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Imagine The Clash

Por JB Uchôa

Castigo de Alá

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A bordo do moderno porta-aviões da SHIELD (*), os agentes podem desfrutar não somente dos mais avançados aparatos tecnológicos para solucionar os mais diversos problemas, mas também possuem o conforto de como se estivessem em suas próprias residências. A cantina é o ponto mais freqüentado, talvez as pessoas venham aqui buscando um pouco mais de humanidade do que telas de computador e armas avançadas. Guy Gardner acabou de sair da reunião com Jimmy Woo (**), e deveria estar incomunicável perante os agentes oficiais.

— Onde é que eu digito que quero uma cerva? — pergunta o ex-Lanterna Verde, criando mãos gigantes que balançam a máquina, como se esperasse resposta.

— Ora, ora... se não é o "grande" Guy Gardner! — observa a loira, parada um pouco atrás do herói, com os braços cruzados. — A máquina é ativada por comandos vocais, pateta!

— Sharon Carter! — responde um admirado Guy, escorando-se na máquina e esboçando um sorriso — A mulher que levou o Capitão América à lona!

— Um café magro, por favor. — diz a loira, enquanto pega o pedido em uma finíssima louça de porcelana — Então os boatos que ouvi eram verdadeiros. Fury deve estar caduco permitindo que alguém como você fique aqui.

— Que boatos? — pergunta Gardner, criando com seu anel um letreiro em neon brilhante onde se lê "motel" atrás da agente, enquanto aproxima-se.

CLASH! O barulho da louça espatifando-se no chão anuncia a resposta. Sharon cruza novamente os braços e joga os cabelos para trás, prendendo-os com uma fivela. Gardner cria uma vassoura amarela e varre a sujeira pra baixo de um tapete igualmente criado por seus poderes.

— Não vá fazer barulho, Gardner. Nós temos um nome a zelar, detestaria ver meu nome em fiascos como foi a LJI (***). Afinal nós treinamos duro, não pegamos jóias brilhantes que nos dão poder ou nascemos perfeitos.

— Sempre agradável, princesa!

— Agente Treze, Gardner. Não esqueça!

— E você pode me chamar de Agente Meia-Nove! — responde Gardner, provocando-a com a língua, em gestos obscenos.

— Babaca! — Sharon Carter dá as costas e desaparece nos corredores. Do outro lado, uma dezena de recrutas aproximam-se do herói, indagando sobre uma presença que "oficialmente" não foi comunicada. Gardner sorri, faz um gesto obsceno com o dedo e pede uma cerveja para a máquina.

Em seu quarto, Tatsu Yamashiro repousa com cuidado a espada sobre o travesseiro enquanto analisa o cômodo.

— Tenho que concordar que eles são impecáveis! — analisa, com a mão no queixo, a decoração oriental — Fico imaginando como será o quarto de um tipo como Gardner...

Ralph Dibny abre a porta de seu cômodo esticando o pescoço e segurando sua esposa nos braços. A decoração sofisticada faz Sue levar a mão à boca e exclamar um "oh" tímido.

— A cama redonda foi um pedido especial que eu fiz, querida! — diz o detetive, mexendo o nariz e dando uma piscadela — Faça um desejo!

— Oh, Ralph! É lindo! — exclama Sue, enquanto se olha no espelho — Não tem câmeras escondidas aqui, tem?

— Claro que não, querida! O pessoal é de responsa! — esticando o braço direito em arco por cima da sua cabeça e coçando o queixo, fazendo cara de pensativo, o Homem-Elástico exclama — Como será o quarto do demente do Gardner?

Sam Wilson coloca Asa Vermelha no poleiro e deita-se na cama.

— Novamente estamos na SHIELD, não é, Asa? — a ave apenas guincha em sinal de afirmação — Parece que eles tiveram um cuidado a mais com o conforto, meu quarto é exatamente igual ao da Mansão dos Vingadores... o que me leva a pensar... como será o quarto daquele doente do Gardner?

Asa Vermelha guincha alto, como uma risada. O Falcão sorri, deitado na cama, olhando para o teto.

— Se Jordan fosse tão bom quanto vocês tão dizendo, teriam colocado ele na Liga e não eu! Até o cachorro era melhor do que ele. Jordan só tinha pose! — berra Guy, enquanto vira uma caneca de cerveja preta — Ei, Recruta Zero! Traz outra aí pra mim!

Os novatos se amontoam na mesa, atentos às palavras de Guy Gardner. Palavrões e gestos exagerados fazem parte do espetáculo que ele conduz. Seu anel gera uma imagem dele mesmo chutando o traseiro de Hal Jordan para exemplificar melhor os combates que ele diz terem travado.

— Que cachorro? — pergunta o Agente 106, curioso.

— G'nort! — responde o agente 141, rapidamente, para não perder um detalhe das gracinhas do ex-Lanterna.

— Falando mal dos mortos, Gardner (****)? Os árabes têm uma lei severa para quem levanta falso testemunho. — Paladino faz um estalo com a boca e senta-se na mesa — Oitenta chibatas, eles dizem, e a promessa eterna de arder no mármore do inferno.

— Oitenta, é? — o anel amarelo faz uma caricatura de Paladino com as calças arriadas levando chineladas — Você tem um jeitão de quem gosta de chibata mesmo! — os recrutas riem. Paladino não pode ser considerado um herói, já que briga pelo lado de quem está pagando mais. A colocação de Guy, embora desagradável, demonstra o tipo de rejeição que os superseres têm por mercenários.

— Cuidado com suas gracinhas, idiota. Deveríamos nos tratar com mais respeito.

Uma imagem amarela de Pamela Anderson tira o sutiã enquanto Gardner cantarola a última frase do colega. Paladino se retira da mesa e vai para o andar reservado ao CLASH.

— Sujeitinho presunçoso! Já vem querendo se enturmar.

— Ei, Guy! — grita um recruta do fundo da mesa — E por que Hal Jordan virou o Parallax?

— "Senhor Guy", moleque! Olha o respeito! — diz Guy, fazendo cara de mau — Jordan se rendeu ao poder porque sempre foi um frouxo. Depois se redimiu salvando o mundo, mas como minha mãe sempre dizia, um bem feito não encobre um mal feito. — apontando o anel para a mesa, uma rajada cria uma imagem do Batman somente de cuecas — Esse morcego é que é uma piada! Quem pode respeitar um cara que anda com um moleque a tiracolo?

Hank McCoy está relaxando em uma banheira de hidromassagem, com a cabeça coberta por uma toalha.

— Ai, minha santa Aquerupita, já estou gostando desse trabalho!! — tirando seu imenso corpo azul da banheira e vestindo um roupão branco, o Fera deita-se na cama e começa a mudar os canais da televisão — Tenho que lembrar de levar um roupão com o logo da SHIELD como souvenir. Logan vai roer as garras de inveja! Se esse quarto foi idealizado com base nos testes psicotécnicos para garantir a acomodação dos meus sonhos... — analisa o Fera, pensativo — ...como será o quarto do irritante Guy Gardner?

Paladino passa um cartão em frente à placa que indica suas acomodações. Quando a luz verde acende, a porta se abre, revelando o melhor que existe na terra em termos de luxo.

— Bem, vamos contemplar as glórias do mundo! — sentando-se em uma poltrona, ele tira a máscara e as botas e serve-se com conhaque — Já sinto que esse serviço vai ser baba.

A televisão à sua frente liga-se de repente e mostra a imagem de Jimmy Woo. O mercenário se vira, cobrindo o rosto enquanto grita um sonoro "puta que pariu".

— Não se preocupe, Paladino, não estaremos invadindo sua privacidade. Sabemos que você está no quarto, mas não estamos dispostos a pegá-lo em algum momento de intimidade. Só gostaria de avisar que para a sua, e nossa, segurança, vocês só têm acesso ao espaço reservado ao CLASH. Queremos evitar passeios pelo porta-aviões.

— Mesmo? O que eu poderia fazer nesse complexo avançado sem ser notado?

— Não banque o engraçadinho. Todos os quartos foram projetados para o conforto e necessidade de vocês, justamente para que vocês não precisem circular por aí.

— Então acho melhor alguém retirar o "Lanterna Amarela" da cozinha. Está um espetáculo e tanto! — Paladino sorri quando o ex-agente do FBI arregala seus olhos orientais — Mas, se você permitir, eu tenho uma ótima idéia pra acabar com a pose do cara.

Woo sorri com a sugestão feita pelo mercenário, e fica mais interessado à medida que ele conclui seus pensamentos. Quando a transmissão é encerrada, Paladino volta a relaxar na poltrona e brinda com conhaque.

— Quem disse que a vingança é um prato que se come frio?

Jimmy Woo pára em frente à porta da cantina e fita por alguns momentos as piadas cretinas de Guy Gardner sobre diversos heróis. Gaffer chega esbaforido e entrega uma pequena máquina para Woo, que agradece.

— O que você vai fazer com isso, Jimmy? — pergunta o cientista, curioso.

— Fique e você vai ver o show, velho amigo. Apague a luz.

Seus estreitos olhos apertam-se mais enquanto esboça um sorriso. Lentamente, seus dedos apertam um pequeno botão vermelho, acionando o holoprojetor. Gaffer desliga o interruptor no canto da parede, deixando a cantina às escuras. Guy gera uma imagem de Kyle Rayner com cara de bobo e ceroulas floridas segurando uma lanterna, para iluminar o local.

— Mas que diabos...? — pergunta Guy, olhando para os recrutas, agora calados.

— Gardner... — diz uma voz séria que parece vir de trás do novo membro do CLASH. A abobalhada imagem de Rayner ilumina o local, revelando o Capitão América.

— Ai, meu Deus! — grita Guy, admirado coma presença do sentinela da liberdade. Woo faz um sinal para que Gaffer acenda novamente as luzes.

— Sentido, soldado Gardner! — Guy obedece, prestando continência — Creio que seus superiores não gostariam de vê-lo aqui, soldado. Estou certo?

— Hã... Está certíssimo, senhor!

— Então presumo que você voltará para seu quarto.

— Sim, senhor, senhor!

— Isso mesmo, filho. Amanhã, acorde cedo para varrer a cantina e depois iniciar seu treinamento, como um bom soldado. A América e eu ficaremos orgulhosos de você. E lembre-se: um soldado vive como soldado!

Imediatamente, Guy leva a mão à testa prestando continência novamente e sai da cantina tão apressado que não nota a presença de Gaffer e Jimmy Woo numa mesa de canto, aos risos. Passando seu cartão para abrir a porta, Guy Gardner entra no quarto. Uma velha cama de campanha, uma mesa e um copo com água fazem a decoração do quarto.

— Mas que muquifo! — exclama Guy, irritado. — Mas como disse o Capitão América, um soldado vive com um soldado.

Ele tira as calças e deita-se na cama. Sacode a mão no ar espantando algumas moscas. Rapidamente ele dorme. O sorriso em seu rosto revela que em seus sonhos ele é um herói, lutando ao lado do seu ídolo, o Capitão América.


:: Notas do autor

(*) Superintendência Humana para Intervenção, Espionagem, Logística e Dissuasão.

(**) Essa história se passa imediatamente após a convocação do grupo, ocorrida em The Clash # 01.

(***) Liga da Justiça Internacional.

(****) Paladino não sabe, mas Hal Jordan está vivo. O que, você também não sabia? Então leia já as aventuras do Lanterna Verde!



 
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