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Por
Rafael 'Lupo' Monteiro
O
Homem Que Queria Ser Deus
Four Freedoms Plaza,
Nova York. Local onde vive a família de super-heróis
mais famosa do mundo. Uma família conhecida como Quarteto
Fantástico. Porém, nesta noite de sábado,
apenas Reed e Sue Richards o Senhor Fantástico e
a Mulher Invisível encontram-se em casa.
Querido, você não vai sair da frente desse
computador, não? pergunta Sue, escorando-se atrás
do marido e abraçando-o, acariciando delicadamente seus
cabelos grisalhos.
Sue, você sabe que estou muito atarefado neste fim
de semana. Tenho que acabar de instalar os novos sistemas de segurança,
pois o antigo indicou uma invasão que não aconteceu.
Além disso, tenho que avaliar os trabalhos de meus alunos
da Universidade Empire State. Afinal, tenho que fazer jus ao meu
salário de orientador.
Acho que você tem trabalhado demais ultimamente e
merece um descanso. Você não precisa bancar o gênio
o tempo todo! Veja bem: Franklin está dormindo, Johnny
e Ben estão fora. Estamos sozinhos, e temos a noite inteira
pela frente. Isso não é sugestivo?
Vamos, Sue, um fim de semana não.... Susan, me ponha
no chão!
No chão, não, querido! Na cama!
Mesmo depois de tanto tempo casados, Susan e Reed Richards se
beijam como se fosse a primeira vez. Infelizmente, o destino não
reservou ao casal uma tórrida noite de amor.
Reed, meus ouvidos. Estou sentindo uma dor terrível.
Eu sinto o mesmo. O curioso é que isto era justamente
o que eu terminei de programar para acontecer em caso de invasão
ao nosso QG.
Aaaaaahhhhhhhhhhh! Não consigo me manter
em pé! Você está dizendo... que... a nossa...
própria casa... está... nos... atacando?
Não estou .... afirmando.... tenho... que ...checar...
Neste instante, porém, um clarão de luz é
emitido na direção dos olhos do Senhor Fantástico,
deixando-o momentaneamente cego.
Argh! Estou cego, Sue!
Querido! Cof! Cof!
Agora é um gás sonífero que ... está...
nos...
Reed não consegue terminar a frase, pois cai desmaiado
no chão. O mesmo ocorre com sua esposa. Contudo, antes
de desmaiar, a Mulher Invisível consegue ativar o sinal
de S.O.S. do Quarteto Fantástico.

O céu de Nova
York é subitamente iluminado por uma mensagem. É
o número quatro, velho conhecido dos moradores da Grande
Maçã. Mesmo depois de tantos anos, ele ainda chama
a atenção quando brilha entre as estrelas. Apesar
de significar dores de cabeças aos seus destinatários,
a cidade dorme tranqüila, pois sabe que esse sinal no céu
significa que, entre tantos anônimos que circulam diariamente
em suas ruas, ainda existem aqueles que se preocupam com o próximo
sem pedir nada em troca, e são capazes de sacrificar a
própria vida para garantir a segurança de todos.

Sábado à
noite é o melhor dia para se encontrar com os amigos. Seja
para dançar, beber, ou bater papo. No caso do Coisa, Senhor
Milagre, Barda, Oberon e o deus Pan*, a reunião é
apenas um motivo para jogar cartas e conversa fora.
E um grupo neonazista chamado "Ódio Branco"
assumiu a autoria de um atentado contra uma sinagoga em San Diego.
Já e o quinto atentado em um mês...
Alguém pode desligar essa droga de TV? Tem gente
tentando jogar aqui! grita Oberon, irritado por não
ter ganho uma única rodada na noite.
Ei, Oberon, se você tá com raiva porque estou
ganhando todas hoje, meus ouvidos não têm nada a
ver com isso.
Não enche, Scott.
Ei, dá pra voltarmos ao jogo, por favor?
Claro, meu amor. Você é quem manda.
E você, Pan, por que não está com os
demais deuses?
Porque lá não dá pra rapelar uns patos,
como aqui.
Não se esqueça de que sou eu que estou ganhando
tudo hoje por aqui, Pan. Pode-se dizer que sou imbatível
nas cartas.
Sem querer parecer grosseiro, Pan, mas os verdadeiros deuses
são os de Nova Gênese e Apokolips. Vocês seriam,
por assim dizer, descendentes deles.
Cara Barda, pode acreditar no que quiser. Mas você
acha que alguém como Darkseid admitiria que existem deuses
superiores a ele?
Aposto cenzinho, alguém paga pra ver? Scott
Free parece ser o único realmente interessado no jogo.
Olha, cambada, sempre convivi com pretensos deuses como
Thor e Hércules, e nos demos bem. O problema dessa volta
de Zeus é que o carinha tá dando uma de "quero
ser venerado novamente", tá se achando o fodão,
e duvido que os heróis da Terra vão tolerar isto
por muito tempo. Aliás, vi no Jornal das Oito esses dias
que a Liga já teve treta com Zeus**. Eu passo.
Bem, eu garanto que sou deus. Aliás, apesar de não
ser mais adorado como um, até hoje tenho alguma influência
entre os humanos, haja visto a quantidade de bebidas alcoólicas
que são vendidas. Mas, infelizmente, o que era para diversão
antes, hoje é para perversão. É por isso
que resolvi dar um descanso e vim jogar um carteado nessa biboca.
Passo.
Hehehe. Deixa o Guy ouvir você falar isso do bar
dele. Passo.
Aliás, ele anda meio sumido, não? Também
passo.
E tomara que continue assim***. Ora, ora. Parece que ganhei
mais uma, hein? Vamos passando essas fichas pra cá que...
Ops!
Scott, que às de espadas é esse que saiu
da sua manga?
Às de espadas? Onde?
Não acredito! Fui roubada pelo meu próprio
marido! Mas isso não vai ficar assim!
Scott, sinto dizer que todo o seu jogo de hoje está
anulado. Devolva nossas fichas, e se manda. A não ser que
você queira arranjar treta com o papai aqui. E o ídolo
de milhões não costuma decepcionar seus fãs.
Esses são os tipos de deuses produzidos em Nova
Gênese, hein?
Que tipo de herói é você, Scott? Roubar
num jogo de cartas, francamente...
Peraí, eu roubei honestamente! Quer dizer...
Quer dizer nada! Você vai é sentir o peso
da minha mão na sua cara, seu desgraçado. Por acaso
você esqueceu com quem divide a cama? Barda demostra
todo seu carinho para com o marido, enchendo-lhe de bofetadas.
Meu amor, não é nada disso... Ui! Ai!
Hoje você dorme no sofá, desgraçado.
Hehehe, agora quero ver ele provar que é o mestre
de fugas que diz ser.
Se eu tivesse uma esposa como a Barda, não tentaria
roubá-la nem jogando palitinho.
Esperem! Que sinal é aquele no céu?
Esse é o sinal do Quarteto. Bem, parece que vou
ter que deixar vocês no melhor da festa. Até mais,
galera.
Coisa, você não estaria por acaso precisando
de ajuda? Sabe como é, os heróis sempre dão
uma mãozinha pros amigos em perigo.
Nã-nã-ni-nã-não. Hoje você
não escapa do sofá.
Mas querida...

A Broadway é
conhecida por seus grandes teatros, com suas peças e musicais
comentados em todo o mundo. Hoje, porém, suas luzes estão
voltadas para a pré-estréia do filme "Eu
continuo sabendo o que vocês fizeram no verão retrasado"
. Neste momento, chega a grande estrela do filme, acompanhada
pelo que os tablóides chamam de seu novo namorado, apesar
de eles garantirem que são apenas bons amigos. Seu par
é Johnny Storm, o famoso herói conhecido como Tocha
Humana. Agora, eles são recebidos pela imprensa.
Sarah, é verdade que, neste filme, vocês se
preocuparam com a violência que é passada ao público?
pergunta Vick Vale, no meio de outros repórteres.
Claro! Neste filme só teremos 5 assassinatos, 4
membros decepados, 2 cenas de vômito e só uma pessoa
com os miolos espalhados pela parede. Como podem ver, bem menos
violência do que estamos acostumados a ver nos filmes, certo?
Além do mais, qual a graça em se ver um filme de
terror sem uma boa chacina, não é mesmo?
Senhora e senhores, falou a musa dos adolescentes, um exemplo
para a nossa juventude. Ela não é uma graça?
Eu nunca ouvi alguém falar de chacina com tanta delicadeza.
E agora vamos conversar com seu namorado, Johnny Storm, do Quarteto
Fantástico. Johnny, como é salvar o mundo de dia
e sair com a Sarah à noite?
Bem, somos apenas bons amigos, e ela é uma pessoa
extraordinária.
Bons amigos, claro! Isso quer dizer que você ainda
não mostrou-a o porquê de o chamarem de "fantástico"?
Hehehe. Na verdade, fantástico é o meu cunhado.
Eu sou o Tocha Humana.
Adoro heróis com senso de humor! Boa sorte no trabalho,
Johnny.
Sarah, que tal darmos um presente para todos esses fótografos?
Que tipo de presente, Johnny?
Este tipo...
O beijo molhado e sensual do casal rouba de vez a cena, com todas
as câmeras voltando-se para eles.
Pra bons amigos, até que nossos beijos são
bem quentes, hein?
Hehehe. É por isso que te adoro, Johnny Storm. Mas
aquilo no céu...
Já sei! Meu beijo foi tão bom que te levei
pras estrelas!
Não! Parece uma mensagem!
Oh, não! Parece que o dever me chama, gata! Eu te
ligo amanhã, ok?
Johnny, você tem mesmo de ir?
Claro! Tenho um mundo pra salvar! Tchau, gata! Em chamas!

De volta ao Four
Freedoms Plaza, encontramos Reed Richards acordando desorientado.
Ele está deitado, dentro de uma espécie de camisa
de força, que aparentemente o impede de ter movimentos.
Ao seu lado está sua esposa, desacordada e nas mesmas condições
do marido.
Boa noite, Richards. Se você cumpriu seu dever de
casa de super-herói, já deve ter lido em seus arquivos
sobre mim.
Pra falar a verdade, não, nunca ouvi falar. Mas
deve ser mais um desses fracassados que resolvem usar seus poderes
para o mal. Por que não me fala sobre você e esses
seus robôs ridículos?
Então irei apresentar-me: eu sou o Chave, e esses
são os robôs-chave.
Robôs-chave? O que eu aprecio em vocês, supervilões,
é a capacidade de serem originais. Estão sempre
nos surpreendendo, não é mesmo?
Quando alguém consegue usar 100% da capacidade mental
como eu, batizar robôs com originalidade é a menor
coisa com que se preocupar. Na verdade, Richards, eu posso ser
um Deus, e você vai me ajudar nisso.
Hahaha! Ser um Deus? Acho que já ouvi isso antes...
Ria o quanto quiser, Richards. A coisa é muito mais
simples do que você pensa. Para tornar-me um Deus, eu preciso
do acesso à energia de um espaço negativo. O problema
é que não tenho acesso a esse espaço negativo.
Tentei fazer com que a Liga da Justiça abrisse um portal
pra mim, mas infelizmente fui derrotado****. Agora que saí
do coma, pensei em procurar alguém que conhecesse um portal
para o espaço negativo, também chamada de Zona Negativa,
e fazer com que essa pessoa trabalhasse pra mim. Assim, cheguei
a você. Invadi seu prédio e instalei um vírus
em seu novo sistema de segurança, para atacá-lo
assim que você o instalasse. O próximo passo seria
injetar em você uma substância que o manteria sob
meu controle por um determinado tempo, para que me desse o acesso
à Zona Negativa.
Só queria saber por que vocês se preocupam
tanto em serem tão poderosos e conquistar o mundo. Não
dá pra perceber que, no final, vocês sempre perdem?
Talvez porque nenhum vilão que você enfrentou
foi tão brilhante como eu.
Talvez, mas até que gostei da sua história.
Principalmente porque, enquanto você tagarelava, eu tive
tempo para me soltar.
O Senhor Fantástico se livra da camisa de força,
e seu primeiro movimento é dar um direto de direita no
Chave, que consegue desviar-se. Neste momento, os robôs
chave emitem feixes de laser em direção ao nosso
herói, que reage dando às suas mãos forma
de martelo, destruindo os robôs. Contudo, no meio da batalha,
o Senhor Fantástico subitamente cai no chão sem
movimentos.
Richards, acho que você me confundiu com o Doutor
Destino. Achou que eu iria perder meu tempo contando meu plano
mirabolante enquanto você escapava para em seguida me derrotar?
Confesso que isso passou pela minha cabeça. Vocês
supervilões costumam ser todos iguais.
Para um pretenso gênio, isto foi uma grande tolice.
Quem aqui faltou com a originalidade? Eu injetei a substância
enquanto você estava inconsciente. E, ao que parece, ela
já está fazendo efeito. Ah, antes que eu me esqueça
de avisar, eu fiz o mesmo com sua esposa, e meus robôs prenderam
seu filho. Agora, boa viagem!
A mente do Senhor Fantástico se vê bombardeada com
imagens fractais onde o Chave é o padrão tanto em
nível subatômico quanto nos planos mais elevados
do universo. Ao completar-se o processo, Reed Richards está
sob o domínio mental do vilão.
Ótimo, Richards! Agora vamos brincar de Seu-mestre-mandou.
O mestre Chave mandou você arrancar a cabeça do seu
filho.
Sim, senhor! Seu desejo será atendido.
Hahaha! Calma, homem, foi só um teste. Eu sou megalomaníaco,
mas não sádico! O que desejo é o acesso à
Zona Negativa, e a quero agora!
Continua...
:: Notas do Autor
* Você não está perdendo a saga do retorno
dos deuses, certo? Se estiver, leia as aventuras da Mulher
Maravilha e da Liga da Justiça
aqui no Hyperfan o mais rápido possível.
** Veja Liga da Justiça # 10.
*** Eles não sabem onde está Guy Gardner, mas você
pode saber se ler as aventuras de The CLASH,
também aqui no Hyperfan.
**** O confronto entre o Chave e a Liga da Justiça foi
mostrado em Melhores do Mundo # 15, da editora Abril (Janeiro/99).
Diferente do que é mostrado naquela história, entretanto,
o Arqueiro Verde que derrotou o vilão
foi Oliver Queen e não Connor Hawke.
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