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Homem-Aranha # 10

Por Eduardo Sales Filho

Aniversário de Casamento

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Broadway — 21h45

— Sou forçado a admitir, MJ, ter vindo assistir Cats* pela trocentésima vez foi uma boa maneira de comemorar nosso aniversário de casamento.

— Isso foi só o aquecimento, gatão. Espera só pra ver o que vou fazer com você mais tarde.

— Devo considerar isto como uma ameaça, Srª. Parker?

— Só se você tiver medo de mulher, Sr. Parker.

— Ouch! Isso foi golpe baixo.

— Você me provocou. Poxa, eu tento bolar algo legal pra comemorar nossos três anos de casados e você fica fazendo piadinhas!

— Desculpa, mas eu não consigo ficar sério muito tempo, você sabe.

— Sei, sim, e isso me preocupa.

— Como assim?

— Peter, eu estou grávida! Você tem noção da responsabilidade que é ter um filho neste mundo de hoje? Ainda mais se o pai é um cara que veste pijama azul e vermelho e sai todas as noites para combater criminosos!

— Eu... eu já pensei sobre isso. Sobre o nosso filho e o Aranha.

— É tudo em que eu tenho pensado nos últimos tempos. — suspira Mary Jane.

— Você quer que eu deixe de ser o Aranha?

— Eu não sei! Mas sei que não quero ficar viúva de uma hora pra outra tendo um filho pra criar.

— Isso tudo é complicado demais, sabe? Sei lá, desde que ganhei esses poderes eu tenho levado a minha vida tentando fazer o certo. 'Grandes poderes trazem...'

— '... trazem grandes responsabilidades.' Eu sei. Mas e a responsabilidade para com sua família?

— A única vez que eu não segui essa regra foi exatamente quando perdi alguém da minha família, o tio Ben.

— Eu sei. Desculpa. Eu só tou confusa. Fico com medo de acordar uma noite e não te encontrar ao meu lado. Tenho medo de perder o homem que amo, o pai do meu filho, nas mãos de um bandidinho qualquer.

— Isso não vai acontecer, sempre vou estar aqui pra você, MJ. Sempre. — os dois se abraçam e se beijam. Subitamente, Parker sente sua esposa desfalecer em seus braços. — Mary Jane? Você tá me ouvindo? Tá sentindo alguma coisa? Meu Deus, ela tá perdendo sangue! Socorro! Alguém chame uma ambulância! Minha mulher está passando mal! Por favor, alguém me ajude! — Peter a carrega no colo enquanto clama por ajuda. Ele chora. — Mary Jane? Fala comigo, gatona! Não me deixa assim, por favor...

Interlúdio

Times Square — 22h11


Um casal de turistas passeia pela rua mais famosa da cidade, alheio aos olhares que se voltam para eles. Quando passam em frente a um beco, são puxados para dentro por cinco homens. Os marginais estão armados com navalhas e facas de cozinha. Não são bandidos comuns, mas viciados que precisam de dinheiro para comprar uma nova dose.

— Passa grana aí, tio! Anda logo com isso! — diz o que aparenta ser o líder.

— Por favor. Falem devagar. Eu sou brasileiro. Não entendo muito bem inglês. — o turista coloca seu corpo em frente ao de sua acompanhante, tentando protegê-la. A tentativa é infeliz, uma vez que ele é muito menor que ela.

— Saca só, Ota. O cara num é daqui! Vamu mostrá pra ele como nóis recebe us turista aqui. — um segundo assaltante posiciona-se do lado direito.

— É iss'aí, Josh. É ferro na buneca! — grita um terceiro, avançando para o assustado casal.

— Parem onde estão, malfeitores! — brada uma voz, que mais lembra um trovão.

Do alto das escadas de incêndio um enorme corpanzil cobria a fraca luz da lua. O homem salta entre os meliantes com um sorriso nos lábios. Com seu braço direito ele desarma os dois primeiros atacantes jogando-os longe. O líder do grupo avança, mas é incapacitado por um chute nas partes baixas. O misterioso herói o agarra pela camisa e fala. Sua voz soturna mais parece um rufar de tambores anunciando o fim do mundo:

— Esta noite isto não é um beco. É uma mesa de operação, e eu sou o cirurgião. — diz o vigilante, enquanto soca seu oponente até deixá-lo inconsciente. Os outros marginais fogem assustados.

— Muito obrigado, senhor...? — antecipou-se o minúsculo turista brasileiro.

— Morsa. Pode me chamar de Morsa. Sou o mais novo herói de Nova Iorque. Vocês não são daqui, não é? — diz, ostentando um largo sorriso. Todo o ar ameaçador de segundos atrás havia desaparecido.

— Somos brasileiros, na verdade.

— Muito bem, cidadãos, o dever me chama. O Morsa tem uma cidade para proteger! — ele prepara-se para voltar à escada de incêndio quando é interpelado pelo turista.

— Hã, com licença, seu Morsa?

— Sim?

— Aquela frase que o senhor usou com os bandidos. Sobre mesa de operações e afins...?

— O que tem ela?

— Ela não me é estranha. Creio já tê-la ouvido em algum lugar**.

— Sabe, eu também tive essa impressão quando falei, mas deve ter sido só impressão. Afinal, quem, além de mim, seria tão inteligente para bolar uma frase genial daquelas? — o herói sobe as escadas e desaparece no topo do prédio. O turista brasileiro passa as mãos em seus parcos cabelos e pensa: "Miller, Frank Miller".

Fim do Interlúdio

Memorial Hospital — 23h15


Na última hora, Peter Parker deu 783 voltas na sala de espera do Memorial Hospital. Sua esposa, Mary Jane, está no meio de uma cirurgia. Ela chegou ao hospital inconsciente e perdendo muito sangue. Os médicos foram incapazes de estancar a hemorragia e decidiram por um procedimento cirúrgico muito delicado. Milhares de idéias passam pela cabeça de Parker enquanto aguarda que a operação chegue ao fim. Ele se arrepende de não ter passado mais tempo com a esposa. Pensa que tudo pode ser obra de algum dos vilões do Aranha, que decidiu se vingar do herói através da mulher que ama. Peter gostaria de poder socar alguém, alguma coisa, para fazer a dor passar, mas sabe que não adiantaria nada. Sua esposa está correndo risco de vida e ele não pode fazer nada quanto a isso.

— Sr. Parker?

— Doutor? Graças a Deus o senhor apareceu. Como está Mary Jane?

— A cirurgia foi um sucesso, conseguimos estancar o sangramento, mas não podemos impedir que ele torne a acontecer.

— Como assim? E o bebê? Ele está bem?

— A gravidez da Srª. Parker é um tanto quanto anormal. O bebê está muito bem, mas sua esposa, não.

— Droga, doutor! Fala logo de uma vez! — desespera-se Parker.

— O corpo de Mary Jane está rejeitando o feto. Nós não sabemos ao certo o porquê, mas temos uma teoria. Suspeitamos que alguma mutação deve ter ocorrido no processo embrionário e tornou sua esposa e seu filho incompatíveis um com o outro. Neste exato momento o sistema imunológico da Srª. Parker está tentando expulsar o bebê do seu corpo, como se ele fosse uma infecção. Lamento informar isso, mas dificilmente eles vão sobreviver.

A seguir: A morte de Mary Jane?

:: Notas do Autor

* Famoso musical da Broadway, em cartaz há mais de 20 anos.
** O turista brasileiro careca e baixinho está certo. Está frase é de Cavaleiro das Trevas, a obra definitiva de Frank Miller com o Batman. Obviamente você sabe disso, não é?!!



 
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