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Por
Matheus Pacheco
Istambul
"Sentado no
banco do motorista de um carro. Que carro é este, aliás?
Deve ser mais uma daquelas porras japonesas. Sei lá, não
sou do tipo nacionalista, nem de perto, mas estes carros dos amarelos
me parecem muito frágeis. Não sei explicar direito
qualé a minha birra."
"No rádio está tocando uma daquelas músicas
que a gente já ouviu bilhões de vezes e nunca sabe
o nome. Melhor assim, porque eu ia ficar muito puto se soubesse
qualquer coisa sobre esta barulheira sacal. Porra, neguinho hoje
acha que é só botar umas guitarras barulhentas e
começar a falar ao invés de cantar e pronto: inventou
a roda. Ah, vão se foder!"
"O povo na rua é estranho, limpo demais. Em Nova Iorque
as pessoas são mais sujas, mais reais. Em Gotham elas são
completamente deformadas, mesmo as mulheres gostosas parecem que
se produzem pra assustar. Mas não aqui. Aqui em Metrópolis
todo mundo é engomadinho e bonitinho e dentro da moda.
Ainda mais aqui no centro financeiro. Sei lá, cara, chega
a dar nojo. Como pode um lugar ser tão limpo por fora e
tão nojento por dentro? Todo mundo sabe que o pessoal daqui
paga pau pro Luthor. E todo mundo sabe que o cara é mais
sujo que pau de galinheiro. Porra, nem o Rei dos bons tempos era
nada perto do que o cara é aqui. E no país todo
também. Eu mesmo já devo ter feito algum serviço
pro 'honrado' senhor L."
"Falando em serviço, os caras tão demorando.
Porra, tomara que não tenha dado nenhuma merda. Se bem
que, se der merda, eu tou na boa. Devo estar a umas duas quadras
da porra do First e ninguém vai associar um negrão
num carro velho a um assalto à mão armada em um
banco."
"Chega de pensar nesta porra. Vendo aquele casalzinho ali
eu fico pensando: será que eu queria ser como eles? Será
que eu queria ser todo limpinho tanto na aparência quanto
na ficha policial e viver cercado do que há de melhor
deste mundo? Sei lá. Não acho que eu fosse acostumar
com isso. Ou que eles fossem se acostumar comigo, não sei
dizer... Só sei que deve ser uma merda ser todo enlatadinho
assim. Os caras parecem que tão sempre com vontade de cagar.
Não soltam a mente, não dizem nem fazem o que pensam.
Queria imaginar como estes bostas trepam, deve ser hilário...
Vai, beija a mulher, tira a roupa dela, ela tira a do cara e já
aproveita pra pegar um boquete, depois deita ela de perna aberta,
mete, bomba um pouquinho e sai de dentro dela e da casa. Que
gente mais sem graça!"
"Mudo a estação do rádio para uma só
de notícias. Se alguma merda acontecer, com certeza eu
ouço antes do redemoinho me pegar. Estes abutres da imprensa
estão sempre ligados no que rola pelas bocadas... Nada.
Só alguns comentários idiotas sobre a porra da liga
de beisebol e uma ou outra pincelada na próxima temporada
da NBA. Nada de interessante."
"... Tédio, tédio, tédio. E eu sem nem
um jornalzinho aqui. Merda. Deixa eu ver no porta-luvas se tem
alguma coisa pra ler... Opa! Tá aí o que eu queria!
Hustler Barely Legal, edição de abril do
ano passado. Com as aniversariantes do mês... nham... Coisa
mais lindinha estas vagabinhas. Eu gosto mesmo é deste
lance de fingir que elas são menores de idade. E a gente
finge que acredita e fica tudo na boa. Legal mesmo. Ah, uma xerequinha
destas lá em casa... Ô coisa boa!"
"Gritaria lá fora, olho pra trás e vejo os
caras correndo a toda, atirando pra cima. Esses idiotas estão
chamando toda a polícia da cidade pra cima da gente. É,
parece que tá na hora de testar pra ver se este motor novo
que o crânio amigo deles arranjou anda mesmo."
Corre, Tuc! Os caras tão atrás da gente, um bosta
lá deu com a língua nos dentes!
Merda. E viram quem foi?
Vimos, já demos um jeito no cara.
Vocês mataram o cara? Digamquenão, digamquenão,
pelamordedeus, digamquenão...
Ora, claro que sim! Por que o cagaço?
Porque isso aqui é Metrópolis, cara. Não
é à toa que só tem um dos coloridos fortões
aqui.
Hã, como assim?
Cara, aqui é a terra do Super-Hoooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo...*

"Pronto, estou
eu aqui de novo, fodido e mal pago. Não sei se abro os
olhos pra ver o óbvio ou se fico assim e espero a merda
passar."
Pessoal?
...
Pessoal?
"Nada, ninguém responde... Deixa eu abrir os olhos
pra veAAAAAAAAAAAAAAAAAGH! Putaqueopariu!"
"Ver o mundo de dentro de um carro já me é
um pouco estranho. É raro eu passear motorizado em Nova
Iorque. Mas ver o mundo de dentro de um carro a uma paulada de
metros de altura do chão é algo desesperador. Olho
pro lado e dou de cara com a visão do horror higiênico
do mundo. O cara mais limpinho e engomadinho do mundo acabou de
me eleger seu inimigo número 1. Delícia! Desta vez
eu tomei no cu. Não que ele vá me matar ou algo
assim não é o que um cara tão certinho
faria. Mas ele vai me largar de certeza com os meganhas e daí
eu tou fodido e muito mal pago."
Olá, Tucão!
"Porra, a merda é que o cara é simpático
de tão escroto."
... Errr... Oi.
Você está nervoso?
Deixa eu ver... Estamos a uns 500 metros do chão com
você segurando o carro com uma mão só. O cara
mais forte do mundo me pegou de motora de assalto a banco e ainda
deu sumiço nos meus parceiros. Nah, nem tou tão
nervoso. Semana passada foi pior.
Hehehe... Deixei seus amigos na
delegacia no caminho, mas precisava falar com você. Um amigo
precisa de certas informações acerca de um tal de
Joe Bala e suas ligações.
Porra, de novo o Joe? Será que tá todo mundo atrás
dele?
Bem, este meu amigo disse que você
estaria aqui em Metrópolis e pediu pra eu te perguntar
gentilmente o que sabe dele.
E se eu não soubeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeer...?
"Caralho! O
que diabos ele fez comigo?"
O que você fez, Super?
Bem, eu pensei que talvez em Istambul
você pensasse melhor. Ou talvez uma volta ao mundo de cabeça
para baixo ajude a oxigenar o cérebro...
De cabeça pra baix... BLEARGH!
Por toda a sua vida, Alexandre Mandarino teve como ideal conhecer
Istambul. Agora, ao passear alegremente pela Rua Sogukcesme com
seu namorado Dell, acaba vendo que não interessam
os fatores, o resultado é sempre uma vomitada na cabeça.
E isso pode ser literal!

É isso,
Super. É só o que eu posso te dizer. Agora. pelo
amor de Deus, pode parar de me levar pra passear de ponta-cabeça?
Ora, é pra já, Tucão!
É sempre um prazer ajudar alguém tão prestativo.
Onde quer ficar, delegacia de Metrópolis ou Nova Iorque?
Por onde a gente tá passando agora?
França. Vou devagar para não
te fazer mal.
Então me deixa em algum banheiro público de Paris
e tamos conversados...
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