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Por
Eduardo Sales Filho
A
Festa
Queens 19h48
A música pode ser ouvida de longe. Depois de alguns meses
sem nenhum evento, o salão de festas do ginásio
de Forest Hills está mais uma vez em polvorosa. Esta noite,
uma das turmas do colégio comemora dez anos de formatura.
Além de conversas e gargalhadas, antigos sucessos dos anos
80 podem ser ouvidos por Peter Parker e sua esposa, Mary Jane.
Esta é uma noite especial para eles. Hoje é dia
de reencontrar velhos amigos, relembrar antigas histórias
e se divertir com pessoas com quem compartilharam suas adolescências.
A Srª. Parker entra no salão chamando a atenção
de todos pela beleza. O vestido negro realça sua barriga.
Mary Jane está grávida de seis meses e seu marido
revelou-se um futuro-pai extremamente babão.
MJ, tem certeza que esse vestido não está apertando
sua barriga? Se tiver a gente pode voltar em casa e trocar.
Peter, eu já disse que estou bem, não precisa
se preocupar. Nosso filho está confortável.
Eu sei, mas será que não é melhor você
sentar um pouco para descansar?
Mas a gente acabou de chegar! Nem deu tempo de cansar ainda!
Sei lá, é melhor não abusar, né?
Peter Parker, pela última vez, gravidez não é
doença!
Humm... vejo que o 'pai do ano' aí é muito preocupado,
hein? intervém Betty Brant.
Hã? Ah, oi, Betty. Estou tentando convencer meu digníssimo
marido aqui de que não preciso passar o dia numa cama descansando.
Desencana, Mary Jane, os homens são sempre assim. Acham
que nós somos o 'sexo frágil'.
Será que vocês duas podem parar de falar como se
eu não estivesse aqui?
Oi, Peter! Você por aqui?
Grrr... Betty, vai ver se eu tou na esquina, vai!
Outra hora, querido. Acabo de ver alguém conhecido. Bye!
Argh! Eu odeio quando vocês, mulheres, se juntam para
me chatear!
Calma, gatão. Vamos ali tomar um pouco de ponche.
O que? Você não pode beber, MJ. Não adianta
nem tentar me convenc...
Cala boca, Peter.
Mas...
Cala boca, Peter. O ponche não tem álcool, a Betty
me disse.
Não ouvi ela te dizendo nada sobre ponch...
Cala boca, Peter.
Ah, tá bom. Mas se você exagerar eu peço
o divórcio!
Você não faria isso.
Não mesmo, não poderia deixar meu filho ser criado
por uma mãe alcoólatra! Ai! Não bate, pô!
Eu só tou brincando!
Eu sei. Encare isso como um dos meus 'desejos de grávida'.
Ao menos isso é algo simples de se conseguir. Bem melhor
que sair no meio da noite procurando sorvete de pistache...
Era sorvete de graviola!
Isso, isso, isso!
Peter, aquele ali não é o George Henry?
O próprio. Bêbado como sempre. Sabe, eu não
consigo me lembrar de uma vez, sequer, em que o encontrei sóbrio.
Esse cara é uma comédia. Fala pelos cotovelos, e
tudo bobagem. Só nunca entendi o porquê do apelido
dele ser Rick e não Hank, ou alguma coisa assim.
Lá vem o Flash.
Saco. Eu não tou com paciência pra ele hoje.
Parker!
Oi, Flash. Tudo bem?
Oi, Flash.
Oi, Mary Jane. Peter, achei que você não vinha
mais. O pessoal chegou já faz um tempão.
A culpa foi minha, demorei pra me arrumar. Você sabe como
são as mulheres.
Sei sim, acho que por isso que nunca me casei. vira-se para
Parker. Vamos lá, cara. Quero que a galera te veja.
Mas eu não posso deixar a Mary Jane aqui sozinha!
Vá com o Flash, gatão. Vou aproveitar pra 'descansar'
um pouco.
Tá vendo? A patroa liberou, vamos nessa! Peter se conforma
e olha para sua esposa com ar de 'você me paga'.
Mary Jane senta-se à mesa enquanto observa seu marido ser
arrastado através do salão por Flash Thompson. "Engraçado
como a vida dá voltas." Pensa. "Esses dois se
odiavam na época do colégio e agora viraram amigos."
Pela porta principal do salão entram Liz Allen e Foggy
Nelson. Os dois vêem MJ e partem para cumprimentá-la.
Oi, Liz! Oi, Foggy!
Olá, Mary Jane. Nelson volta-se para sua acompanhante.
Vou buscar um ponche pra gente, tá?
Tudo bem, Foggy. Oi, MJ, como tem passado a futura mamãe?
Fora o fato de que eu não consigo entrar em nenhuma roupa,
tá tudo bem. ela sorri.
Sei bem como é isso. Quando estava grávida do
Normie, eu parecia um balão! Ei, onde está o Peter?
Logo ali, com o Flash e o resto do Clube do Bolinha.
Homens... são todos iguais!
Peter Parker não se sente à vontade entre esses
homens. Ele não fazia parte deste grupo no colégio.
Na verdade, Parker era a vítima preferida das brincadeiras
infantis deles. Seus colegas mais próximos eram membros
do clube de ciências, os CDFs da turma. Eram os garotos
mais brilhantes e mais perseguidos da escola. "Por que não
vejo nenhum deles aqui", questiona-se. "Serei o único
nerd presente hoje?"
Peter?
Sim? Parker vira-se para o homem que acaba de chamá-lo.
Não tá lembrado de mim?
Paul? Paul Grant?
Heh! Isso aí! Como você vai, cara? Grant abraça
seu amigo.
Vou indo numa boa. Ainda tentando sair da faculdade, e tirando
fotos para o Clarim. E você, cara? Soube que abriu um laboratório
farmacêutico.
É verdade. Depois que meus pais morreram, descobri que
eles tinham um seguro de vida. Peguei a grana e montei um laboratório.
Tenho conseguido me virar bem desde então.
Bem? Cara, seu laboratório é um dos principais
na pesquisa para a cura do câncer!
Bem, admito que fizemos alguns avanços nessa área
sim. Mas o mérito não é meu e sim da minha
equipe. Falando nisso, venha nos visitar um dia desses. Um gênio
como o seu pode nos ser muito útil. Fique com meu cartão.
Valeu, cara! Podexá, eu apareço lá sim.
A gente ainda tem muito papo pra botar em dia.
Sem dúvida, mas vai ter de ficar pra outra oportunidade.
Tenho um jantar importante hoje à noite. Só passei
aqui pra ver se encontrava alguém que valesse a pena. Aparentemente,
tive sorte. os dois amigos se despendem e Grant encaminha-se
para a saída.
Quem era esse cara? Flash Thompson cutuca Parker.
Era o Paul Grant. Não acho que você vá se
lembrar dele, era do Clube de Ciências.
Grant? Ei! Ele é o Meleca, não é?
Nossa, você ainda lembra disso?
Flash Thompson nunca esquece um apelido que criou. E então,
é ele mesmo?
É, Flash. É o Meleca.
Ei, galera, aquele ali é o Meleca! Thompson volta-se
para o grupo atrás de si e aponta a porta do salão
enquanto Grant passa por ela e vai embora.
Parker pede licença para Flash e seus amigos e retorna
para junto da esposa. Enquanto atravessa o salão, percebe
Rick vomitando em um dos cantos. "Tava demorando", pensa.
"Ele sempre vomita no fim das festas."
E aí, gatão, se divertiu com seus amigos?
Você não imagina o quanto, MJ.
Quem era aquele cara com quem você estava conversando?
Você não o conhece, mas se tudo der certo ele vai
ser o meu futuro chefe!
Epílogo:
Central
Park manhã seguinte
Hubert Carpenter passeia pela Grande Maçã, apreciando
os cheiros, sabores e cores da cidade. Faz muito tempo desde a
última vez que passara por ali. Ele acaba de ser solto,
após cumprir pena por assalto. Carpenter era o supervilão
conhecido como Morsa, um antigo inimigo do Homem-Aranha.
De volta à liberdade, ele pretende desfrutar um pouco a
vida antes de bolar algum novo golpe. Chegou até a pensar
em abandonar o crime, mas o que poderia fazer no lugar? A única
coisa que fez a vida inteira foi roubar. Súbito, desperta
dos seus pensamentos ao ouvir uma confusão.
Ladrão! Pega ladrão! grita a senhora, enquanto
um garoto corre carregando sua bolsa.
O Morsa tenta sair do caminho para que seu 'companheiro de profissão'
escape sem problemas. No entanto, tropeça em uma pedra
solta e seu enorme corpanzil cai sobre o assaltante. A proprietária
da bolsa chega em seguida, trazendo consigo um policial.
Muito obrigado. Eu tinha acabado de receber minha aposentadoria.
Se não fosse pelo senhor, eu estaria sem nada. Você
é o meu herói!
Herói?
Sim, herói. Venha comigo, rapaz, vou te pagar um café
em agradecimento.
Carpenter se deixa levar pela simpática velhinha. "Herói",
pensa. "Por que não?"
A seguir:
Mary Jane corre o risco de perder seu filho. E o Morsa entra em
ação.
:: Notas do Autor
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