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Por
Dell Freire
O
Admirável Mundo Novo dos Skrulls
Parte Final
Os últimos
quinze minutos transformam-se em uma mancha na mente de Steve
Rogers e, em breve, os poucos detalhes do combate se esvaem de
sua mente, ficando apenas a imagem do sangue. As mãos do
Capitão América seguram o escudo sobre sua cabeça,
tentando sucessivas e violentas investidas contra a porta, seus
olhos tentando se afastar da imagem dos monitores. Rogers é
experiente na arte da guerra e já viu muitas mortes. A
maioria, desnecessária; outras, apenas parte do jogo. Mas
há algo particularmente horrendo na concepção
deste ritual de violência calculada em que estão
metidos os Vingadores.
Os monitores enviam imagens de algumas obras de irrigação
em direção aos vales desertos, pontes construídas
sobre grandes precipícios e estradas estreitas em que circulam
algumas naves dos Skrulls; em geral, um único e velho veículo
espacial parece monitorar cada região de combate, aguardando
os derrotados caírem para transportá-los para o
Palácio.
Seu quarto vazio, após a saída da Imperatriz S'Byll
e de seu marido, Kl'rt, torna-se novamente a prisão bem
cuidada e asséptica que o perturba. Aparentemente, as intenções
da mãe do povo skrull são em busca de paz através
de um torneio intergaláctico.
"Mas seus aliados, definitivamente, não me trazem
a mesma confiança", pensa o Rogers, chutando a porta
em mais uma inútil investida. O velho soldado respira fundo,
afastando-se da porta. Ao lado dela, um pequeno computador apresenta
alguns signos aparentemente análogos aos números
romanos. Para sua surpresa, o computador começa a soltar
faíscas e a acionar uma combinação de dígitos,
como se uma mão invisível estivesse a operá-lo.
A porta se abre, e uma vez mais o Capitão América
posiciona o escudo em posição de combate.

O aposento em que
estão Mercúrio e Viúva Negra é circular,
com uma abóbada prateada e a pele de um animal selvagem
da região na porta de entrada.
Céus, como eles conseguiram construir algo tão
frio e assustador? Natasha sente-se incomodada com o ambiente,
pousando uma das mãos sobre a parede fria.
Pietro parece não prestar atenção no que
sua aliada diz. Está sentado em uma cadeira, brincando
com três copos, fazendo malabarismos sem permitir que
caiam. Natasha observa com estranheza o comportamento isolado
de Mercúrio. O velocista sempre teve um temperamento difícil
mas, de uma forma ou de outra, sempre acabou se adaptando ao grupo.
Aparentemente, ela é a única a notar seu distanciamento.
Pietro?
Hmm? seus olhos estão fixos nos copos.
Você está bem? Desde que voltamos aos Vingadores
que o sinto mais distante que o habitual. ela hesita antes
de entrar no assunto Algum problema com Crystalis ou Luna?
Não seja indiscreta, Natasha! ele pára
com o malabarismo Não é por pertencermos
ao mesmo grupo que somos amigos. Se jogar esse jogo, vou querer
saber qual o próximo homem que está em sua mira.
sua voz apresenta uma insensibilidade maior do que o habitual
Não pude deixar de ver seus olhares para o Homem-Animal
durante a entrevista coletiva.
Buddy? Você está louco, Pietro? em
seu íntimo, ela sabe que ainda existe um demônio
em Nova York que mexe com ela.
Natasha, os motivos que me levaram a voltar aos Vingadores
são os melhores possíveis; apesar de achar que um
dia nossos interesses entrarão em conflito.
Como assim?
Eu tenho uma obra a realizar. E o status que os Vingadores
me oferecem é mais do que útil. suas palavras
soam enigmáticas e sua atenção se volta para
seu joguinho com os copos.
Um estalo é ouvido pelos dois; a porta se abre. A tendência
da Viúva Negra em ser cautelosa com cada acontecimento,
nascida de experiência, a impede de partir para o ataque.
Antecipando os movimentos de sua aliada, Mercúrio percorre
metade da sala, escancara a porta e desfere uma sucessão
de golpes, surpreendentemente contidos com força por uma
mão fria.
Aí está ele outra vez... Mercúrio,
acalme-se. Visão, que os resgata entrando na estrutura
dos computadores alienígenas, percebe que sua densidade
aumentou desde o início do ataque do mutante. Ele olha
para as mãos de Pietro: estão inchadas, seus olhos
ligeiramente sobressaltados e em fúria.
A voz de Vanda acalma o irmão, enquanto ambos, ao lado
de Visão e Viúva Negra, ouvem os planos do Capitão
América.

Terra Base
Secreta de Arjuna
Arghhh!
Mais cuidado, senhor. Não podemos quebrar a perna de
nossos próprios guerreiros um tom de preocupação
marca a voz de Lagus, principal conselheiro de Arjuna, ao ver
a cena.
Sábio Lagus, esse tipo de exercício sempre me
faz bem.
Arjuna se levanta, demonstrando desprezo pelo adversário
derrotado, que agoniza diante dele.
Se não soubesse que tal demonstração de
força acompanha um senso de liderança razoável
e uma saudável capacidade para ouvir seus conselheiros,
realmente estaria preocupado.
Poupe-me, Lagus alguém joga uma toalha para Arjuna,
que rapidamente começa a secar o suor Adiantou algo a
respeito de nosso próximo passo?
Senhor, que desconfiança primária! Ninguém
mais do que eu poderia se preocupar em ver as coisas caminharem
corretamente.
Falou ou não com o mercenário francês?
Ele se recusa a aceitar o valor que estipulamos.
Dobre.
Mas, senhor...
Dobre, você me ouviu. Não podemos perder essa oportunidade
de adiantar nossos planos. E a imagem dos Vingadores não
deve ser a mais confiável assim que começarmos o
ataque.
Lagus caminha pensativo em direção à sala
de operações. Ele sabe que o momento não
é para a hesitação, mas tem receio em arrastar
criminosos para uma operação importante envolvendo
a causa. Felizmente, a primeira operação deu seus
frutos quando, diante da mídia nacional, os Vingadores
se apresentaram para dar explicações sobre uma operação
fracassada. (*) Para Arjuna, o grupo pode se tornar o maior empecilho
para seus planos de conquista. Assim, não resta mais nada
a seu conselheiro senão fazer valer a vontade de seu mestre.
Batroc?
Oui?
Você terá o dinheiro que quer para realizar nosso
trabalho.

Terra nas
ruas de Nova York
Mas o que há? Você tem claustrofobia ou algum problema
urinário? em um depósito abandonado e escuro,
uma figura de fantasia amarela, peruca e uma pele de ovelha envolvida
em seu pescoço dá o tom da conversa diante de uma
homem assustado, que começa a mijar nas calças Preciso de informação, seu mongol!
Meu nome... Você sabe meu nome! o criminoso começa
a tremer ainda mais.
O quê? Mongol é seu nome? a risada do herói
conhecido como Rastejante domina o ambiente Porque isso não
me surpreende?
Olha, moço. Não sei muito. Nem é segredo
assim, como ce pode pensar... Há algumas semanas, alguns
xarás nossos tão comendo capim pela raiz, desaparecendo
ou então amanhecendo com o pescoço quebrado...
Guerra de gangues? É isso?
Não, não. É o que os jornais têm
dito por aí, mas a verdade é bem outra. A gente
das ruas sabe bem... Tem um maluco por aí quebrando os
criminosos, fazendo justiça com as próprias mãos.
Como ele é?
Num sei... Ninguém nunca viu direito... Ele já
enfrentou gangues inteiras e ninguém nunca viu ele direito.
Mas como?
Num sei... Deve ser porque ele é rápido como o
diabo, moço.
Um forte barulho interrompe a conversa.
Saiam daí, é a polícia. Atenção,
vou arrombar a porta.
Tamo fudido, seu moço diz Mongol, enterrando a touca
mais ainda em sua cabeça.
Nós, não... Você.
Com um pequeno atrito entre os dedos, o Rastejante aciona o ativador
escondido sob sua pele, tornando sua fantasia invisível.
O repórter conhecido como Jack Ryder, identidade secreta
do Rastejante, vê-se apenas de cuecas e, assim que o policial
invade o depósito, ergue as mãos diante de um atônito
Mongol.
A polícia de Nova York... diz Ryder, agradecido, ao
policial Onde estaríamos se ela não estivesse
sempre pronta para nos livrar dos facínoras de plantão?

Em meio a uma arena
lotada de skrulls para assistir a final entre seu povo e os terráqueos,
a agitação é total. Os braços de Thor
empurram com rapidez seu oponente de encontro à parede.
Às suas costas, o Príncipe Submarino enfrenta o
Superskrull. As mãos de seu adversário estão
incandescentes, tornando-se um duplo perigo ao toque e fazendo
Namor suar enquanto tenta impedir sua aproximação.
Se achas que aceitarei ordens suas... resmunga Thor
Os braços de Namor, com movimentos rápidos, fazem
Kl'rt se afastar um pouco. Um murro no queixo do alienígena
o deixa ligeiramente tonto, fazendo-o afastar-se ainda mais, cambaleante.
Acredite em mim. Faça o que eu disse.
Nunca! Ninguém toma decisões por mim.
O skrull de quase dois metros se desvia do soco de Thor, que atinge
a parede, furioso e aos berros. O gesto repentino agita ainda
mais o Homem-Animal que, ainda preso em sua forma simiesca e deformada,
enfrenta seu inimigo.
Será que Vanda e Visão conseguiram libertar os
outros? pergunta a Supermoça, enquanto se desvia de seu
adversário. Ela limita seus gestos, desejando demonstrar
menos força do que possui, e olha para Namor. A cada dia
que passa, sua presença a incomoda mais e mais. Não
se trata apenas da atração que ele demonstra sentir
por ela. Por algum motivo desconhecido, aquele atlante a assusta.
Eu confio neles. Eles irão livrar os outros. Namor
está ofegante, as mãos apoiadas nos joelhos, enquanto
observa Kl'rt se levantar rapidamente Agora calem a boca e façam
como eu planejei. Contenham-se até a chegada de reforços.

A Imperatriz Lilandra
ouve um grito indistinto e vê sua frota de naves de Shi'ar
espalhar-se pelas estrelas. Algumas têm seus canhões
laser atirando para os lados e deslizando impetuosamente para
abaixo. Subitamente, um clarão vermelho é seguido
pelo segundo e, sem estrondo, o casco da nave Khúndia explode
e flutua preguiçosamente em direção ao novo
mundo dos skrulls. Um novo clarão se segue.
À medida que cada nave Khúndia explode, um pequeno
grupo de outras naves próximas simplesmente desaparece.
Apesar disso, o ímpeto do ataque causa espanto à
Imperatriz, enquanto sua frota continua a avançar.
Que fazemos com eles? pergunta um dos generais do Império
Shi'ar.
Com a destruição da nave líder, vamos avançar
antes que se reagrupem. informa Lilandra
A senhora não acha que eles seriam loucos em tentar uma
nova investida?
Às vezes, acho que os Khúndios são suficientemente
malucos para tentar qualquer coisa. diz ela, entediada, enquanto
observa a movimentação das tropas inimigas
Porque simplesmente eles não se aliaram a nós?
Orgulho. responde Lilandra Seria mais fácil unirmos
forças. Eles querem o mesmo que nós: a libertação
dos campeões presos no novo mundo Skrull. Já foi
difícil para mim unir thanagarianos, krees, daxamitas e
outros povos tão díspares entre si em tempo hábil,
mas enfrentar os Khúndios querendo fazer todo o trabalho
sozinho é um desperdício de forças ridículo.
A nave trepida enquanto faz uma manobra, todos se seguram.
Os terráqueos irão cooperar?
Sem dúvida.
Não sei porque confia neles, Imperatriz. Só querem
sair de lá e não estão em número suficiente
para lutarem contra a frota Skrull.
Tracei telepaticamente um plano com os dois líderes principais:
Capitão América e Namor. Eles vão nos fazer
um grande favor, antes de partir...
Qual?
Arrancar a cabeça da serpente.

Um clarão
subitamente ilumina os rostos surpresos dos lutadores. A arena
enche-se de um cheiro forte e desagradável com a chegada
da nave Skrull, que pousa no centro do combate final com Visão
como piloto e os outros Vingadores como tripulantes.
Supermoça! berra Namor, fazendo um sinal com as mãos,
enquanto tenta se desvencilhar de Kl'rt.
Lilandra de Shi'ar nos informou de seu plano em tempo. Você
quer deturpar a idéia da Imperatriz Skrull de um jogo pacífico;
quer se livrar de todos os campeões alienígenas.
a voz do Príncipe Submarino sai com dificuldade enquanto
a garganta é pressionada pelo adversário Você
e seu exército serão... rechaçados...
Veremos!
Uma batidinha inconveniente nas costas chama a atenção
do Superskrull. Ele não olha para trás, até
ser violentamente puxado para longe de Namor por Thor, que o encara
com um sorriso de escárnio e começa a golpeá-lo
sucessivamente no rosto até levá-lo ao chão.
O Deus do Trovão rapidamente coloca o adversário
em seu ombro, entrando pela porta da nave que se abre. Namor se
ocupa em convencer o transfigurado Homem-Animal a entrar na espaçonave,
enquanto observa Supermoça se desviar de raios laser de
soldados skrulls, até chegar à Imperatriz S'Byll,
que é segura pelo braço.
Mas o que...
Acalme-se. Você vem conosco.
Assim que o último dos Vingadores entra na nave, trazendo
consigo os dois líderes skrulls, conforme o combinado,
surge a frota de alienígenas comandada pela Imperatriz
Lilandra. Isso não impede que um canhão Skrull atinja
a asa da nave pilotada por Visão. A parte traseira está
cheia de fumaça e chamas, que consomem o material da fuselagem.
Enquanto o deslocamento do ar varre os gases e extingue o fogo,
o Capitão América percebe a extensão dos
danos e conclui que a nave está condenada. "É
uma questão de tempo até que o fogo atinja os tanques
de combustível, neutralizando os motores ou explodindo
a nave."
Preparem-se para abandonar! grita Rogers
A aparência simiesca de Buddy Baker lentamente passa a regredir
à forma original. Seus olhos começam a lacrimejar,
provavelmente por efeito da fumaça passar e pela dor da
transformação. É uma das primeiras e, com
sorte, a última vez que se conecta a um animal alienígena.
Ele olha para os Vingadores ao seu redor, agitados e berrando.
Respira fundo e se cala, resignado e esperando qualquer que seja
o desfecho.
Você está louco! Vamos cair no mar e virar
alvos fáceis! grita Natasha Romanoff
Vamos arriscar! reafirma o Capitão
Não! Confiem em mim! pede o Visão,
conectando-se ainda mais à estrutura alienígena
da nave. A Feiticeira Escarlate, ao seu lado, põe a mão
em seu ombro Eu posso nos tirar daqui.
Com gestos ágeis das mãos do sintozóide,
os comandos passam a responder mais rapidamente. A nave começa
repentinamente a forçar a subida, evitando a queda nas
águas e aumentando sua velocidade à milionésima
potência, até desaparecer em meio a um clarão
de luz, como conseqüência da ruptura de algum ponto
importante no tempo e no espaço.
No próximo número: Os Vingadores voltam à
Terra e investigam o seqüestro de Lex Luthor
:: Notas
do Autor
(*) Ver Vingadores # 01 e #
02.
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