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Vingadores # 05

Por Dell Freire

Music Non Stop
Parte I

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A garçonete não deixa de estranhar quando os dois homens entram na lanchonete. Em comum, ambos ostentam um aparente desleixo pelas roupas, a barba por fazer e porte físico preparados para combates repentinos. "Militares... Aposto", pensa a moça ao se aproximar dos dois novos fregueses.

— Boa noite! Podem ficar à vontade. Aqui está o menu — diz ela, sorrindo.

— Obrigado — responde B. Burnside, do alto de seus quase dois metros de altura. — Estamos com um pouco de pressa.

— Não se preocupem, temos um atendimento de primeira. Já sabem o que vão querer? — ela pega o lápis de trás da orelha.

— Eu digo? — Nick Lowe, com seu bigodinho ralo, tem um ar divertido, como se achasse graça em tudo.

— Vá em frente, se isso te faz feliz! — Burnside parece aborrecido.

— Queremos três dúzias de hambúrgueres.

— Puxa, que fome a de vocês...

— Não, meu amor — diz Lowe. — É que vamos fazer uma festinha e ficamos responsáveis pela comida. Nossos amigos são loucos por hambúrgueres e disseram que vocês têm o melhor de toda América.

Burnside esconde o rosto atrás do menu, como se quisesse ficar alheio a tudo.

— Aquele ônibus é de vocês? — pergunta ela.

— Isso... Acha que vai demorar?

— Bem... Um pouquinho. Hoje o movimento tá pequeno, talvez isso facilite. Deixa eu ver...

— Mas capriche, meu amor — Nick Lowe puxa a garota pelo braço, impedindo que saia.

Antes de se desvencilhar dele, a garçonete consegue ver uma pistola escondida sob o casaco do homem.

— Nick, ainda acho que você vai ser o responsável pelo desastre de nossa missão.

— Calma, cara! Relaxa! — ele ergue os braços — Ficar tenso não vai ajudar em nada.

— Pare de se agitar. Você gosta mesmo de chamar a atenção!

— Eu? Chamar a atenção? E o que me diz do gorila lá dentro do ônibus e do nosso prisioneiro?

— Diabos! Fale baixo!

— Eu não escondo de você. Odeio o tal Hyde. Não tenho paciência pra monstros psicopatas que podem quebrar meu pescoço só por causa de uma noite mal dormida e que devoram quase duas dúzias de hambúrgueres sozinho. Isso é uma vergonha! Cara, eu fui um herói em Angola! Não tinha que agüentar mais isso!

— Eu vou ao banheiro — irritado, Burnside se levanta.

— Só faço isso pelo dinheiro — Lowe resmunga baixinho, para si mesmo, depois berra. — Um herói em Angola, tá me entendendo?

Cerca de uma hora e quinze minutos depois, os dois mercenários saem com duas caixas de hambúrgueres e alguns litros de cerveja. Fazem um sinal positivo para o motorista, que aciona um botão, abrindo automaticamente a porta lateral do veículo. Quando entram, a voz gutural de Mr. Hyde vocifera de uma das cadeiras do fundo:

— Porque demoraram tanto?

— Não achamos o balde do ketchup... — responde Lowe cinicamente.

Como uma locomotiva desgovernada, Hyde parte pra cima do mercenário, mas é contido pelas armas que são apontadas contra ele. Cerca de uma dúzia de mercenários estão a serviço de Hyde, mas têm ordens diretas de eliminá-lo caso sua instabilidade coloque em risco o sucesso da missão.

— Desculpe o meu amigo, ele é um idiota incorrigível — intervém Burnside. — Aqui está sua comida. A outra caixa a gente divide entre a gente, OK?

— Arrrrrrrrrrrrrghhhhhhhhhhh — o monstro pega sua caixa com passos desajeitados, enquanto o ônibus volta a se movimentar, e se afasta para comer.

— Que mau humor... — resmunga Lowe.

— Tome! — ordena Burnside, entregando um hambúrguer para o amigo — Dê isso ao nosso prisioneiro.

Com o corpo ligeiramente desconfortável em sua cadeira, suando bastante em sua roupa esportiva, o megaempresário Lex Luthor solta um grunhido quando Nick Lowe violentamente retira a fita adesiva de sua boca.

— Retire as algemas. Como espera que eu coma? — pede Luthor.

— Nah. Eu sou sua babá, carequinha. É só abrir a boquinha e mastigar, vamos!

Tendo apenas como alternativa obedecer, o empresário seqüestrado começa a comer, sob o olhar vigilante do outro homem.

— Bom menino — o mercenário dá três tapinhas amistosos na careca de Luthor, que o olha com fúria (*)

— ... e aí ela cortou o papo dele: "Vai um refrigerante aí, vovô?!"

— Eu não acredito... Steve deve ter ficado com a cara no chão — diz a Feiticeira Escarlate, observando distraidamente as formas da fumaça enquanto toma um copo de chocolate quente.

— Eu juro. Buddy me contou. Mas Vanda, o que você queria? — a Supermoça não consegue conter um sorriso. — Ele ainda pensa e age como um homem de setenta anos.

— Não sei. Eu o acho charmoso.

— Vanda? — a surpresa fica evidente no rosto da Supermoça.

— O que tem de mais? E você é a última pessoa que devia me recriminar. Seu peixinho é mais velho que o Capitão.

— Namor? Não tem nada a ver. É só um... novo amigo.

— Bem, meus amigos não me olham como o Namor te olha.

— Vocês viram o Visão? — com um mini-vestido justo e preto, surge a Viúva Negra, interrompendo a conversa entre as duas na sala de monitores.

— Ele... está no quarto dele, acho. — responde a Supermoça, meio hesitante em passar a informação diante da Feiticeira

— Obrigada — tão rápido quanto entrou, a bela espiã ruiva sai de cena.

— Que estranho... Será que... Ah, Vanda, desculpe... Eu não...

— Não se preocupe. Eu e Visão estamos separados há um bom tempo. Acho que estamos todas um pouco românticas ultimamente... — diz ela, meio sem graça e sintonizando o monitor em um canal de TV. — Ah, não! Esse cara de novo, não!

A voz do repórter Jack Ryder parece soar cada vez mais irritante. Ele olha para a câmera, sorrindo debochadamente, enquanto às suas costas, em um vídeo, surge a imagem da Baía de Manhattan. Ryder está de pé, apontando para a imagem, que é enfocada até tomar toda a tela e a voz do repórter ficar em off.

— E em mais uma de suas patéticas operações, os Vingadores caíram em plena Baía de Nova York à bordo de uma nave espacial, provavelmente Skrull. Todos, infelizmente, sobreviveram e passam bem. Em uma declaração rápida e conturbada à imprensa, o diretor do Departamento de Operações Extranormais, Henry Peter Gyrich, afirmou que o recente desaparecimento da equipe ocorreu devido a uma "operação alienígena bem orquestrada". Quanto à especulação de que dois membros da família Imperial Skrull estão vivos e aprisionados sob a custódia do governo norte-americano, Gyrich foi enfático:

— Isso é loucura! Geraria um conflito intergaláctico e, convenhamos, isso é o que menos precisamos nesse momento! Agora quer fazer o favor de tirar esse microfone do meu nariz? — com um gesto violento, o homem que faz a ponte entre o presidente dos EUA e os Vingadores empurra um dos repórteres, retirando-se. — Não tenho mais nada a declarar.

A imagem volta para Ryder, de pé e conversando com o espectador.

— Até quando vamos agüentar tanta perturbação da ordem e da paz causada por esses fantasiados irresponsáveis? Eles, definitivamente, não representam a vontade popular. Muito pelo contrário: os meta-humanos nos oprimem, nos humilham e interferem em nosso cotidiano sob um manto falso da justiça. Não podemos agüentar isso por mais tempo.

Ele balança a cabeça de modo teatral, lamentando, respira fundo e prossegue.

— Assim como não podemos agüentar mais a violência urbana causada por um vigilante irresponsável que amedronta as ruas de Nova York em investidas sanguinárias contra inocentes. Há vários homens agredidos em hospitais. Quem lhe deu esse direito? Eu? Você? Aguardem as novas investigações que traremos amanhã em mais uma edição de nosso telejornal — ele olha para a câmera, apontando um dedo inquisidor. — Estamos atrás de você, seu canalha. Eu sou Jack Ryder e essa foi mais uma edição da Verdade Alerta. Boa noite!

A Feiticeira Escarlate e a Supermoça se entreolham, chocadas.

— Eu não acredito que ouvi isso — a loura murmura baixinho.

— Você ouviu essa história do vigilante que está solto nas ruas? — responde Vanda, preocupada — Vou falar com Steve. Precisamos tomar uma atitude à respeito, antes que Ryder se aproveite da situação.

— Mais vinho? — pergunta o mordomo, com preocupação na voz.

— E ainda perguntas, gentil Jarvis? Hoje, a farra será melhor do que a de ontem... Estou apenas a me aquecer um pouco!

— Estamos animados ultimamente, não é mesmo? — Jarvis pára de servir Thor, olhando-o com estranheza.

— A atmosfera do Mundo Skrull não deve ter feito bem a ele — resmunga Pietro, observando os maus modos de Thor à mesa.

— Nem a mim, de certa forma. Tenho tido muita dor de cabeça ultimamente — diz o Homem-Animal, sentado próximo aos colegas na cozinha da Mansão dos Vingadores. — Tanto eu quanto Thor ficamos expostos a gases de umas plantas alucinógenas na região e...

— Deveriam ter procurado Hank Pym quando chegaram — lembra Jarvis.

— Mas nós procuramos! Ele não detectou nada de estranho em nossa constituição física ou mental. Quanto à mim, ele acredita que o elo que tive com o gorila ao me conectar com o campo morfogenético do Mundo Skrull tenha aliviado os efeitos do gases alucinógenos. Afinal, o animal estava acostumado àquele habitat. E minha dor de cabeça seria apenas stress.

— Nenhum dano? Mesmo? — pergunta Jarvis, enquanto observa o Deus do Trovão devorar um frango assado inteiro, sem se preocupar em se lambuzar.

— Saúdo meus amigos com um novo brinde à nossa eterna amizade — com as mãos oleosas, ele puxa Mercúrio para seu lado e ergue uma taça de vinho. — E que vossas preocupações comigo se dissipem como o doce perfume de uma mulher sob nossas narinas! Tem certeza que não me acompanharão?

— Não. Eu tenho... compromissos urgentes. E estou sem dormir desde sábado — responde Mercúrio, tentando se desvencilhar do amigo.

— Buddy? — indaga Thor, esperançoso.

— Não, Thor. Acho que vai ter que divertir sozinho hoje. Nossa ida de ontem à boate Willian Blake já foi uma grande aventura — ele sorri. — Espero que minha esposa não fique sabendo... E Steve? Não vai?

— Depois da vergonha pública que ele passou ao abordar aquela bela jovem? — responde o Deus Nórdico — E de agüentar nossas gozações? Jamais vi Pietro rir tanto em minha vida...

— Com licença — em supervelocidade, Mercúrio retira-se da Mansão em poucos segundos.

— Ele é sempre assim?

— Acostume-se, meu amigo — com tapinhas lambuzados no ombro de Buddy, Thor se levanta. — Ele é um desse heróis que usam spandex apertado.

— Céus! O senhor tentou fazer uma piada? — Jarvis olha aterrorizado para Thor. — Se os Vingadores continuarem nesse ritmo, trabalhar aqui vai ser tão humilhante quanto ser babá da Justiça Jovem...

A banheira do ônibus particular está cheia de espuma, proporcionando ao mercenário belga conhecido como Batroc total relaxamento. Desde que recebeu uma alta quantia do misterioso Arjuna para planejar e liderar o seqüestro de Lex Luthor, o mercenário só tem preocupações quanto ao andamento da operação. Nada pode falhar. Neste exato momento, porém, tudo o que ele quer é alguns minutos de sossego que julga mais do que merecidos. Ele deixa o corpo todo mergulhar por baixo da espuma, ficando apenas com a cabeça de fora e seus pés que, ritmicamente, começam a bater uns nos outros enquanto ele solta a voz:

— Ne me quitte pas il faut oublier… Tout peut s'oublier qui s'enfuit déjà…Oublier le temps des malentendus…

Enquanto canta, tenta ignorar o toque do celular, que toca insistentemente ao seu lado, esfregando as costas com a escova.

— Ne me quitte pas… Ne me quitte pas… Ne me quit… Merde! — ele resolve atender o telefone — O que é?

— A equipe Quéfren acaba de chegar, senhor. Podemos prosseguir sozinhos ou gostaria de estar presente?

— Vermes! Façam tudo sozinhos. Não deve ser tão difícil transportar o homem com certa discrição!

Desligando na cara de um de seus soldados, Batroc começa a cofiar o longo bigode. Uma de suas maiores preocupações quanto ao andamento do seqüestro fora em relação ao cativeiro do megaempresário e, no seu ponto de vista, a saída encontrada é perfeita. Dividindo sua equipe de mercenários em três ônibus especiais e, a cada 6 horas, mudando a vítima de veículo — criando uma espécie de cativeiro móvel que circula por todo o Estado, até o resgate ser pago — todos se livram do inconveniente que seria ficar plantado em um mesmo lugar com uma equipe tão grande e um convidado tão ilustre.

O ônibus Quéops é comandado por Batroc; o Quéfren por Mister Hyde e o Mikerinos possui uma dupla de mutantes como líderes. Ninguém, dentro dos três cativeiros móveis, sai do seu posto até o encerramento do seqüestro.

Neste momento, Lowe e Burnside correm no meio da noite, em uma rua deserta, lado a lado com um Lex Luthor algemado e emudecido por uma fita adesiva, transportando-o do Quéfren para o Quéops.

Batroc, ainda em seu banho, acredita que o governador de Nova York cumprirá suas ordens e manterá sigilo sobre a questão. Afinal, o empresário foi seqüestrado visitando o Estado a negócios, o que prejudicaria a imagem de seu governante. Voltando a cantarolar, ele não tem dúvidas de que obterá o que quer para soltar Luthor: dois bilhões de dólares e a cabeça do Capitão América em uma bandeja.

O terno e a gravata dificilmente deixam o Príncipe Submarino à vontade. Ao menos, nessa cerimônia informal com empresários japoneses, ele pode se dar ao luxo de ficar descalço enquanto todos dialogam sobre um maior intercâmbio entre suas empresas. Ao contrário de Aquaman, dentre todos os povos da superfície, os japoneses são os que Namor consegue nutrir mais simpatia e afinidade. A união da tradição cultural com as inovações tecnológicas; a compreensão do imperador como um filho de uma divindade; a paciência no planejar e a rapidez no executar; a capacidade de se reconstruir mesmo quando tudo parece perdido e, principalmente, a percepção de que o coletivo vem acima do indivíduo, parecem unir japoneses e atlantes. Com um aceno de cabeça e um discreto aperto de mão, os empresários se despedem do Príncipe Submarino com a certeza de um grande negócio fechado.

Satisfeito, Namor fecha as portas de sua casa com a certeza de que quanto mais os negócios de sua empresa, a Oracle Inc., crescem, mais a Atlântida cresce com ela. Ele respira fundo, demonstrando um certo cansaço; o retorno como membro titular dos Vingadores é algo exaustivo, mas necessário. Alguns acusaram sua volta à equipe como sendo uma estratégia de marketing para trazer maiores benefícios para seu povo, estreitando ligações com a Terra. "Seria pedir demais que todos compreendessem os meus gestos", reflete Namor, observando as horas em seu relógio de pulso "Meus compromissos e responsabilidades são apenas com meu Pai e meus filhos: Poseidon e os atlantes."

Seguindo sua prescrição religiosa naquele horário em especial, Namor começa a retirar suas roupas e caminha nu em direção ao pequeno altar que armou em sua residência para orar a Poseidon. Assim que entra em solo sagrado, um embevecimento toma conta do Príncipe Submarino, sua respiração fica mais serena e suas pálpebras começam a se movimentar quase em transe. O ambiente é semi-iluminado apenas por castiçais em forma de tridentes e velas amarelas. Alguns jarros de água ficam espalhados pelos quatro cantos da sala. No chão, ao redor de um tapete, há inscrições de alguns símbolos e sinais característicos ao povo atlante.

Namor se ajoelha sobre um tapete em que vários peixes estão desenhados com a figura de Poseidon a capturá-los com seu tridente e sua rede. A ilustração dos peixes e seu pescador, dentro de sua cultura mística, ganham contornos semelhantes à compreensão cristã das mesmas representações. Ele põe as mãos para o alto e ora.

— Poseidon mihi omnia! (**) Que sua inteligência ilumine meu caminho, que não é o caminho deste mundo. Que sua inteligência, que é estranha à substância deste mundo e deriva do destino atlante, seja superior à minha vontade e à vontade dos homens. Poseidon, sua imagem ressurge íntegra em minha mente em um mar de possibilidades infinitas do que você pode fazer. Se eu ponho meu coração sobre este mundo, é apenas para sua redenção! Por dentro estou quebrado, aberto, para receber sua água viva, que é sua maior benção, em meu peito! Poseidon Rex Imortalitatis! (***)

Um vento repentino apaga quase todas as velas, deixando apenas uma acesa; em seu íntimo, Namor saber que a chama que existe em seu peito é a mesma que balança na vela bruxuleante diante de seus olhos, agora úmidos. Em silêncio, ele agradece à mais essa resposta.

Precedido por uma batidinha na porta, o rosto de Natasha Romanoff surge diante de Visão.

— Posso entrar? — diz ela, com quase meio corpo no quarto do sintozóide.

— Claro. Algum problema?

— Não, nenhum... Por que acha que eu te procuraria apenas se tivesse um problema?

— Desculpe. Fique à vontade — com um gesto largo com as mãos, Visão permite que ela entre e se sinta à vontade. — É que não sou exatamente acostumado à visitas sociais entre Vingadores.

— Você ultimamente tem estado tão introspectivo — ela se aproxima com cuidado. — Como vice-líder dos Vingadores, é meu dever cuidar da saúde espiritual de todos.

— Saúde espiritual? A minha? — a voz sintetizada é tomada de surpresa. — Natasha, minha querida, vou encarar como um elogio esse seu esquecimento do que sou de fato.

Um pouco tímida, ela desvia o olhar do outro Vingador.

— Desculpe. Acho que minha preocupação com os outros não rende bons resultados. No novo planeta Skrull, Pietro também não me entendeu bem.

— Pietro não entende a si mesmo ainda, o que é uma pena.

O comentário de Visão a faz sorrir.

— O que faz tanto tempo em seu quarto?

— Leio, ouço música...

— Gosta de música? Que tipo? — pergunta ela, curiosa

— Música eletrônica.

Ela solta uma risadinha diante de algo que pensa ser uma piada de seu amigo.

— Ah, sim... — ele finalmente compreende. — Realmente deve ser curioso um 'robô' gostar de música eletrônica.

— Desculpe, não sabia de seu gosto. Pensei que gostasse de música erudita.

— De certa forma, as duas não são tão distintas como parecem.

— Como?

Apertando um botão em seu pulso, Visão começa a emitir uma música.

— Ouça.

Natasha Romanoff se surpreende com a construção melódica suave presente na música gerada eletronicamente, bastante diferente do que habitualmente pensa encontrar nesse ritmo.

— Como se chama essa música? — pergunta ela, sentando-se em uma cadeira e prestando atenção, enquanto cruzas as belas pernas à mostra no vestido curto.

The Model. Da banda Kraftwerk. É sobre uma linda mulher que encanta a todos que a vêem; ela sorri o tempo todo se mostrando sedutora. Ela joga com eles, pois sabe que é realmente linda.

— Como? — Natasha fica surpresa.

— Perdoe-me, mas não gostaria de viver isso novamente — ele passa sua mão gélida sobre o rosto da bela espiã. — Em outro momento, talvez tivesse dado certo.

Visão observa a mulher levantar-se apressada e se retirar sem dizer uma palavra. No silêncio da noite, o sintozóide sente-se lisonjeado com a aproximação da Viúva Negra, mas sabe que há um preço a pagar por enxergar as coisas sob a perspectiva da realidade. Ele fecha os olhos, tentando novamente se inserir em várias correntes do ciberespaço, onde tem sido o seu verdadeiro lar e sentindo-se inserido em um contexto que lhe permite enxergar o mundo por completo, sentindo o universo inteiro em um piscar de olhos.

— Music... Non Stop! Music... Non Stop! — diz a voz sintetizada, pouco antes de ser perder no ciberespaço.

— Vai um refrigerante aí, Capitão? — Gyrich entra na sala de ginástica com um refrigerante nas mãos, fazendo a gozação que persegue Rogers há um bom tempo

— Meus Deus, todo mundo já sabe dessa história? — Steve Rogers, em sua roupa de Capitão América, se exercita nas argolas olímpicas. — Desapareça, Gyrich!

— Ei, a culpa não é minha se o Vovô América tenta corromper menores! Quem diria? O símbolo vivo da América abordando garotinhas indefesas...Tsc, tsc, tsc. Além do mais, você me deve um favor por "hospedar" aqueles dois membros da família Skrull em completo sigilo.

— Algum motivo em especial o trouxe aqui? Além de me infernizar a vida, é claro?

— Sabe quem está visitando Nova Iorque esta semana?

— Gisele Bündchen?

— Lex Luthor. A negócios.

— Bem, e daí? — Rogers se desprende das argolas, iniciando um salto triplo.

— Ele foi seqüestrado. Pedimos que a mídia mantenha segredo até resolvermos o caso. Os seqüestradores querem dois bilhões de dólares entregues por você. Para matá-lo, em seguida.

O Capitão América, ao ouvi-lo, aterrissa de mau jeito, causando uma pequena luxação no pé esquerdo. Seus problemas estão apenas começando.

— Obrigado. — agradece um dos mercenários do Mikerinos ao sair da lanchonete.

O soldado, sob ordens dos dois mutantes seqüestradores que comandam o terceiro ônibus, caminha segurando a caixa.

— Caramba, mas que fome esse cara tem...

— Muito estranho — pondera um policial, ao lado da garçonete. — Vou anotar a placa desse ônibus.

Discretamente, ele se aproxima da janela, tentando anotar o número mas não o faz por inteiro. O ônibus parte em uma velocidade razoável.

— Merda! Não consegui...

— Ei, policial! — com uma das mãos, a garçonete entrega a carteira esquecida pelo mercenário enquanto aguardava em uma das mesas. — Talvez isso ajude!

No próximo número: Muita pancadaria e confrontos violentos acontecem quando os Vingadores se enfrentam com os seqüestradores de Lex Luthor.

:: Notas do Autor

* A história sobre o seqüestro do empresário Lex Luthor estava planejada há mais de seis meses; qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

** Tradução do latim: "Poseidon é tudo para mim!"

*** Tradução do latim: "Poseidon, Rei da Imortalidade"

**** Kraftwerk significa Usina de Força em alemão. A banda, comandada por Ralf Hunter e Florian Schneider, popularizou a música eletrônica na década de 70 aproveitando-se dos conceitos de música clássica, das experimentações do Estúdio de Colônia e acrescentando baterias eletrônicas e solos de teclados há vários outros recursos.



 
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