, Patrice, um dos seus assessores mais próximos, entra no banheiro atrás do chefe:

— Você ficou louco, Remy? — ele esbraveja — Os senhores do clã estão lá fora. Eles esperam que você os lidere nas negociações. Você é o patriarca do clã, pelo amor de Deus...

— Eu nunca fui o líder de nada, mon ami. Sou só um filho da puta sortudo que estava no lugar certo na hora errada. Meu pai, Jean-Luc LeBeau, era o patriarca. Quando ele partiu, esse emprego caiu no meu colo. No início, foi divertido, mas eu sou um ladrão, não um político. Mon Dieu, eu nunca fui capaz de sustentar uma conversa por mais de dez minutos se não envolvesse uma linda garota e um copo de vinho.

Gambit respira profundamente e continua:

— Mas eu não vou decepcionar Jean-Luc! Ele me acolheu quando eu não passava de um ladrãozinho de rua. Não vai ser um bando de velhos babões que vai me fazer abandonar o trabalho da vida de meu pai. Eu só estava tomando um ar. Vamos voltar lá! Se eu pude enfrentar o Magneto, posso encarar os líderes numa boa.

Mais um dia tedioso termina para o ladrão mutante.

Ele ainda carrega os talheres quando chega a seu quarto na mansão que foi de seu pai. Depois do almoço, foram mais três audiências com os líderes do clã. Todos eles reivindicando mais espaço de atuação, mais liberdade ou simplesmente uma maior participação nos lucros da organização.

Gambit costumava correr da polícia durante horas, mas não se lembra de se sentir tão cansado. Talvez seja por isso que ele não percebe a mulher que o está esperando no quarto escuro.

— Olá, querido! — diz a voz insinuante — Dia duro no trabalho?

— Você nem imagina, Sophie. — responde o ladrão, reconhecendo de cara a intrusa — Não me leve a mal, querida, mas como você chegou aqui? Tem três seguranças no corredor.

— Acho que você se surpreenderia com até onde uma linda garota consegue chegar. — ela brinca. No escuro do quarto, é possível ver pouco mais do que sua silhueta — Não foi coincidência termos nos encontrado na noite passada, Remy, querido. Foi obra do destino!

Gambit tira seu casaco e coloca sobre cabeceira da cama.

— Hmm... você acredita em destino, ma belle?

— Claro! E sei que o seu destino não é se tornar um burocrata a serviço da Liga dos Ladrões. A que ponto você chegou, gato? De artista dos roubos a engrenagem bem lubrificada no jogo político das famílias do clã. Passando por super-herói relutante, não posso esquecer!

O mutante estava prestes a acender um cigarro, mas pára por um instante ao som dessas palavras.

"Quem é essa garota e como ela sabe essas coisas sobre mim?"

— Eu trago uma proposta, LeBeau. Um roubo tão espetacular que apenas um ladrão de seu quilate poderia realizar. Uma oportunidade de voltar a seus dias de glória, recuperar o tempo perdido. — prossegue Sophie.

Agora, a coisa começa a ficar interessante! Remy percebe que a garota é muito mais do que aparenta e não consegue conter a curiosidade:

— Digamos que eu aceite essa proposta. Do que se trata?

— Meu empregador está interessado em certas informações que ficaram abandonadas no banco de dados do antigo governo de Genosha. Ele estaria disposto a pagar uma quantia considerável a quem pudesse viajar até aquele país e trouxesse uma cópia desses dados.

— Genosha? — repete o cajun.

No dia seguinte, LeBeau está ao volante de um conversível com os cabelos ao vento na estrada que deixa Nova Orleans. Seu destino é a cidade de Nova York, de onde ele pretende partir para Baía Hammer, capital genoshana.

Patrice deve ter ficado uma fera quando encontrou a carta explicando os detalhes sobre essas férias de última hora que ele resolveu tirar. Bem em meio às negociações entre Ladrões e Assassinos, o líder do clã deixa o país para cuidar de "assuntos particulares".

Entretanto, ele sabe que o amigo é mais do que capaz de cuidar de tudo até sua volta. Gambit aprendeu que, como líder, é preciso se afastar algumas vezes. E ele só saberia atrapalhar as negociações se realmente participasse delas.

Mas não foi a chance de escapar de suas responsabilidades que o fez aceitar essa missão arriscada. Muito menos o dinheiro, já que ele nunca esteve tão abastado em toda a vida.

Corre o boato de que Vampira está em Genosha, ao lado de Magneto. E Gambit não pode perder a possibilidade de encontrá-la mais uma vez. Há muitos assuntos inacabados entre os dois.

E, além disso, há o desafio.

Como resistir à chance de invadir um dos lugares mais perigosos do mundo e voltar com o prêmio desejado? O desafio é a sua vida. E negar isso seria como morrer.

Só que um pouco pior.

Epílogo

O laboratório é recoberto por uma estranha tecnologia híbrida, com movimentos aleatórios e luzes que piscam sem uma razão aparente. De dentro dos tubos gigantescos, sons guturais se fazem ouvir abafados pelas grossas camadas de vidro.

Do meio desse inferno tecnológico, reina um demônio da ciência, devidamente entronado. Sentado em sua poltrona feita de componentes tecnorgânicos, ele nota a entrada da garota assim que ela ocorre.

— Personificou muito bem a jovem Sophie. O único problema é que a menina se mostrava bem menos articulada do que você.

— Achei que não havia mais motivo pra disfarçar. — ela responde.

— Sim. Já era hora de revelar a LeBeau a verdadeira natureza de sua aproximação. E quando vai devolver o corpo da jovem senhorita Lampard à sua família, minha cara Maligna?

— Logo! Você sabe que eu não gosto de ficar muito tempo no corpo dessas adolescentes anoréxicas. Mas achei que nós dois poderíamos aproveitar os dotes físicos da pequena Sophie pra comemorar um trabalho bem feito. — ela se aproxima e beija violentamente o homem a sua frente — Diga outra vez que sou a sua preferida, Sinistro.

— Sempre, querida! — responde o geneticista — Sempre!


:: Notas do Autor

Esta edição faz parte da saga Imperius X! Confira a seqüência de leitura:
:: Prólogos:
X-Men # 14
Gambit # 01
:: Fase 1:
X-Men # 15
Gambit # 02
:: Fase 2:
X-Men # 16
Gambit # 03
X-Factor # 01
:: Fase 3:
X-Men # 17
Gambit # 04
X-Factor # 02
Mística # 01
:: Fase 4:
X-Men # 18
Mística # 02




 
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