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Garota-Aranha - Lições de Biologia # 02

Por Eduardo Regis

O Mais Forte Sobrevive

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Sonho Americano acessa o banco de dados dos Vingadores através do computador da sala de vídeo. Em poucos instantes, uma ficha completa do Escorpião fica à disposição dela e da Garota-Aranha, que estudam com cuidado as informações disponíveis.

— É, Aranha. Muito estranho... de acordo com o banco de dados, o Escorpião morreu numa luta contra o Aranha original e o Demolidor. — diz Sonho Americano.

— Eu ouvi essa história também, mas já sei que é mentira. Parece que o cara foi mantido vivo por uma agência governamental secreta, ou qualquer coisa do gênero. Acontece que o pessoal dessa tal agência nunca conseguiu controlar o gênio difícil do Escorpião e agora ele fugiu.

— Bom, menina, precisando de ajuda contra o criminoso, é só usar o comunicador dos Vingadores. Eu acho melhor agora nós duas começarmos a encher as bolas de festa. — fala Sonho, empurrando a Garota-Aranha para ir trabalhar.

— Ei! Faltam os docinhos e o refrigerante! — reclama a Garota-Aranha.

— Calma, garota! Jarvis já vai trazer pra gente!

A Garota-Aranha e Sonho Americano, duas representantes da nova geração de heróis que vem surgindo, ao invés de lutarem contra algum supercriminoso, passam o resto da tarde preparando a sala de vídeo para abrigar uma festa de aniversário para a também combatente do crime Stinger.

Jarvis, o mordomo da mansão, fica encarregado de arrumar os comes e bebes e distrair a vingadora aniversariante até a hora certa. Enfim, chega o momento em que tudo está pronto e Sonho Americano chama Stinger pelo comunicador:

— Stinger, aqui é Sonho! Venha correndo pra sala de vídeo, eu achei uma coisa nuns arquivos de 1998 que vai te interessar muito!

Stinger não entende bem do que se trata.

"Eu não lembro de ter nada que nos interessasse em 1998, acho que Sonho pirou de vez, só pode ser!" — pensa a heroína. Ela corre assim mesmo para a sala de vídeo e abre a porta, apressada.

Parabéns pra você! Nessa data querida... muitas felicidades... muitos anos de vida! — cantam e aplaudem a Garota-Aranha e Sonho Americano.

— Nossa, eu nunca ia imaginar isso. Vocês são ótimas, meninas! E loucas! Adoro vocês! — fala Stinger, muito feliz e um tanto boba com a surpresa.

— Eu e Aranha resolvemos fazer uma festinha mais íntima pra você. Vamos comer uns docinhos e conversar um pouco sobre coisas casuais, nada de trabalho durante umas duas horas. Vamos somente nos divertir! — fala Sonho Americano, ligando o sistema de rádio da sala e procurando uma música boa.

"Uau!" — pensa May. Ela nunca imaginou que ouviria essas palavras da boca de Sonho, mas era verdade. Até as pessoas mais duronas e exigentes como ela precisam de uns momentos de descontração de vez em quando — "Deve ser mais fácil pra elas não ter que aturar a mãe preocupada e o pai criticando tudo e sempre querendo te fazer agir do jeito dele. Não que eu não goste da preocupação, mas é que às vezes cansa!" — pensa May, enquanto vai pegar o refrigerante.

A Garota-Aranha levanta a máscara até a altura do nariz, assim sua boca fica exposta e ela pode beber um pouco do refrigerante. Enquanto enche seu copo, ela se perde em lembranças. May volta ao dia em que sua mãe lhe mostrou os uniformes e os lançadores de teias guardados no baú.

Naquele dia, ela tinha escutado muitas histórias do Homem-Aranha e de como seu pai havia quase morrido várias vezes, somente para ajudar as pessoas. É verdade que ele carregava um enorme sentimento de culpa, devido à morte de seu tio, mas isso não o tornava menos digno de nada. May tinha começado a usar um uniforme para salvar a vida de seu pai, mas agora ele estava a salvo e sua mãe não entendia a razão dela continuar a ser a Garota-Aranha. Era um desejo, um impulso e até uma necessidade. Talvez estivesse em seu sangue, no seu código genético mutante ou apenas em seu coração que tinha aprendido a admirar os feitos do Homem-Aranha e a querer seguir seu exemplo. Não dava para saber ao certo o motivo e, sim, somente que ela continuaria a lançar teias. O custo dessa decisão, no entanto, seria alto. Ela sabia que teria que passar por situações difíceis e que, principalmente, enfrentaria a constante reprovação de sua mãe e, um pouco, de seu pai.

— Aranha, venha até aqui para Jarvis tirar uma foto nossa! — grita do fundo da sala Stinger, acenando com as mãos.

— Será um prazer retratar este momento tão inusitado, senhoritas! Fazia muito tempo que a mansão dos Vingadores não era palco de uma celebração tão sincera e espontânea de amizade! Bons tempos aqueles em que este lugar vivia cheio de personalidades e de recepções. Seu predecessor, srta. Aranha, era um homem muito divertido. Sempre que vinha nos visitar, nos seus dias de vingador, trazia alegria a esta casa. O único inconveniente era limpar as marcas de pegadas no teto. — discursa Jarvis, com um olhar nostálgico.

— Então, sr. Jarvis, está dizendo que os novos tempos não são bons, não é? — pergunta Sonho Americano, fazendo cara de deboche.

— Nada disso, srta. Sonho. Vocês trazem muita alegria! É que muitos daquela época eram bons amigos e agora estão mortos. — responde Jarvis, com um tom triste em sua voz.

As palavras de Jarvis e sua tristeza se abatem sobre todos na sala. A vida de herói é traiçoeira, hoje elas estão ali conversando, amanhã podem estar mortas.

— Jarvis, nossa foto! — reclama Stinger, tentando quebrar o clima pesado.

— Perdão, senhorita, essa lembrança me distraiu! — desculpa-se Jarvis, se distanciando para tirar a fotografia.

May faz questão de não abaixar a máscara, ela quer que seu sorriso saia na foto. Jarvis tira muitas outras fotografias e as meninas se divertem por umas boas duas horas.

Durante toda a comemoração, no entanto, as palavras de Jarvis não saem da cabeça da Garota-Aranha. Muitos heróis que eram da mesma época de seu pai estavam mortos agora. No fim, seu pai havia dado sorte em ter perdido uma das pernas (*). Será que ela acabará morta? Ou o destino será menos cruel, como foi com seu próprio pai? Com essas dúvidas, a Garota-Aranha se despede das amigas e do mordomo e deixa a mansão dos Vingadores, pegando o caminho de volta para o Queens.

Enquanto se balança pela cidade, May se sente insegura e frágil. Agora é claro para ela o quanto é preciso aprender com seu pai, um dos mais respeitados heróis de todos os tempos. Ela conhece bem o pai que tem e sabe que ele passou por todas aquelas incertezas e que, também, tinha sempre encontrado um motivo para continuar sendo o escalador de paredes.

O corpo de May gira no ar e ela aponta o lançador de teias para a direção oposta ao Queens.

"Hora de ter uma conversa de filha pra pai." — ela pensa.

Entre acrobacias fantásticas e movimentos sobre-humanos pelos arranha-céus da cidade, May se dirige para o laboratório da polícia, o local de trabalho de seu pai. No entanto, algo desvia sua atenção. Ela enxerga um cerco da polícia a um assaltante que está fazendo uma mulher de refém. Encurralado na porta de uma loja, o criminoso está apontando uma pistola para a cabeça da moça. May reage instantaneamente e, com um salto, para em frente ao bandido.

— OK, OK! Você já chamou a atenção! Agora, solta a moça! — manda a Garota-Aranha, num tom ameaçador.

— Eu não vou soltar ninguém! É melhor você se mandar daqui e deixar os tiras trazerem meu carro, senão eu vou dar cabo dessa vadia aqui! — ameaça o criminoso, apertando o cano da arma contra a cabeça da refém.

— Escuta aqui, cara, você me pegou num péssimo dia! — fala a Garota-Aranha, enquanto lança sua teia entupindo o cano da arma e puxando-a para longe do bandido.

A pistola cai no chão, ainda presa na teia. May olha para a arma e, antes de poder pensar em atacar o criminoso, seu sentido de aranha a alerta de um perigo maior. Uma ameaça vinda de cima. Seus instintos aracnídeos agem e ela pula para o lado. Seu inimigo cai de pé. Trata-se de um homem de uns cinqüenta anos, trajando um uniforme verde metálico com uma cauda inquieta. Ele não usa máscara. Seus olhos esbugalhados são realçados pela sua careca e expressam uma insanidade assustadora. Ele estica um de seus braços, evidenciando um forte corpo para um homem de sua idade, e fala:

— Você não é o Aranha!

— Aham! Garota-Aranha é o nome! Não se esqueça! — fala a Garota-Aranha, enquanto se posiciona para um provável combate.

— Saia daqui, sua farsante! Eu quero o Homem-Aranha! — grita o Escorpião, e gira sua cauda em direção à Garota-Aranha.

May percebe o ataque e se esquiva da cauda com um pulo, enquanto fala:

— Ei, cara! Acho que você não sabe, mas o Homem-Aranha parou com essa vida há muito tempo!

O Escorpião desarma sua base de combate. Em seu rosto, a expressão maníaca dá lugar à descrença.

— Não... não! Você está mentindo! Eu conheço bem aquele inseto desgraçado. Ele jamais desistiria! Ele jamais iria parar! Ele lutaria até seu último momento! Espere! Só se ele estiver morto! — um sorriso se forma no rosto do vilão.

O Escorpião avança repentinamente e com um pulo pega a Garota-Aranha pelos ombros. Não dá tempo para ela escapar. Ele a aproxima de seu rosto. May fica cara-a-cara com os olhos amarelados de Gargan. Algo neles parece esconder um profundo sentimento que ela só consegue entender como dor. Por alguns instantes, ela sente pena dele, mas logo é tomada pelo medo quando ele grita forte perto de seus ouvidos:

— Quem matou ele? Quem?!

— Ninguém matou o Aranha! Ele só desistiu! — responde a Garota-Aranha.

O Escorpião joga a heroína no chão.

— Então ele irá aparecer. Nem que eu tenha que matar todas as pessoas dessa cidade!!! Ele e o demônio irão dar as caras! — ele grita, alucinadamente.

A Garota-Aranha levanta-se rapidamente, armando um soco. Ela atinge o Escorpião na cabeça com toda a sua força. O vilão cai no chão, ensangüentado. Antes que May possa tomar outra atitude, a cauda do Escorpião levanta-se e a atinge no peito. Ela cambaleia e grita de dor. As lágrimas molham o visor da máscara e um gosto forte de sangue sobe à boca. O veneno já começa a fazer efeito. May sente seus dedos formigarem. Mesmo com a visão prejudicada, ela ainda nota o Escorpião escalando um prédio, mas nem pensa em ir atrás e, tonta, lança uma teia para voltar para casa.

No Queens, muitas pessoas assistem a tudo pela televisão. Mary Jane é uma delas. Quando vê a filha ser atingida pelo ferrão do Escorpião ela não agüenta e desmaia.

Quando a Garota-Aranha consegue chegar a seu quarto, sua visão já está enegrecida. Ela se guia basicamente pelos instintos aracnídeos que sua genética mutante lhe confere. Quase todo o seu corpo está formigando. Ela entra pela janela e perde a consciência.

Peter corre para casa assim que sabe da luta entre sua filha e o Escorpião. Ele está desesperado e se culpando por não ter passado mais tempo treinando com a menina. Melhor do que ninguém, Peter sabe do que o veneno do Escorpião é capaz e ele torce para que a fisiologia mutante de sua filha consiga lidar bem com as toxinas.

Assim que chega em casa, entra direto no quarto de May. Quando vê sua filha desmaiada e a enorme mancha de sangue no chão, ele entra em pânico. Antes de verificar a pulsação dela, chegou a pensar que ela poderia estar morta. Por alguns instantes, pensa em levá-la a um hospital; mas lhe ocorre uma idéia melhor. Peter vasculha o uniforme de sua filha e acha o cartão-comunicador dos Vingadores.

Sem pensar, ele os chama e marca de encontrá-los na vizinhança. Rapidamente corre para o sótão e pega sua antiga máscara. Vestindo os lançadores de teias, ele a carrega, meio sem jeito, por causa da perna mecânica, até o ponto de encontro.

Em poucos instantes, um jato dos Vingadores pilotado por Stinger, mas também tripulado por Sonho Americano, aparece. Stinger desce o jato no meio da rua e abre a cabine.

Você?! Você é o Homem-Aranha? — pergunta Stinger, um tanto surpresa.

— Sou! Leva ela! Ela foi atingida pelo veneno da cauda do Escorpião. Eu sei que vocês tem uma unidade médica preparada para essas ocasiões. Qualquer coisa pode chamar o Quinteto. Fala pro John Storm que fui eu quem pediu. Agora vai... cuida dela, por favor! — o Homem-Aranha levanta um pouco a máscara e dá um beijo na cabeça da Garota-Aranha, enquanto veste os lançadores nela.

Peter coloca May bem acomodada dentro do jato e vê esperançoso Stinger levar sua filha para a mansão dos Vingadores. Ele conheceu a tecnologia da mansão em sua época, agora devia estar muito melhor. Certamente eles teriam condição de tratá-la adequadamente.

Quando chega em casa, Peter tem uma desagradável surpresa. Ele encontra M. J. desmaiada em seu quarto. Peter rapidamente a leva para o hospital mais próximo. Enquanto a carrega, chora. Chora pela filha. Chora pela esposa. Chora por tanto sofrimento e por saber que nada pode mudar esse destino. O legado dos Parker. O legado da responsabilidade. Uma história que ele começou e que agora não pode mais controlar.

Longe dali, em um fliperama

Brad Miller joga a máquina chamada "Mad Trap" desesperadamente. Ele já está jogando há horas e não consegue pensar em parar. Volta e meia Susan, uma menina que ele conheceu no dia anterior, luta com ele pela máquina, mas Brad não cede um só minuto. Ele quer de qualquer maneira chegar ao fim do jogo. Quase como se estivesse enfeitiçado, ele joga. Em sua mente, ecoa um nome. Um nome que ele não consegue saber bem qual é...


:: Notas do Autor

(*) Peter Parker, na sua última aparição como Homem-Aranha, perdeu a perna após um violento confronto final com o Duende Verde, morto em combate. Após o confronto, Parker abandonou sua carreira de super-herói. Tais fatos são pertencentes única e exclusivamente da cronologia da Garota-Aranha. voltar ao texto



 
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