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Imagine Mulher-Maravilha

Por Rodrigo 'Camatz' Nunes

Obsessão: o Que se Faz por uma Mulher... Maravilha?

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"Meu problema começou logo após minha satisfação solitária diária matutina. Meus colegas e vizinhos sempre me viam como o nerd idiota. Um nerd é aquele carinha que não é popular, não dá certo em nenhum esporte, é motivo de gozação. O nerd idiota é pior: além disso tudo, não tira notas boas nem é especialista em alguma matéria da escola."

"Assim, todos os dias eu acordava, via quantas espinhas novas tinham nascido no meu rosto já bastante estourado e me divertia com minhas mulheres. Ellen, Mel, Debby e outras gostosas que povoavam minha mente adolescente por breves minutos até o orgasmo."

"Mas naquele dia um fato novo mudou tudo. Assim que saí do banheiro, ainda com sono, me deparei com a televisão ligada. Era o noticiário da manhã. E a reportagem anunciava a mais nova heroína a aparecer nos Estados Unidos."

"Os longos cabelos negros, brilhantes, encaracolados. O olhar assustado, as pupilas belas como jóias azul-claras. Alta, com o corpo mais perfeito que eu já tinha visto, cheia de curvas dignas de uma deusa. A pele alva, marcada pelo minúsculo maiô com as cores da bandeira americana. Dezenas de repórteres tentando chegar perto ou falar com a Mulher-Maravilha!"

"Sabe essa história que as pessoas contam, falando onde estavam ou o que estavam fazendo quando JFK foi assassinado ou quando o homem chegou à lua? Eu me lembro como se fosse hoje aquele dia. Meu pai estava roncando no quarto, minha mãe fazendo panquecas, com o cabelo cheio de creme e uma camisola que parecia ter sido de sua avó. Minha irmã mais nova já estava no telefone com um dos namorados. Devia estar fazendo algo impróprio, pois ficou bastante vermelha quando me viu, me xingou e saiu correndo, ofegante."

"Mas, para um derrotado, o dia nunca é bom quando se tem aula. Sabe, os jovens podem ser muito cruéis quando querem..."

— Então, quando os malignos e sanguinários japoneses atacaram os indefesos soldados americanos de Pearl Harbor... — dizia o professor.

"Que aula chata... Preferiria estar em casa, vendo os programas com a Mulher Maravilha... — pensei, enquanto rabiscava no caderno."

— Ei, o que você está desenhando?

"Droga. Como esses caras conseguem ser tão rápidos? — pensei alto, enquanto o colega puxava o caderno das minhas mãos."

— Devolve meu caderno!

— Claro que não, seu nerd! Ei pessoal, olha só, o Rudolph está desenhando aquela nova heroína em volta de uma monte de corações! Hahahahahahahahaha!

— Hahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha!

— Hahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha!

— Hahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha!

— Hahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha!

"Foi aí que começou tudo? A gota d'água que fez você vir parar aqui?"

"Claro que não. Deixa eu terminar! Daquele dia em diante, passei a colecionar tudo que saía com a marca da Mulher-Maravilha. Desde lápis e canetas até entrevistas em revistas, pôsteres ou brinquedos. Passei a gastar toda a minha mesada com aquela tranqueira. Claro que ia de mal a pior na escola, mas pouco me importava. Aliás, passaram a me chamar de Nerd Maravilha..."

"Escrevi diversas cartas para a Playboy, pedindo para que a convidassem para ser capa. Também mandei milhares de cartas para ela. Mas nunca me responderam. Por diversas vezes tentei conseguir o telefone dela, sem sucesso."

"Sentia raiva de não ser correspondido. E o sentimento crescia a cada dia passado sem uma resposta, sem que ela aparecesse em minha casa e me chamasse de meu amor. Ao invés disso, nenhuma garota do meu bairro sabia meu nome. Eu era o Nerd Maravilha, o idiota que colecionava uma mulher que nunca olharia para ele."

"Quando pensei nisso — que ela nunca olharia para mim — minha cabeça entrou em parafuso. Tudo ficou claro! Bastava eu fazer com que ela me visse. Seria paixão à primeira vista, com certeza."

"Até então, nunca tinha entendido a fixação dos americanos de meia-idade por armas. Achava besteira, afinal eu apanhava semanalmente na escola sem que nenhum dos meus agressores precisasse mais do que os punhos ou pedaços das carteiras."

"Sabe, meu avô tinha uma espingarda. E guardava também um trinta e oito..."

— Ei, menino, sabe que horas são? — disse a professora, ao me ver entrar na sala — Você se atrasou de novo! Vá se sentar, antes que eu chame a Mulher-Maravilha para lhe dar um jeito! Hahaha!

— Hahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha!

— Hahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha!

— Hahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha!

— Hahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha!

BLAM!

"O primeiro tiro atingiu a professora bem no estômago. O silêncio foi imediato. Não tinha nada contra os mestres, em geral. Mas a professora de ciências também ria de mim e de minha musa. Ela mereceu aquilo, por ter debochado da mulher mais perfeita que já existira na face da Terra."

"Eu estava na porta. Ninguém saía ou entrava. Treze homens e dezoito mulheres na sala. Quatro mortos em apenas cinco minutos. Nenhum número passou pela minha mente. Li esses detalhes depois. Bastou menos de meia hora para o prédio estar cercado. Os garotos ainda vivos serviram para me proteger. Coloquei-os em frente à porta e às janelas."

"Quando as negociações começaram, me perguntaram o que era preciso para eu entregar todos com vida. Eu falei o que queria. Eu desejava a presença da Mulher-Maravilha."

"Sabe essa história de influência de filmes, livros, essas coisas? Besteira. Tudo idiotice inventada pela mídia. Nunca tinha visto seqüestro onde se matava uma vítima a cada meia hora. Mas comigo foi assim: demoravam para me entregar minha maravilhosa, perdiam um garoto."

"Deixei as meninas para depois. A Mulher-Maravilha sempre se mostrou mais preocupada com o sexo feminino. No momento eu soube o porquê. Quando Lana, a garota mais chata e insuportável da minha classe, levou um tiro no pescoço, foi diferente dos homens. Sei lá, mas ela tinha, até o último segundo, uma esperança nos olhos. Francis, Herbert ou mesmo o Juan não tiveram isso."

"Estava pronto para atirar na segunda colega quando a parede atrás de mim explodiu. Finalmente eu pude vê-la."

"O corpo era mais musculoso, mais másculo do que a televisão mostrava. A pele realmente era cor de neve e os cabelos, de carvão. Mas sedosos, esvoaçantes. Os olhos mostravam faíscas. Os jornais disseram que ela estava cheia de ódio, mas eu sei que era amor."

"Aquela voz falando uma língua que eu não entendia, aquele corpo..."

— Diana! Sou eu, seu amor. Sabia que você vinha, minha querida. Esperei tanto tempo por esse momento entre nós dois... Olha como estou...

"Eu abaixei a calça. Estava bastante excitado e isso era visível..."

"Você mostrou seu pau para a Mulher Maravilha? Hahahahahahaaha!"

"Foi... Mas ela não entendeu. Aliás, se assustou. Acho que nunca tinha visto um. Não devia ter aulas de educação sexual na Ilha Paraíso. Sabe essa história de uma ilha só com mulheres? Nenhum único homem, saca? Acho que ela viu um pênis pela primeira vez na vida dela. Sabe aquela história de que ela teve um caso com o Super-Homem? Parece que aconteceu mesmo, mas foi um tempo depois."

"E o que ela fez? Você olhou para ver se ela também ficou excitada?"

"Nem deu tempo. Levei um soco. Fiquei em coma por três dias. Quando acordei vim direto para essa prisão. Me permitiram uma cela compartilhada só após duas semanas. E meu julgamento é amanhã. Ouvir dizer que a promotoria tá pedindo prisão perpétua..."

"Bicho, você é o cara mais doido que já conheci aqui no presídio. E olha que já tô aqui há vários anos!"

"Sabe essa história de que as mulheres não sabem o esforço que os homens fazem por elas? Pois é..."

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