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Tucão # 05

Por Matheus Pacheco

Istambul

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"Sentado no banco do motorista de um carro. Que carro é este, aliás? Deve ser mais uma daquelas porras japonesas. Sei lá, não sou do tipo nacionalista, nem de perto, mas estes carros dos amarelos me parecem muito frágeis. Não sei explicar direito qualé a minha birra."

"No rádio está tocando uma daquelas músicas que a gente já ouviu bilhões de vezes e nunca sabe o nome. Melhor assim, porque eu ia ficar muito puto se soubesse qualquer coisa sobre esta barulheira sacal. Porra, neguinho hoje acha que é só botar umas guitarras barulhentas e começar a falar ao invés de cantar e pronto: inventou a roda. Ah, vão se foder!"

"O povo na rua é estranho, limpo demais. Em Nova Iorque as pessoas são mais sujas, mais reais. Em Gotham elas são completamente deformadas, mesmo as mulheres gostosas parecem que se produzem pra assustar. Mas não aqui. Aqui em Metrópolis todo mundo é engomadinho e bonitinho e dentro da moda. Ainda mais aqui no centro financeiro. Sei lá, cara, chega a dar nojo. Como pode um lugar ser tão limpo por fora e tão nojento por dentro? Todo mundo sabe que o pessoal daqui paga pau pro Luthor. E todo mundo sabe que o cara é mais sujo que pau de galinheiro. Porra, nem o Rei dos bons tempos era nada perto do que o cara é aqui. E no país todo também. Eu mesmo já devo ter feito algum serviço pro 'honrado' senhor L."

"Falando em serviço, os caras tão demorando. Porra, tomara que não tenha dado nenhuma merda. Se bem que, se der merda, eu tou na boa. Devo estar a umas duas quadras da porra do First e ninguém vai associar um negrão num carro velho a um assalto à mão armada em um banco."

"Chega de pensar nesta porra. Vendo aquele casalzinho ali eu fico pensando: será que eu queria ser como eles? Será que eu queria ser todo limpinho — tanto na aparência quanto na ficha policial — e viver cercado do que há de melhor deste mundo? Sei lá. Não acho que eu fosse acostumar com isso. Ou que eles fossem se acostumar comigo, não sei dizer... Só sei que deve ser uma merda ser todo enlatadinho assim. Os caras parecem que tão sempre com vontade de cagar. Não soltam a mente, não dizem nem fazem o que pensam. Queria imaginar como estes bostas trepam, deve ser hilário... Vai, beija a mulher, tira a roupa dela, ela tira a do cara e já aproveita pra pegar um boquete, depois deita ela de perna aberta, mete, bomba um pouquinho e sai de dentro — dela e da casa. Que gente mais sem graça!"

"Mudo a estação do rádio para uma só de notícias. Se alguma merda acontecer, com certeza eu ouço antes do redemoinho me pegar. Estes abutres da imprensa estão sempre ligados no que rola pelas bocadas... Nada. Só alguns comentários idiotas sobre a porra da liga de beisebol e uma ou outra pincelada na próxima temporada da NBA. Nada de interessante."

"... Tédio, tédio, tédio. E eu sem nem um jornalzinho aqui. Merda. Deixa eu ver no porta-luvas se tem alguma coisa pra ler... Opa! Tá aí o que eu queria! Hustler Barely Legal, edição de abril do ano passado. Com as aniversariantes do mês... nham... Coisa mais lindinha estas vagabinhas. Eu gosto mesmo é deste lance de fingir que elas são menores de idade. E a gente finge que acredita e fica tudo na boa. Legal mesmo. Ah, uma xerequinha destas lá em casa... Ô coisa boa!"

"Gritaria lá fora, olho pra trás e vejo os caras correndo a toda, atirando pra cima. Esses idiotas estão chamando toda a polícia da cidade pra cima da gente. É, parece que tá na hora de testar pra ver se este motor novo que o crânio amigo deles arranjou anda mesmo."

— Corre, Tuc! Os caras tão atrás da gente, um bosta lá deu com a língua nos dentes!

— Merda. E viram quem foi?

— Vimos, já demos um jeito no cara.

— Vocês mataram o cara? Digamquenão, digamquenão, pelamordedeus, digamquenão...

— Ora, claro que sim! Por que o cagaço?

— Porque isso aqui é Metrópolis, cara. Não é à toa que só tem um dos coloridos fortões aqui.

— Hã, como assim?

— Cara, aqui é a terra do Super-Hoooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo...*

"Pronto, estou eu aqui de novo, fodido e mal pago. Não sei se abro os olhos pra ver o óbvio ou se fico assim e espero a merda passar."

— Pessoal?

...

— Pessoal?

"Nada, ninguém responde... Deixa eu abrir os olhos pra veAAAAAAAAAAAAAAAAAGH! Putaqueopariu!"

"Ver o mundo de dentro de um carro já me é um pouco estranho. É raro eu passear motorizado em Nova Iorque. Mas ver o mundo de dentro de um carro a uma paulada de metros de altura do chão é algo desesperador. Olho pro lado e dou de cara com a visão do horror higiênico do mundo. O cara mais limpinho e engomadinho do mundo acabou de me eleger seu inimigo número 1. Delícia! Desta vez eu tomei no cu. Não que ele vá me matar ou algo assim — não é o que um cara tão certinho faria. Mas ele vai me largar de certeza com os meganhas e daí eu tou fodido e muito mal pago."

— Olá, Tucão!

"Porra, a merda é que o cara é simpático de tão escroto."

— ... Errr... Oi.

— Você está nervoso?

— Deixa eu ver... Estamos a uns 500 metros do chão com você segurando o carro com uma mão só. O cara mais forte do mundo me pegou de motora de assalto a banco e ainda deu sumiço nos meus parceiros. Nah, nem tou tão nervoso. Semana passada foi pior.

— Hehehe... Deixei seus amigos na delegacia no caminho, mas precisava falar com você. Um amigo precisa de certas informações acerca de um tal de Joe Bala e suas ligações.

— Porra, de novo o Joe? Será que tá todo mundo atrás dele?

— Bem, este meu amigo disse que você estaria aqui em Metrópolis e pediu pra eu te perguntar gentilmente o que sabe dele.

— E se eu não soubeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeer...?

"Caralho! O que diabos ele fez comigo?"

— O que você fez, Super?

— Bem, eu pensei que talvez em Istambul você pensasse melhor. Ou talvez uma volta ao mundo de cabeça para baixo ajude a oxigenar o cérebro...

— De cabeça pra baix... BLEARGH!

Por toda a sua vida, Alexandre Mandarino teve como ideal conhecer Istambul. Agora, ao passear alegremente pela Rua Sogukcesme com seu namorado Dell, acaba vendo que não interessam os fatores, o resultado é sempre uma vomitada na cabeça. E isso pode ser literal!

— É isso, Super. É só o que eu posso te dizer. Agora. pelo amor de Deus, pode parar de me levar pra passear de ponta-cabeça?

— Ora, é pra já, Tucão! É sempre um prazer ajudar alguém tão prestativo. Onde quer ficar, delegacia de Metrópolis ou Nova Iorque?

— Por onde a gente tá passando agora?

— França. Vou devagar para não te fazer mal.

— Então me deixa em algum banheiro público de Paris e tamos conversados...



 
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