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Tucão # 06

Por Matheus Pacheco

Hashy

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"Ah, eis-me aqui. Amsterdam, na boa e velha red light street... A cada passo uma vitrine diferente, a cada vitrina uma prostituta. Mulheres de todas as formas, cores e tamanhos se fazem ver em uma espécie de zoológico dos prazeres. Adoro passear por aqui e me divertir com as moças."

— Olá, senhorita.

— Hummm... Oi, loiro! Você é bonitão, posso providenciar um desconto só pra sentir o seu poderio...

"É impossível não corar ao ouvir palavras assim ao mesmo tempo em que se vê um dos mais belos espécimes de todo o planeta descruzar e cruzar novamente as pernas lascivamente."

— Seria uma idéia. Só espero voltar aqui quando tiver algum tempo.

— Não pode agora?

"Me impressiona a maneira como qualquer homem cai como um pato no velho truque da carinha triste feminina. Quando fazem beicinho e arqueam as sombrancelhas, as mulheres podem dominar o mundo. Mas não posso. Não agora..."

— Infelizmente, madame. O dever me chama. Não é em busca de diversão que estou aqui.

— É pena. Quem sabe depois, hein? Volte quando quiser, mas agora — já que não vai ficar — dê, por favor, a passagem a alguém que possa sustentar meus chocolates.

— Ora, sem problemas... Afinal negócios são negócios, huh?

"Ela nada responde. Apenas dá uma piscadela e manda um beijo a distância. E eu daria tudo para não ter de trabalhar a esta hora."

"Puta que o pariu. Dois dias na capital da putaria e da maconha e eu não dei umazinha nem fumei um baseado até agora. Só trabalhando direto, carregando peso pro chefão. Se bem que nem vale reclamar, pelo menos eu saí daquele inferno de Nova Iorque e seus malditos musculosos de roupa apertada. Os caras tão sempre me enchendo o saco, como se eu valesse de algo pra alguém.

Mas a grande merda mesmo é ficar pra lá e pra cá nessa rua cheia de puta de categoria e desses cafés legais e não poder parar, ter de ficar carregando as maletas pra lá e pra cá.

Inveja desses caras aí lidando com as vagabas. Olha só aquele galego ali com aquela morena descomunal! Puta que o pariu, eu dava toda a grana do mundo pra 'matar' aquela mulher ali. Mas não, continuo aqui, carregando tralha..."

"Hummm... Hashy Cafe... Bom nome pra um boteco. Acho que a minha vida 'séria' pode dar cinco minutos em nome de uma boa cerveja, um cigarrinho e alguma conversa jogada fora."

— Porra, chefe, tou meio de saco cheio de carregar coisa hoje. Dá pra segurar o resto da tarde pra sair fazer uma putaria e tomar uma cerva?

— Caralho, nunca vi chapa mais preguiçoso que tu, porra! Vai lá. Eu e o Jota se viramos pro resto do dia. Mas amanhã a folga é do careca, falei?

— Na boa, só que meu saco tá explodindo. É hoje ou hoje.

— Tá bom, comedor. Vai lá desafogar essa salsicha velha.

— Ah, vai se foder, porra! Té mais.

— Té...

— Dá licença, meu chapa? Tu fala inglês?

— Hã? Sim, claro! Como posso ajudá-lo?

— Assim, tipo... Esse é um daqueles botecos que dá pra... Hã... Fumar unzinho?

— Hehehehe... Sim, sim. Se não estou muito enganado este é um "daqueles".

— Legal. Será que eles vendem seda? Acho que vou fechar num guardanapo mesmo.

— Ora, meu amigo! Nota-se nitidamente que você não é daqui. Aguarde um pouquinho... Garçom!

— Senhor?

— Traga dois Iraki Hashis, por favor, sim?

— Claro, aguarde um instante, por favor.

— Okay. E você, amigo. É americano, pelo visto? Até arriscaria a dizer que é novaiorquino.

— Isso, descobriu pelo sotaque?

— Isso mesmo...

— E você deve ser inglês.

— Sotaque?

— Que nada, descobri pelo teu sobretudo metido a besta mesmo.

— Certo...

— Seus cigarros, senhores. Cobro separado?

— É... Pode ser...

"Puta merda. Agora tem um bosta de um inglês que até meio viado deve ser me oferecendo um baseado. Vê se pode. Mas já que ele parece saber mais do que eu sobre o lugar e já que eu me garanto, vamos ver qualé a do cara..."

— E aí, inglês? O que tu faz da vida?

— Eu... Trabalho com... Diplomacia...

— Diplomacia do tipo um país negociando com outro?

— Isso, entre a Inglaterra e um reino meio underground.

— Onde é isso?

— Você não vai saber onde é. É realmente longe...

— Humm... Tá certo.

— Mas não se preocupe que você vai conhecê-lo um dia.

— É... Tomara... Eu acho...

— Fique tranqüilo... E me diga: o que você faz da vida?

— Ah, eu sou representante comercial. Geralmente trabalho só dentro de Nova Iorque, mas surgiu a necessidade de fazer alguns negócios aqui.

— E qual é seu ramo de atuação, amigo?

— Ahnnn... Produtos naturais. Pra melhorar a qualidade de vida, sabe?

— Sei, sei... Definitivamente posso imaginar...

"Sujeito agradável este ianque. Completamente sem classe, mas não são todos? Espero que não seja algum tipo de bicha ou algo assim. Estou cansado de gente estranha."

— Agradável este bar, não?

— É... É jóia. E é estranho ver toda esta gente supostamente "de bem" matando um baseado e rindo como retardados.

— É... A grande vantagem da Holanda é que esta história de liberar o comércio e consumo acabou cortando pela metade a violência e a corrupção que o tráfico trazem. Bem feito pra estes malditos que vivem de se aproveitar da fraqueza do ser humano por diversão.

— É... Bem feito... Eu acho...

"Porra, este cara tem razão. Além de ser perigoso pra mim, é sacanagem com o resto do povo este lance de traficar. Ou não, já que estes filhos da puta desses viciadinhos têm mais é que se foder.... Porra, que merda! Apagou de novo o baseado!"

O tempo passa, dois estranhos formam uma bizarra amizade — unidos por uma moral elástica e gosto cultural semelhante...

— E então eu disse pra vagabunda ir se foder, onde já se viu puta pedir telefone, porra?

— HAHAHAHAHAHA, definitivamente... Definitivamente estas vagabundas não têm a menor noção das coisas.

— Coisa de mulher, né? Não conseguem pensar direito.

— Com certeza, o lado racional não é o forte delas.

— HUAHUAHUAHUAHUA!!!

— Olha, amigo... Foi excelente conversar com você, mas tenho de ir. Tenho certos... negócios a tratar por aí...

— Na boa, cara. Vai fundo. Tu é jóia. Quando aparecer em NY, tenta ver se me encontra lá pelas quebradas.

— Com toda a certeza. Aliás, qual o seu nome?

— Me chama de Tucão que é mais fácil. E o teu, qualé?

— Constantine, John Constantine... Foi um prazer papear com o amigo.

— Ih, meu velho. Com prazer é mais caro...

— HAHAHAHAHAHAHA!!!

— Só...

— Bom, é isso. Tenho de ir. Até a vista!

— É... Até mais, cara!

"Porra, que bicho gente boa! Gostei da Holanda, aqui tem a ventagem de não existir a menor possibilidade de se encontrar um destes heróis estranhos pelas quebradas. Aposto que em NY eu já ia ter encontrado pelo menos um destes demônios bizarros. Legal..."



 
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