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Por
Otávio Niewinski
Washington
Por aqui! Por aqui!
Rápido! Deste lado!
A equipe composta por homens da polícia de Washington,
do corpo de bombeiros e do FBI invade o prédio localizado
quase em frente ao Capitólio. Mobilizados às pressas
por vários telefonemas denunciando fortíssimos e
estranhos sons vindos do local, supostamente abandonado, os homens
vasculham todas as salas dos andares superiores, em busca de algo
que nem eles sabem o que é. De repente, nos escombros de
uma sala quase completamente destruída, os policiais Stone
e Price obtém a resposta.
Aqui, Price! Encontrei alguma coisa... Meu Deus!
O que é...
P-parece... o Hulk!
Mas... a cabeça dele... está...
Esmagada. Estou vendo. É, Price, acho que encontramos
quem fez essa bagunça toda. Mas parece que alguém
já deu um jeito nele. O Hulk está morto.
Planos
Do outro lado
do mundo. Dias depois.
Então,
você quer que eu fale sobre o doutor? O velho, sentado
em uma cadeira na varanda, se dirige ao homem em pé ao
seu lado. Por quê?
Como lhe disse, sou um cientista interessado nas pesquisas do
doutor. Sempre admirei tanto sua genialidade quanto seus ideais.
Por isso, gostaria de saber um pouco mais sobre ele.
Muito bem, rapaz, sente-se. Chá?
Não, obrigado o visitante senta-se numa cadeira ao
lado do ancião, tira os óculos escuros e prepara-se
para ouvir atentamente.
O doutor... Que gênio científico! Começa
o velho, com voz pausada. Mas isso você pode descobrir
lendo qualquer livro que fale sobre suas pesquisas. Acho que seria
mais interessante que eu lhe contasse sobre a vida dele. A não
ser que você não queira ouvir as impressões
de um velho caduco.
Por favor, eu adoraria! Diz o rapaz.
Pois bem. O doutor nasceu em uma família... peculiar.
Seu mãe era uma pessoa amável, capaz de qualquer
coisa pelo filho. Seu pai, por outro lado, era um homem bruto,
que sempre teve ciúmes de seu herdeiro, desde o nascimento.
Na verdade, o pai do doutor não passava de um alcoólatra.
E esse alcoolismo acabou por levá-lo a uma atitude desumana:
assassinar sua própria esposa. Terrível, não
acha?
S-sim. o visitante se mostra desconfortável.
Durante os anos seguintes, o doutor reprimiu toda a raiva que
nutria pelo pai. Por sorte, conseguiu canalizar essa raiva para
coisas produtivas. Formou-se em Física e passou a realizar
pesquisas na área da radiação gama. É
a sua área também, não?
É. Ou pelo menos já foi.
Que ótimo. É um campo muito interessante. As pesquisas
do doutor logo tornaram-se famosas no meio científico e
acabaram por atrair as atenções do exército,
que o contratou. As intenções dos militares eram
que o doutor desenvolvesse uma arma baseada na radiação
gama. E, apesar da sua índole pacífica, ele se viu
obrigado a construir esse perigoso aparelho, pois não podia
descumprir sua palavra. Ou, talvez, porque estivesse apaixonado
pela filha do general que coordenava o projeto, e não quisesse
ficar longe dela.
E o que aconteceu então? pergunta o homem, intrigado.
Essa é a parte trágica da história. No
dia do teste da arma, um rapaz incauto entrou na área de
testes. O doutor saiu correndo para tirá-lo de lá,
apesar dos protestos de todos. Bem, se você conhece um pouco
da história do doutor, sabe o que aconteceu quando ele
foi conduzir o rapaz a um local seguro.
A bomba fala o homem.
A bomba assente o velho. O resto você já sabe.
Sim. Ambos permanecem em silêncio por alguns momentos.
Diga-me, o que o senhor acha destas experiências com radiação?
Testes nucleares, coisas assim?
Sinceramente? suspira o ancião. Acho fantástico.
Já achava naquela época, acho ainda mais hoje, com
toda essa evolução. O problema está em como
se usa esse conhecimento. Atualmente, parece que ninguém
está preocupado em construir alguma coisa. Apenas em destruir.
Armas nucleares proliferam, e veja os resultados... mortes, aniquilação,
esses tais mutantes... Entenda, a radiação é
excelente, se usada para o bem. Quem não está sabendo
utilizá-la somos nós. As pessoas.
É o que eu também acho o jovem barbudo se levanta
e põe os óculos. Agora preciso ir, mas muito obrigado
pelo seu tempo. Acreditaria se eu dissesse que me identifiquei
muito com a história?
Ora, que ótimo! Apareça sempre que quiser. Moro
sozinho nesta casa e é bom ter companhia para conversar
de vez em quando. Ambos apertam as mãos. Até
mais... hã... desculpe, mas como disse que era seu nome?
Bruce. Se me dá licença, meu amigo está
me esperando lá fora.
Bruce Banner
atravessa o pátio da casa e, ao chegar ao portão,
acena para o velho japonês, que retribui a saudação.
Banner aproxima-se, então, de um carro estacionado próximo
da casa. Abre uma das portas e entra.
E aí?
Conseguiu o que queria? Rick Jones, no banco de trás
do táxi, não aparenta cansaço, apesar da
demora de seu amigo.
Consegui. Foi uma conversa interessante, que reforça
ainda mais que minha certeza de que estou indo na direção
certa com meu plano.
Rick, utilizando
um aparelho tradutor inglês/japonês das empresas Stark,
pede ao motorista que volte para o hotel onde os dois estão
hospedados.
Quem é
o cara com quem você veio falar, afinal?
Ele se chama dr. Kishima. Foi assistente do dr. Ueda, um dos
cientistas nos quais me inspirei quando comecei a pesquisar os
raios gama responde Bruce. Segundo o pouco que li na época
da faculdade sobre sua vida pessoal, Ueda tinha o sonho de usar
a radiação para fins pacíficos, como eu.
E também foi traído por ela. Ele criou uma arma
para os militares japoneses, baseada na radiação
gama: um simples emissor de partículas, quase inofensivo.
Mas era um começo. Morreu quando foi testar a arma, em
um laboratório aqui em Hiroshima.
Foi atingido pela própria arma? pergunta Rick, abrindo
uma lata de Coca-Cola.
Não. O teste foi realizado no dia 6 de agosto de 1945.
O dia em que os Estados Unidos detonaram uma bomba atômica
na cidade.
Nossa.
O doutor Ueda e outras milhares de pessoas morreram, mas o dr.
Kishima sobreviveu por milagre, e tempos depois abandonou a ciência.
Achei que, como estamos com tempo para colocar meu plano em prática,
já que armamos tudo para que todos pensem que o Hulk morreu,
poderíamos passar aqui. Queria pedir ao doutor alguns conselhos
sobre o que estou prestes a fazer. Só fiquei impressionado
em saber que a história do dr. Ueda tem muito a ver com
a minha.
Temos bastante tempo. Eu estava mesmo precisando de umas
férias. Aliás, nós estávamos...
diz Rick. E, como estamos por conta da minha emissora,
não precisamos nos preocupar com gastos. Afinal, tudo do
melhor para mim, o maior astro dos talk shows da América,
não é? Rick pisca o olho para Banner, que
sorri. Mas pelo visto você está mesmo decidido.
Estou. Vou tornar o mundo um lugar mais pacífico... bem
menos perigoso.
E o verdão, concorda com isso?
Sabe, é interessante como, ao invés de me inutilizar,
a lobotomia a que fui submetido melhorou minha relação
com meu alter-ego. Depois que me transformei no Hulk pela primeira
vez depois de escapar da Área 102, ainda naquela cidade
no meio do deserto, os poderes regenerativos do Hulk recuperaram
nosso cérebro dos efeitos da lobotomia. Agora, apesar de
termos personalidades e opiniões totalmente distintas,
parece que um pouco das minhas idéias estão com
ele... e vice-versa explica Banner. O Hulk e eu temos o mesmo
plano: eliminar as armas atômicas da face da Terra. Só
que, enquanto eu faço isso por idealismo, ele quer garantir
que o Maestro jamais apareça nessa linha temporal.
Os fins são diferentes, mas os meios são idênticos,
né?
Exato. Por isso, podemos considerar que o Hulk vai colaborar
100%.
E qual é a próxima parada?
No hotel, decidiremos por onde começar.
Bruce... Você sabe que vai atrair muitas novas inimizades
com isso, não é? pergunta Rick. Banner pensa um
pouco, tira os óculos escuros, revelando por trás
deles olhos verdes, injetados e ameaçadores. E responde:
Claro. Mas você acha mesmo que eles vão ter alguma
chance?

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