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Por
Otávio Niewinski
Tales
to Astonish
Conclusão
Washington. Capital
da nação mais poderosa da Terra. É noite,
e a cidade dorme, aparentemente em paz. Mas, em breve, nesta mesma
cidade, uma luta feroz acontecerá. Uma luta que possivelmente
decidirá o destino de um planeta inteiro.
Um prédio abandonado, localizado em frente ao Capitólio.
Anteriormente, este mesmo edifício pertenceu às
Empresas Smith, na verdade uma empresa de fachada que mascarava
as ações do nazista conhecido como Caveira Vermelha.
Hoje, esse prédio se encontra desocupado(*)... ou assim
todos pensam.
As poucas pessoas espalhadas por Washington que, neste momento,
apreciam a Lua, mal percebem um pequeno ponto obscurecendo momentaneamente
o satélite. Um ponto que se aproxima cada vez mais do solo,
até aterrissar, com um estrondo, próximo ao Capitólio.
Da fumaça, sai ninguém mais, ninguém menos,
que o incrível Hulk.
Propulsionado por seus poderosos saltos, o Hulk percorreu a distância
que separa a casa de campo do senador Jenkins do centro de Washington
em poucos minutos. Agora ele está em frente ao local onde
possivelmente se esconde seu maior adversário... ele mesmo.
"É aqui." pensa o Hulk. O prédio parece
estar ainda desocupado. Ele entra devagar, tentando não
fazer barulho. Tudo está às escuras. Súbito,
a luz do hall se acende e uma voz é ouvida por meio de
um sistema de som.
Olá! Entre no elevador à sua frente, por favor.
O Hulk reconhece a voz que lhe dá ordens. Apesar de estar
mais rouca e gutural, ele sabe que essa é sua própria
voz. O golias esmeralda entra na cabine, ocupando praticamente
todo o espaço interno. As portas se fecham e o elevador
começa a subir. Pára alguns andares acima. As portas
se abrem. E, no fundo da sala, o Hulk finalmente vê o rosto
do inimigo. Um rosto igual ao seu, tornado ainda mais parecido
pela barba que ambos ostentam atualmente.
Bem vindo, "Hulkinho". Há quanto tempo! Gostei
da barba... ironiza o enorme monstro verde que está de
pé no fundo da sala.
Maestro. grunhe o Hulk, por entre os dentes. É você
mesmo, então.
Brilhante dedução, doutor. Sabe o que eles dizem
por aí: vaso ruim não quebra.
Eu matei você. Por que não ficou morto?
Ora, ora. Você me matou, mas também é
o responsável por eu estar aqui. Ano após ano, a
minha carcaça enterrada no deserto recebia doses da sua
radiação, quando você passava por lá.
Aos poucos, fui me reconstituindo e... aqui estou. Aliás,
logo que reapareci, enfrentei você no deserto. Na forma
do Destruidor. Não percebeu que era eu?
Destruidor... sim, me lembro. Mas não sei se percebi
que era você. Provavelmente não. Senão, não
estaríamos aqui.
Imagino que tenha vindo para me matar de novo. Acha que
consegue agora Desta vez, não há teleportadores.
E, da vez em que nos enfrentamos apenas no mano-a-mano, seu pescoço
sofreu as conseqüências... (**)
Não sei. Mas tenho que tentar. Senão, alguma coisa
de muito ruim vai acontecer nos próximos meses.
Ah, então você tem essa impressão? o Maestro
começa a andar pela sala. Só porque eu estou ameaçando
meia dúzia de políticos por aí? Você
já descobriu isso, não descobriu? Por isso está
aqui.
É isso. Pela descrição que me fizeram,
era óbvio que era você. Qual é o plano, afinal?
Para que mais bombas gama? E por que ainda está aqui? Por
que não tentou voltar ao futuro?
Muitas perguntas, doutor... mas serei bondoso e darei as respostas.
Desde que... ressuscitei, percebi que seria mais fácil
tomar o controle dessa época imbecil, mas grandiosa, do
que voltar ao futuro, onde o mundo está arrasado. Lá
não tenho quase nada para comandar. Já aqui... seria
ótimo. Mas para isso, eu precisaria de mais poder. E de
pouca concorrência.
E...
Então resolvi induzir a catástrofe que criou
a minha época. Uma guerra nuclear mundial. Mas,
desta vez, com muitas bombas gama, para me deixar ainda mais forte.
Veio a calhar essa lei que está para ser votada. Quando
soube dela, resolvi tomar providências para que fosse aprovada.
E como conseguiu isso? Essas chantagens, ameaças... se
baseiam em quê?
Em uma palavra: Berengetti.
A expressão do Hulk se contrai. Ele se lembra de Michael
Berengetti, dono de cassinos em Las Vegas e com algumas ligações
com o crime organizado. Berengetti foi chefe do Hulk durante um
bom tempo, em uma época em que a pele do gigante tornou-se
cinza e ele assumiu como leão-de-chácara nos cassinos
com o nome de Joe Tira-Teima. Berengetti foi assassinado, tempos
depois(***).
O que tem ele?
Nosso ex-patrão sabia de muitas coisas, "Hulkinho".
Tinha amigos importantes. E era amigo de facções
da máfia. Ele tinha muitos documentos secretos guardados
em cofres dos seus cassinos. Lembra disso?
Sim. Mas eu nunca soube sobre o que eram.
Se você não sabe... eu também não
sabia. Mas achei que valia a pena tentar. Invadi os cassinos e
consegui a papelada. Não sem antes liquidar com todas as
testemunhas. Lendo aquilo, descobri que tinha tudo o que queria
nas mãos. Arranjei esse esconderijo, e vários outros
pelo país afora. E passei a chantagear todos os que consegui.
Não tinha como não dar certo. Todos têm medo
de mim. Quer dizer, de nós. Ainda mais nessa época,
em que você é praticamente o inimigo número
1. Ah, e ainda consegui descobrir onde você estava para
ficar lhe monitorando.
Como... conseguiu isso? a fúria do Hulk aumenta à
medida que ele percebe o quão doentio é o plano
do Maestro.
Alguns militares também estavam no bolso do Berengetti.
Foi fácil obrigar um deles a pedir para ser destacado para
a Área 102, e a me passar relatórios periódicos
sobre a sua situação, depois que fiquei sabendo...
da Betty.
O que... você sabe? o Hulk caminha até o Maestro,
sempre o encarando.
Sei de tudo, "Bruce". Ah... só agora posso
perceber. Você não se lembra, não é?
Não sabe o que aconteceu depois da morte de Betty?
O QUE ACONTECEU?
Hahahahaha! a risada do Maestro ecoa pela sala.
Lobotomia, "Banner". Os militares lobotomizaram
você, para acabar com o Hulk. Você ficou como um vegetal
por meses, até que um ataque de um grupo não-identificado
à instalação destruiu parte da sua cela,
libertando-o. Você deve ter vagado pelo deserto por um bom
tempo, até agora... O último informe que recebi
deu conta de que um repórter o achou... que ironia. Meus
contatos no exército procuraram por meses, e nada. E um
maldito sortudo deu de cara com você. Não sei como
se recuperou, mas não importa. Pelo menos agora sei onde
você está.
Lobotomia?
Isso mesmo. Mais uma que os "homenzinhos" aprontaram
com você. Por que você não vai lá, esmaga
alguns deles e me deixa em paz com meus planos? Que tal?
Maldito...
Maldita é a humanidade, Hulk! Me diga, quem nos
fez sofrer mais nesses anos todos: nossos inimigos superpoderosos
ou simples humanos? Não há dúvida que foram
as pessoas normais! Uma vida de fugas e desespero, sempre caçado
pelo exército... sempre sozinho... por isso, "Hulkinho",
vou criar essa guerra nuclear. Para devolver em dobro tudo
o que me tiraram. Tudo o que nos tiraram. E, no final desta
guerra, apenas eu emergirei ileso.
Nós emergiremos. Eu vou estar sempre atrás
de você, até acabar com você. o Hulk
cerra os punhos.
Não. Apenas eu! Maestro avança
de encontro ao Hulk e, com um murro, arremessa-o ao chão.
Você vai morrer hoje!
O que se segue é uma demonstração de poder
impressionante. De um lado, o Hulk, possivelmente o ser mais forte
do planeta. De outro, sua versão mais velha, experiente
e, devido a sua loucura, mais forte. A luta é ferrenha.
Uma segunda pancada do Maestro lança o Hulk através
da parede, caindo na sala ao lado. O Maestro passa pelo mesmo
rombo e pula sobre o corpo estendido do Hulk, levando suas mãos
à garganta do golias verde.
Já foi fácil antes, agora será mais fácil
ainda. diz o Maestro.
Apesar da enorme pressão em seu pescoço, Hulk consegue
forças para levantar seus braços e, com as palmas
das mãos, acertar os ouvidos do Maestro, que imediatamente
solta seu pescoço e grita de agonia.
Tem certeza? diz o Hulk, levantando-se lentamente. O Maestro
permanece de joelhos. Quando o Hulk se aproxima e tenta um chute,
o Maestro se desvia e com um movimento rápido, derruba-o,
tirando o apoio da sua perna.
Surpresa. Eu estava fingindo. Vamos tentar de novo.
Maestro começa a aplicar vários socos fortíssimos
no rosto do Hulk, com uma velocidade surpreendente.
Você já era, Banner. Já era!
Maestro levanta o braço para o golpe de misericórdia
e, neste instante, o Hulk atinge seus olhos com os dedos, furando-os.
Enquanto o adversário leva as mãos ao rosto, o Hulk
o atinge no peito com um murro, fazendo-o cair novamente. Mesmo
assim o Maestro se levanta, cego e furioso.
Arhhhh... maldito... é só questão de tempo
até meus olhos voltarem ao normal, Banner. E aí,
você vai sofrer...
Então, o monstro escuta uma voz vindo de trás dele:
Você errou em algumas coisas: eu não sou Banner.
E estou muito mais forte do que da última vez.
Vários golpes atingem a cabeça e as costas do Maestro,
que cai novamente. Aproveitando-se da vantagem, Hulk pisa na perna
esquerda do inimigo, quebrando-a. Sangrando e com o rosto coberto
de hematomas, o gigante verde prepara mais um pisão, desta
vez no pescoço do Maestro, e fala ao oponente:
Agora acabou. Até nunca mais.
Hrrrr... espere... eu tenho... seus amigos... em meu poder.
Quem? Onde?
Rick Jones e sua família... estão na sala ao lado...
em uma cela que começou a encher de gás... quando
começamos a lutar. Se não for salvá-los agora...
em segundos estarão mortos... ahhhrrrr...
Sentindo verdade nas palavras do Maestro, o Hulk abre rombos nas
paredes da sala ao lado, até encontrar a cela de vidro
temperado onde estão Rick, Marlo e Janis Jones. Surpreendentemente,
não há gás na cela. Mesmo assim, Hulk quebra
uma parte do vidro e retira os três de lá.
Bruce! É você! fala Rick, arrastando-se para
fora com a ajuda de Marlo. Sabia que ia acabar nos encontrando!
Olá, doutor Banner. diz Janis. Voltei a esta época
para pedir sua ajuda novamente, mas se está aqui, parece
que já está tudo resol...
Antes que Janis termine de falar, é atingida por um enorme
bloco de concreto, arremessado do outro lado da sala, sob os olhares
atônitos dos demais. Do outro lado da sala, o Maestro, já
de pé e com a visão praticamente recuperada, sorri.
Maestro! grita o Hulk, enquanto verifica
as condições de Janis, que jaz quase morta.
NÃÃÃOOO!
O blefe do gás foi apenas para ganhar tempo, Hulk. E
esse pequeno assassinato foi só para chamar a sua atenção,
e me livrar de uma vez por todas dessa menina incômoda.
Agora, podemos continuar.
A fúria do Hulk aumenta incrivelmente. Lágrimas
correm de seus olhos, pois ele vê no Maestro a personificação
de tudo o que luta para não se tornar. Apesar de tê-la
conhecido há pouco tempo, o Hulk tinha em Janis Jones uma
amiga. E agora ele jura para si mesmo que essa foi a última
morte perpetrada pelo Maestro.
Rick, Marlo. Afastem-se. ao ouvirem as palavras do Hulk, Marlo
e Rick não hesitam em atendê-lo e deixam a sala.
Enquanto isso, Janis jaz no chão, imóvel.
É a última frase pronunciada pelo Hulk. Aproveitando-se
da perna e dos olhos ainda mal-curados do Maestro, ele avança
sobre o adversário com uma selvageria impressionante. O
vilão tenta se defender, mas realmente, como havia dito,
o Hulk atual é muito mais poderoso. Após cinco minutos
de plena fúria, a luta está praticamente acabada.
De pé, o Hulk, com um braço quebrado e dezenas de
hematomas. No chão, o Maestro. Com a espinha quebrada.
Lentamente, o golias esmeralda se aproxima e levanta seu pé
sobre o crânio do Maestro.
Hrmmm... Me derrotou duas vezes, então. Talvez este seja
mesmo o meu fim. Ou talvez não... "Hulkinho".
Eu já lhe disse isso... e vou repetir. Eles vão
lhe tirar tudo. Você vai acabar... sem nada e sem ninguém.
E, nesse momento... eu ressurgirei. De você. Eu sei de tudo
o que você... ainda vai passar.
Mesmo? Talvez eu não deva matá-lo, então.
o Hulk recolhe seu pé. Ah, que diabo. Eu prefiro esperar
pra ver.
SKLUTCH
Hulk chama Rick e Marlo, avisando-os que o perigo passou. Os três
aproximam-se do corpo de Janis. A garota do futuro ainda está
viva, mas aparentemente não resistirá muito tempo.
Ela olha para todos e diz suas últimas palavras:
Doutor Banner... muito obrigada. Vovô... coff...
eu... amo... você...
Nada mais é dito.

Epílogo
1 Na noite seguinte
Algum lugar dos Estados Unidos. Em uma sala de reuniões,
um homem louro conversa com uma mulher bonita, morena e sardenta.
Em pauta, o futuro da organização da qual ambos
participam. De repente, a reunião é interrompida
por um agente.
Senhor, recebemos informes de que o alvo Gama-1 foi avistado
ontem, pela primeira vez desde nossa falha em capturá-lo
meses atrás, na invasão à Área 102.
Teremos mais informações em breve com nossos agentes
de campo.
Obrigado. Está dispensado.
Assim que o agente sai, o homem vira-se para a mulher e diz:
Veja só que interessante, Atalanta. Achamos o doutor
Bobby. Agora ele não perde por esperar...

Epílogo
2 Uma semana depois
Metrópolis. Redação do Planeta Diário.
Desde que voltou de sua última e fracassada investigação,
Jack McGee tem estado deprimido. Tinha a matéria do século
nas mãos, que renderia um possível Prêmio
Pulitzer, e a deixou escapar. De quebra, seu editor, Perry White,
ficou extremamente furioso, pois McGee foi notícia em toda
a imprensa por ter encontrado o Hulk... menos no Planeta, já
que ele não pôde mandar sequer uma linha de notícias
para o seu próprio jornal.
"Merda. É nisso que dá confiar nesses supercaras.
Aqui estou eu: sem matéria, sem aumento, sem Pulitzer e
até mesmo sem provas de tudo o que descobri. Tudo porque
um certo verdão me deixou pra trás. É, McGee,
a vida é assim mesmo: você ajuda as pessoas e, em
retribuição, ganha o quê? Ganha um 'Não
me deixe nervoso, senhor McGee'... Ah, vá pro diabo, doutor
Banner! Você e seu alter-ego verde."
McGee, correspondência pra você.
Valeu, John.
"O boy me entrega um envelope pardo, sem remetente. Muito
estranho. Cheiro de pólvora não tem... vou abrir.
O que é isso aqui? Documentos... deixa eu ver... senador
Jenkins? Major Mantlo? Ei, espera aí! Isso aqui são...
caceta! As provas sobre as chantagens! Mas quem... epa, tem um
bilhete aqui dentro..."
"Prezado McGee,
Aqui vão algumas coisas interessantes que encontramos naquele
lugar onde fomos investigar. Faça bom uso delas. Abraços
dos seus amigos,
B. e H."
"B. e H., hein? Hehehe. Acho que eu me precipitei, em xingar
'vocês', afinal. Sabia que alguma amizade tinha ficado dessa
aventura toda. Valeu, doutor Banner; valeu, verdão... onde
quer que 'vocês' estejam! E saibam que podem sempre contar
comigo."
:: Notas do Autor
* Mais informações sobre essa armação
do Caveira em Capitão América # 161, da Editora
Abril. O prédio foi evacuado pelo próprio Caveira
em Capitão América # 190 e # 191, também
da Abril.
** Mini-série Futuro Imperfeito, da Abril.
*** A morte de Berengetti foi mostrada em Hulk # 146, da Abril.
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sobre essa primeira saga do Hulk. Foi legal? Foi um saco? Qual
a melhor parte? Qual a pior? Dê a sua opinião, para
que as histórias fiquem cada vez melhores!
E, na próxima edição, começa uma espetacular
volta ao mundo com o Hulk! Até lá!

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