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Por
Eduardo Sales Filho
Gritos
da Noite
Parte Final - Presas Pra Que Te Quero!
"Que diabos,
Matt, eu achei que advogados eram frios e calculistas", pensa
o Homem-Aranha, enquanto salta em meio a uma centena de vampiros
e se amaldiçoa por não ter segurado o Demolidor
quando ele decidiu bancar John Wayne.
O Demolidor aterrissa sobre três vampiros. Cruza o salão
com movimentos rápidos, dirigindo-se ao altar onde Thomas
Green e sua esposa estão. Ele se surpreende pelo modo como
os vampiros caem fácil, mas não se importa. Salvar
Elektra é sua única preocupação.
Pendurado em sua teia, o Homem-Aranha balança pelo salão
acertando o máximo de cabeças possível. Subitamente,
uma mão o agarra. Ele é atirado ao chão e
um círculo de vampiros se forma à sua volta.
Matt Murdock é um atleta nato, um ágil lutador e
exímio acrobata. No momento, ele está usando todas
as suas habilidades para transformar a desvantagem numérica
em uma vitória. Ele atira seu bastão para o alto,
derrubando um globo luminoso em cinco adversários que bloqueavam
seu caminho. Com um salto, desvia-se de mais dois e alcança
o altar.
Senhor Green, o demônio veio buscá-lo!
diz o Homem Sem Medo, enquanto fita o líder da seita.
Ótimo, pois eu sempre quis dançar com o demônio
sob o pálido luar... Hmm, onde foi que eu já ouvi
isso antes?
O Aranha observa seu parceiro ao longe, mas não pode ajudá-lo
agora, pois tem seus próprios problemas para resolver.
Muito bem pessoal, todos vocês querem me morder,
mas eu tenho uma péssima notícia: meu gosto é
horrível! Podem perguntar pro cachorro da minha vizinha!
enquanto fala, seu sentido de aranha o orienta. Ele se
prepara pra um ataque... agora!
Abaixando-se rapidamente, o Homem-Aranha vê um oponente
passar voando sobre sua cabeça e ir de encontro a dois
companheiros vampiros. Aproveitando-se da distração
criada, ele dispara suas teias e forma um escudo em seu braço
direito.
Esse é um truquezinho que aprendi com o Capitão
América, conhecem?
Usando o escudo como um aríete, o herói projeta
seu corpo contra uma multidão de vampiros, derrubando-os
como pinos de boliche. Ele precisa ir para um local mais alto,
de onde possa continuar o combate de maneira mais efetiva. Os
engradados no canto direito parecem um bom lugar.
Tem algo errado nesse cara... pensa o Demolidor
enquanto aproxima-se de Thomas Green. Esse cheiro de graxa
vindo dele não faz sentido... e que ruídos são
esses? Parecem mecânicos.
Está na hora, demônio, da sua última
dança!
Thomas parte na direção de seu oponente e o agarra.
Sua força sobre-humana faz com que algumas costelas do
Demolidor se partam. Seu abraço asfixiante deixa o Homem
Sem Medo sufocado. No entanto, em meio ao barulho da luta, um
ruído não sai da cabeça de Matt.
"Engrenagens... graxa... mecânica...", os pensamentos
tentam concatenar as informações e transformá-las
em algo útil. A resposta vem como uma revelação.
Armaduras! Aranha, eles não são vampiros
de verdade! Estão usando armaduras para simular a força
e próteses dentárias no lugar dos caninos! Eles
são apenas humanos comuns vestidos com exo-esqueletos!
O Demolidor bate com seu bastão na têmpora direita
de Thomas e consegue se soltar. Usando seu sentido de radar, ele
vasculha a armadura buscando por um ponto fraco, uma falha, uma
brecha para derrotá-lo.
Armaduras? Quer dizer que estou apanhando de carinhas com
armaduras? Porra, e eu achando que vocês estavam realmente
querendo me morder! Mamãe nunca ensinou a vocês que
não se deve mentir para super-heróis?
O Homem-Aranha pula sobre os engradados e começa a escalar
a parede em direção ao teto. Se pendura lá
de ponta-cabeça e retira um aparelho eletrônico do
cinto escondido sob o uniforme, começando a desmontá-lo.
Dispara sua teia na direção de um 'pseudo-vampiro'
e o puxa. Um soco rápido no estômago deixa o adversário
fora de ação. Ele arranca parte da armadura, procurando
o núcleo de força e o encontra na forma de uma estrutura
circular escondida um pouco abaixo do abdômen. Soltando
o inimigo de volta ao chão, ele volta a se concentrar no
aparelho em suas mãos.
O único pensamento que passa na cabeça do Demolidor
é como atingir seu adversário de maneira que possa
derrotá-lo, e tirar Elektra dali o mais rápido possível.
Ele é surpreendido por Martha Green, esposa de Thomas e
sacerdotisa do culto. Ela o acerta nas costas com um dos pesados
castiçais de prata que adornam o local. Matt rola no chão,
esquivando-se de outros ataques e tentando recuperar o fôlego.
Ele atira seu bastão, que atinge o rosto da sacerdotisa,
ricocheteia no chão e volta para suas mãos. O Demolidor
salta e acerta seu pé no rosto da oponente, levando-a ao
chão, desacordada.
Martha! grita enfurecido Thomas Green "Agora,
seu chifrudo desgraçado, eu acabo com você!
Thomas salta na direção do Demolidor, usando o sistema
de propulsão da armadura para lançá-lo com
força total. Matt esquiva-se do primeiro ataque e atira
seu bastão na nuca do adversário. Ele cai. O Demolidor
aproxima-se lentamente e diz num sussurro:
Ninguém zomba do demônio. diz o vigilante,
dando um soco que derruba definitivamente Thomas Green.
Demolidor! chama o Homem-Aranha Tira a Elektra
daí e se prepara, pois as coisas vão esquentar um
pouco por aqui.
Peter Parker é um gênio científico. Dependurado
de cabeça para baixo no teto da boate, ele converteu um
antigo sinalizador aranha e o núcleo de força de
uma das armaduras num disruptor eletrônico. Basicamente
esse aparelho torra qualquer mecanismo eletro-mecânico num
raio de 200 metros. Tudo que ele precisa fazer agora é
apertar um botão.
Muito bem, dentinhos, é hora de nanar!
O botão é pressionado. Todos no recinto sentem a
carga eletrostática aumentando até explodir num
baque surdo. As luzes, o aparelho de som, as caixas acústicas
e principalmente as armaduras, entram em curto. As lâmpadas
estouram, deixando a boate na escuridão. Os vampiros recebem
toda a força armazenada nas armaduras de volta, na forma
de um choque de 10.000 watts. Em segundos, tudo silencia. Tão
rápido quanto começou, a batalha foi encerrada.
Aranha? Que diabos foi isso?
Cara, eu tava me perguntando a mesma coisa... aparentemente
essas armaduras eram mais fortes do que pensei.
Sirenes são ouvidas ao longe.
Aranha, você assume daqui? Eu preciso levar Elektra
a um hospital.
Tudo bem. Pode deixar que eu explico pros tiras o que aconteceu
aqui... assim que eu descobrir, é claro.
Epílogo
Edifício Empire State - Noite seguinte
Eu achei
que iria te encontrar aqui.
Oi Matt, tava mesmo te esperando diz o Aranha sem
se voltar.
Então você sabia que eu vinha?
É claro, a gente não podia acabar essa história
sem o clássico encontro final entre os heróis para
discutir o que aconteceu.
Peter, você deveria ter sido humorista e não
repórter.
Também acho, mas descobri que só sou bom
em piadas quando uso essa máscara. Como tá a Elektra?
Ela está bem. Ainda se recuperando. Eles usaram
alguma droga forte para capturá-la, ela ainda não
fala coisa com coisa. Como foi lá com os policiais? Eles
te acusaram de ser o líder da seita ou essa história
só foi sair no Clarim de hoje?
Você conhece o JJ... ele não consegue negar
que me ama. Mas tudo correu bem. Thomas e Martha estão
presos, Sally foi encontrada no porão da boate. Ela está
com os tios agora. A polícia descobriu que as armaduras
dos bandidos foram construídas pelo Consertador. Prenderam
o cara esta tarde.
A polícia descobriu mais alguma coisa útil?
Pelo que entendi do papo dos detetives, Thomas Green era
um maluco por vampiros que encontrou um esqueleto qualquer e inventou
que era o Drácula. A idéia dele era trazer o vampirão
de volta a vida na base de sacrifícios humanos e muito
sangue. Eles usavam as armaduras para 'se acostumar' com os poderes
vampíricos. Estavam esperando que Drácula os transformasse.
Enfim, mais um típico caso de lunáticos.
Com certeza, mas eu sinto que você quer me dizer
mais alguma coisa. O que é?
Matt. Mary Jane está grávida. Eu vou ser
papai.
Parabéns, Peter! Eu não sabia disso. Estou
muito feliz por vocês.
Obrigado, cara. Bem, é o seguinte. Com essa vida
que eu levo, nunca sei quando vou conseguir voltar pra casa, por
isso quero te pedir uma coisa: Seja o padrinho do meu filho. Se
algum dia eu faltar, quero saber que posso contar com alguém
protegendo minha família.
Ora... você me pegou de surpresa. Eu fico muito honrado
com seu convite. É claro que aceito. Você é
um grande amigo, Peter, e sabe que pode contar comigo sempre que
precisar.
Ótimo! Então vamos sair daqui antes que eu
comece a chorar. Topa tomar uma cerveja?
Eu não bebo.
Nem eu. Por isso vamos tomar apenas refrigerantes.
Peter? Só mais uma coisa...
Sim?
Se acha que sendo seu compadre vou passar a cobrar mais
barato pelos meus serviços como advogado, está muito
enganado.
Droga! Então vou ter que pensar em outra maneira
para processar o Clarim!
Risos são
ouvidos enquanto os dois amigos saltam juntos em direção
à fria noite de Nova York.
:: Notas
do Autor
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