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Imagine Lanterna Verde

Por Otávio Niewinski

Um Pouco do Que Está Por Vir

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Há muitos anos, existiu uma equipe de seres de todos os pontos do espaço que foram reunidos pelos Guardiões do Universo para formarem a maior força policial que o cosmo já conhecera. Esta equipe era chamada de Tropa dos Lanternas Verdes. Hoje a Tropa não mais existe. Mas isso não significa que não deva existir. Pelo menos, é o que pensa o terráqueo conhecido como Hal Jordan. Ele já foi o Lanterna Verde da Terra. Hoje, assumiu o posto de Guardião do Universo e, como seus antecessores, pretende extingüir o crime... com uma nova tropa de patrulheiros.

Jordan está percorrendo galáxias em busca de membros para esta equipe. Alguns já foram convocados (*), mas ainda há muito a fazer. No momento, o Guardião do Universo cruza o espaço, solitário, e dirige-se para a Terra. Seu poder o protege dos rigores do vácuo espacial e o propulsiona até seu destino. A intenção de Jordan é encontrar o atual Lanterna Verde da Terra, Kyle Rayner, e também o ex-Lanterna John Stewart, para falar sobre seus planos.

Todavia, esse encontro será postergado.

Ao passar pela lua, o poder de Hal Jordan acusa uma presença familiar. Hal pára no espaço e pensa durante alguns segundos. Então decide.

"Ora, talvez falar com ele seja interessante nesse momento."

Hal sobrevoa a superfície da lua. Passa pela bandeira listrada e estrelada cravada lá por Neil Armstrong quando a humanidade conquistou o espaço. Então, do outro lado do satélite, no local conhecido como Área Azul, Jordan desce e toca o solo.

À sua frente, uma cidadela de dimensões impressionantes. Ele adentra a descomunal construção e segue as indicações de seu poder até encontrar o único morador do lugar: o alienígena conhecido como Vigia.

— Olá, Hal Jordan. Estava esperando sua chegada. — fala o gigantesco ser espacial, parado de pé em uma plataforma de onde se avistam vários planetas. Jordan percebe que é uma espécie de observatório. Sem telescópios ou máquinas, mas ainda assim um observatório.

— Olá, Uatu. — responde o Guardião — Estava a caminho da Terra e decidi passar por aqui.

— Eu sei. — o Vigia desce da plataforma e aproxima-se de Hal Jordan — Estive observando.

— Como sempre. Você também já deve saber que estou formando uma nova tropa.

— Sim. Mas imagino que não tenha vindo pedir minha ajuda. Sabe que minha raça apenas observa.

— Claro. — responde Jordan, com um tom de ironia — O Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado também sabem muito bem disso.

O Vigia silencia. O observador alienígena sabe que quebrou as regras de sua raça algumas vezes em favor dos humanos. Simpatia pelo Homo Sapiens? Uma certa rebeldia contra as rígidas normas dos Vigias? Talvez nem o próprio Uatu saiba ao certo por que o fez. O fato é que ajudar terceiros não pode se tornar um hábito.

— Sei que você pode vislumbrar as possíveis realidades. — Jordan prossegue — Gostaria de ter esta experiência também.

— Hal Jordan, o que me pede é impossível. Mostrando-lhe possíveis futuros, fatalmente influenciarei em suas decisões. E isso seria interferir.

— Minhas decisões estão tomadas, observador. E tenho confiança de que foram acertadas. O que quero são apenas confirmações.

O Vigia pensa por um instante. Hal Jordan estaria tão convicto de suas escolhas que não as mudaria, mesmo diante da visão de uma possibilidade de falha? E, mesmo que não hajam falhas, o terráqueo deve saber que está certo? Uatu pondera que, de qualquer forma, mostrar o futuro ao Guardião constituiria interferência. Negar o pedido de Hal Jordan seria rápido e simples. Negar o pedido e voltar a suas observações. É só dizer "não". É só dizer...

— Está bem, Guardião. Siga-me.

Uatu conduz Jordan até um recinto hermeticamente selado. Lá dentro, indica a Jordan um lugar para que este sente. Uatu aproxima-se e argüi o Guardião.

— Tem certeza do que pede? Isso pode confundir sua frágil mente terráquea.

— Vigia, já vi e fiz coisas que os terráqueos jamais sonhariam. E você sabe disso. Vá em frente.

Sem mais palavras, Uatu cria um elo mental com o ex-Lanterna Verde e começa a lhe repassar imagens de todos os possíveis futuros existentes em todas as linhas temporais que o Vigia pode observar. Jordan se contorce em agonia pela avalanche de informação em sua mente.

Em um instante, Jordan vê uma tropa gloriosa, comandada por ele, mantendo a paz em todo o Universo; Em outro, vê um Universo governado por mão de ferro, onde ele é o ditador e a tropa, sua guarda pessoal de assassinos; Outro instante mostra a tropa em conflito com uma nova versão da L.E.G.I.Ã.O.; Outro ainda mostra Kyle Rayner sendo assassinado por um inimigo misterioso; Outro mostra Jordan e Kyle lutando lado a lado contra o Super-Homem e a Liga da Justiça; Mais outro mostra Kyle derrotado e o Doutor Destino conquistando a Terra, sem que a tropa nada possa fazer. São futuros, futuros e mais futuros, tantos que são impossíveis de serem organizados e catalogados na mente de Jordan. A maioria é esquecida no mesmo instante. Tudo deve durar no máximo um minuto, e quando acaba, Jordan acorda no chão. Ao abrir os olhos, percebe que o Vigia ainda está ali, observando.

— Conseguiu o que queria, Guardião? — pergunta Uatu.

— Ahn... — Jordan levanta-se com dificuldade — Na verdade não pude guardar muita coisa. Mas creio que minhas decisões foram mesmo acertadas, pois há pelo menos um futuro onde tudo está como quero. Só tenho que garantir que isso aconteça.

— E como pretende fazer isso? — intriga-se o Vigia.

— Continuando a decidir certo. — responde Jordan — Obrigado pela atenção, Uatu, mas agora preciso ir.

— Adeus, Hal Jordan.

Jordan parte em direção à Terra. O Vigia silencia enquanto retorna a sua plataforma de observação. Ele sabe que quebrou as regras de sua raça algumas vezes, em favor dos humanos, e que o fez novamente há poucos minutos. Simpatia pelo Homo Sapiens? Uma certa rebeldia contra as rígidas normas dos Vigias? Não... de repente, entre seus pensamentos, Uatu compreende. O que o move a violar o trato que rege toda sua espécie é um instinto que não deveria existir em seu ser, um instinto que os Vigias lutam para sufocar: o interesse pelo livre arbítrio dos humanos. O interesse por seu potencial de modificar tudo.

Enfim, o instinto da curiosidade.

Nova York, Terra. A criminalidade diminuiu muito nos últimos anos nesta que é considerada a "capital do mundo". Mas ainda existe. É o que irá descobrir, da pior forma, uma idosa dona-de-casa que volta para seu lar neste início de noite. Abordada por dois homens, a velha senhora se vê sem saída.

— Passa a bolsa, vovó! — o punguista puxa a bolsa da idosa, que resiste.

— Não, por favor! Todo o meu salário está aqui!

— Melhor ainda, mais grana pra nós! — o outro homem a empurra ao chão, e ela solta sua bolsa, que é imediatamente recolhida pelo primeiro assaltante.

Enquanto ambos vasculham o interior da bolsa para verificar seu conteúdo, não percebem que alguém se lança contra eles, pulando do terraço do prédio mais próximo.

— Vamos parando aí, babacas! — a voz feminina ecoa no beco, enquanto a garota cai sobre um dos ladrões, derrubando-o. — Ora, assaltando uma velhinha indefesa? A essa hora? Vocês não têm vergonha?

— Quem tu pensa que é pra me chamar de babaca, guria? Tu pode ser gostosinha e usar umas roupinhas de couro, mas vai entrar pelo cano do mesmo jeito! — o segundo ladrão saca uma faca e ataca a garota, a lâmina cortando o ar — É ferro na boneca!!

A garota esquiva-se dos golpes do assaltante, e ao primeiro erro deste, desarma-o com um tapa e aplica-lhe um golpe no queixo com a mão espalmada, levando-o a nocaute. Ela recolhe a bolsa da idosa e aproxima-se para devolvê-la.

— Aqui está, senhora. Desculpe se a assustei, chegando assim, de repente...

— Muito obrigada, filha. — responde a dona-de-casa, levantando-se — Não é todo dia que... cuidado, atrás de você!

A garota vira-se e se surpreende ao ver que o primeiro ladrão a ser derrubado está novamente de pé. Ele se lança sobre ela, prensando-a na fachada de um prédio. Ela recebe todo o impacto da batida e perde o fôlego por um instante.

— Agora, guria, tu vai aprender a não te meter onde não é chamada! Esse teu corpinho vai ser meu!

A garota tenta se libertar do abraço do homem, mas ele é bem mais forte. Ela não tem como fugir. De repente, a janela de um dos apartamentos do prédio em cuja parede ela está encostada se abre. É uma mulher que foi acordada pelos sons de luta e pelos gritos.

— Ei, o que está acontecendo aqui? Parem ou vou chamar a polícia, seus vândalos! — ao debruçar seu corpo para fora, todavia, a mulher derruba um vaso de flores que estava no batente da janela. Vaso este que cai em cheio na cabeça do assaltante. Ele desmaia e a garota se livra.

— Puxa vida, que sorte a sua, filha! — diz a senhora idosa, que ainda acompanhava a luta.

— Não foi sorte minha, senhora... foi azar dele! — diz a garota — Bem, acho que a senhora vai estar bem agora. Vá para casa e tente não se meter em mais encrencas! E você... — ela dirige-se à mulher na janela — Chame a polícia!

— Sim, mas... quem é você? — pergunta a mulher.

— Pode me chamar de Gata Negra. — a bela jovem de grandes olhos verdes e cabelos prateados lança uma corda e escala um prédio próximo, mergulhando nas sombras.

Perto dali, Kyle Rayner está chegando à cidade, vindo da Latvéria, onde auxiliou o monarca local, Dr. Destino — ou assim ele pensa (**). Súbito, seu anel energético acusa algo.

(( Possível ação criminosa em andamento ))

Kyle se dirige ao local indicado pelo anel e encontra a senhora idosa e os dois assaltantes desacordados. Ele pousa e se dirige a ela.

— Oi. O que aconteceu aqui?

— Oh, mais um fantasiado? Parece que todos vocês resolveram passar por aqui hoje! Eu estava prestes a ser roubada por esses jovens malcriados, mas chegou aquela moça simpática e me salvou.

— Moça simpática? Que moça simpática?

— A Gata Negra! Veja, lá está ela! — a idosa aponta para o alto dos prédios. Kyle olha e enxerga o vulto da Gata Negra ao longe. Ela percebe que está sendo observada e acena para ele. Ele retribui o aceno e ela desaparece na noite. Em seguida, a polícia chega, leva os assaltantes e o Lanterna Verde segue seu caminho, pensativo.

"Gata Negra, hein? Já ouvi falar. Pelo que lembro de ter visto na TV uma vez, ela é realmente uma gata! E deve ter a minha idade... bah, Kyle, deixa disso! Você já namorou duas meta-humanas e não deu certo. Não precisa de uma terceira. Além do mais, ela já teve uma história com o Aranha, e você não quer treta com o cabeça-de-teia. E você também já tem o telefone de uma gatinha em casa. Bonita, fina e normal. Absolutamente normal. Aliás, acho que vou ligar pra ela assim que chegar."

Kyle chega em casa, pega o telefone e disca o número da garota que vem preenchendo seus sonhos ultimamente. Desde que se conheceram, em um restaurante no Soho, Kyle se interessou pela linda colecionadora de quadros. Quem sabe um relacionamento com uma garota normal não dará certo?

— Alô? — diz a voz do outro lado da linha.

— Alô, Felícia? Aqui é Kyle! Kyle Rayner, lembra? Daquele dia, no restaurante...

— Kyle, que surpresa! Tentou me ligar antes? Eu não estava, acabei de chegar em casa e ainda nem jantei...

— Então, estamos na mesma! Topa um jantar? Passo aí pra te pegar daqui a pouco. Tem o endereço no cartão que você me deu da última vez, não?

— Tem, sim. Só me dê uma meia hora pra me aprontar e vamos nessa!

— Legal! Até mais.

— Até.

"Garota legal." — pensa Kyle, enquanto corre para o armário para escolher uma boa roupa para o que promete ser uma grande noite.

"Cara legal." — pensa Felícia Hardy, enquanto desliga o telefone, fecha a janela pela qual acabou de entrar, tira a roupa da Gata Negra e entra no chuveiro — "Ando tão estressada, tão sozinha. Não dá mais para esperar pelo Aranha, aquela ruiva não dá folga. Acho que vou dar uma chance para o Kyle. Talvez seja isso que eu esteja precisando. Um cara normal, absolutamente normal."

:: Notas do autor

(*) Nas últimas edições de Lanterna Verde.

(**) Em Lanterna Verde # 08.



 
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