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Homem-Aranha # 42

Por Eduardo Regis, sobre um plot de Eduardo Regis e Conrad Pichler

A Visita

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Um gigantesco e espetacularmente ágil tentáculo de metal se estica por entre máquinas e estantes repletas de aparelhos e vidraria de laboratório. Finalmente, com uma precisão surpreendente e velocidade ímpar, o tentáculo agarra um pequeno aparelho de telefone celular. O apêndice metálico se retrai até as mãos envelhecidas e ansiosas do Dr. Otto Octavius.

Ele disca um número que sabe de cor e aguarda impacientemente os três toques que demoram para atenderem.

— Norman, eu consegui! Após conseguir ajustar o fluxo de partículas, fiz o experimento trinta e oito e consegui chegar ao fim. Está tudo pronto.

— Não precisa dizer mais nada, meu caro. Mais nada... — Osborn desliga o celular e olha fixamente para um sócio que está sentado à sua frente no escritório

— Eu preciso resolver um assunto sério. Com licença. — Norman diz friamente.

— Mas... e nossa reunião?

— Fica para uma outra hora. — Norman levanta o homem e o leva até a porta — Minha secretária irá procurá-lo. Boa tarde.

Assim que a porta bate, ele passa a tranca e se agacha, se encolhe em posição fetal. Os dedos das mãos se entrelaçam e um sorriso diabólico se forma em sua face, dando ao industrial um ar insano que se assemelha ao da máscara do Duende Verde.

— Parker...

Norman se levanta e vai até uma grande tela de LCD. Ele entra um código na tela e a parede se abre, revelando uma câmara secreta.

Em poucos minutos, o planador cruza os céus deixando um rastro negro de fumaça. O barulho do motor até poderia denunciar a presença do vilão, se algo mais forte não o fizesse antes: a gargalhada cortada e cadenciada do Duende Verde.

Quando a vista à vizinhança de Forest Hills, no entanto, o silêncio é quem anuncia a tormenta.

A campainha da casa dos Parker toca.

Mary Jane está lendo uma revista de moda enquanto vela o sono de sua pequena filha. O som estridente da campainha a desperta do seu momento de descanso, e não a deixa nada satisfeita. Ela só queria poder ler um pouco em paz, mas alguém tinha que aparecer. Que azar.

Sem coragem de ignorar a visita, ela desce as escadas e vai em direção à porta. No entanto, ao abri-la, constata que não há ninguém. M.J. ainda olha para os lados procurando por alguém, mas não acha nada.

O Duende entra pela janela do quarto. O planador, flutuando, não faz qualquer barulho e a agilidade sobre-humana do vilão o garante furtividade suficiente para passar desapercebido.

Dentro da casa, ele salta do planador, tocando de leve suas botas roxas no carpete do quarto da pequena May. O vilão se aproxima cuidadoso do berço enquanto observa o papel de parede e o móbile que dança ao sabor do vento que entra pela janela aberta.

— Vejam a pequena aranha! Olá, srta. Parker! Veja o seu mundo girar...

O dedo indicador do maníaco conhecido com o Duende Verde gira o móbile. Ele passa pelo berço e se esconde atrás da porta. O sorriso doentio encarando fixamente o bebê.

Mary Jane volta ao quarto distraída. A revista na mão, ainda lendo alguma coisa. Ela pára em frente ao berço, ainda esbraveja pela interrupção e quando se prepara para voltar para a poltrona, repara no planador flutuando. A revista cai de suas mãos enquanto ela perde o ar no susto. Imediatamente, a mão do Duende tampa sua boca e ele a gira no ar, levantando-a contra a parede.

— Quietinha, Mary, quietinha. — o vilão tira de sua bolsa de truques uma estranha pistola e prende M.J. pelos pulsos e tornozelos à parede com uma massa adesiva, por fim, ele amarra um lenço roxo em sua boca.

A ruiva tenta se soltar desesperadamente, mas é inútil. O que quer que o Duende tenha usado para prendê-la, certamente poderia até segurar Peter por um bom tempo. Logo Mary Jane percebe que é inútil e apenas se entrega ao desespero de estar indefesa e incapaz.

Ela aposta todas suas esperanças em uma pessoa: seu marido.

O Duende começa a abrir os armários, olhando as roupas e brinquedos. Embora a máscara só revele a expressão macabra do Duende, Norman está com um brilho incomum no olhar. Ele realmente se diverte vendo tudo o que está prestes a destruir. Seu coração dispara.

A criança acorda. Seu choro corta o silêncio, dando um pequeno susto no Duende. Norman acorda de seu transe sádico e vira sua atenção para a menina. Seu dedo se estica e os mecanismos da luva se preparam para lançar um raio elétrico poderoso, mas ele se contém.

— Tão fácil...mas sem propósito! As coisas são mais loucas do que podem parecer... — Norman se vira para Mary Jane — Ele deve chorar todas as suas fraquezas e falhas! Ele deve chorar uma perda de cada vez! Ele deve chorar para sempre! E você, Mary Jane, vai se tornar mais uma lágrima que embaçará os visores da máscara do Homem-Aranha! Mais uma lápide que Peter irá visitar, mais uma âncora para lembrá-lo dos seus erros, mais uma gargalhada do Duende Verde!

Mary Jane chora. Sua face rubra não esconde em nada o terror.

— Guarde suas lágrimas, sua meretriz de palco. Não queremos você abatida no seu próprio velório!

O barulho de alguém entrando pela janela chama a atenção de todos. Agachado e encurvado como nunca, o Homem-Aranha entra no quarto, rastejando pelo teto.

— Eu vi, Norman! Eu vi! Mas parece que tudo que eu teimo em ter certeza se revela diferente. O planador rasgou seu peito e você caiu morto. Você foi posto num caixão e enterrado. Você
morreu! Você deveria estar queimando no inferno! — o Aranha cai do teto em frente ao Duende — Mas parece que nem assim... meus instintos me diziam desde sempre que você não estava morto. Não foi surpresa te ver vivo aquele dia na Grantfarma. (*) Meu sentido de aranha zumbiu baixinho todo esse tempo, sempre me trazendo aquele incômodo... aquela certeza macabra de que você estava tramando algo! E ele estava certo!

— Agradeça ao seu amigo Harry. Ele me tirou da terra naquela noite, drogado, confuso. Ele cavou cada palmo e me tirou de lá, falou comigo como nunca, falou tudo o que achava de mim! Foi homem pela primeira vez diante de um corpo morto! Enquanto falava ele ouviu a fraca respiração que vinha do meu peito! Eu não estava morto! Não de verdade! Ele me amaldiçoou e eu... eu o agarrei pelo pescoço e quase quebrei aquele imprestável! Eu o joguei na cova revirada! Ele sempre esteve morto, mas eu... eu estava vivo, Peter! Vivo!

— Você teve coragem de fazer isso ao próprio filho... Deus...

— Ah não, não viemos aqui para falar da minha família, Parker!

Chega! Não sei o que você pretende com a minha filha e com a porcaria do vírus legado, mas você nem vai ter chance de pensar em fazer!

— Ahhh... você nunca me decepciona, Parker! Nunca! Você até descobriu sobre o vírus legado! È uma pena que uma mente tão brilhante seja ao mesmo tempo tão idiota! — o Duende retira uma bomba-abóbora de dentro de sua bolsa de truques.

Peter salta em direção ao vilão. Os dois rolam pelo chão da sala e a bomba cai num canto do quarto. Enquanto mantêm Norman preso ao chão usando um dos seus braços, o Aranha mira um fio de teia na bomba e a arremessa para fora. A distração, no entanto, era parte do plano do Duende, que se vale do momento de fraqueza do herói para disparar um mecanismo escondido em sua luva, injetando um tranqüilizante no aracnídeo.

Em poucos instantes Norman se levanta e o Homem-Aranha desfalece.

— Acabou, Mary Jane. Dê adeus ao Homem-Aranha! — o Duende arranca a máscara e revela o sorriso ainda mais horripilante de Osborn.

Ele caminha até o berço e levanta a pequena May até a altura de seu rosto. — Mas nosso assunto está apenas começando, pequena May. — Norman beija a menina na testa e a devolve ao berço. Ele agarra o Aranha e o joga sobre os ombros enquanto sobe em seu planador e sai apressado pelos céus.

Mary Jane tenta mais e mais vezes se livrar do adesivo com o qual o Duende a prendeu à parede. Sua determinação é sobre-humana, ela força seus músculos ao máximo, causando estiramentos e até deslocando um ombro. Seu rosto, roxo e manchado pelas lágrimas finalmente descansa.

Ela desmaia.

Otto Octavius desperta de seu transe quando seu pequeno comunicador apita. Ele aperta o botão vermelho e escuta imediatamente a estridente voz do Duende Verde:

— Otto, estou com nossa aranha! Presa e indefesa! Prepare a máquina, Octopus! Prepare a máquina! Esse maldito já nos surpreendeu antes, não vamos dar chance alguma ao azar!

O Dr. Octopus desliga o comunicador. Um de seus tentáculos o agarra e o esmaga.

— Já está tudo pronto, Norman.

O vilão dos tentáculos de metal vai até um grande maquinário junto de uma maca com amarras de adamantiun e começa os preparativos para o grande momento que está por vir.

J.J. Jameson está parado em frente ao seu computador pensando em qual matéria deve entrar na capa da próxima edição do Clarim Diário quando uma leve batida em sua janela o chama a atenção.

— Malditos pombos! Nova Iorque está cheia dessas pragas com asas! Eu devia mandar exterminar todos! — Jameson se vira praguejando e afasta a ave. — Toda hora elas fazem isso!

A porta do escritório do editor se abre violentamente. Robbie Robertson entra apressado fumando seu habitual cachimbo.

— Jameson, o Duende foi visto sobrevoando Manhattan carregando o Aranha aparentemente morto.

O quê?

— Isso mesmo, J.J.!

— Mande um fotografo e um repórter atrás dele! Agora! — Jameson bate com o punho em sua mesa.

— Mas... J.J., Ninguém vai conseguir seguir o Duende!

— Maldito Parker! Ele sempre conseguia! Ligue para o Parker! Agora! Deixa pra lá, eu mesmo ligo! — Jameson pega seu telefone e sua secretária atende — Ligue agora para Peter Parker!

A ligação é transferida.

O telefone toca. Várias e várias vezes. O barulho cadenciado e alto desperta Mary Jane. A dor é insuportável, mas o adesivo parece estar cedendo. Ela força mais uma vez e se liberta, caindo no chão. A ruiva urra de dor. Ela respira desesperada enquanto tenta reunir forças para se levantar. O telefone continua tocando. Mary Jane arranca o lenço da boca junto de um grito sofrido.

— Maldição, Robbie! Esse vagabundo do Parker não atende! Mas eu não desisto, nem que o vizinho atenda! Robbie, mande Barton tentar resolver essa enquanto isso! — Jameson volta ao telefone.

— Preciso pedir ajuda. Felicia, o Quarteto, a Liga... — Mary Jane se arrasta como pode até o telefone e o agarra puxando-o para perto de si. — Alô! Alô! — a ruiva grita.

— Alô! Mary Jane? É o Jameson! Eu preciso do Parker! Diga a ele que se ele conseguir fotos exclusivas da morte do aracnídeo pelas mãos do Duende eu pago três mil por foto!

— Jameson, desligue! Não! Desligue!

— Mas... Mary... três mil e quinhentos por foto!

— Desliga esta droga de telefone!

Jameson bate o telefone e começa a gritar palavrões.

M.J. pega o telefone e espera cair na telefonista. Ela não conseguiria discar com a dor que está sentindo no braço e mesmo que conseguisse, ela não saberia o número.

— Alô, telefonista? Eu preciso que você me ligue com o Quarteto! Com a Liga da Justiça! É uma emergência!

A telefonista simplesmente desliga.

Mary Jane tenta mais algumas vezes, mas ou desligam em sua cara, ou simplesmente respondem com alguma piada. Ela continua a tentar se levantar...



:: Notas do Autor

(*) Conforme mostrado em Homem-Aranha # 31. voltar ao texto




 
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