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Por
JB Uchôa
Mamãe,
Eu Conheço o Justiceiro!
A madrugada
cai fria em Nova York. Encostado no parapeito de um velho prédio,
o homem conhecido como Justiceiro apenas observa. Da janela, a
poucos metros à frente, quem olhasse por seus umbrais não
poderia distinguir no meio da escuridão a caveira estilizada.
Sua respiração é cuidadosamente controlada,
a fim de abafar seus próprios sons.
Frank Castle apenas observa. Quase duas da manhã, dois
homens discutem com um travesti negro bastante efeminado de queixo
e seios proeminentes dentro do apartamento. Seu treinamento meticuloso
o deixou observando o lugar horas a fio. Cuidadosamente, ele gira
uma pequena antena dentro de uma maleta, acoplada a um gravador
e fone de ouvido. O som começa a fazer mais sentido, e
ele gasta algum conhecimento para entender o que o homem latino
fala apressadamente e sem tomar fôlego em um espanhol recheado
de gírias. Papelotes de cocaína estão espalhados
pela mesa, sendo cuidadosamente... meticulosamente... discretamente
costurados em ursos de pelúcia.
Essa corja não aprende. balbucia Castle para
si mesmo enquanto engata peças de um pequeno lança-chamas.
Enquanto mantém seus ouvidos atentos na conversa, seus
olhos parecem revezar-se entre suas mãos, que seguram a
arma com firmeza, e os acontecimentos no interior do prédio.
Seu olhar frio parece se aquecer de ódio quando os dois
homens saem da sala e o travesti, com a habilidade de quem vive
nas ruas, interrompe seu "ofício" de costureiro
e introduz em seu ânus dois papelotes da droga. Para sua
surpresa, os dois homens retornam aos gritos, prevendo a ação
do transformista e abrindo a porta violentamente.
O pior deles é que um gosta de passar a mão
no que é do outro. Tá na hora de liquidar o estoque!
ele coloca o lança-chamas a tiracolo, saca de uma
Magnum e a aponta em direção a um dos homens; dois
disparos são suficientes para acertar seu joelho e seu
ombro esquerdo. Seja o que for que o Justiceiro tenha em mente,
não será nada agradável.
Enquanto o segundo homem tenta reagir, perturbado pelos gritos
do histérico travesti, Frank Castle dispara com destreza
tiros certeiros. A bala de sua Magnum 45 atravessa o pescoço
do homem latino, que anteriormente falava sem parar, rasgando
a jugular, não dando tempo de nenhum socorro médico
urgente. Fatal. Duas balas atravessam seus olhos, alojando-se
na cabeça e trazendo a morte certa.
"Morte, impiedosa e fria." pensa Frank Castle
consigo mesmo "Morte rápida, o que seria negado
às pessoas que se tornam dependentes dessa corja."
Enquanto atira com uma das mãos, a outra permite ao anti-herói
urbano que lance um cabo de aço, que fica preso próximo
à janela. Deslizando, Castle entra no apartamento quase
no mesmo momento em que o latino chega ao chão.
Quem é você? pergunta o travesti negro
do chão, amedrontado com a presença imponente do
vigilante; seu vestido desalinhado e sua peruca completamente
torta o tornam uma figura patética Por que fez isso?
Eu sou a justiça.
O travesti se encaminha para Frank Castle, levantando-se depois
de uma queda de seu salto alto em meio ao medo e a confusão
e, em seguida, saca de uma pequena arma escondida em meio a suas
roupas. Impassível, o Justiceiro aperta o gatilho do lança-chamas,
e o fogo, como se fosse um nariz ávido pelo pó,
lambe a droga e os inocentes brinquedos que serviriam de compartimento.
O negro transformista em poucos minutos é consumido pelas
chamas, ridiculamente segurando seus imensos seios inchados de
silicone.
Um quarto de hora depois, no topo do mesmo prédio em que
observara o apartamento, Frank Castle espera a chegada da polícia.
Os bombeiros chegam logo depois, abrindo caminho entre a fumaça
e o fogo, à procura inútil de sobreviventes. Ele
puniu os culpados, mas ainda são ratos pequenos no navio.

Dez
horas da manhã. Uma quadra e meia do local do incêndio.
Tommy DeLuca, um garoto entre seus oito e nove anos, cabelos loiros,
rosto levemente sardento, faiscantes olhos azuis, pára
seu skate em frente a um grupo de garotos mais velhos.
O que você quer, pivete? resmunga Darek "Pancada"
Roberts, quinze anos.
Nada, tava só passando, Darek!
O moleque tá saidinho hoje, hein Darek? Johnny
"Topete" Rodriguez, catorze anos, ri enquanto ajeita
seus cabelos.
É, parece que tá querendo "brincar"
de novo! Lembra da última vez, Fuinha? ameaça
Darek, olhando para o amigo ruivo, baixote e magrelo, que atende
pelo apelido.
Só... você disse o quê em casa? "Quebrei
o braço caindo do skate..." Fuinha cantarola,
imitando a voz de Tommy, fazendo chacota com seus cabelos enquanto
acende um cigarro Eu tô a finzão de andar
de skate! ameaça.
Se eu fosse vocês, não mexia mais comigo!
esbraveja Tommy, valente Ou então eu vou
falar com o Seu Justiceiro! Os três garotos riem
da audácia do menino.
"Vou falar com o Seu Justiceiro!" Nhé,
nhé, nhé... de onde você conhece o Justiceiro,
tampinha? Seu pai entrega as cartas na casa dele? gargalha
Fuinha, baforando a fumaça na cara do menino.
Eu vi quando ele pôs fogo na casa do Seu Ramon! Ele
veio voando com uma arma nas mãos e atirou em todo mundo
lá dentro! Ele tava vestido todo de preto, e na sua roupa
tinha uma caveira branca! os garotos param de rir e se
entreolham. Ramon Fernandez era um dos maiores traficantes do
bairro, temido pelos moradores e até pela polícia.
É mentira! Deve ter estourado um cano de gás,
daí eles acenderam um beck, e babau!! comenta
Johnny.
Calaboca, Johnny! É verdade, meu pai tava falando
hoje de manhã que só o Justiceiro poderia ter feito
essa limpeza! grita Darek, tomando o cigarro das mãos
de Fuinha e tomando um trago de cerveja.
É verdade sim! Eu vi quando ele desceu dos céus,
atirou na Lucíola Peituda e queimou todo mundo vivo!
enquanto Tommy fala, Darek deixa cair a garrafa de cerveja enrolada
no saco pardo Eu ouvi os gritos da Lucíola Peituda
durante horas! Quando os bombeiros chegaram, ela ainda se contorcia
viva, toda queimada, dizendo que foi o Justiceiro!
E ele tocou fogo no apê como? pergunta Darek,
um pouco mais interessado na história.
Deve ser porque ele cospe fogo! graceja Fuinha,
calando a boca após um belo tapa de Darek em seu ouvido.
A arma dele é bem grande! Deste tamanhão!
diz Tommy, abrindo o máximo que pode seus braços,
dando uma dose de realidade na sua história É
arma de última geração, ele deixou eu ver!
Ela dispara bala, fogo, ácido e raio laser!
Sabe, garoto, acho que você tá inventando
tudo pra gente não te dar mais porrada! ameaça
Darek, olhando firmemente pra Tommy, que engole em seco.
Os três garotos se entreolham com um sorriso no canto da
boca. Por mais que a história de Tommy DeLuca pudesse ser
verdade, ela vem com muito do exagero característico dessa
molecada que assiste Dragon Ball Z. Um homem de sobretudo preto
e chapéu sai do mercadinho na esquina e observa a história
dos meninos.
Vai dizer que ele gritou "Kame Hame Ha" e queimou
todo mundo, vai? O Justiceiro não ia ficar atrás
de peixe pequeno como o Seu Ramon! Ele ia atrás era dos
grandes! Darek quebra a garrafa de cerveja no muro, assustando
Tommy Fuinha, Topete... acho que tá na hora do veadinho
levar pancada!!
Se vocês me baterem, o Seu Justiceiro vai pegar vocês!
ameaça Tommy, tentando enganar os garotos.
Vai pegar nada, chorão! Eu vou é te bater
muito pra você parar de ser mentiroso e tentar botar medo
na gangue do Darek Pancada!
O homem de sobretudo negro caminha em direção aos
garotos sem fazer barulho e pára atrás do pequeno
Tommy DeLuca. Ele levanta levemente a cabeça, de forma
que os garotos possam ver parte de seu rosto, frio como pedra.
As mãos afastam um pouco o sobretudo, deixando à
mostra parte da caveira estilizada. Darek Roberts mija nas calças,
Johnny Rodriguez fica pálido e Derby Freire, o Fuinha,
sai correndo, seguido quase imediatamente pelos outros.
Parece que ficaram com medo de você, hein, garoto?
pergunta Frank Castle, com um sorriso, enquanto fecha novamente
o sobretudo.
É! Eu não tenho medo de nada! responde
Tommy, enquanto se vira pra olhar o homem Ninguém
mais vai bater em Tommy DeLuca!
É isso aí, garoto, é assim que se
fala. o Justiceiro sorri e dá uma nota de cinco
dólares para o menino Vá comprar um chocolate,
e não fique falando do Justiceiro por aí.
Enquanto recebe o dinheiro, o sobretudo novamente se abre, deixando
à mostra o uniforme do vigilante. Sem alarde, Castle o
fecha e volta a caminhar pelo beco. Tommy DeLuca fica paralisado,
olhos azuis vidrados, acompanhando o homem até ele sumir
no meio da multidão. Então, o valente garoto decide
tomar uma atitude.
Manhêêêêêê...
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